Após assumir a presidência do Supremo durante o julgamento do mensalão, Joaquim Barbosa tem dado atenção aos conselhos do ministro mais antigo, Celso de Mello, que o ajudou a passar por provas de fogo.
Quando a experiência fala mais alto no Supremo
Celso de Mello, ministro mais antigo do STF, sobressai-se como conselheiro de Joaquim e acalma ânimos em plenário
Carolina Brígido, André de Souza
BRASÍLIA - Em seus primeiros dias na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), cargo que assumiu em 22 de novembro, o ministro Joaquim Barbosa titubeou em alguma ocasiões: da proclamação de resultados de votações a dúvidas sobre o regimento interno do tribunal. Sorte dele ter conseguido socorro para os momentos mais difíceis no decano da Corte, o ministro Celso de Mello.
Joaquim, que costuma ser refratário às sugestões de ministros como Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, com quem discutiu muito ao longo do julgamento do mensalão, cedeu ao mais antigo membro da Corte.
A postura de Celso tem servido para apaziguar os ânimos. O presidente do STF sempre ouve suas ponderações, ainda que os conselhos sejam contrários às posições dele. O decano já corrigiu Joaquim em público, orientou seus atos à luz do Regimento e o ajudou a proclamar o resultado de votações.
Antes do julgamento do mensalão, Celso tinha postura tímida em plenário. Seus votos se restringiam a termos jurídicos e linguagem rebuscada, em respeito à liturgia da Corte. Mas, ao longo dos últimos quatro meses e meio, ele se soltou: falou em "assalto à administração pública" e em "marginais do poder". E assumiu posto informal de auxiliar do presidente.
Joaquim assumiu a presidência do STF em situação delicada: havia protagonizado discussões intensas em plenário, especialmente com Lewandowski, atual vice-presidente da Corte e revisor do processo do mensalão. Hoje, além de Celso, Joaquim ouve Luiz Fux. Os dois se destacaram no julgamento por concordar na maioria das vezes com os votos do relator.
Os ministros julgaram 112 condutas criminosas atribuídas a 37 réus. Em 54 delas, o Joaquim e Lewandowski discordaram. Isso corresponde a 48,21% dos votos. Foi a mais alta taxa de discordância entre dois ministros da Corte. Fux foi o que mais concordou com Joaquim, em 97,32%, ou 109 de 112 votos. Foi seguido de Ayres Britto (94,64%) e Celso de Mello (93,75%).
Fonte: O Globo