Por Julie Lévesque
“Esqueçam a desenfreada islamofobia em nível mundial e a demonização dos árabes. O jornal israelense “Haaretz” informa que a “Agência para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho”, do Departamento de Estado dos EUA, “institucionalizou a luta contra o antissemitismo global”, muito embora os Estados Unidos e seus aliados estejam há mais de uma década destruindo países habitados, principalmente, por muçulmanos. Ou, não seria, talvez, precisamente para apoiar a guerra contra o Islã e o mundo árabe – isto é, “a guerra contra o terrorismo” – que essa “guerra contra o antissemitismo global” tenha sido lançada? (“Leaving post, U.S. official reflects on a new definition of anti-Semitism”, Haaretz, October 17, 2012.)
A “Agência de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho”, que se apresenta como líder dos “esforços dos EUA para promover a democracia, proteger os direitos humanos e a liberdade religiosa internacional e para impulsionar globalmente os direitos trabalhistas”, exige, agora, que os funcionários do Departamento de Estado frequentem um “curso de 90 minutos sobre antissemitismo no “Instituto de Relações Exteriores” (Foreign Service Institute), a escola de preparação de diplomatas.” (Ibid.) [na mesma fonte citada]
Por conveniência, “uma definição de antissemitismo de 341 palavras” foi redigida, a qual “incluía não apenas as formas tradicionais – injúrias de origem racial, estereótipos – mas também novas formas, como a negação do Holocausto e a relativização do Holocausto”, explicou Hannah Rosenthal, ex-monitora de antissemitismo no Departamento de Estado. (Ibid.)
Rosenthal, que comandou por duas vezes o “Conselho Judaico para Questões Públicas” e é agora presidenta e diretora executiva da “Federação Judaica de Milwaukee”, também indicou que sua equipe “conseguiu incluir (na definição) situações nas quais a crítica legítima a Israel se torna antissemitismo”. (Ibid.)
Essa iniciativa é mais uma demonstração do “monopólio judaico da vitimização”. No mundo pós 11/9, no qual muçulmanos e árabes são vítimas de discriminação racial e religiosa nos países ocidentais, uma decisão desse tipo é logicamente injustificável. A caça aos “radicais islamistas”, retratados pelo Departamento de Estados dos EUA como a máxima ameaça, independentemente de qual partido esteja no governo, transformou todos os muçulmanos e árabes em suspeitos e inimigos potenciais. A “guerra contra o antissemitismo global” não é nada mais do que outro instrumento de engano da “guerra contra o terror” dos EUA, a qual, indubitavelmente, favorece Israel.
Esse novo curso sobre antissemitismo para funcionários estadunidenses é, também, um peixe pequeno no oceano da “Indústria do Holocausto”. Os lobbies pró-israelenses/judaicos estão decididos em sua missão de erradicar quaisquer críticas legítimas ao Estado de Israel. No entanto, Rosenthal tentou mostrar-se tolerante ao dizer que “as críticas a Israel similares àquelas niveladas contra quaisquer outros países não poderão ser consideradas como antissemitas.”
Embora essa declaração possa parecer justa e equilibrada, não o é, e também não é lógica. Resulta ser não somente impossível equilibrar as críticas entre países, senão que Israel e os EUA são os campeões de crítica não-equilibrada. O melhor exemplo disso é sua crítica ao Irã, que, diferentemente dos EUA e Israel, não [invadiu, nem] ocupa nenhum outro país no momento, não está empregando suas forças armadas contra nenhuma outra nação e não possui nenhum armamento nuclear comprovado. Apesar desses fatos, vem sendo apresentado como “a mais perigosa ameaça do planeta”.
NIVELANDO A CRÍTICA E NORMALIZANDO A ISLAMOFOBIA
Tenha ou não sido usada de propósito, a expressão “niveladas contra outros países”, em lugar de “dirigidas” ou “destinadas”, traduz o desejo de minimizar a crítica contra Israel. A “nivelação da crítica” serve a um propósito de primeira linha relacionado à sua ocupação da Palestina: justificar o injustificável; dar a impressão de que está se protegendo de um inimigo que combate com meios equiparados aos seus e que está colocando sua sobrevivência em grande perigo. Serve para justificar a ocupação de várias décadas, a punição coletiva dos palestinos, o que é um crime de guerra com base nos Princípios de Nuremberg, os quais foram elaborados na onda dos julgamentos aos nazistas. Quando se trata de Israel e Palestina, não é logicamente possível criticar igualmente os dois países: como pode um país ocupado, sem forças armadas, ao qual são negados o direito de autodeterminação e os direitos humanos básicos, ser criticado tanto quanto seu brutal e superarmado ocupante?
Há uma frase superficial estereotipada que os chamados “comentaristas neutros” costumam usar muito para “nivelar sua crítica”: “O conflito Israel-Palestina é complicado”. Primeiro e principalmente, não se trata de um “conflito”. É uma guerra. Uma guerra travada com meios desproporcionais, na qual toda uma população está sendo punida e o agressor é vitimizado. Em segundo lugar, não é “complicado”. É muito simples. Israel ocupa um território e comete crimes de guerra de forma regular, enquanto que a “comunidade internacional” permanece sentada sem fazer nada, já seja porque Israel é seu aliado [$$$] ou simplesmente porque seus interesses não estão em risco.
Essa “nivelação de críticas” faz parte do legendário processo de legitimação da injustiça e dos crimes de guerra. Na década de 1990, os “Acordos de Oslo” trivializaram a ocupação israelense da Palestina. Recentemente, o futebolista palestino Mahmoud Sarsak se tornou um ícone da luta contra a normalização. Ele foi preso numa passagem fronteiriça, encarcerado em Israel e libertado somente depois de greve de fome de 96 dias. Adie Mormech escreve:
“O Dr. Haidar Eid denominou a luta pela libertação da Palestina em oposição à normalização com Israel de “A des-Osloização da mente dos palestinos”. Ele descreveu o posicionamento de Mahmoud Sarsak (o futebolista palestino) ao recusar ser recepcionado pelo F.C. Barcelona juntamente com o soldado israelense Gilad Shalit de a luta contra o “Vírus de Oslo”.
O “Vírus de Oslo” se refere ao que estava por trás da série de iniciativas de normalização que começaram de forma séria em 1993, no auge dos “Acordos de Oslo”, e o acordo feito entre a “Organização para a Libertação da Palestina” (OLP) e o governo trabalhista de Israel de então.
Edward Said, que vira de imediato os perigos da "normalização sem justiça", escreveu em 1995 sobre a decisão da liderança palestina de aprovar o “Acordo de Oslo". “Pela primeira vez no século XX, um movimento de libertação anticolonialista não somente descartou suas consideráveis conquistas, senão que fez um acordo de cooperar com uma ocupação militar antes de a ocupação ter terminado” (Adie Mormech, “De-Osloization and the fight against Normalisation”, Scoop, October 25, 2012.)
Sarsak explicou sua decisão da seguinte maneira:
“Há uma diferença entre uma pessoa aprisionada com sua arma, com uniforme militar, de dentro de seu tanque… e a prisão numa passagem fronteiriça de um atleta que estava a caminho de seu clube esportivo profissional na Cisjordânia. Eu anuncio minha disposição de me reunir com o Barcelona ou qualquer outro clube espanhol fora do contexto de um convite conjunto a Gilad Shalit, se me convidarem como um atleta palestino que experimentou… o sofrimento de uma greve de fome pela liberdade e pela dignidade.” (Adie Mormech, “Mahmoud Sarsak and the end of Oslo-era normalization”, Mondoweiss, October 26, 2012).
A narrativa segundo a qual o “conflito” entre a Palestina e Israel “é complicado” é parte da trivialização da brutal e ilegal ocupação da Palestina por Israel. Por uma distorção absurda e macabra da realidade, somos levados a crer que os israelenses são as únicas vítimas de racismo e discriminação.
A injustiça foi vulgarizada e minimizada a tal ponto que, segundo levantamento recente, a maioria dos israelenses aceita e admite que há uma forma de apartheid em seu próprio país, e cerca de 50% da população apoia a segregação e a discriminação contra os árabes:
Uma nova enquete revelou que a maioria dos israelenses judeus acredita que o Estado Judaico pratica “apartheid” contra os palestinos, com muitos apoiando abertamente as políticas discriminatórias contra seus cidadãos árabes.
Um terço dos que responderam creem que “os cidadãos árabes de Israel não deveriam ter direito a voto”, ao passo que quase a metade – 47 % – gostaria que "lhes fossem retirados seus direitos de cidadania” e que fossem postos sob o controle da Autoridade Palestina (…)
A enquete, conduzida pelo grupo de pesquisa israelense “Dialog”, concluiu que 59% de 503 pessoas consultadas gostaria de ver os judeus receberem preferência para os empregos no setor público, ao passo que a metade gostaria de ver os judeus melhor tratados do que os árabes.
Um pouco mais de 40% gostaria de ver moradias e salas-de-aulas separadas para judeus e árabes. (Catrina Stewart, “The new Israeli apartheid: Poll reveals widespread Jewish support for policy of discrimination against Arab minority”, “The Independent”, October 23, 2012)
Noam Sheizaf, um jornalista israelense, escreveu que as “descobertas refletem a noção generalizada de que Israel, como um Estado Judaico, deveria ser um Estado que favorecesse os judeus. Elas são também o resultado da ocupação… Após quase meio século de dominação sobre outro povo, não é nenhuma surpresa que a maioria dos israelenses não pense que os árabes mereçam os mesmos direitos.” (Ibid.)
Essa dominação dos palestinos pelos israelenses vem sendo estimulada e mantida por países que alegam defender a liberdade, os direitos humanos e a democracia.
A “Autoridade Palestina” foi criada com os “Acordos de Oslo” em 1994 como um organismo de governo provisório com poderes limitados e com independência geográfica ainda mais limitada de Israel, [acordos] cuja duração deveriam ter sido de apenas cinco anos, de acordo com a linha de tempo estipulada pela qual os “acordos de status final” deveriam ter sido alcançados.
Dezenas de milhões de dólares jorraram sobre a “Autoridade Palestina” (AP) vindos de ardentes partidários de Israel, tais como os Estados Unidos e a União Europeia, e investimentos similares prosseguiram em projetos conjuntos Israel-Palestina que, uma vez mais, não fizeram nenhum esforço para mudar o status quo político e econômico da vida palestina concreta.
O discurso proeminente em relação a grupos recentemente formados, tais como “One Voice” (Uma Voz) e outras colaborações, era que o “conflito” Israel-Palestina era um problema de ignorância e preconceito em oposição a uma questão de injustiça e do continuado despojo e subjugação de um povo por outro. (http://www.maan-ctr.org/pdfs/Boycott.pdf)
A onda de colaborações que veio após Oslo aumentaram a legitimidade global de Israel de tal modo que os acordos bilaterais com a União Europeia e outros países se multiplicaram, assim como outros acordos que incluíam laços mais próximos com a OTAN e a OCDE. Entre 1994 e 2000, houve acréscimo de seis vezes no investimento estrangeiro direto em Israel, de US$ 686 milhões para aproximadamente US$ 3,6 bilhões. (“De-Osloization and the fight against Normalisation”, op. cit.)
De certo modo, o “Vírus de Oslo” normalizou o ostracismo de todos os árabes e muçulmanos, e o maltrato aos palestinos era um prelúdio para a aceitação da atual e patente islamofobia e arabofobia (E como os árabes também são semitas, a arabofobia também é antissemitismo, mas é virtualmente impossível usar essa expressão em relação com os sentimentos antiárabes em razão de sua forte conotação judaica.)
O mundo ocidental aceita as ocupações dos EUA e Israel sobre terras árabes e muçulmanas para “proteger interesses estratégicos e financeiros”, e a “guerra global contra o antissemitismo” assim como a “guerra global ao terror” são os pretextos escolhidos para a invasão militar, onde quer que a “intervenção humanitária” se mostre inadequada. Aqueles que resistem à ocupação estadunidense no Afeganistão ou à ocupação israelense da Palestina são retratados como “terroristas”. Aqueles que matam civis e funcionários governamentais eleitos na Síria são apresentados como “combatentes da liberdade”. Se você resiste à ocupação, você será bombardeado. Se você combater por ela, você será armado.
O ANTISSEMITISMO E A ISLAMOFOBIA COMO INSTRUMENTOS DA GUERRA DE PROPAGANDA DOS EUA
Alguns argumentam que Israel não passa de posto avançado do imperialismo estadunidense: “Os Estados Unidos estão alinhados com Israel fundamentalmente porque usam Israel para projetar sua influência imperial na região rica em recursos.” (Michael Fiorentino “Israel: An outpost of empire”, SocialistWorker.org, April 16, 2010.). Com isso em mente, a “guerra global contra o antissemitismo” pode ser vista como um instrumento da guerra de propaganda imperial dos Estados Unidos.
Em “A Indústria do Holocausto”, Norman Finkelstein escreve: “Assim como as organizações judeo-estadunidenses dominantes negligenciaram o holocausto nazista nos anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial para ajustar-se às prioridades do governo dos EUA na Guerra Fria, também sua atitude quanto a Israel manteve-se em linha com a política estadunidense nos EUA.” Com a guerra árabe-israelense de 1967, “O Holocausto se tornou uma fixação na vida do judeu estadunidense”. (Finkelstein, Norman. “The Holocaust Industry”. New York: Verso, 2003, p. 16-17.)
Não é segredo para ninguém que os EUA querem expandir e manter sua hegemonia, e o infame “Projeto para um Novo Século Estadunidense” (“Project for a New American Century”) expôs claramente o que deve ser feito para tal efeito.
O papel das forças militares durante a Guerra Fria era dissuadir o expansionismo soviético. Hoje, sua tarefa é garantir e expandir as “zonas de paz democrática”, dissuadir o surgimento de nova grande potência competidora, defender regiões chave da Europa, Ásia Oriental e Oriente Médio, e preservar a proeminência dos Estados Unidos mediante a próxima transformação da guerra viabilizada por novas tecnologias (…)
A liderança global dos Estados Unidos (…) baseia-se na segurança da pátria estadunidense, a preservação de um equilíbrio de forças favorável na Europa, no Oriente Médio e nas circundantes regiões produtoras de energia, assim como na Ásia Oriental.(“Rebuilding America’s Defenses”, “Project for a New American Century”, September 2000.)
Chama muito a atenção que expandir as “zonas de paz democrática” seja o único objetivo entre parênteses, posto que esses, em geral, denotam sarcasmo e ironia. Afora de “paz democrática”, os objetivos hegemônicos estão muito claros e a nova “guerra contra o antissemitismo global” só pode contribuir ainda mais para o projeto imperial dos Estados Unidos, do qual Israel é tanto uma ferramenta de uso como um beneficiário.
Fortemente armados pelos Estados Unidos, a política exterior de Israel é uma extensão da política exterior dos Estados Unidos. Desde a criação de Israel, fomos acostumados ao maltrato dos palestinos: isso foi “normalizado”. A punição coletiva infligida aos palestinos por Israel, um crime que os judeus sofreram sob o regime nazista, é aceito e perpetuado pelos Estados Unidos. Sem a ajuda e a permissão dos Estados Unidos e a aceitação da chamada “comunidade internacional”, os palestinos não seriam perseguidos.
Da mesma forma que Israel usa o Holocausto para justificar a punição coletiva dos palestinos e a agressão a seus vizinhos, os Estados Unidos usam o 11/9 para justificar a punição coletiva dos muçulmanos no mundo inteiro e várias invasões militares. Muito antes dos “Memorandos da Tortura” da administração Bush que avalizam a tortura, Israel já tinha oficialmente autorizado a tortura através do “Relatório Landau”, em 1987. A islamofobia é, sem dúvida, a forma mais aceita de discriminação na atualidade e, nesse contexto, a institucionalização da “guerra global contra o antissemitismo” é claramente outra expressão distorcida da mesma.
Em “The Islamophobia Industry: How the Right Manufactures Fear of Muslims” (“A indústria da islamofobia: Como a Direita Fabrica o Medo aos Muçulmanos”), Nathan Lean “traça o arco do sentimento islamofóbico que aflorou no ocidente”, o qual está fortemente ligado à “Indústria do Holocausto”.
“Ele expõe a multimilionária indústria dos traficantes do medo e a rede de financiadores e organizações que bancam e perpetuam o fanatismo, a xenofobia e o racismo, e criam um clima de medo que sustenta ameaçador câncer social” (…)
“Trata-se de relação de benefícios mútuos, na qual ideologias e afinidades políticas convergem para levar adiante a mesma agenda.” (…)
Elas provêm, principalmente, do sionismo direitista e do cristianismo evangélico, que se unem para formar uma frente judeo-cristã em suas batalhas contra o Islã. Seus financiadores também provêm desses mundos – embora o mundo sionista de direita tenha gerado a maioria dos ativistas antimuçulmanos (…)
É esse sionismo cristão que liga estreitamente direitistas evangélicos com fortes partidários do Estado Judeu. Os sionistas que espalham o fanatismo anti-islâmico podem ser alocados em três campos, segundo Lean: o sionismo religioso (judeu), o sionismo cristão e o sionismo político. “Para os sionistas religiosos, a profecia é o principal instigador de seu fervor islamofóbico. Para eles, os palestinos não são apenas habitantes indesejados; não são apenas árabes em terras judaicas. Não são sequer apenas muçulmanos. Eles são forasteiros não-judeus feitos de tecido diferente – e as ordens de Deus em relação a eles são bem claras”, ele escreve. E há o sionismo político, que se abstém da linguagem religiosa, mas continua sendo hostil para com os muçulmanos. Como Max Blumenthal escreveu, esses personagens, alguns dos quais são neoconservadores, creem que “o Estado Judeu (é) um “Forte Apache” do Oriente Médio nas linhas de frente da ‘Guerra Global ao Terror.” (Alex Kane, Islamophobia: How Anti-Muslim bigotry was brought into the American mainstream, Mondoweiss, October 29, 2012.)
Os Estados Unidos estão usando Israel para suas guerras sujas e, por sua vez, Israel está usando os Estados Unidos para combater seus vizinhos. Eles são aliados inseparáveis, cada qual acumula poder e expande seu controle sobre territórios estrangeiros e suas populações, e seus aliados se beneficiam disso. Qualquer que seja o pretexto usado, a razão para deflagrar guerras permanece a mesma: poder e dinheiro. E isso sempre se consegue com a demonização de quem estiver no caminho.”
FONTE: escrito por Julie Lévesque no “Global Research” de 12/11/2012. Artigo transcrito no portal “Viomundo” com tradução de Jair de Souza (http://www.viomundo.com.br/politica/julie-levesque-a-guerra-contra-o-antissemitismo-global-na-era-da-islamofobia.html) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
“Esqueçam a desenfreada islamofobia em nível mundial e a demonização dos árabes. O jornal israelense “Haaretz” informa que a “Agência para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho”, do Departamento de Estado dos EUA, “institucionalizou a luta contra o antissemitismo global”, muito embora os Estados Unidos e seus aliados estejam há mais de uma década destruindo países habitados, principalmente, por muçulmanos. Ou, não seria, talvez, precisamente para apoiar a guerra contra o Islã e o mundo árabe – isto é, “a guerra contra o terrorismo” – que essa “guerra contra o antissemitismo global” tenha sido lançada? (“Leaving post, U.S. official reflects on a new definition of anti-Semitism”, Haaretz, October 17, 2012.)
A “Agência de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho”, que se apresenta como líder dos “esforços dos EUA para promover a democracia, proteger os direitos humanos e a liberdade religiosa internacional e para impulsionar globalmente os direitos trabalhistas”, exige, agora, que os funcionários do Departamento de Estado frequentem um “curso de 90 minutos sobre antissemitismo no “Instituto de Relações Exteriores” (Foreign Service Institute), a escola de preparação de diplomatas.” (Ibid.) [na mesma fonte citada]
Por conveniência, “uma definição de antissemitismo de 341 palavras” foi redigida, a qual “incluía não apenas as formas tradicionais – injúrias de origem racial, estereótipos – mas também novas formas, como a negação do Holocausto e a relativização do Holocausto”, explicou Hannah Rosenthal, ex-monitora de antissemitismo no Departamento de Estado. (Ibid.)
Rosenthal, que comandou por duas vezes o “Conselho Judaico para Questões Públicas” e é agora presidenta e diretora executiva da “Federação Judaica de Milwaukee”, também indicou que sua equipe “conseguiu incluir (na definição) situações nas quais a crítica legítima a Israel se torna antissemitismo”. (Ibid.)
Essa iniciativa é mais uma demonstração do “monopólio judaico da vitimização”. No mundo pós 11/9, no qual muçulmanos e árabes são vítimas de discriminação racial e religiosa nos países ocidentais, uma decisão desse tipo é logicamente injustificável. A caça aos “radicais islamistas”, retratados pelo Departamento de Estados dos EUA como a máxima ameaça, independentemente de qual partido esteja no governo, transformou todos os muçulmanos e árabes em suspeitos e inimigos potenciais. A “guerra contra o antissemitismo global” não é nada mais do que outro instrumento de engano da “guerra contra o terror” dos EUA, a qual, indubitavelmente, favorece Israel.
Esse novo curso sobre antissemitismo para funcionários estadunidenses é, também, um peixe pequeno no oceano da “Indústria do Holocausto”. Os lobbies pró-israelenses/judaicos estão decididos em sua missão de erradicar quaisquer críticas legítimas ao Estado de Israel. No entanto, Rosenthal tentou mostrar-se tolerante ao dizer que “as críticas a Israel similares àquelas niveladas contra quaisquer outros países não poderão ser consideradas como antissemitas.”
Embora essa declaração possa parecer justa e equilibrada, não o é, e também não é lógica. Resulta ser não somente impossível equilibrar as críticas entre países, senão que Israel e os EUA são os campeões de crítica não-equilibrada. O melhor exemplo disso é sua crítica ao Irã, que, diferentemente dos EUA e Israel, não [invadiu, nem] ocupa nenhum outro país no momento, não está empregando suas forças armadas contra nenhuma outra nação e não possui nenhum armamento nuclear comprovado. Apesar desses fatos, vem sendo apresentado como “a mais perigosa ameaça do planeta”.
NIVELANDO A CRÍTICA E NORMALIZANDO A ISLAMOFOBIA
Tenha ou não sido usada de propósito, a expressão “niveladas contra outros países”, em lugar de “dirigidas” ou “destinadas”, traduz o desejo de minimizar a crítica contra Israel. A “nivelação da crítica” serve a um propósito de primeira linha relacionado à sua ocupação da Palestina: justificar o injustificável; dar a impressão de que está se protegendo de um inimigo que combate com meios equiparados aos seus e que está colocando sua sobrevivência em grande perigo. Serve para justificar a ocupação de várias décadas, a punição coletiva dos palestinos, o que é um crime de guerra com base nos Princípios de Nuremberg, os quais foram elaborados na onda dos julgamentos aos nazistas. Quando se trata de Israel e Palestina, não é logicamente possível criticar igualmente os dois países: como pode um país ocupado, sem forças armadas, ao qual são negados o direito de autodeterminação e os direitos humanos básicos, ser criticado tanto quanto seu brutal e superarmado ocupante?
Há uma frase superficial estereotipada que os chamados “comentaristas neutros” costumam usar muito para “nivelar sua crítica”: “O conflito Israel-Palestina é complicado”. Primeiro e principalmente, não se trata de um “conflito”. É uma guerra. Uma guerra travada com meios desproporcionais, na qual toda uma população está sendo punida e o agressor é vitimizado. Em segundo lugar, não é “complicado”. É muito simples. Israel ocupa um território e comete crimes de guerra de forma regular, enquanto que a “comunidade internacional” permanece sentada sem fazer nada, já seja porque Israel é seu aliado [$$$] ou simplesmente porque seus interesses não estão em risco.
Essa “nivelação de críticas” faz parte do legendário processo de legitimação da injustiça e dos crimes de guerra. Na década de 1990, os “Acordos de Oslo” trivializaram a ocupação israelense da Palestina. Recentemente, o futebolista palestino Mahmoud Sarsak se tornou um ícone da luta contra a normalização. Ele foi preso numa passagem fronteiriça, encarcerado em Israel e libertado somente depois de greve de fome de 96 dias. Adie Mormech escreve:
“O Dr. Haidar Eid denominou a luta pela libertação da Palestina em oposição à normalização com Israel de “A des-Osloização da mente dos palestinos”. Ele descreveu o posicionamento de Mahmoud Sarsak (o futebolista palestino) ao recusar ser recepcionado pelo F.C. Barcelona juntamente com o soldado israelense Gilad Shalit de a luta contra o “Vírus de Oslo”.
O “Vírus de Oslo” se refere ao que estava por trás da série de iniciativas de normalização que começaram de forma séria em 1993, no auge dos “Acordos de Oslo”, e o acordo feito entre a “Organização para a Libertação da Palestina” (OLP) e o governo trabalhista de Israel de então.
Edward Said, que vira de imediato os perigos da "normalização sem justiça", escreveu em 1995 sobre a decisão da liderança palestina de aprovar o “Acordo de Oslo". “Pela primeira vez no século XX, um movimento de libertação anticolonialista não somente descartou suas consideráveis conquistas, senão que fez um acordo de cooperar com uma ocupação militar antes de a ocupação ter terminado” (Adie Mormech, “De-Osloization and the fight against Normalisation”, Scoop, October 25, 2012.)
Sarsak explicou sua decisão da seguinte maneira:
“Há uma diferença entre uma pessoa aprisionada com sua arma, com uniforme militar, de dentro de seu tanque… e a prisão numa passagem fronteiriça de um atleta que estava a caminho de seu clube esportivo profissional na Cisjordânia. Eu anuncio minha disposição de me reunir com o Barcelona ou qualquer outro clube espanhol fora do contexto de um convite conjunto a Gilad Shalit, se me convidarem como um atleta palestino que experimentou… o sofrimento de uma greve de fome pela liberdade e pela dignidade.” (Adie Mormech, “Mahmoud Sarsak and the end of Oslo-era normalization”, Mondoweiss, October 26, 2012).
A narrativa segundo a qual o “conflito” entre a Palestina e Israel “é complicado” é parte da trivialização da brutal e ilegal ocupação da Palestina por Israel. Por uma distorção absurda e macabra da realidade, somos levados a crer que os israelenses são as únicas vítimas de racismo e discriminação.
A injustiça foi vulgarizada e minimizada a tal ponto que, segundo levantamento recente, a maioria dos israelenses aceita e admite que há uma forma de apartheid em seu próprio país, e cerca de 50% da população apoia a segregação e a discriminação contra os árabes:
Uma nova enquete revelou que a maioria dos israelenses judeus acredita que o Estado Judaico pratica “apartheid” contra os palestinos, com muitos apoiando abertamente as políticas discriminatórias contra seus cidadãos árabes.
Um terço dos que responderam creem que “os cidadãos árabes de Israel não deveriam ter direito a voto”, ao passo que quase a metade – 47 % – gostaria que "lhes fossem retirados seus direitos de cidadania” e que fossem postos sob o controle da Autoridade Palestina (…)
A enquete, conduzida pelo grupo de pesquisa israelense “Dialog”, concluiu que 59% de 503 pessoas consultadas gostaria de ver os judeus receberem preferência para os empregos no setor público, ao passo que a metade gostaria de ver os judeus melhor tratados do que os árabes.
Um pouco mais de 40% gostaria de ver moradias e salas-de-aulas separadas para judeus e árabes. (Catrina Stewart, “The new Israeli apartheid: Poll reveals widespread Jewish support for policy of discrimination against Arab minority”, “The Independent”, October 23, 2012)
Noam Sheizaf, um jornalista israelense, escreveu que as “descobertas refletem a noção generalizada de que Israel, como um Estado Judaico, deveria ser um Estado que favorecesse os judeus. Elas são também o resultado da ocupação… Após quase meio século de dominação sobre outro povo, não é nenhuma surpresa que a maioria dos israelenses não pense que os árabes mereçam os mesmos direitos.” (Ibid.)
Essa dominação dos palestinos pelos israelenses vem sendo estimulada e mantida por países que alegam defender a liberdade, os direitos humanos e a democracia.
A “Autoridade Palestina” foi criada com os “Acordos de Oslo” em 1994 como um organismo de governo provisório com poderes limitados e com independência geográfica ainda mais limitada de Israel, [acordos] cuja duração deveriam ter sido de apenas cinco anos, de acordo com a linha de tempo estipulada pela qual os “acordos de status final” deveriam ter sido alcançados.
Dezenas de milhões de dólares jorraram sobre a “Autoridade Palestina” (AP) vindos de ardentes partidários de Israel, tais como os Estados Unidos e a União Europeia, e investimentos similares prosseguiram em projetos conjuntos Israel-Palestina que, uma vez mais, não fizeram nenhum esforço para mudar o status quo político e econômico da vida palestina concreta.
O discurso proeminente em relação a grupos recentemente formados, tais como “One Voice” (Uma Voz) e outras colaborações, era que o “conflito” Israel-Palestina era um problema de ignorância e preconceito em oposição a uma questão de injustiça e do continuado despojo e subjugação de um povo por outro. (http://www.maan-ctr.org/pdfs/Boycott.pdf)
A onda de colaborações que veio após Oslo aumentaram a legitimidade global de Israel de tal modo que os acordos bilaterais com a União Europeia e outros países se multiplicaram, assim como outros acordos que incluíam laços mais próximos com a OTAN e a OCDE. Entre 1994 e 2000, houve acréscimo de seis vezes no investimento estrangeiro direto em Israel, de US$ 686 milhões para aproximadamente US$ 3,6 bilhões. (“De-Osloization and the fight against Normalisation”, op. cit.)
De certo modo, o “Vírus de Oslo” normalizou o ostracismo de todos os árabes e muçulmanos, e o maltrato aos palestinos era um prelúdio para a aceitação da atual e patente islamofobia e arabofobia (E como os árabes também são semitas, a arabofobia também é antissemitismo, mas é virtualmente impossível usar essa expressão em relação com os sentimentos antiárabes em razão de sua forte conotação judaica.)
O mundo ocidental aceita as ocupações dos EUA e Israel sobre terras árabes e muçulmanas para “proteger interesses estratégicos e financeiros”, e a “guerra global contra o antissemitismo” assim como a “guerra global ao terror” são os pretextos escolhidos para a invasão militar, onde quer que a “intervenção humanitária” se mostre inadequada. Aqueles que resistem à ocupação estadunidense no Afeganistão ou à ocupação israelense da Palestina são retratados como “terroristas”. Aqueles que matam civis e funcionários governamentais eleitos na Síria são apresentados como “combatentes da liberdade”. Se você resiste à ocupação, você será bombardeado. Se você combater por ela, você será armado.
O ANTISSEMITISMO E A ISLAMOFOBIA COMO INSTRUMENTOS DA GUERRA DE PROPAGANDA DOS EUA
Alguns argumentam que Israel não passa de posto avançado do imperialismo estadunidense: “Os Estados Unidos estão alinhados com Israel fundamentalmente porque usam Israel para projetar sua influência imperial na região rica em recursos.” (Michael Fiorentino “Israel: An outpost of empire”, SocialistWorker.org, April 16, 2010.). Com isso em mente, a “guerra global contra o antissemitismo” pode ser vista como um instrumento da guerra de propaganda imperial dos Estados Unidos.
Em “A Indústria do Holocausto”, Norman Finkelstein escreve: “Assim como as organizações judeo-estadunidenses dominantes negligenciaram o holocausto nazista nos anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial para ajustar-se às prioridades do governo dos EUA na Guerra Fria, também sua atitude quanto a Israel manteve-se em linha com a política estadunidense nos EUA.” Com a guerra árabe-israelense de 1967, “O Holocausto se tornou uma fixação na vida do judeu estadunidense”. (Finkelstein, Norman. “The Holocaust Industry”. New York: Verso, 2003, p. 16-17.)
Não é segredo para ninguém que os EUA querem expandir e manter sua hegemonia, e o infame “Projeto para um Novo Século Estadunidense” (“Project for a New American Century”) expôs claramente o que deve ser feito para tal efeito.
O papel das forças militares durante a Guerra Fria era dissuadir o expansionismo soviético. Hoje, sua tarefa é garantir e expandir as “zonas de paz democrática”, dissuadir o surgimento de nova grande potência competidora, defender regiões chave da Europa, Ásia Oriental e Oriente Médio, e preservar a proeminência dos Estados Unidos mediante a próxima transformação da guerra viabilizada por novas tecnologias (…)
A liderança global dos Estados Unidos (…) baseia-se na segurança da pátria estadunidense, a preservação de um equilíbrio de forças favorável na Europa, no Oriente Médio e nas circundantes regiões produtoras de energia, assim como na Ásia Oriental.(“Rebuilding America’s Defenses”, “Project for a New American Century”, September 2000.)
Chama muito a atenção que expandir as “zonas de paz democrática” seja o único objetivo entre parênteses, posto que esses, em geral, denotam sarcasmo e ironia. Afora de “paz democrática”, os objetivos hegemônicos estão muito claros e a nova “guerra contra o antissemitismo global” só pode contribuir ainda mais para o projeto imperial dos Estados Unidos, do qual Israel é tanto uma ferramenta de uso como um beneficiário.
Fortemente armados pelos Estados Unidos, a política exterior de Israel é uma extensão da política exterior dos Estados Unidos. Desde a criação de Israel, fomos acostumados ao maltrato dos palestinos: isso foi “normalizado”. A punição coletiva infligida aos palestinos por Israel, um crime que os judeus sofreram sob o regime nazista, é aceito e perpetuado pelos Estados Unidos. Sem a ajuda e a permissão dos Estados Unidos e a aceitação da chamada “comunidade internacional”, os palestinos não seriam perseguidos.
Da mesma forma que Israel usa o Holocausto para justificar a punição coletiva dos palestinos e a agressão a seus vizinhos, os Estados Unidos usam o 11/9 para justificar a punição coletiva dos muçulmanos no mundo inteiro e várias invasões militares. Muito antes dos “Memorandos da Tortura” da administração Bush que avalizam a tortura, Israel já tinha oficialmente autorizado a tortura através do “Relatório Landau”, em 1987. A islamofobia é, sem dúvida, a forma mais aceita de discriminação na atualidade e, nesse contexto, a institucionalização da “guerra global contra o antissemitismo” é claramente outra expressão distorcida da mesma.
Em “The Islamophobia Industry: How the Right Manufactures Fear of Muslims” (“A indústria da islamofobia: Como a Direita Fabrica o Medo aos Muçulmanos”), Nathan Lean “traça o arco do sentimento islamofóbico que aflorou no ocidente”, o qual está fortemente ligado à “Indústria do Holocausto”.
“Ele expõe a multimilionária indústria dos traficantes do medo e a rede de financiadores e organizações que bancam e perpetuam o fanatismo, a xenofobia e o racismo, e criam um clima de medo que sustenta ameaçador câncer social” (…)
“Trata-se de relação de benefícios mútuos, na qual ideologias e afinidades políticas convergem para levar adiante a mesma agenda.” (…)
Elas provêm, principalmente, do sionismo direitista e do cristianismo evangélico, que se unem para formar uma frente judeo-cristã em suas batalhas contra o Islã. Seus financiadores também provêm desses mundos – embora o mundo sionista de direita tenha gerado a maioria dos ativistas antimuçulmanos (…)
É esse sionismo cristão que liga estreitamente direitistas evangélicos com fortes partidários do Estado Judeu. Os sionistas que espalham o fanatismo anti-islâmico podem ser alocados em três campos, segundo Lean: o sionismo religioso (judeu), o sionismo cristão e o sionismo político. “Para os sionistas religiosos, a profecia é o principal instigador de seu fervor islamofóbico. Para eles, os palestinos não são apenas habitantes indesejados; não são apenas árabes em terras judaicas. Não são sequer apenas muçulmanos. Eles são forasteiros não-judeus feitos de tecido diferente – e as ordens de Deus em relação a eles são bem claras”, ele escreve. E há o sionismo político, que se abstém da linguagem religiosa, mas continua sendo hostil para com os muçulmanos. Como Max Blumenthal escreveu, esses personagens, alguns dos quais são neoconservadores, creem que “o Estado Judeu (é) um “Forte Apache” do Oriente Médio nas linhas de frente da ‘Guerra Global ao Terror.” (Alex Kane, Islamophobia: How Anti-Muslim bigotry was brought into the American mainstream, Mondoweiss, October 29, 2012.)
Os Estados Unidos estão usando Israel para suas guerras sujas e, por sua vez, Israel está usando os Estados Unidos para combater seus vizinhos. Eles são aliados inseparáveis, cada qual acumula poder e expande seu controle sobre territórios estrangeiros e suas populações, e seus aliados se beneficiam disso. Qualquer que seja o pretexto usado, a razão para deflagrar guerras permanece a mesma: poder e dinheiro. E isso sempre se consegue com a demonização de quem estiver no caminho.”
FONTE: escrito por Julie Lévesque no “Global Research” de 12/11/2012. Artigo transcrito no portal “Viomundo” com tradução de Jair de Souza (http://www.viomundo.com.br/politica/julie-levesque-a-guerra-contra-o-antissemitismo-global-na-era-da-islamofobia.html) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].