Onda fascista que assola o mundo

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  • segunda-feira, 11 de outubro de 2010
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  • A onda fascista que assola o Brasil, pela mão do candidato de direita José Serra [PSDB-PIG], não é um "privilégio" só nosso. Outros países, na Europa "civilizada," que se tem na conta de democráticos, também abraçam, com entusiasmo, a via fascista.
    E Israel, que se pretende o baluarte da democracia em meio às "ditaduras" do Oriente Médio, todas apoiadas pelos EUA, não fica atrás!


    Israel declara-se estado nacionalista étnico
    O gabinete de Israel aprovou projeto de lei que exige que pessoas que requeiram a cidadania israelense prestem um ‘juramento de lealdade’ a Israel definida como “estado judeu e democrático”. Atualmente, a exigência só afeta relativamente poucos, quase exclusivamente os palestinos que vivam fora de Israel, que casem com cidadãos palestino-israelenses e que desejem que a família viva do lado israelense da linha verde (hoje, podem fazê-lo). Mas o padrinho da ‘lei da lealdade’, Avigdor Lieberman (ex-crupiê de cassino, da Moldávia), deseja que o mesmo juramento, ou juramento ainda mais estrito seja imposto a todos os palestinos-israelenses – que são cerca de 20% da população de Israel.
    Apoiadores do projeto, como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, dizem que a definição de Israel como estado judeu democrático já existe na lei orgânica.
    Mas líderes da comunidade palestino-israelense e membros do Parlamento denunciaram o projeto de lei, por racismo.
    A expressão “judeu”, como marcador de identidade, tanto pode referir-se à religião quanto à etnia (em Israel, é judeu quem nasça de mãe judia). O traço de etnia é talvez o mais importante dos dois marcadores de identidade, porque um judeu praticante e cidadão israelense, se filho de mãe não judia, não terá papéis que o identifiquem como “judeu”.
    O mais recente censo mostra que havia 7,2 milhões de israelenses, dos quais 5,5 milhões são judeus, 300 mil são não judeus e 1,4 milhões são árabes, ditos “palestinos-israelenses”. Os não judeus são, quase todos, filhos de famílias mistas nas quais a mãe não é judia. A maioria desses consideram-se judeus, e alguns lamentam não serem oficialmente reconhecidos como judeus. Nos 5,5 milhões de judeus, estpa incluído grande número de russos que não praticam o judaísmo, mas declaram-se ‘judeus étnicos’, por terem tido algum ancestral judeu – argumento que as autoridades israelenses aceitam sem qualquer investigação. (É ideia generalizada entre os intelectuais israelenses que bem poucos desses russos são judeus seja ‘religiosos’ seja ‘étnicos’.)
    Parece bem evidente, pois, que a expressão “judeu”, no juramento de lealdade de Netanyahu não é um marcador religioso. Se fosse, muitos dos 300 mil não judeus seriam identificados como judeus nos documentos de identidade e muitos dos russos seriam definitivamente não judeus, o que facilmente se comprovaria pelo amor que manifestam a sanduíches de porco.
    Não há dúvida de que alguma religião está incluída no pacote, é claro, porque em algum momento do passado as matriarcas que pariam judeus foram, sim, praticantes da religião dos judeus. No passado, a religião predominava sobre a etnia; hoje, pela lei israelense, a etnia predomina sobre a religião.
    Mas exigir que alguém declare que Israel é “estado judeu democrático”, como condição para que receba a cidadania israelense, equivale a exigir que um indiano hindu que emigre para os EUA declare, para ser acolhido como cidadão, que os EUA são “estado branco, cristão e democrático”. Nessa fórmula, a etnia (brancos) estaria sendo adotada como critério privilegiado, definida em parte por haver ancestrais brancos, mesmo que fossem protestantes. (No início do século 20, juízes racistas decidiram que os indianos hindus poderiam ser considerados arianos porque falavam língua indo-europeia, mas nem por isso podiam ser considerados “brancos”.)
    É óbvio que exigir que imigrantes africanos ou asiáticos, ou mesmo latinos, prestem aquele juramento, naqueles termos, como preço exigido pela cidadania israelense é discriminatório e racista, posto que o próprio juramento rouba-lhes a cidadania de primeira-classe.
    Especialistas em teoria política distinguem entre o nacionalismo “cívico” – como há nos EUA e na França – e o nacionalismo “étnico”, mais comum na Europa Central no século 19. O nacionalismo cívico é baseado em ideais (respeito à Constituição dos EUA, por exemplo) e na história. Crispus Attucks, afro-americano, é considerado o primeiro mártir da independência dos EUA – o que consagra os ideais, não a etnia.
    Há, contudo, algum racismo latente no nacionalismo dos EUA, pelo qual há quem creia que os “verdadeiros” norte-americanos seriam os protestantes brancos. O ideal do nacionalismo cívico, portanto, várias vezes aparece misturado com sentimentos de nacionalismo étnico. Ao longo do tempo, contudo, o nacionalismo cívico parece estar derrotando o nacionalismo étnico nas cortes de justiça – resultado, sim, de uma longa luta.
    O nacionalismo étnico já produziu monstros como a Alemanha nazista e a Sérvia de Milosevic. Se a nação for definida por uma etnia dominante, cria-se a ideia de que quanto ‘mais pura’ a etnia dominante, mais direitos terá. O nacionalismo étnico também sempre gera confrontos contra outras etnias que vivam em áreas próximas (e se os casamentos interétnicos diluírem a etnia dominante?)
    Em mundo global, com migração massiva de trabalhadores, o nacionalismo étnico é germe de guerras raciais.
    Claro que, como historiador, rejeito completa e absolutamente a ideia de “raça”, da qual falavam os nacionalistas românticos do século 19. Brian Sykes descobriu, em pesquisa com o DNA mitocondrial dos europeus, que todas as mulheres apresentavam pelo menos um de sete pares de alelos nos cromossomas; e que os mesmos sete pares apareciam em todos os grupos nacionais e lingüísticos, inclusive, por exemplo, nos bascos, embora em diferentes proporções. Nesse sentido, os alemães são idênticos aos irlandeses e aos búlgaros. Vasta maioria de mulheres judias azquenazes têm os mesmos sete pares de alelos que se encontram nas mulheres palestinas. Todas, portanto, são descendentes de matriarcas ancestrais não judias.  
    Não há raças. Todos os seres humanos são mestiços. Basta recuar 10, 12 mil anos, para encontrar um ancestral comum de todas as populações mediterrâneas. Escavações recentes em Roma, em camadas arqueológicas do tempo de Augusto, encontraram a ossada de um trabalhador chinês. Descobrir como chegou ao Império Romano é enredo para um romance. Mas, se aquele chinês algum dia deitou-se com mulher romana e nasceram-lhes filhos, praticamente todos os italianos hoje vivos são descendentes daquele casal e, pois, são primos de todos os chineses hoje vivos.
    O nacionalismo étnico não é apenas intrinsecamente discriminatório: ele é sobretudo contrário a todas as evidências, é uma falsidade. Não há nem jamais houve raças.
    Em Israel, o nacionalismo étnico sempre predominou, embora haja alguns traços do nacionalismo cívico na política israelense. Os palestinos-israelenses são cidadãos, votam, podem organizar-se em partidos políticos e podem eleger representantes ao Parlamento. Ao mesmo tempo, podem, também, ser sumariamente expulsos da sociedade e privados da cidadania. Seus direitos civis são frágeis e menos estáveis que os dos israelenses judeus.
    Agora, Lieberman e Netanyahu, com a nova ‘lei da lealdade’, deslocaram a ênfase a favor do nacionalismo étnico, contra o nacionalismo cívico, garantindo aos judeus o posto de etnia privilegiada. Estão convencidos de que nada fizeram de extraordinário. E erram gravemente, se supõem que o que fizeram não terá consequências profundas. Sempre que, por vias políticas, se faz aumentar o peso da etnia contra o peso dos valores cívicos, as consequências são profundas.
    É exatamente essa mudança de peso, a favor de uma etnia privilegiada, que políticos e líderes da comunidade dos palestinos-israelenses estão denunciando como política racista.
    Vejo algum exagero em dizer que a ‘lei da lealdade’ converte Israel em estado de apartheid dentro dos limites da Linha Verde e suas 67 fronteiras. Os palestinos-israelenses são cidadãos, convivem com os judeus israelenses, frequentam as mesmas escolas, as mesmas universidades. Podem casar com judeus israelenses, em Israel ou em qualquer lugar do mundo. A ‘lei da lealdade’ não expande o apartheid para todo o estado de Israel, mas fortalece, sim, um nacionalismo étnico muito semelhante ao que se viu na Alemanha hitlerista ou na Sérvia. É escândalo e é vergonhoso que judeus, precisamente, acolham esse tipo de lei discriminatória e antidemocrática, da qual os próprios judeus foram as mais trágicas vítimas.
    Há apartheid, sim, em Israel, mas contra os palestinos não-israelenses que vivem na Cisjordânia e em Gaza. Ali, sim, já se criaram bantustões, idênticos aos que se viram na África do Sul, criados pelos europeus, para manter cercados os africanos.

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    Declaração de artistas e intelectuais israelenses contra a lei ‘da lealdade’:
     
    “Não somos cidadãos da Israel fascista”
    11/10/2010, The Jewish Chronicle Online, Telavive
    Artistas e intelectuais israelenses reuniram-se hoje em Telavive, em protesto contra a ‘lei da lealdade’, no Boulevard Rothschil, em frente ao museu onde David Ben Gurion leu a Declaração de Independência em 1948.
    Aos pés da estátua de Meir Dizengoff, primeiro prefeito de Telavive, a atriz Hanna Meron leu, daquela Declaração de Independência: “O Estado de Israel será baseado na Liberdade, na Justiça e na Paz, como o anteviram os profetas. Assegurará completa igualdade de direitos políticos e sociais, independente de religião, raça ou gênero; garantirá a liberdade de culto, de consciência, de idioma, de educação e de cultura; protegerá os locais de culto de todas as religiões; e respeitará os princípios da Carta das Nações Unidas.” Em seguida, lamentou que a Israel de hoje já nada tenha daquele sonho democrático e conclamou os presentes a assinarem a nova “Declaração de Independência: Contra o Fascismo Israelense” [texto abaixo].
    Participaram da manifestação Shulamit Aloni, Uri Avnery, Alex Ansky, Shery Ansky, Menachem Brinker, Ran Cohen, Ruth Cohen, Yaron Ezrachi, Galia Golan, Haim Guri, Sna'it Gisis, Yoram Kaniuk, Dani Karavan, Yehoshua Knaz, Elia Leibowitz, Alex Libak, Hanna Meron, Sammy Michael, Merav Michaeli, Sefi Rachlevsky, Gabi Solomon, David Tartakower, Micha Ullman, dentre muitos outros.
    Declaração de Independência: Contra o Fascismo Israelense
     [texto integral]:
    Estado que use a força para invadir o domínio sagrado da consciência individual dos cidadãos, que imponha castigos àqueles cujas opiniões e crenças não coincidam com as do poder ou que não manifestem ‘o caráter’ que o estado exige, deixa de ser estado democrático e converte-se em estado fascista.
    O estado de Israel foi proclamado nesse local, nessas escadas onde estamos hoje. O estado que aos poucos vai substituindo o estado democrático de Israel – e que impõe a todos leis racistas aprovadas pelo Gabinete e pelo Parlamento – exclui-se, ele mesmo, da família das nações democráticas.
    Por isso nós, cidadãos da Israel consagrada na Declaração de Independência de 1948 aqui reunidos, declaramos que não somos cidadãos dessa falsa Israel, que se faz passar por Israel e que viola todos os compromissos básicos do estado de Israel, de igualdade, defesa das liberdades civis e sincero empenho em construir a paz, princípios sobre os quais se fundou o verdadeiro estado democrático de Israel.
    [Contact: Sefi Rachlevsky 052-7078075]

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    A República Obscurantista Judia de Israel
    10/10/2010, Gideon Levy, Haaretz, Telavive
    Hoje é dia que não se esquecerá. Hoje, Israel mudou de caráter. Resultado da mudança, pode também mudar de nome: passará a chamar-se “República Judia de Israel”, como a “República Islâmica do Irã”. Sim, a lei “da lealdade” que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenta aprovar visa, diretamente, só aos novos cidadãos não judeus. Mas afeta o destino de todos os israelenses.
    De agora em diante, viveremos em país oficialmente autodefinido como etnocrático, nacionalista e racista.
    Erra quem pense que não será afetado. Há uma maioria silenciosa que está aceitando tudo com apatia apenas levemente preocupada, como se dissesse: “Pouco me importa o país onde vivo”. E também erra quem suponha que o mundo continuará a relacionar-se com Israel como se aqui houvesse democracia, se essa lei for aprovada; no mínimo, é gente que não vê o que está acontecendo. A lei de Netanyahu é mais um passo que agride gravemente a imagem de Israel.
    O primeiro-ministro Netanyahu provará hoje que, de fato, é ele o Avigdor Lieberman do Partido “Israel Nosso Lar”, e o ministro da Justiça Yaakov Neeman provará que, de fato, é membro leal do mesmo partido. O Partido Labor provará que é partido capacho. E Israel provará que nada sabe e nada pensa, de fato, sobre coisa alguma. Hoje, o projeto de lei “da lealdade”; amanhã, a lei do juramento de lealdade.
    Hoje, cederá a última barreira que ainda contém a inundação que afogará o que resta da democracia israelense, até que só nos reste talvez um estado judeu cujo caráter ninguém entende, mas que, com absoluta certeza, já não será estado democrático. Os que hoje exigem aquele juramento de lealdade são os mesmos que se apropriam e traem o dever de lealdade democrática a estado democrático.
    Na próxima reunião do Parlamento israelense serão discutidas cerca de 20 outros projetos de leis antidemocráticas. No fim de semana, a Associação pelos Direitos Civis de Israel divulgou uma lista negra de projetos de leis: lei de lealdade para os deputados; lei de lealdade para os produtores de filmes; lei de lealdade para as ONGs; lei que descriminaliza todas as ações que levaram à catástrofe, à Nakba dos palestinos; proibição absoluta de qualquer tipo de boicote a Israel; e uma lei que permite cassar a cidadania de cidadãos israelenses por crime de deslealdade ao estado.
    É perigoso balé à moda McCarthy, dançado por deputados ignorantes que absolutamente não sabem o que é a democracia. É perigoso, mesmo que nem todos os projetos sejam aprovados, porque, ainda que só um deles seja convertido em lei, o destino e a essência de Israel terão sido alterados para sempre.
    É fácil entender o pas-de-deux Netanyahu-Lieberman. Nacionalistas obcecados, ninguém espera que entendam que a democracia não é apenas o governo da maioria, mas antes, e muito mais importante, só há democracia onde se garantam os direitos das minorias. Muito mais difícil é entender a complacência das massas. Todas as ruas e praças de Israel já deveriam estar tomadas por cidadãos que não desejam ver seu país convertido em terra em que as minorias são oprimidas por leis draconianas, como essa que se prepara hoje, pela qual muitos israelenses serão obrigados a jurar em falso e prometer fidelidade impossível ao Estado judeu. Estranhamente, a maioria parece nada ver, nada entender, nada sentir.
    Durante décadas, tratamos com futilidade a questão de saber o que é ser judeu. Agora, já não nos servirá de nada discutir essa questão. Trata-se agora de saber que tipo de estado corresponderá à “nação dos judeus”. A quem pertence esse estado: mais aos judeus da diáspora, ou mais aos cidadãos árabes-israelenses? Os árabes-israelenses decidirão, com seu voto, o destino do estado judeu e definirão sua democracia? Os judeus ultra-ortodoxos da seita Neturei Karta, que se opõem à existência do estado de Israel, e mais centenas de milhares de judeus que não se mudaram para Israel farão, doravante, o que bem entenderem da democracia israelense? O que será judeu? Só os feriados judeus? Só as regras da comida Kosher? A garra do establishment judeu fundamentalista aperta-se cada vez mais, como se não bastasse o que já fizeram até hoje, para perverter a democracia israelense?
    A aprovação da lei de fidelidade a um estado judeu decidirá o destino de Israel. É bem possível que Israel converta-se em teocracia, como a Arábia Saudita.
    Sim, sim, por hora, a frase ainda soa como slogan vazio, ridículo. Não se encontram três judeus que concordem sobre o que seja um estado judeu. Mas a história ensina que, também de slogan vazios se pavimenta o caminho para o inferno. Enquanto isso, o projeto de lei a ser votado no Parlamento de Israel só fará excluir ainda mais os árabes-israelenses. Com o tempo, conseguirá excluir segmentos cada vez maiores da população de Israel.
    É o que acontece quando se jogam para baixo do tapete brasas ainda fumegantes, as brasas do pouco que os israelenses acreditam na justeza do caminho que Israel tem trilhado.
    Só essa falta de confiança poderia produzir distorção tão gigantesca como a que há no projeto de lei a ser aprovado pelo Parlamento. Jamais ocorreria ao Canadá obrigar os canadenses a jurar fidelidade ao estado canadense. Nenhum outro país precisa desse tipo de juramento. Mas Israel, sim, carece dele.
    A lei está sendo proposta, também, para provocar ainda mais a minoria árabe, para empurrá-los a atos cada vez mais desesperados e a ‘deslealdades’, de modo que, em breve, fique evidente que será necessário dizimar os árabes, livrar-se deles. Ou, então, a lei aparece agora para abortar qualquer possibilidade de paz com os palestinos. De um modo ou de outro, o estado judeu já foi fundado em Basel, no Primeiro Congresso Sionista, em 1897, como disse Theodor Herzl. Hoje, será fundada a República Obscurantista Judia de Israel. 

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    Tradução dos textos: Vila Vudu
     
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