Márcio Pochmann candidato do PT em Campinas/SP

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  • segunda-feira, 6 de agosto de 2012
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  • Márcio Pochmann, candidato a Prefeito de Campinas pelo PT, em entrevista ao UOL/Folha. Confira trechos onde ele fala sobre as eleições em Campinas e a economia no Brasil:
    Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política Entrevista".
    Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo, do portal UOL e do portal Folha.com. A gravação é realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O entrevistado desta edição é o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.
    Folha/UOL: Muito obrigado por sua presença. E eu pergunto: o sr. foi escolhido pelo PT para ser candidato a prefeito de Campinas. Como foi o processo da sua escolha?
    Marcio Pochmann: Em primeiro lugar, agradecimento por poder participar aqui do seu programa, o seu trabalho, que admiro muito. Em relação à definição desse último final de semana a respeito das prévias realizadas no município de Campinas, em que terminamos saindo vitoriosos... Acredito que quem tenha saído realmente vitorioso foi o Partido dos Trabalhadores, pois realizou um grande debate sobre a cidade... Eu acabei ingressando nessa nova trajetória a partir inclusive da indicação do presidente Lula, que ocorreu no ano passado.
    Folha/UOL: O ex-presidente Lula tem, pontualmente, influído um pouco nas disputas municipais deste ano. Em São Paulo indicou o nome de Fernando Haddad. Em Campinas, sugeriu o seu nome. Essa influência de Lula é boa ou ruim para o PT?
    Marcio Pochmann: O presidente Lula, assim como outras lideranças nacionais do PT, tem a convicção de que a formação de quadros do PT nesses últimos 30 anos foi muito importante para a ascensão da democracia do país e a transformação que vem ocorrendo. Especialmente a partir de 2003. Mas esse contingente de lideranças foi originado e formado quando o Brasil era muito diferente do que temos hoje. O que temos hoje nesse início do século 21 já é um país muito modificado. A emergência de novos setores sociais, da classe trabalhadora que expande sem estar aliado a partidos políticos, a sindicatos, a movimentos sociais. Então é fundamental nesse sentido reconhecer que os partidos precisam se renovar e o PT está se renovando justamente no momento em que ele ainda está no auge. É muito mais difícil fazer uma renovação quando o partido está num momento de dificuldade, de crise. Vamos analisar outros partidos de oposição como o PSDB que, certamente, vai fazer uma renovação. Mas é difícil uma renovação no período em que o partido está na oposição até numa situação de crise, com maior dificuldade. Então o PT se renova no auge.
    Folha/UOL: Mas a influência do presidente Lula para muitos críticos, inclusive dentro do PT, é sobre a presença quase imperial dele dentro do partido indicando nomes. Isso é bom ou ruim para a democracia interna do seu partido?
    Marcio Pochmann: No nosso caso eu posso falar por Campinas, ele na verdade nos motivou a participar, não fez nenhuma indicação fechada, tanto é que nós fizemos uma prévia. Houve uma conversa muito importante no âmbito do partido, da cidade, e se entendeu que seria efetivo e ativo nós passarmos a uma competição. E fizemos essa competição com um outro companheiro popular lá da cidade e isso nos ajudou muito do ponto de vista da democratização, do aprofundamento, da atração de novos militantes. Então eu entendo que isso tem sido positivo e estou falando fundamentalmente do meu caso.
    Folha/UOL: O presidente Lula deve participar da sua campanha?
    Marcio Pochmann: Eu acredito que sim. Porque ele tem se demonstrado uma figura cada vez mais importante na decisão do voto em termos nacionais, não será diferente no Estado de São Paulo, especialmente na cidade de Campinas. Assim como a presidenta Dilma, vamos deixar claro que tem tido uma presença bastante grande na construção da opinião de grande parte dos brasileiros.
    Folha/UOL: O sr. está no comando do Ipea desde 2007. Quando deve deixar a presidência do Ipea para se dedicar à campanha?
    Marcio Pochmann: Nós estamos justamente aguardando uma decisão da presidenta a esse respeito. Ela já é conhecedora da nossa decisão e, certamente, ela anunciará, tão logo ela entenda que isso deva ser feito.
    Folha/UOL: Do ponto de vista legal tem que ser em maio a sua saíde?
    Marcio Pochmann: Não. É...
    Folha/UOL: Junho?
    Marcio Pochmann: Exatamente. Seis de junho.
    Folha/UOL: Quatro meses antes da eleição.
    Marcio Pochmann: Presidentes de fundações e autarquias têm um prazo de até quatro meses antes da eleição.
    Folha/UOL: O seu desejo seria sair, se possível, quando?
    Marcio Pochmann: Eu entendo que já cumpri minha tarefa no âmbito do Ipea que está hoje uma instituição organizada e preparada para seguir, independente da minha presença. Então eu aguardo esse momento que a presidente entender mais adequado.
    Folha/UOL: O PT apoiou a gestão passada do prefeito de Campinas, Dr. Hélio [do PDT], que acabou saindo por suspeita de corrupção. Entrou no lugar dele o vice-prefeito, Demétrio [Vilagra], que era do PT. Também acabou saindo por suspeitas também de corrupção. O fato de o PT ter se associado à gestão anterior, tão problemática, vai prejudicar a sua campanha?
    Marcio Pochmann: Eu acho que não, porque em geral o debate eleitoral feito no município é um debate sobre o futuro da cidade. Eu estou convicto que nós teremos as melhores propostas para apresentar na cidade em relação às perspectivas de Campinas que é a 11ª cidade mais rica do país. É uma cidade que está num momento excepcional do ponto de vista da construção de um salto na cidade. Nós deveremos ter um grande entroncamento viário e aéreo que vai fazer, possivelmente, do aeroporto de Viracopos o maior aeroporto da América Latina. Então a cidade está diante de grandes potencialidades. No entanto, há um descolamento da política local. A política infelizmente enveredou para um plano... Enfim, que tem penalizado a cidade. A cidade era industrial, hoje é uma cidade de serviços. Uma cidade com problemas em área de saúde, educação. Há uma certa regressão de direitos, porque já tivemos uma boa educação e condições de saúde superiores ao que temos hoje.
    Folha/UOL: Por que aconteceu isso em Campinas?
    Marcio Pochmann: Eu acredito que nós estamos vivendo um quadro de Campinas que também é uma expressão do Estado de São Paulo. São Paulo sempre foi considerada a locomotiva do Brasil, especialmente a partir do ciclo do café e as opções que o Brasil fez por conta da industrialização. Tornou São Paulo a locomotiva. Hoje, São Paulo não é mais locomotiva do Brasil. É a quarta renda per capita e, infelizmente, se manter a trajetória que nós estamos observando nessas últimas duas décadas, São Paulo quando terminar a segunda década do século 21 será a sétima renda per capita. Então há uma certa regressão relativa do Estado e que, de certa maneira, resulta das opções que o Estado fez. O Estado vive um quadro de desindustrialização importante. E os setores que mais crescem no Estado são o setor financeiro e o setor agrícola, que ao nosso modo de ver são insuficientes para manter a pujança de um Estado como aquele.
    Folha/UOL: Quanto tempo, depois de todos esses problemas que aconteceram em Campinas, um prefeito que for eleito agora neste ano [em 2012] e que toma posse em 2013 [em janeiro de 2013] vai precisar para colocar a política em melhores termos em Campinas?
    Marcio Pochmann: Eu acredito que é fundamental iniciar o ano que vem, na verdade, arrumando a casa. Porque há um descuido do ponto de vista da governança da cidade. Isso é fundamental que se faça logo de início para poder, o mais rapidamente, a cidade se conectar com as grandes transformações que vêm ocorrendo no Brasil.
    Folha/UOL: Se pudesse resumir, quais seriam os dois ou três principais pontos da sua plataforma que seriam prioridades do seu eventual governo?
    Marcio Pochmann: Bem nós estamos construindo coletivamente isso no interior do partido e ao mesmo tempo também com a sociedade campineira. Mas entendemos em primeiro lugar que é fundamental uma organização administrativa, uma descentralização da Prefeitura, com a construção de subprefeituras, que daria justamente um caráter mais descentralizado da atividade acompanhado por um orçamento participativo mais territorializado, que a população acompanhasse e monitorasse os recursos públicos. Um segundo elemento fundamental é o reconhecimento de que a cidade de Campinas é uma cidade muito cara.
    Folha/UOL: Campinas não tem subprefeituras hoje?
    Marcio Pochmann: Não. Tem administrações regionais ainda de uma divisão feita ainda na década de 70. E houve uma expansão para diversas áreas que não estão conectadas nessa forma de governar que imaginamos mais adequada. O segundo aspecto portanto é o aspecto relacionado ao custo de vida da cidade que é muito alto. Sobretudo pelo esvaziamento do serviço público. Nós acompanhamos a última década e verificamos que, por exemplo, as matrículas na escola municipal regrediram cerca de 20%. Isso está justamente pela deficiência que a educação vem tendo na cidade e estimulando as família, especialmente famílias que muitas vezes não têm recursos suficientes, a contratar o serviço privado na educação. A mesma coisa em relação à saúde: cresce a perspectiva dos planos de saúde. Isso significa onerar ainda mais o orçamento, sobretudo dos seguimentos mais pauperizados da população. Sem falar no custo transporte, que também é muito expressivo. Representa mais de 20% do orçamento das famílias. Trabalhar coma perspectiva de redução de custos é algo que a Prefeitura pode responder porque ela é responsável por uma série de serviços na cidade.
    Folha/UOL: Quais partidos o sr. imagina na sua aliança?
    Marcio Pochmann: Para dizer bem a verdade, não temos clareza de uma aliança partidária. Porque a nossa preocupação fundamental é fazer uma aliança em cima de um programa, programática. Que a base da aliança seja o programa. Abandonar um pouco a perspectiva das alianças que vêm ganhando força no Brasil, que são alianças pragmáticas. Faz-se aliança em cima de um pragmatismo, em cima de loteamento das funções de uma administração. E entendemos que isso é um equívoco. Portanto nós estamos muito preocupados nesse momento em construir um programa viável para a cidade, uma visão que dialogue com o futuro e em cima desse programa abrir uma conversa, um diálogo, com partidos que, possivelmente são aqueles que constituem a base do governo federal. Mas isso é um diálogo que nós vamos fazer a partir de um diálogo estabelecido.
    Folha/UOL: No dia 16 de maio entra em vigor a Lei de Acesso a Informações Públicas que vale para União, Estados e Municípios. Tudo passa a ser público. Esse é o princípio geral. Só a exceção é que não vai ser divulgada. O que o sr. pretende fazer, se eleito prefeito de Campinas, para aplicar essa nova regra?
    Marcio Pochmann: Eu entendo que um dos principais instrumentos para que essa regra seja de fato viável é o maior desenvolvimento possível das tecnologias de informação e comunicação. Os exemplos de algumas cidades no Brasil, as chamadas Cidades Digitais, que abrem na verdade todas as informações de uma Prefeitura, dos órgãos públicos, à sociedade é o melhor instrumento para isso.
     
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