Como a ‘fantástica’ internet pode combater mais rapidamente o monopólio da voz da mídia tradicionalby Paulo Nogueira |                   
Em  sua conta no Facebook, Lula fez esta semana o elogio da “fantástica”  internet. Colocou-a, com razão, como uma alternativa à voz única, e  altamente conservadora, que domina a mídia tradicional.
O  real debate em torno das coisas do Brasil se trava hoje na internet, um  território florescente que não é e nem jamais será dominado por um  pequeno grupo de famílias interessadas na manutenção de privilégios  velhos como o bigode de Rio Branco.
Reclamar  apenas da mídia tradicional não resolve nada, disse Lula. Ele está  absolutamente certo, é verdade. Lamúrias não mudam coisa nenhuma. Mas  discurso sem ação também não.
Lula  se dirigia especificamente aos petistas, mas sua mensagem vale para  todo brasileiro cansado do conteúdo enviesado e frequentemente desonesto  que domina a mídia tradicional.
Mas.
Mas  o que concretamente tem sido feito pelo Estado para estimular a –  falemos genericamente – “voz alternativa” digital, tão importante para a  sociedade?
A  “velha voz” goza de ancestrais regalias copiosas. Exemplo: não incide  imposto sobre o papel usado para imprimir jornais e revistas. É o  chamado “papel imune”. Outro exemplo: as empresas desfrutam de uma  reserva de mercado abjeta – algo que elas condenam em todo outro setor  que não seja o delas mesmas. Isso impede a concorrência estrangeira, e  configura uma pancada no capitalismo puro pelo qual elas, aspas, se  batem tanto.
A  lista de mamatas vai muito além. Na publicidade oficial, as grandes  corporações se dão muito bem. Nos últimos dez anos, sob o PT portanto, a  Globo levou cerca de 6 bilhões de reais, de acordo com dados divulgados  pelo Secom, o órgão do governo que administra a propaganda oficial.
A  Globo continua a receber publicidade do governo em doses torrenciais  mesmo com o declínio contínuo de sua audiência. Não é só uma anomalia  governamental, é certo. Outros anunciantes fazem exatamente o mesmo. Em  2012, a Globo nunca teve uma audiência tão baixa e, ao mesmo tempo,  nunca faturou tanto em publicidade.
São  duas coisas excludentes – queda de público e aumento de receita  publicitária. Mas a Globo opera uma mágica. Essa mágica na verdade é uma  propina legalizada chamada BV: a Globo paga uma comissão às agências  que anunciam nela.
Quanto  mais a agência anuncia, mais ganha. Muitas agências, hoje, dependem do  BV pago pela Globo. E então fazem de tudo para colocar a verba de seus  clientes na emissora. Isso explica fenômenos como o seguinte: há dez  anos, o Jornal Nacional tinha audiência média de 32%, e o preço do  comercial de 30 segundos era de 200 000 reais. Agora, a audiência é 35%  menor, e o comercial custa 90% mais.
Como  os anunciantes aceitam isso é um caso de estudo. Até alguns anos atrás,  com ibopes de 50% ou mais, estar fora da Globo podia atrapalhar  seriamente uma marca. Não mais. No mundo moderno, o que pode comprometer  o futuro de uma marca é não ter presença na internet, porque os  consumidores estão cada vez mais lá, na internet, e não na Globo.
Como  tudo isso se reflete na política de anúncios do governo? No ano  passado, a fatia da internet girou em torno de 5% -- um número altamente  conservador quando se consideram as circunstâncias. Se Lula tem razão  ao chamar de “fantástica” a internet, e ver nela um contraponto ao  conservadorismo da mídia tradicional, é uma porcentagem que não faz  sentido.
Que  correções estão sendo feitas? É uma questão relevante para o futuro do  país. Quanto maior o dinheiro colocado na internet, menor o poder de  mídias tradicionais que têm sido, ao longo dos tempos, um obstáculo  formidável para o avanço social do Brasil. Elogiá-la, como fez Lula, é  um bom começo. Mas há que fazer mais que falar -- em nome da pluralidade  de ideias que deve abastecer, democraticamente, a sociedade brasileira.
