Universidade e mercado

Se a universidade não formasse para o mercado deixaria de cumprir parte de sua missão. Ou será que alguém imagina que um jovem dos dias de hoje pode entrar no mundo e se tornar independente sem pisar no chão do mercado? Se lhe virasse as costas, a universidade se desconectaria da vida.

Mas a universidade não pode formar somente para o mercado, nem principalmente para ele, sob pena de trair a si própria. Forma essencialmente para a vida, a cidade (a polis), a comunidade. Ao fazer isso, cumpre a função de preparar pessoas para conviver criticamente com o mercado, para entrar nele não com o intuito de estimulá-lo a ser sempre mais irresponsável ou de maximizá-lo em benefício próprio, mas para ajudar a submetê-lo a alguma regulação e impedi-lo de colonizar a sociedade.

Acontece que hoje o mercado é uma extraordinária base de hegemonia, o que significa que sua cultura tende a modelar comportamentos e consciências e a fornecer uma espécie de pauta para instituições, governos, grupos e indivíduos. Por ser assim, o mercado funciona efetivamente como uma fôrma para tudo, portanto também para a universidade. Ele invade o campus universitário de mil maneiras. Mostra-se na expansão do ensino particular em detrimento do ensino público e na fixação de parâmetros mais concorrenciais e produtivistas para a organização da vida acadêmica e a avaliação do mérito científico. Muita coisa na universidade vira então mercadoria e passa a ser calculada como mercadoria: aulas, pesquisas, relacionamentos, currículos. Todos – professores, funcionários, estudantes, dirigentes – são afetados por esse processo, que dissemina complicados traços de egoísmo, desarticulação e corporativismo.

A estrada não é, porém, de mão única. No fundo, a universidade está mais acossada que formatada pelo mercado. Não está ocupada nem sitiada por ele. Em decorrência, preserva importantes zonas de autonomia e reflexão em seu interior. E é quando seus integrantes ativam e expandem essas zonas – encontrando-se reflexivamente, desenvolvendo o pensamento crítico, buscando interpelar a sociedade real e ajudá-la a crescer – que a universidade diz a que veio. Seria trágico imaginar que professores e estudantes poderiam se deixar levar pela miséria ética e intelectual que deriva inevitavelmente de um mercado deixado a si próprio, descontrolado e irresponsável.

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Obama abre vantagem sobre Hillary nas primárias democratas

Obama obteve vitórias esperadas nesta terça-feira nos estados de Virgínia, Maryland e Washington (DC). O tamanho da diferença é que surpreendeu, ficando no topo das estimativas mais otimistas. É claro que Obama contou com uma numerosa população afro-americana Distrito de Colúmbia e a jovem população de Virgínia. Nesse cenário, o difícil é administrar as expectativas da campanha Hillary daqui para frente. A demografia do voto mostra que a campanha de Obama chegou aos eleitores mais fiéis à senadora democrata: mulheres brancas, eleitores mais velhos e latinos. Dessa forma, além de contar com o apoio dos negros e jovens, Obama começa a conquistar a base social de Hillary Clinton.

Obama obteve 64% dos votos da Virgínia, contra 35% de Hillary. Na capital (DC), a diferença foi de 75% para Obama e 24% para Hillary. E em Maryland, a diferença foi de 62% contra 35%. Além de grande, a diferença mostra penetração de Obama no eleitorado mais fiel à Hillary Clinton: os latinos e mulheres brancas. Há uma clara migração de votos de grupos que constituem a base social de Hillary para a campanha de Obama. As previsões indicam uma vantagem de 100 delegados de Obama frente à Hillary, computando os votos prováveis dos “superdelegados”.

Além disso, após as primárias do último fim de semana, a campanha de Hillary entrou em crise. A coordenadora da campanha foi substituída numa demonstração de evidente fraqueza e uma tentativa de conter a “obamania”. A cada vitória de Obama, a campanha de Hillary passa a depender mais ainda dos estados grandes que faltam: Texas Ohio e Pensilvânia. O plano de Hillary é vencer nesses estados com muitos delegados e onde a demografia é mais favorável. A estratégia é arriscada e melancólica. Ignora a dinâmica política que pode levar a mudanças no eleitorado após diversos triunfos consecutivos de seu adversário.

As próximas primárias são Winsconsin e Havaí, com amplo favoritismo de Obama. Vencendo nesses dois estados, Obama chegará às primárias de Ohio e Texas com 10 vitórias consecutivas após a superterça. Mesmo vencendo as duas, Hillary precisará vencer na Pensilvânia no final de abril, encerrando o ciclo das primárias nos grandes estados. Se perder num dos três Estados, perde a indicação democrata. O dilema da campanha Hillary é grande. Está na dependência de três Estados para continuar tendo fôlego para a disputa. Mas há a possibilidade de permanecer a indefinição até as primárias de Indiana, Carolina do Norte, Virgínia Ocidental, Oregon, Montana e Dakota do Sul. São Estados com poucos delegados, que não permitem definir uma indicação. Dessa forma, a indicação será definida pelos chamados “superdelegados”. São 800 votos que em tese só confirmariam seu apoio na Convenção Democrata, mas alguns deles já declararam comprometimento com as candidaturas de Hillary ou Obama.
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Barack Obama vence Hillary Clinton nas primárias após a superterça

As primeiras primárias após a superterça confirmaram a curva ascendente do candidato Barack Obama. Neste sábado, eleitores de 04 (quatro) estados escolherem os candidatos democratas nas primárias. Em Nebraska, Obama venceu Hillary com 68% dos votos, contra 31% da adversária. Também em Washington, Obama teve 68% dos votos, contra 32% de Hillary. Em Louisiana, a vitória de Obama foi de 55% contra 38% da adversária. Nas Ilhas Virgens, Obama teve quase 90% dos votos, e levou os três delegados do pequeno arquipélago.

Hoje, domingo, Barack Obama também venceu o estado de Maine, de população branquíssima, e que os partidários de Hillary contavam como certa. Obama obteve 58% dos votos, contra 41% da senadora democrata. São 24 delegados que participarão da convenção democrata em agosto. Foi mais um fim de semana de notícias ruis para a campanha de Hillary Clinton. E Obama avança.

Após as primárias deste fim de semana, Hillary Clinton ainda continua com maior número de delegados, segundo estimativas da Associated Press, com 1.135 delegados, contra 1.106 delegados de Obama. Um candidato precisa de 2.025 delegados para garantir a candidatura. Como o sistema americano é complexo, o número de delegados de cada candidato ainda é só estimativa, podendo mudar.

As primárias voltam a ocorrer na terça-feira, no Distrito de Colúmbia (local da capital americana), em Maryland e na Virgínia. Em Colúmbia e Maryland, Obama deve vencer com relativa folga. Na Virgínia, havia um empate técnico, porém a trajetória ascendente de Obama pode leva-lo à vitória. A última pesquisa apontava 55 a 37 para Obama, mas há dúvidas sobre os números da pesquisa.

A expectativa de Hillary Clinton concentra-se em vitórias decisivas no Texas e em Ohio, no dia 04 de março. Além disso, ela é favorita na Pensilvânia, marcada para o dia 22 de abril. São grandes estados com número grande de delegados em jogo. O problema de Hillary é inverter o sinal ascendente da campanha de seu oponente. Se não estancar a subida de Obama, Hillary pode chegar nas primárias desses estados sem todo esse favoritismo.

Outro problema enfrentado por sua campanha é financeiro. Obama tem arrecadado bem mais dinheiro que a campanha de Hillary. Para vencer nesses grandes estados, Hillary terá que aumentar a arrecadação de sua campanha, senão suas chances de vitória diminuem.

Há um cenário que aponta que nenhum dos pré-candidatos democratas chegará à Convenção com o número de delegados necessários para obter a indicação. Quem decidirá são os superdelegados, que representam 20% dos delegados e não tem compromisso de voto. O que se comenta é que Hillary chegará à convenção com menos delegados que Obama, mas obterá a indicação com apoio da maioria dos superdelegados. Dessa forma, a burocracia partidária escolheu um candidato contra a vontade de seus eleitores. Se isso ocorrer, é difícil ter um prognóstico sobre seu impacto na campanha de Hillary para a presidência. Porém, isso não pode não confirmar. É que muitos dos superdelegados são senadores e deputados, e vão às urnas pedir votos aos eleitores. Podem não querer contrariá-los. É isso.
Em tempo: nesta segunda-feira surgiram novas estimativas apontando que Obama superou Hillary no número de delegados. Obama teria 1.137 delegados, contra 1.134 de Hillary. Essas estimativas têm um problema: incluem votos de “superdelegados”. Seriam 213 a favor de Hillary e 139 de Obama. Faltariam ainda computar os votos de 444 superdelegados. Mas é difícil ter certeza dos votos dos superdelegados, principalmente porque a maioria deles não declarou voto a nenhum dos candidatos.
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Bolsa Família ganha adeptos no mundo inteiro, diz Economist

"A edição desta semana da revista britânica The Economist publica uma reportagem sobre o Bolsa Família e afirma que o programa social do governo brasileiro "está ganhando adeptos em todo o mundo".

"Os governos do mundo inteiro estão olhando para este programa", diz Kathy Lindert, do escritório do Banco Mundial em Brasília, à revista.
A Economist afirma que iniciativas semelhantes estão sendo testadas em larga escala em outros países da América Latina e cita uma versão mais refinada do Bolsa Família adotada em Nova York.
De acordo com a reportagem, o Bolsa Família "contribuiu para o aumento na taxa de crescimento econômico do Nordeste acima da média nacional" e ajudou a "reduzir a desigualdade de renda no Brasil".
A Economist destaca o aumento da presença escolar em Alagoas, onde metade das famílias recebe o Bolsa Família, e afirma que essa melhoria pode "ajudar o programa a atingir o objetivo de romper com a cultura de dependência ao garantir uma educação melhor para as crianças".
Além da educação, a revista sugere que o programa do governo brasileiro também aumentou o poder de compra entre os mais pobres.

Microcrédito
A revista cita ainda outra melhoria na situação econômica dos menos favorecidos no Brasil, provocada pela oferta de microcrédito.
O reportagem conta a história de duas famílias alagoanas que se beneficiaram do programa de financiamento e conseguiram abrir um negócio próprio e aumentar a produção de suas microempresas.
A Economist diz ainda que, apesar do sucesso inicial do Bolsa Família, o programa enfrenta alguns problemas.
O primeiro deles, afirma a revista, está relacionado ao temor de fraudes nas informações recolhidas por governos locais para determinar as famílias que têm o direito de receber o benefício.
Segundo a reportagem, "15% dos governos municipais defendem a afirmação improvável de que 100% dos alunos estão freqüentando a escola 100% do tempo".
Outro problema levantado pela revista é a preocupação de que o Bolsa Família se torne um programa permanente no governo brasileiro, e não apenas "um impulso temporário de oportunidades para os mais pobres".
De acordo com a Economist, ainda é muito cedo para identificar essa tendência, que dependerá da capacidade de melhoria das escolas públicas do país.
Por último, a reportagem afirma que críticos acusam o programa de ser apenas um esquema para garantir votos nas eleições. Mas, segundo a revista, essa acusação é "injusta".
Apesar dos problemas, a Economist conclui com um balanço positivo ao afirmar que o gasto "modesto" do governo brasileiro, que investe 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) no programa, está garantindo bons resultados para o país.

Comentário do Blogueiro: Em tempos de cartões corporativos, fica parecendo que só há coisa ruim no Brasil. Mas uma revista estrangeira traz uma boa notícia. Claro que é uma notícia contando histórias que conhecemos, pois já foi comprovada a importância do programa Bolsa Família. Mas como tem gente teimosa, que querem desqualificar o programa por pura disputa política, sem reconhecer seus méritos, fica a matéria do Economist como um cala boca. O governo tem incontáveis defeitos, seja na articulação política, na economia ou em matéria administrativa, mas toda vez que essa galera tucana-demos começa a rugir, aumenta a vontade e o gás para reforçar o apoio ao governo. O que não dá mesmo é sentir saudades dessa turma.

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Jornalismo partidário na batalha dos cartões corporativos

Foi o grande cientista político italiano Antônio Gramsci que classificou a imprensa livre como o grande partido de direita do Ocidente. Pode-se dizer que a classificação é simplista. O que não pode ser dito da grande imprensa brasileira é que ela seja apartidária e neutra. É complicada a tarefa de exigir imparcialidade e equilíbrio da mídia. Quem sabe seja seu direito fazer suas opções, inclusive políticas. Ou será que a sociedade é que tem direito de exigir jornalismo de qualidade e apartidário. A resposta não é simples. O problema é que a mídia brasileira se declara imparcial e apartidária, mas ao mesmo tempo faz suas opções políticas (sem contar para o seu público). Assim, sua cobertura só pode resultar em mau jornalismo. É o que se viu na cobertura sobre os cartões corporativos.

Se a mídia não é neutra nem apartidária, é natural que os descontentes queiram criticá-la. Mas criticar a mídia no Brasil é sempre sinônimo de intolerância, autoritarismo, tentativa de calar a imprensa ou qualquer coisa desse tipo. Quer dizer que não tenho direito de ter opinião divergente daquilo que a mídia publica? A divergência também é seu monopólio? Não dá para aceitar isso. Não posso exigir imparcialidade da mídia, porém reservo-me o direito de não gostar de seu trabalho. É assim mesmo, a mídia faz seu trabalho, os críticos metem o pau e acabou. A vida continua. Sem essa de querer calar a boca dos críticos da mídia.

A imprensa paulista fingiu uma semana que não havia abusos no uso dos cartões do governo paulista. Pressionada pela blogsfera, principalmente após a divulgação de dados pelo Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, a Folha de São Paulo e o Estadão tiveram que render ao óbvio e publicar os gastos do governo paulista do PSDB. Porém, não conseguiram disfarçar sua parcialidade ou seu jornalismo partidário. No caso do governo federal, a oportunidade para as explicações quase não foi dada. Toda despesa era apresentada como ilegítima, sendo algumas matérias flagrantemente mentirosas. Nos cartões do governo Serra, o que não faltam é espaço para explicações. O governo Serra explicou algumas denúncias, deixando de lado um monte de outras denúncias onde estavam as maiores suspeitas, sem quaisquer contestações dos jornais. Aliás, até parece que o governo paulista é que escolheu as despesas suspeitas e depois forneceu explicações sobre elas. Beira o ridículo.

Além disso, destacaram-se as declarações de Serra jogando a culpa no PT pelas denúncias. Como disse em outro post, o PSDB sempre foge das explicações com essa história de ser o PT tentando confundir as coisas. O governo é do PSDB, mas quem deve explicações é o PT. O argumento não é válido. É como se o Lula falasse que o PSDB é que devesse explicar os gastos dos cartões corporativos federais. O problema é que não foi o PT quem fez as denúncias. Foi a blogsfera e, pressionados, os jornais paulistas que denunciaram abusos no uso dos cartões corporativos do governo Serra. Ou seja, o governo Serra não explica nada e ainda quer sair como vítima do episódio.

Outra bobagem é essa história de que os cartões do governo são diferentes do governo federal. O problema é a despesa em si, se são legítimas ou não. Os cartões de débito do governo Serra permitem realizar gastos ou sacar dinheiro em caixa, é o que importa. A grande diferença é que parece que há descontrole maior no governo paulista, pois são mais de 42 mil cartões. Cadê a mídia que fez um alvoroço com os 11 mil cartões federais? E também, se R$ 75 milhões do governo federal é um absurdo, o que dizer de R$ 108 milhões do governo Serra? Por que não informam que a despesa com suplementos de fundos caiu fortemente no governo atual com a disseminação dos cartões corporativos? Perguntas sem respostas. Sobram ilações.

O que ficou claro até o momento é que os cartões corporativos são mais eficientes para a realização de despesas dessa natureza e que há bem maior transparência no governo federal do que nos governos estaduais. Digo, todos os governos estaduais, não só os do PSDB. Na verdade, o governo Lula tem mérito, pois reduziu as despesas com suplementos de fundos e deu maior transparência. Tem problemas de gestão, certamente. Só que nesse caso, o governo Lula está à frente de seus críticos na oposição política. Onde está a incompetência e a corrupção que a mídia tenta vender? Desvios devem ser investigados, mas também precisa que as outras esferas (estaduais e municipais) adotem a transparência do governo Lula. Se desejarem fazer um bom jornalismo, que publiquem todas as informações e exijam transparência de todos. Basta de jornalismo partidário. A sociedade merece uma mídia melhor.
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