Ensino público S/A, modelo de escola que deu certo em Apucarana

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  • segunda-feira, 12 de novembro de 2012
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  • O sistema educacional de Apucarana (Norte do Paraná) é um mundo à parte. Gerido por uma autarquia (e não uma Secretaria de Educação), ele foge do padrão das escolas públicas brasileiras e se aproxima da qualidade da rede privada de ensino. Atua quase como uma empresa, onde a secretária de Educação é a presidente e os pais, os acionistas.

    FOTOS: Veja slideshow com imagens das escolas de Apucarana

    A cidade tem uma rede de educação integral que funciona com qualidade em todas as escolas e serve de referência para o resto do país. Além disso, conta com um sistema próprio de avaliação de desempenho escolar, a Prova Cidade Educação. O teste, que será realizado na semana que vem, acontece a cada dois anos para intercalar com a Prova Brasil, a avaliação do ensino fundamental feita pelo governo federal e que serve para compor o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
    Embora a de Apucarana siga o mesmo padrão da nacional, que é avaliar o conhecimento de português e matemática dos alunos do 5.º ano, a prova ajuda a detectar falhas e auxilia na montagem do planejamento escolar do ano seguinte. Em 2012, a prova vai dar um passo à frente e fazer o que o Ministério da Educação (MEC) pretende para o resto do país apenas em 2013: avaliar os alunos do 3.º ano para medir a qualidade da alfabetização.
    Segundo a presidente da Autarquia Municipal de Educação de Apucarana, Suzimara Carvalho de Almeida Lima, a educação integral da cidade funciona bem porque, com um controle anual de desempenho, é possível detectar e consertar mais rápido os problemas. Não é à toa que ao longo de 11 anos a educação integral deixou de ser apenas atividades aleatórias de contraturno – como ainda acontece em boa parte das escolas da rede estadual – e passou a ter disciplinas da base curricular obrigatória, como matemática, história e ciências, tanto no turno da manhã quanto no da tarde. Foram essas mudanças que contribuíram para o aumento do Ideb da cidade, que saltou de 4,5 em 2005 para 6 em 2011, média equivalente a das escolas com os melhores desempenhos.
    As aulas, que começam 7h30 e vão até 16h30, mesclam conteúdos obrigatórios com oficinas – que vão desde jogos matemáticos até leitura e produção de texto – e aulas de balé, caratê e música. Essas três últimas são dadas por uma empresa terceirizada especializada.
    Mais agilidade
    Criada em 2010, a autarquia é vinculada à prefeitura, mas tem autonomia para trabalhar. Por não precisar se submeter aos processos burocráticos normais a uma Secretaria de Educação, há mais agilidade na liberação de recursos para as escolas, que vão desde o conserto de um telhado até a compra de merenda e material pedagógico.
    Além disso, o prefeito João Carlos de Oliveira (PMDB) explica que, por ser um modelo jurídico diferente e com outra carga tributária, há sempre uma sobra de caixa – cerca de R$ 350 mil por ano –, que é investido diretamente nas escolas. “Sem contar que nosso orçamento para a educação é um pouco maior que o das outras cidades [32% contra 25%]. Isso acontece porque precisa de mais investimento para ter uma boa educação integral.”
    Estrutura física de colégio particular
    O bom exemplo das escolas municipais de Apucarana também é resultado de uma estrutura física impecável, muito próxima de colégios particulares de cidade grande. A reportagem visitou três escolas de regiões diferentes da cidade, entre elas a Escola Municipal Senador Marcos de Barros Freire, que fica em um bairro carente, o Jardim Ponta Grossa. Em todas, o ambiente é o mesmo: salas grandes e arejadas, corredores e pátios limpos, pintura conservada e sem pichações ou depredações, banheiros em bom estado e adaptado para crianças de diferentes faixas etárias.
    Cada sala comporta, em média, 30 alunos e é decorada com imagens pedagógicas que auxiliam o professor nas aulas e tornam o ambiente agradável e aconchegante. Em alguma delas, como na Escola Municipal Doutor Edson Giacomini, cada sala de aula tem uma biblioteca. Ao lado do quadro negro há uma estante com livros adequados para a faixa etária, cedidos pelo Ministério da Educação (MEC).
    Nas salas que não têm livros, uma contadora de histórias passa de turma em turma, de duas a três vezes por semana. A professora Reni Piacentine tem esse papel. “Faço isso com os pequenos também. O bom desse trabalho é que ajuda eles a organizarem o pensamento para todas as outras disciplinas”, conta.
    Atividades culturais
    Para as aulas de dança, música e caratê não falta material – como flautas, por exemplo – nem espaço adequado. Geralmente, a escola tem uma grande sala coberta usada para essas atividades. Já a cozinha, que prepara lanches e almoço – são três refeições por dia –, parece muito com aquelas de casa de avó: ampla, com cortina na janela e cheiro de comida caseira. (AS)


    Dificuldades
    A consolidação do modelo educacional de Apucarana não foi fácil. Houve diversos percalços ao longo do caminho para conquistar a qualidade que se tem hoje. Entre 2001 e 2005, por exemplo, as escola sofreram com a falta de espaço para aulas integrais, pois muitas dividiam a estrutura física com a rede estadual.
    Sem contar a escassez de professores para suprir uma carga horária que saiu de 20 para 40 horas semanais. Por isso, o município criou a Faculdade Apucarana Cidade Educação (Faced), com quatro cursos de licenciatura com disciplinas específicas para formar docentes voltados para o ensino integral.
    Participação
    Pais “acionistas” opinam, fiscalizam e cobram
    Para garantir o bom funcionamento de uma grande empresa são necessários acionistas que cobrem resultados e fiscalizem as contas. É justamente esse o papel dos pais de alunos matriculados na rede municipal de Apucarana. Além de participar de reuniões periódicas para definir quais as reformas, mudanças e aquisições que a escola precisa, eles contribuem voluntariamente com R$ 2 ou R$ 3 por mês, recurso destinado à compra de materiais de higiene e limpeza ou outras necessidades que alunos e professores precisam ao longo do ano.
    É por esse papel que os pais são peça-chave para o bom funcionamento da rede. Na Escola Municipal Professor Alcides Ramos, que atende 213 crianças de 4 a 10 anos, logo no início do ano letivo, famílias e diretoria decidem que festa farão para arrecadar dinheiro e em que esse valor será aplicado. “A maior que temos é a festa junina. Conseguimos arrecadar R$ 15 mil e investimos na reforma dos dois banheiros dos alunos. Essa decisão foi tomada em conjunto”, conta a diretora Gracy Kelly Alves Canisin.
    As escolas também contam com o fundo rotativo municipal, que possibilita fazer pequenas compras e reformas sem precisar de licitação.(AS)
    gazeta do povo

     
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