Para Nilo e José Aluysio, meus mestres, com carinho

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  • quinta-feira, 25 de novembro de 2010
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  • Foi uma solenidade em grande estilo. Em 23 de novembro de 2010, a Congregação da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus de Araraquara, reuniu-se com pompa e circunstância para outorgar o título de Professor Emérito a 3 de seus antigos professores, Nilo Odália (in memoriam), José Aluysio Reis de Andrade e Dante Tringali.
    Na vida acadêmica, a figura do mestre não se limita às salas de aula. Expande-se para fora delas, desdobrando-se num exemplo de vida, conduta e postura intelectual. Alcança os estudantes e os jovens, e não tão jovens, docentes e pesquisadores. Os grandes mestres são mais que professores. São lideranças intelectuais: educadores.

    Na FCL comecei de fato minha carreira universitária. Em 1976, portanto muito jovem. E sem a companhia, as orientações, a amizade e o exemplo de professores como Nilo e José Aluysio, certamente eu não teria seguido em frente, nem chegado onde cheguei. 

    No início de 2004, num artigo escrito para o Jornal da Tarde com o propósito de salientar a importância de professores como Octavio Ianni, Alberto Tosi Rodrigues e Nilo Odália, escrevi que Nilo,  "filósofo, historiador e professor da Unesp, nascido em 1929, encarnou como poucos a universidade clássica, humanista, ciosa de sua missão social, científica e educacional. No correr de sua longa militância docente, foi um homem de princípios, um intelectual e um construtor institucional, um apreciador do diálogo e das boas conversas, defensor intransigente da dimensão pública da educação. Fez com que o ensino e a pesquisa fossem práticas valiosas em si mesmas. Lutou, como tantos outros, pela democratização da vida universitária, seja em termos de poder e de estruturas, seja em termos de ensino e de convivência. Simbolizou, de forma plena, a universidade de debate, estudo e ideais". 

    Agora, na solenidade que lhe outorgou o título de Professor Emérito, tive a honra de fazer um discurso de saudação à sua memória, que reproduzo abaixo.
    Feliz é a universidade que pode celebrar os professores que hoje homenageamos.
    Felizes as instituições acadêmicas que conseguem perceber a falta que faz um intelectual como Nilo Odália, a cuja memória tenho a honra de me referir nessa solenidade.
    Instituições são essencialmente as pessoas que as integram. Não são sistemas abstratos, burocráticos. Instituições têm história, constroem-se e se reconstroem ao longo do tempo. As pessoas que por elas passam, quando não lhes são indiferentes, deixam nelas as marcas de sua personalidade, de sua inteligência, de seu modo de ver e compreender o mundo. Transferem para elas seus valores, sua idiossincrasias, sua paixão, seus conhecimentos, seus estilos.
    O professor Nilo Odália fez parte de uma geração que tive o privilégio de conhecer e com a qual pude conviver e aprender. É a mesma geração de meu mestre José Aluysio Reis de Andrade, também hoje homenageado. Não se tratou de uma geração como tantas outras, mas de uma geração diferenciada. Estava impregnada daquilo que havia singularizado em chave positiva o ciclo de fundação da universidade brasileira, mas também olhava firme para o futuro. Uma geração de passagem, com a envergadura ética e moral que costumam ter as gerações que atuam como elos de ligação. E foi com essa envergadura que enfrentou o desafio de fazer a UNESP se tornar realidade.
    Fiel ao que distinguia essa geração, o professor Nilo foi um construtor institucional. Muito do que há de grandioso na FCL atual nasceu nos anos em que ele aqui atuou. Muito da UNESP de hoje é fruto das sementes plantadas quando Nilo esteve em ação, em Assis, em Araraquara, nos embates inaugurais da Associação de Docentes, na Reitoria, na Fundunesp. Podemos falar o mesmo do professor José Aluysio.
    Com eles e com seus companheiros de geração aprendemos que uma universidade honra seu nome quando compartilha e exibe saberes e experiências, não quando desfila títulos, bolsas e índices de produtividade. É forte quando assume o caráter de uma comunidade de destino, não de um agregado humano movido por interesses e apetites. Uma universidade existe de fato quando seus integrantes não passam ao acaso por ela, sugando-a o quanto podem, mas vivem nela de forma ativa, confundem-se com ela, doam-lhe mais do que recebem: têm mais “custos” que “benefícios”, como se diria com a esquisita linguagem de hoje.
    Histórias institucionais não são feitas somente de glórias e vitórias. Também conhecem derrotas e tropeços, momentos de refluxo, nos quais se constatam certa fadiga de material e uma perda momentânea de foco. Os representantes da geração que homenageamos hoje enfrentavam esses momentos com determinação, empenho e liderança intelectual. Mobilizavam seus melhores recursos pessoais e buscavam reunir e organizar o que cada instituição tinha de melhor, usando para isso um elenco de valores, princípios, afetos e critérios de nítida configuração coletiva.
    Talvez não consigamos mais segui-los nesse particular. Nossa vida institucional se individualizou e se particularizou excessivamente para comportar ações comunitárias ou agregações superiores. Mas podemos muito bem tê-los como referência, buscar neles a inspiração e a energia para prosseguir em condições razoáveis de temperatura e pressão.
    Afinal, se as instituições são o resultado do que nela fazem as pessoas ao longo do tempo, então elas não esquecem por completo o produto alcançado por suas sucessivas gerações. E especialmente não se separam do legado deixado por seus construtores, por seus grandes nomes, por suas referências.
    Se hoje a FCL e a UNESP têm a grandeza de outorgar o título de Professor Emérito a Nilo Odália e José Aluysio Reis de Andrade, então é de se acreditar que continuam no rumo certo, lutando contra o vento e apesar de todos os pesares e dificuldades.
     
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