PAULO NOGUEIRA
São Paulo venceu.
Nas urnas, hoje, os paulistanos disseram não ao mundo velho, obsoleto, cínico e inepto representado por Serra e os que gravitaram em torno de sua candidatura a prefeito de São Paulo.
Em escala municipal, a cidade tem que enfrentar tenazmente o grande drama do mundo moderno: a iniquidade social que tem feito com que tão poucos desfrutem das coisas boas que o capitalismo pode trazer.
Falo do capitalismo puro, tal como pregado por Adam Smith, no qual a ganância da plutocracia é neutralizada por um conjunto poderoso de princípios morais que podem ser sintetizados numa frase. “O impulso em admirar, e quase venerar, os ricos e os poderosos, e desprezar ou, ao menos, negligenciar os pobres é a maior e mais universal causa da corrupção de nossos valores”, escreveu Smith.
Com Serra e seu foco nos “ricos e poderosos” de que falou Adam Smith, ou no “1%” da campanha do movimento Ocupe Wall St, São Paulo não teria chance de se modernizar socialmente.
Haddad não é uma certeza, evidentemente. Mas é uma esperança que faz sentido. São Paulo pode ser mais rápido que o Brasil como um todo — por sua riqueza, por sua pujança, por seu dinamismo — na construção de uma sociedade harmoniosa, nos moldes do que existe na admirável, exemplar Escandinávia.
Se Haddad for competente, São Paulo pode começar a se transformar, sob ele, numa Dinamarca e, por sua força, acelerar a dinamarquização do país.
Os sinais disso serão vistos facilmente no correr dos longos dias, caso Haddad seja um bom prefeito: menos miséria, menos gente nos faróis esmolando, menos favelas deformando a cidade. Mais bicicletas nas ruas, certamente.
É uma caminhada longa. Mas, para lembrar a sabedoria chinesa, toda caminhada começa no primeiro passo. Romper com tudo que Serra significa de atraso já é, em si, um primeiro passo.