Não olhar para trás - Míriam Leitão

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  • domingo, 23 de dezembro de 2012
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  • Não basta o governo investir, tem que investir certo. "Construir pirâmides não vai desenvolver o país", diz Armínio Fraga. Trem-bala é pirâmide, na visão dele. Aliás, de muita gente. O governo está neste momento com nostalgia do modelo dos anos 1970. "Não sou pessimista com o Brasil a médio prazo, mas agora o governo está olhando demais para um modelo que deu errado."

    No domingo, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o economista Edward Amadeo publicaram um artigo neste jornal se perguntando se não está chegando ao fim a herança bendita. Foi sobre isso que conversei com Fraga no programa da Globonews.

    Por herança bendita, ele entende as reformas que o Brasil fez a partir da década de 1990. Abertura da economia, estabilização, modernização do Estado e inclusão dos mais pobres. Acha que esses bons passos foram dados por governos diferentes, e não apenas o de Fernando Henrique, no qual trabalhou. Destaca avanços importantes no governo Lula, principalmente o combate à pobreza:

    - Mas, aos poucos, começou a mudar. Hoje, olhando para trás, dá para saber que a guinada começou no segundo mandato do presidente Lula.

    Ele contrapõe o modelo novo, em que houve muitas reformas, com o velho, dos anos 50 a 70, em que houve pouca poupança, pouca ênfase na educação e na produtividade:

    - Temos que nos organizar para avançar. No novo modelo, o Estado continua necessário - e nem seria diferente numa sociedade tão desigual quanto a nossa - mas para concentrar-se no que é mais importante. Nos outros setores, tem que atuar apenas como regulador. Hoje, o Estado está entrando cada vez mais na produção e está correndo riscos.

    Um dos exemplos é o setor ferroviário. É uma velha demanda brasileira o investimento em ferrovias, mas o governo assumiu todos os riscos da ampliação de investimento e vai garantir a compra de toda a oferta de transporte que for criada:

    - É muito melhor ter um setor privado que corre riscos e paga os preços das decisões que toma, e, portanto, tem que pensar bem antes de fazer um investimento, do que ter um Estado que garante tudo.

    Ele acha que o BNDES deveria cobrar do setor privado aumento na participação do financiamento ao investimento:

    - A história de países que alicerçaram o seu crescimento em bancos públicos não é boa, inclusive a nossa.

    O ex-presidente do BC ressalta o ganho da queda dos juros, mas recomenda paciência e disciplina:

    - A inflação vem acima da meta há algum tempo e isso não é bom. O governo tem recorrido a artifícios tributários e outros, como o dos combustíveis, para ajudar a inflação. Isso produz uma redução pontual dos preços. Não quer dizer que a inflação está resolvida. A taxa está bem alta no Brasil.

    Armínio não está pessimista com o país e vê avanços importantes na educação, por exemplo, principalmente porque as famílias começaram a dar mais valor:

    - As pesquisas mostram isso e se as famílias estiverem cobrando dos políticos, escolas, diretores, professores, a situação melhora. Essa área promete. Tem muita coisa boa acontecendo.

    Outro avanço ocorre no mercado de capitais que, por esforços das empresas e governo, tem ficado mais confiável e atraído mais investidores:

    - Não sou pessimista, mas o país está confuso em sua estratégia e há no governo um certo namoro com um modelo antigo que deu errado.

    Armínio acha que o cenário externo será melhor em 2013 e o ciclo vai favorecer. O que está faltando, segundo ele, é o Brasil agir na direção certa.

    Fonte: O Globo
     
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