Ontem durante um exercício com atores tive claramente a visão do quanto a dúvida nos impede de agir.
O chamado “intelectualismo” na verdade semeia dúvidas que trazem mais questionamentos, e mais e mais e ninguém sai do lugar, nenhuma ação se concretiza. A pessoa afoga-se em confusão mental e emoções vãs.
Durante a aplicação do exercício usei dois atores. O Ator A e o ator B.
O Ator A era um iniciante. Um jovem sem grandes teorias teatrais na algibeira.
O ator B era um veterano. Mais de vinte anos de teatro e pleno de teorias na cuca.
Pedi que mudassem a linha de interpretação de um texto: de Stanislavski – psicologismo, para Brecht, sociologismo. Mostrei como fazer. Dei exemplos. Interpretei para eles verem.
O ator A entregou-se sem dúvidas, pleno de vontade e fé, sem questionamentos intelectuais. Chegou a ser aplaudido várias vezes pelos demais colegas que viam o exercício.
O ator B mergulhou em questionamentos intelectuais, procurou suas teorias, tentou checá-las com o exercício pedido; duvidou da direção e da sua própria capacidade de criar. Não se entregou, e perdeu-se num gigantesco fiasco diante de si e dos colegas. O terror e a impotência estampados em sua face.
Nós, chamados “intelectuais” quase sempre agimos assim, ou melhor: duvidamos muito e agimos pouco. Ficamos confusos e quase sempre o “outro” levará a culpa pela nossa incapacidade de agir.
Um ato vale mais que mil pensamentos.