Filósofo, professor no Departamento de Filosofia da Universidade de São  Paulo (USP) e articulista semanal na Folha de S.Paulo, Vladimir Safatle,  em texto publicado hoje no jornal mostra a diferença de tratamento que o  Judiciário dá a denúncias e escândalos que envolvam o PT e o que dá aos  outros partidos. Ele fala sobre o tratamento dado pelo Judiciário, mas a  mídia igualmente confere tratamento distinto a petistas e aos outros.
“Os eleitores do PT têm razão em se indignar com a maneira seletiva da  Justiça de tratar os partidos. Se o escândalo do metrô fosse com seu  partido, meus amigos, vocês poderiam esperar um comportamento bastante  distinto do Judiciário”. Safatle analisa o tratamento dado pelo  presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) ao chamado mensalão  mineiro. “Tomado por certa paralisia e horror, é como se nosso  presidente do Supremo não pudesse tocar no processo”, registra o  articulista.
“Algo semelhante – prossegue ele – ocorre com um dos mais  impressionantes escândalos de corrupção do Brasil recente, o que envolve  o metrô paulistano. Empresas multinacionais julgadas em tribunais  suíços e franceses, pedidos de informação vindos da Justiça suíça e  inacreditavelmente “esquecidos” por procuradores brasileiros, denúncias  feitas por funcionários das empresas envolvidas citando nominalmente  toda a cúpula dos tucanos bandeirantes (…) nada, mas absolutamente nada  disso foi capaz de abrir uma reles CPI.”
Em 20 anos de governos tucanos no Estado de São Paulo, período em que  três governadores, Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra se  sucederam no poder estadual – Covas duas vezes governador, Alckmin três –  todos atingidos pelas denúncias de que o esquema escandaloso no setor  de transportes públicos funcionou em suas administrações, eles barraram  cerca de 70 pedidos de CPIs para apurar acusações de irregularidades em  suas administrações.
“Uma série de denúncias sobre assalto ao bem público durante quase duas  décadas, tão bem fundamentadas que tiveram a força de abrir inquéritos  em países europeus, não foi capaz de justificar uma reles CPI na  província de São Paulo. Ao menos nesse ponto, os eleitores do PT têm  razão em não levar a Justiça brasileira a sério. Se o escândalo do metrô  fosse com seu partido, meus amigos, vocês poderiam esperar um  comportamento bastante distinto da Justiça e de certos setores caninos  da imprensa nacional”, conclui Vladimir Safatle.
