Pedro do Coutto
Absurdo completo: o governador Sérgio Cabral ameaça romper com a presidente Dilma Rousseff se ela apoiar a candidatura Lindbergh Farias ao governo do Rio de janeiro contra Luiz Fernando Pezão nas urnas de 2014. Parece incrível, mas o fato está configurado na reportagem de Cássio Bruno, Juliana Castro, Paulo Celso Pereira e Fernanda Krakovics, edição de quarta-feira de 16 de O Globo. A surpreendente reação do chefe do Executivo é acompanhada pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, que chegou ao ponto de afirmar que não haverá palanque duplo no Estado, ou seja, Lindbergh e Pezão, embora adversários, abriram espaços em suas campanhas pela reeleição de Dilma Rousseff. O PT tem que decidir, afirmou Eduardo Cunha, se quer o Planalto ou o governo do RJ. A ameaça espanta pela sua impropriedade.
Nesse ponto, a ameaça vem acompanhada por um tom de desafio, uma espécie de ultimato. Tal atitude força a presidente da República a manter o apoio do Partido dos Trabalhadores ao ex-prefeito de Nova Iguaçu e ex-presidente da UNE. Nunca na história política do país um presidente da República recebeu ameaça desse porte. Não tem cabimento. Sérgio Cabral, de acordo com a reportagem, irritou-se com a declaração do presidente nacional do PT, Rui Falcão, em favor de Lindbergh, divulgada no dia seguinte do encontro que manteve com Dilma e com o ex-presidente Lula. E interpretou como manifestação de ambos liberando o PT-RJ para lançar a candidatura Lindbergh.
E que tem isso? – é lógico indagar-se, pois Farias é do PT. Que desejavam Sérgio Cabral e Eduardo Cunha? Que Dilma e Lula mandassem retirar Lindbergh e a regional da legenda apoiar Pezão? Não faz sentido, mas é isso que, no fundo, o governador e o líder do PMDB revelam diretamente desejar. Desejar só não: pressionar o Planalto a agir no sentido de tal decisão. Inaceitável, diga-se de passagem, pela presidente da República. Para tornar a situação ainda mais crítica, Cabral e Cunha sinalizam com abertura de uma dissidência no PMDB, na medida em que acentuam a tendência de a seção do Rio de Janeiro não acompanhar a convenção nacional do partido que, inclusive, vai, é claro, confirmar Michel Temer como vice na chapa liderada por Dilma.
O PMDB-RJ esquece que, em política, não se pode exigir apoios forçados. Sempre foram fracassos. Se o PT fosse obrigado a retirar Farias e seguir para as urnas com Pezão, é evidente que com isso, explodiria uma crise interna. Os petistas seguiriam a orientação forçada e terminariam escolhendo qualquer outra candidatura que não a do atual vice-governador do Estado. Dilma Rousseff, assim, nada ganharia e principalmente perderia votos no terceiro colégio eleitoral do país, cerca de 12 milhões de eleitores somente abaixo de São Paulo e Minas Gerais. Aliás estes três estados juntos somam 41% do eleitorado brasileiro. Logo na sequência vem Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e Pará. Estas oito unidades da Federação representam dois terços da população e, portanto, também dos votantes.
Há poucos dias, leitores deste site reclamaram pelo fato de não ter incluído o nome de Anthony Garotinho entre os ex-candidatos ao governo RJ. Não é fato. Citei Garotinho e inclusive me referi ao índice de 15 pontos que alcançou em pesquisa do Ibope, só dois por cento abaixo de Lindbergh Farias, que liderou o levantamento. Esqueci, isso sim, de citar Cesar Maia que já anunciou ser candidato pelo DEM. São candidatos: Lindbergh, Garotinho, Marcelo Crivella, Pezão, o ex-prefeito e talvez Miro Teixeira (PROS). Fica assim corrigido o esquecimento: a Cesar o que é de Cesar, responsável pelo ingresso e sucesso de Eduardo Paes no quadro político carioca.
Fonte: Tribuna da Imprensa.