O pessimismo militante da velha mídia                                                                                                                     
Dia desses conversava com o executivo de  um grande grupo europeu, que  não se conformava com o clima de  pessimismo que via em meios empresariais brasileiros, como resultado da  cobertura da velha mídia do eixo Rio-São Paulo. Comparava com Portugal e  Espanha, desmanchando-se, com a União Europeia, estagnada, com os  desastres na Irlanda e na Grécia. Aí, voltava-se para o Brasil com o  mercado de consumo aquecido, o desemprego em níveis mínimos históricos, o  investimento privado direcionando-se para os leilões de concessão. E me  dizia que o Brasil era um país muito louco.
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Há muitas críticas à condução da  política econômica e vulnerabilidades que precisarão ser enfrentadas –  especialmente o desequilíbrio nas contas externas. Mas nada que nem de  longe se pareça com o quadro pintado nos grandes veículos. Aumentos de  meio ponto percentual ao ano nos índices inflacionários são tratados  como prenúncio de hiperinflação; acomodamento das vendas do varejo, em  níveis elevados, como prenúncio de recessão.
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No fundo desse pessimismo renitente há  uma guerra política inaugurada em 2005 que, quase nove anos depois,  continua sacrificando a notícia no altar das disputas partidárias.
É significativa a cobertura, em um  jornal econômico relativamente equilibrado,  do discurso de Dilma  Rousseff em um evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O primeiro parágrafo é dedicado ao  discurso de Dilma, à necessidade de uma indústria forte, de não  transformar o país em uma mera “economia de serviços”. Em seguida,  mencionou programas exitosos, como o Pronatec (Programa Nacional de  Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e ao Ciência Sem Fronteiras.
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Se Dilma permanecesse no encontro,  continua a matéria, iria colher relatos bem diferentes sobre o que  mencionou. É entrevistada então a superintendente de uma empresa de  eletrodomésticos que diz que os programas são bons, “mas chegaram  atrasados”. “O problema é que não temos nenhuma garantia de que o  empregado no qual investimos tanto seguirá na companhia", é a  reclamação. E sugere a criação  de uma “bolsa emprego”, destinada a  premiar o funcionário que permanecer mais tempo na empresa.
O que isso tem a ver com a Pronatec?  Nada. É um problema interno da empresa, de gestão de recursos humanos em  uma economia aquecida, mas que é utilizado como contraponto ao que  parecia ser excesso de otimismo na abertura da matéria.
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É um entre muitos exemplos do pessimismo  militante que recobriu a cobertura econômica da velha mídia nos últimos  anos. E que acaba comprometendo a crítica necessária sobre os pontos  efetivamente vulneráveis da política econômica e do processo de  desenvolvimento brasileiros.
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Na sexta-feira, a mesma CNI divulgou a  pesquisa CNI-Ibope. Os que consideram seu governo bom e ótimo saltaram  de 37% para 43% em relação ao último levantamento, de setembro. Desde  julho, o crescimento foi de 12 pontos percentuais. O percentual dos que  aprovam a maneira de Dilma governar aumentou de 54% para 56%.
É evidente que há muito a melhorar no  ambiente e na política econômica. Mas quem está em crise exposta, hoje  em dia, é certo tipo de jornalismo que acabou subordinando o senhor fato  a disputas políticas menores.