Todos os dias faço o mesmo caminho para ir ao trabalho ou levar o filho à escola. Com as últimas chuvas e a falta de manutenção - histórica - do asfalto, os buracos se proliferaram como mosquito da dengue em água limpa e parada.
Nessas idas e vindas em meu trajeto cotidiano, vi nascer um buraco no meio da rua. Começou como todo bebê: pequenino, frágil, indefeso e incapaz de praticar qualquer maldade. Vi aquele buraquinho crescer... foi ficando cada vez maior e robusto. Em pouco tempo deixou de ser indefeso e sua índole agora era de malfeitor. Sua especialidade: quebrar carro alheio. Apesar da má fama que agora possuia, sempre mantive com ele uma relação de cuidado: diminuia a velocidade e desviava para não passar por cima dele. Outros, porém, não faziam o mesmo e quando não o viam, xingavam e praguejavam.
Como as pessoas são intolerantes! Elas realmente não entendem a natureza de um buraco de rua.
No meio do caminho havia um buraco. Havia um buraco no meio do caminho. Havia, porque aquele buraco morreu. Taparam sua boca e colocaram fim na sua existência...
Hoje, passo pelo mesmo caminho e no lugar do buraquinho que vi nascer, existe apenas uma mancha escura, denunciando que ali havia um buraco de rua. Talvez um dia, com a ajuda de chuva, ele volte...
Eu não sabia, mas os buracos de rua apresentam ramificações do tipo metástase, para manter a própria espécie. Aquele buraco que se foi deixou sementes e outro surgiram ao longo de meu trajeto cotidiano. Agora, sempre vejo nascer outros buracos de rua. Começam como todos os bebês: pequenos, frágeis, indefesos e incapazes de praticar qualquer maldade...