O símbolo da campanha de Aécio
Duas pessoas que querem conversar. Uma se chama Francisco. A outra se chama Aécio.
Francisco fala da desigualdade que aflige o mundo. Critica a ganância que leva tão poucos a terem tanto. Defende os pobres incondicionalmente. Fica claramente feliz quando está no meio deles.
A defesa entusiasmada e intransigente dos pobres fez de Francisco, para muitos, a personalidade mais fascinante do mundo, no pouco tempo que a humanidade teve para conhecê-lo.
Levou também a ataques por parte dos que defendem a iniquidade. A direita americana chamou Francisco de marxista.
Francisco disse que não é marxista, e de fato seria curioso um papa adotar o marxismo, uma doutrina que diz que a religião é o ópio do povo.
Mas disse com amor, como sempre: Francisco afirmou que tem amigos marxistas, e que são em geral boas pessoas.
Por tudo isso, todo mundo quer ouvir a voz de Francisco por um mundo novo.
E então vamos a Aécio.
Ele quer conversar com os brasileiros, como disse este ano. Vamos ver o que ele tem a dizer.
Numa entrevista a uma rádio de Pernambuco publicada ontem pelo site do PSDB, Aécio falou de sua visão de futuro.
Ele estava numa região que é o símbolo da iniquidade brasileira. O Nordeste foi tratado, ao longo dos séculos, a pontapés pela elite sulista brasileira.
Mas ele não falou de desigualdade. Não falou dos pobres. Não falou da ganância. Não falou que é triste o mundo tão iníquo.
Em vez disso, Aécio prometeu um governo mais enxuto e mais eficiente.
A agenda mundial é a iniquidade. Não é só o papa que retrata isso. Em Nova York, o candidato que se elegeu prefeito com uma vitória esmagadora centrou sua campanha nisso.
Falou que não pode haver tantos pobres em Nova York. Abraçou-os. Tomou o lado deles contra Wall Street e sua plutocracia predadora. E teve uma das vitórias mais acachapantes da história de Nova York.
Isso em Nova York. Ao povo sofrido do Nordeste brasileiro, Aécio fala de um governo mais enxuto. E quer ser ouvido.
Fala também de um ética. Como se 2013 não tivesse terminando sem que os brasileiros nada soubessem sobre a meia tonelada de cocaína apanhada num helicóptero de uma família amiga dele, os Perrellas.
Como se seu partido não estivesse no meio de um formidável escândalo ligado a propinas no Metrô de São Paulo.
Tudo isso posto, todo mundo quer ouvir Francisco. Tudo mundo quer falar com ele.
E ninguém parece muito interessado na conversa que Aécio propôs.
Entendamos. Se Francisco tivesse proposto um Vaticano “mais enxuto e mais eficiente” ele estaria falando sozinho, como tantos papas antes dele.
Estaria numa solidão patética, como Aécio no Brasil com uma conversa que mostra uma desconexão total com a realidade.