Quatro anos de impunidade do  mensalão do DEM escracham o rigor seletivo de Joaquim Barbosa e o  caráter da AP 470 como julgamento de exceção. 
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Uma decisão de Sua Majestade, a Rainha de Copas do Supremo Tribunal  Federal, que responde pela alcunha de Joaquim Barbosa, acaba de criar um  grave problema. Ao fazer a troca do juiz que cuidava da execução penal  dos condenados da AP 470, em busca de alguém "mais duro", Barbosa  tropeçou na Caixa de Pandora do mensalão do DEM.
Ao escolher um juiz para chamar de seu, optou, por acaso,  por alguém  que é filho de um alto dirigente do PSDB-DF. Pior: o pai desse juiz foi  secretário do governo de José Roberto Arruda, no Distrito Federal, e é  considerado por muitos como o mais fiel aliado do ex-governador após o  escândalo que o derrubou. Arruda caiu flagrado na operação Caixa de  Pandora, da Polícia Federal, que revelou o que se tornou conhecido como o  "mensalão do DEM".
A Caixa de Pandora, também por acaso, completa 4 anos exatamente nesta  semana. Em 27 de novembro de 2009, a Polícia Federal expôs um farto  conjunto de provas materiais do esquema de desvio de dinheiro público. O  próprio José Roberto Arruda foi pego com a mão na cumbuca, em um vídeo  no qual recebia dinheiro vivo - se Barbosa não sabe, é a isso que se  chama propriamente de "domínio do fato".
O DEM ficou com a pecha daquele mensalão, mas é bom lembrar que Arruda  era egresso do PSDB, tendo sido líder do governo FHC no Senado.  Renunciou para não ser cassado por um outro escândalo, o do painel do  Senado. Retornou à política como deputado federal e, depois, como  governador, eleito pelo PFL (atual DEM) e trazendo seu querido PSDB para  seu governo. Chegou a ser cogitado para vice de José Serra, nas  eleições de 2010, não fosse a Federal ter estragado tudo.
O contraste é gritante. Arruda continua livre, leve e solto. Ficha  limpa, ele pode inclusive concorrer às eleições do ano que vem. Filiado  ao Partido da República (de Waldemar Costa Neto e Anthony Garotinho),  Arruda conversa sobre alianças para 2014, no DF, com o PSDB, o PPS e,  como não poderia deixar de ser, o DEM.
Detalhe: o processo do mensalão do DEM foi desmembrado. O único que  responde atualmente em instância superior é um conselheiro do Tribunal  de Contas do DF. Com isso, a maioria dos denunciados, a começar por  Arruda, responde a processo em primeira instância, não recaindo na Lei  da Ficha Limpa, que exige condenação pelo menos em segunda instância.
Nesse sentido, os quatro anos de impunidade daquele que foi apontado  como chefe do mensalão do DEM escracham o rigor seletivo de Joaquim  Barbosa e o caráter da AP 470 como julgamento de exceção.
Antonio Lassance é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB).
No Carta Maior
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