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Sobre a entrevista do Governador Tarso Genro na Carta Maior

A Carta Maior, com repercussões no RSurgente, VioMundo, Blog do Saraiva, entre outros, apresenta entrevista do Gov. Tarso Genro [RS], a respeito do editorial do jornal Zero Hora do Grupo RBS [acesso exclusivo a assinantes]. Tal editorial manifesta opinião a respeito da conferência proferida pelo Governador no Congresso do Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Nestes trechos da entrevista o Governador está impecável:


1. O governador acusou a RBS de querer interditar o debate manipulando o conteúdo de sua conferência ao “não publicar nem mencionar o trecho acima que dá sentido à toda a exposição”.

Prática comum das empresas de comunicação em geral, tanto para apoio, como para divergir de alguma posição política.

2. "Esta atitude da RBS, pretendendo interditar o debate com ameaças de campanhas difamatórias que estão subjacentes no mesmo editorial, marca o ápice da petulância e da arrogância que poucas empresas de comunicação têm a coragem de expor publicamente. Mentem, quando dizem que sou contra o jornalismo investigativo, quando o que sou contra é julgamento sumário de pessoas, independentemente de que sejam culpadas ou não. Mentem quando contrastam dois textos meus sobre assuntos diferentes, mesmo tendo, na Conferência, manifestação explícita da minha parte que confirma a minha posição de princípio a favor da total liberdade da imprensa e de respeito irrestrito ao trabalho dos jornalistas,"

Utilizar o termo "mente" no lugar do comum "inverdade" foi colocar as coisas nos seus devidos lugares. Geralmente, figuras políticas importantes costumam evitar o emprego da expressão "mentira".

Mas, neste trecho, há de se fazer reparos:

Por fim, Tarso Genro afirmou que não mudará um milímetro a relação que mantém com a RBS e nem com a imprensa em geral. “Essas controvérsias são boas para a democracia."

 O significado de controvérsia, conforme o iDicionario Aulete:


(con.tro.vér.si:a)

sf.

1. Diferença de opiniões ou discussão quanto a uma ação, afirmação, teoria, proposta ou questão; POLÊMICA

2. P.ext. Ação de negar, contradizer ou de se opor a algo; CONTESTAÇÃO; IMPUGNAÇÃO

3. P.ext. Debate de ideias; POLÊMICA

[F.: Do lat. controversia, ae.]



Com efeito, o Governador está corretíssimo ao relacionar "controvérsia" com "democracia". Numa sociedade, os antagonismos são reais e as contendas se resolvem pelo voto, nas democracias, ou nas armas, em situações tensionadas pelo arbítrio e/ou autoritarismo.

Mas, no momento, em que a informação - um bem público - é deliberadamente adulterada pela mentira e, ainda por cima, a responsável pelo fato é uma empresa de comunicação detentora de monopólio nessa área, entramos no campo perigoso da provocação, típica do autoritarismo, que desrespeita a maior autoridade do Estado eleito legitimamente pelo voto. Portanto, não se trata de uma controvérsia na acepção da palavra.

Trata-se de um ataque à democracia, ao voto vencedor. Se fosse editorial que destacasse a divergência da empresa de comunicação, seu posicionamento contrário à conferência do Governador no Congresso do Ministério Público do Estado, isto sim seria uma controvérsia.

A mentira, devidamente denunciada pelo Gov. Tarso Genro, não teve nada a ver com isso. Façamos este reparo e estejamos atent@s!

Foto: Governador Tarso Genro, durante conferência proferida no Ministério Público do RS (Caco Argemi/Palácio Piratini)
Atualizado às 23h07min de 23/10/11. 
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Barcelona: manifestantes desmascaram agentes provocadores da polícia

Protestos do 15-M são "recriados" pela grande mídia. Vídeo expõe manipulação

Policiais à paisana, vestidos como se fossem manifestantes, realizaram atos provocadores em Barcelona "incitando" a ação violenta de policiais fardados que, logo depois, esforçaram-se para defender os autores do suposto tumulto. Vídeo gravado pelos manifestantes mostra ação dos policiais infiltrados.No entanto, logo em seguida, o que se via no noticiário da televisão espanhola, TV3, era que os “indignados” haviam perdido a simpatia popular conquistada até o momento, depois de terem empregado violência nas manifestações em torno do parlamento. Graves atentados à liberdade de expressão estão ocorrendo na Espanha. O artigo é de Fabíola Munhoz, direto de Barcelona.

Fabíola Munhoz - Direto de Barcelona, Especial para Carta Maior

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Onda fascista que assola o mundo

A onda fascista que assola o Brasil, pela mão do candidato de direita José Serra [PSDB-PIG], não é um "privilégio" só nosso. Outros países, na Europa "civilizada," que se tem na conta de democráticos, também abraçam, com entusiasmo, a via fascista.
E Israel, que se pretende o baluarte da democracia em meio às "ditaduras" do Oriente Médio, todas apoiadas pelos EUA, não fica atrás!


Israel declara-se estado nacionalista étnico
O gabinete de Israel aprovou projeto de lei que exige que pessoas que requeiram a cidadania israelense prestem um ‘juramento de lealdade’ a Israel definida como “estado judeu e democrático”. Atualmente, a exigência só afeta relativamente poucos, quase exclusivamente os palestinos que vivam fora de Israel, que casem com cidadãos palestino-israelenses e que desejem que a família viva do lado israelense da linha verde (hoje, podem fazê-lo). Mas o padrinho da ‘lei da lealdade’, Avigdor Lieberman (ex-crupiê de cassino, da Moldávia), deseja que o mesmo juramento, ou juramento ainda mais estrito seja imposto a todos os palestinos-israelenses – que são cerca de 20% da população de Israel.
Apoiadores do projeto, como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, dizem que a definição de Israel como estado judeu democrático já existe na lei orgânica.
Mas líderes da comunidade palestino-israelense e membros do Parlamento denunciaram o projeto de lei, por racismo.
A expressão “judeu”, como marcador de identidade, tanto pode referir-se à religião quanto à etnia (em Israel, é judeu quem nasça de mãe judia). O traço de etnia é talvez o mais importante dos dois marcadores de identidade, porque um judeu praticante e cidadão israelense, se filho de mãe não judia, não terá papéis que o identifiquem como “judeu”.
O mais recente censo mostra que havia 7,2 milhões de israelenses, dos quais 5,5 milhões são judeus, 300 mil são não judeus e 1,4 milhões são árabes, ditos “palestinos-israelenses”. Os não judeus são, quase todos, filhos de famílias mistas nas quais a mãe não é judia. A maioria desses consideram-se judeus, e alguns lamentam não serem oficialmente reconhecidos como judeus. Nos 5,5 milhões de judeus, estpa incluído grande número de russos que não praticam o judaísmo, mas declaram-se ‘judeus étnicos’, por terem tido algum ancestral judeu – argumento que as autoridades israelenses aceitam sem qualquer investigação. (É ideia generalizada entre os intelectuais israelenses que bem poucos desses russos são judeus seja ‘religiosos’ seja ‘étnicos’.)
Parece bem evidente, pois, que a expressão “judeu”, no juramento de lealdade de Netanyahu não é um marcador religioso. Se fosse, muitos dos 300 mil não judeus seriam identificados como judeus nos documentos de identidade e muitos dos russos seriam definitivamente não judeus, o que facilmente se comprovaria pelo amor que manifestam a sanduíches de porco.
Não há dúvida de que alguma religião está incluída no pacote, é claro, porque em algum momento do passado as matriarcas que pariam judeus foram, sim, praticantes da religião dos judeus. No passado, a religião predominava sobre a etnia; hoje, pela lei israelense, a etnia predomina sobre a religião.
Mas exigir que alguém declare que Israel é “estado judeu democrático”, como condição para que receba a cidadania israelense, equivale a exigir que um indiano hindu que emigre para os EUA declare, para ser acolhido como cidadão, que os EUA são “estado branco, cristão e democrático”. Nessa fórmula, a etnia (brancos) estaria sendo adotada como critério privilegiado, definida em parte por haver ancestrais brancos, mesmo que fossem protestantes. (No início do século 20, juízes racistas decidiram que os indianos hindus poderiam ser considerados arianos porque falavam língua indo-europeia, mas nem por isso podiam ser considerados “brancos”.)
É óbvio que exigir que imigrantes africanos ou asiáticos, ou mesmo latinos, prestem aquele juramento, naqueles termos, como preço exigido pela cidadania israelense é discriminatório e racista, posto que o próprio juramento rouba-lhes a cidadania de primeira-classe.
Especialistas em teoria política distinguem entre o nacionalismo “cívico” – como há nos EUA e na França – e o nacionalismo “étnico”, mais comum na Europa Central no século 19. O nacionalismo cívico é baseado em ideais (respeito à Constituição dos EUA, por exemplo) e na história. Crispus Attucks, afro-americano, é considerado o primeiro mártir da independência dos EUA – o que consagra os ideais, não a etnia.
Há, contudo, algum racismo latente no nacionalismo dos EUA, pelo qual há quem creia que os “verdadeiros” norte-americanos seriam os protestantes brancos. O ideal do nacionalismo cívico, portanto, várias vezes aparece misturado com sentimentos de nacionalismo étnico. Ao longo do tempo, contudo, o nacionalismo cívico parece estar derrotando o nacionalismo étnico nas cortes de justiça – resultado, sim, de uma longa luta.
O nacionalismo étnico já produziu monstros como a Alemanha nazista e a Sérvia de Milosevic. Se a nação for definida por uma etnia dominante, cria-se a ideia de que quanto ‘mais pura’ a etnia dominante, mais direitos terá. O nacionalismo étnico também sempre gera confrontos contra outras etnias que vivam em áreas próximas (e se os casamentos interétnicos diluírem a etnia dominante?)
Em mundo global, com migração massiva de trabalhadores, o nacionalismo étnico é germe de guerras raciais.
Claro que, como historiador, rejeito completa e absolutamente a ideia de “raça”, da qual falavam os nacionalistas românticos do século 19. Brian Sykes descobriu, em pesquisa com o DNA mitocondrial dos europeus, que todas as mulheres apresentavam pelo menos um de sete pares de alelos nos cromossomas; e que os mesmos sete pares apareciam em todos os grupos nacionais e lingüísticos, inclusive, por exemplo, nos bascos, embora em diferentes proporções. Nesse sentido, os alemães são idênticos aos irlandeses e aos búlgaros. Vasta maioria de mulheres judias azquenazes têm os mesmos sete pares de alelos que se encontram nas mulheres palestinas. Todas, portanto, são descendentes de matriarcas ancestrais não judias.  
Não há raças. Todos os seres humanos são mestiços. Basta recuar 10, 12 mil anos, para encontrar um ancestral comum de todas as populações mediterrâneas. Escavações recentes em Roma, em camadas arqueológicas do tempo de Augusto, encontraram a ossada de um trabalhador chinês. Descobrir como chegou ao Império Romano é enredo para um romance. Mas, se aquele chinês algum dia deitou-se com mulher romana e nasceram-lhes filhos, praticamente todos os italianos hoje vivos são descendentes daquele casal e, pois, são primos de todos os chineses hoje vivos.
O nacionalismo étnico não é apenas intrinsecamente discriminatório: ele é sobretudo contrário a todas as evidências, é uma falsidade. Não há nem jamais houve raças.
Em Israel, o nacionalismo étnico sempre predominou, embora haja alguns traços do nacionalismo cívico na política israelense. Os palestinos-israelenses são cidadãos, votam, podem organizar-se em partidos políticos e podem eleger representantes ao Parlamento. Ao mesmo tempo, podem, também, ser sumariamente expulsos da sociedade e privados da cidadania. Seus direitos civis são frágeis e menos estáveis que os dos israelenses judeus.
Agora, Lieberman e Netanyahu, com a nova ‘lei da lealdade’, deslocaram a ênfase a favor do nacionalismo étnico, contra o nacionalismo cívico, garantindo aos judeus o posto de etnia privilegiada. Estão convencidos de que nada fizeram de extraordinário. E erram gravemente, se supõem que o que fizeram não terá consequências profundas. Sempre que, por vias políticas, se faz aumentar o peso da etnia contra o peso dos valores cívicos, as consequências são profundas.
É exatamente essa mudança de peso, a favor de uma etnia privilegiada, que políticos e líderes da comunidade dos palestinos-israelenses estão denunciando como política racista.
Vejo algum exagero em dizer que a ‘lei da lealdade’ converte Israel em estado de apartheid dentro dos limites da Linha Verde e suas 67 fronteiras. Os palestinos-israelenses são cidadãos, convivem com os judeus israelenses, frequentam as mesmas escolas, as mesmas universidades. Podem casar com judeus israelenses, em Israel ou em qualquer lugar do mundo. A ‘lei da lealdade’ não expande o apartheid para todo o estado de Israel, mas fortalece, sim, um nacionalismo étnico muito semelhante ao que se viu na Alemanha hitlerista ou na Sérvia. É escândalo e é vergonhoso que judeus, precisamente, acolham esse tipo de lei discriminatória e antidemocrática, da qual os próprios judeus foram as mais trágicas vítimas.
Há apartheid, sim, em Israel, mas contra os palestinos não-israelenses que vivem na Cisjordânia e em Gaza. Ali, sim, já se criaram bantustões, idênticos aos que se viram na África do Sul, criados pelos europeus, para manter cercados os africanos.

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Declaração de artistas e intelectuais israelenses contra a lei ‘da lealdade’:
 
“Não somos cidadãos da Israel fascista”
11/10/2010, The Jewish Chronicle Online, Telavive
Artistas e intelectuais israelenses reuniram-se hoje em Telavive, em protesto contra a ‘lei da lealdade’, no Boulevard Rothschil, em frente ao museu onde David Ben Gurion leu a Declaração de Independência em 1948.
Aos pés da estátua de Meir Dizengoff, primeiro prefeito de Telavive, a atriz Hanna Meron leu, daquela Declaração de Independência: “O Estado de Israel será baseado na Liberdade, na Justiça e na Paz, como o anteviram os profetas. Assegurará completa igualdade de direitos políticos e sociais, independente de religião, raça ou gênero; garantirá a liberdade de culto, de consciência, de idioma, de educação e de cultura; protegerá os locais de culto de todas as religiões; e respeitará os princípios da Carta das Nações Unidas.” Em seguida, lamentou que a Israel de hoje já nada tenha daquele sonho democrático e conclamou os presentes a assinarem a nova “Declaração de Independência: Contra o Fascismo Israelense” [texto abaixo].
Participaram da manifestação Shulamit Aloni, Uri Avnery, Alex Ansky, Shery Ansky, Menachem Brinker, Ran Cohen, Ruth Cohen, Yaron Ezrachi, Galia Golan, Haim Guri, Sna'it Gisis, Yoram Kaniuk, Dani Karavan, Yehoshua Knaz, Elia Leibowitz, Alex Libak, Hanna Meron, Sammy Michael, Merav Michaeli, Sefi Rachlevsky, Gabi Solomon, David Tartakower, Micha Ullman, dentre muitos outros.
Declaração de Independência: Contra o Fascismo Israelense
 [texto integral]:
Estado que use a força para invadir o domínio sagrado da consciência individual dos cidadãos, que imponha castigos àqueles cujas opiniões e crenças não coincidam com as do poder ou que não manifestem ‘o caráter’ que o estado exige, deixa de ser estado democrático e converte-se em estado fascista.
O estado de Israel foi proclamado nesse local, nessas escadas onde estamos hoje. O estado que aos poucos vai substituindo o estado democrático de Israel – e que impõe a todos leis racistas aprovadas pelo Gabinete e pelo Parlamento – exclui-se, ele mesmo, da família das nações democráticas.
Por isso nós, cidadãos da Israel consagrada na Declaração de Independência de 1948 aqui reunidos, declaramos que não somos cidadãos dessa falsa Israel, que se faz passar por Israel e que viola todos os compromissos básicos do estado de Israel, de igualdade, defesa das liberdades civis e sincero empenho em construir a paz, princípios sobre os quais se fundou o verdadeiro estado democrático de Israel.
[Contact: Sefi Rachlevsky 052-7078075]

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A República Obscurantista Judia de Israel
10/10/2010, Gideon Levy, Haaretz, Telavive
Hoje é dia que não se esquecerá. Hoje, Israel mudou de caráter. Resultado da mudança, pode também mudar de nome: passará a chamar-se “República Judia de Israel”, como a “República Islâmica do Irã”. Sim, a lei “da lealdade” que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenta aprovar visa, diretamente, só aos novos cidadãos não judeus. Mas afeta o destino de todos os israelenses.
De agora em diante, viveremos em país oficialmente autodefinido como etnocrático, nacionalista e racista.
Erra quem pense que não será afetado. Há uma maioria silenciosa que está aceitando tudo com apatia apenas levemente preocupada, como se dissesse: “Pouco me importa o país onde vivo”. E também erra quem suponha que o mundo continuará a relacionar-se com Israel como se aqui houvesse democracia, se essa lei for aprovada; no mínimo, é gente que não vê o que está acontecendo. A lei de Netanyahu é mais um passo que agride gravemente a imagem de Israel.
O primeiro-ministro Netanyahu provará hoje que, de fato, é ele o Avigdor Lieberman do Partido “Israel Nosso Lar”, e o ministro da Justiça Yaakov Neeman provará que, de fato, é membro leal do mesmo partido. O Partido Labor provará que é partido capacho. E Israel provará que nada sabe e nada pensa, de fato, sobre coisa alguma. Hoje, o projeto de lei “da lealdade”; amanhã, a lei do juramento de lealdade.
Hoje, cederá a última barreira que ainda contém a inundação que afogará o que resta da democracia israelense, até que só nos reste talvez um estado judeu cujo caráter ninguém entende, mas que, com absoluta certeza, já não será estado democrático. Os que hoje exigem aquele juramento de lealdade são os mesmos que se apropriam e traem o dever de lealdade democrática a estado democrático.
Na próxima reunião do Parlamento israelense serão discutidas cerca de 20 outros projetos de leis antidemocráticas. No fim de semana, a Associação pelos Direitos Civis de Israel divulgou uma lista negra de projetos de leis: lei de lealdade para os deputados; lei de lealdade para os produtores de filmes; lei de lealdade para as ONGs; lei que descriminaliza todas as ações que levaram à catástrofe, à Nakba dos palestinos; proibição absoluta de qualquer tipo de boicote a Israel; e uma lei que permite cassar a cidadania de cidadãos israelenses por crime de deslealdade ao estado.
É perigoso balé à moda McCarthy, dançado por deputados ignorantes que absolutamente não sabem o que é a democracia. É perigoso, mesmo que nem todos os projetos sejam aprovados, porque, ainda que só um deles seja convertido em lei, o destino e a essência de Israel terão sido alterados para sempre.
É fácil entender o pas-de-deux Netanyahu-Lieberman. Nacionalistas obcecados, ninguém espera que entendam que a democracia não é apenas o governo da maioria, mas antes, e muito mais importante, só há democracia onde se garantam os direitos das minorias. Muito mais difícil é entender a complacência das massas. Todas as ruas e praças de Israel já deveriam estar tomadas por cidadãos que não desejam ver seu país convertido em terra em que as minorias são oprimidas por leis draconianas, como essa que se prepara hoje, pela qual muitos israelenses serão obrigados a jurar em falso e prometer fidelidade impossível ao Estado judeu. Estranhamente, a maioria parece nada ver, nada entender, nada sentir.
Durante décadas, tratamos com futilidade a questão de saber o que é ser judeu. Agora, já não nos servirá de nada discutir essa questão. Trata-se agora de saber que tipo de estado corresponderá à “nação dos judeus”. A quem pertence esse estado: mais aos judeus da diáspora, ou mais aos cidadãos árabes-israelenses? Os árabes-israelenses decidirão, com seu voto, o destino do estado judeu e definirão sua democracia? Os judeus ultra-ortodoxos da seita Neturei Karta, que se opõem à existência do estado de Israel, e mais centenas de milhares de judeus que não se mudaram para Israel farão, doravante, o que bem entenderem da democracia israelense? O que será judeu? Só os feriados judeus? Só as regras da comida Kosher? A garra do establishment judeu fundamentalista aperta-se cada vez mais, como se não bastasse o que já fizeram até hoje, para perverter a democracia israelense?
A aprovação da lei de fidelidade a um estado judeu decidirá o destino de Israel. É bem possível que Israel converta-se em teocracia, como a Arábia Saudita.
Sim, sim, por hora, a frase ainda soa como slogan vazio, ridículo. Não se encontram três judeus que concordem sobre o que seja um estado judeu. Mas a história ensina que, também de slogan vazios se pavimenta o caminho para o inferno. Enquanto isso, o projeto de lei a ser votado no Parlamento de Israel só fará excluir ainda mais os árabes-israelenses. Com o tempo, conseguirá excluir segmentos cada vez maiores da população de Israel.
É o que acontece quando se jogam para baixo do tapete brasas ainda fumegantes, as brasas do pouco que os israelenses acreditam na justeza do caminho que Israel tem trilhado.
Só essa falta de confiança poderia produzir distorção tão gigantesca como a que há no projeto de lei a ser aprovado pelo Parlamento. Jamais ocorreria ao Canadá obrigar os canadenses a jurar fidelidade ao estado canadense. Nenhum outro país precisa desse tipo de juramento. Mas Israel, sim, carece dele.
A lei está sendo proposta, também, para provocar ainda mais a minoria árabe, para empurrá-los a atos cada vez mais desesperados e a ‘deslealdades’, de modo que, em breve, fique evidente que será necessário dizimar os árabes, livrar-se deles. Ou, então, a lei aparece agora para abortar qualquer possibilidade de paz com os palestinos. De um modo ou de outro, o estado judeu já foi fundado em Basel, no Primeiro Congresso Sionista, em 1897, como disse Theodor Herzl. Hoje, será fundada a República Obscurantista Judia de Israel. 

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Tradução dos textos: Vila Vudu
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Serra chafurda na própria sujeira

Escandalosas as manifestações do candidato José Serra [PSDB-DEMO- PIG] no Congresso da ANJ. Atacar as conferências de cultura, de comunicação e, principalmente, a de Direitos Humanos [pois cultura e comunicação são direitos humanos], é a prova de que este sujeito leviano precisa ser impedido de chegar à Presidência da República, bem como banido da vida pública brasileira

Esta sujeito sujo, na sua gestão de governador de SP, pagou por livros com dois Paraguais e mandou bater em professoras e professores grevistas. Por isso não nos espanta este desprezo pela cultura e pelos direitos humanos. Como não nos é surpreendente tal criatura atacar os movimentos que lutam pela democratização das comunicações, uma vez que meia dúzia de empresas de comunicação “limparam” [e limpam] a sua bunda suja todos esses anos, com seus silêncios, mistificações e/ou mentiras.

Serra, ao atacar os blogueiros e as blogueiras, acusando-os de receber dinheiro governamental, sem apresentar uma mísera evidência, o que dirá provas, beira à calúnia! Ainda mais que a sua queixa diz respeito ao fato de que se restabelece a verdade através dos blogues. Imaginem, A VERDADE! “Assim não pode, Assim não dá!”, deve bradar, inspirado no chefe maior, FHC:

- não dá mais para divulgar as sujas pesquisas eleitorais manipuladas;
- não dá mais para esconder sua incompetência como gestor público sujo, no caso da cratera do metrô, ou dos livros escolares com erros crassos;
- não dá mais para dissimular a sujeira de seu autoritarismo, como no caso da violência praticada contra os movimentos sociais e trabalhadores;
- não dá mais para aplicar golpes sujos, afirmando ser o pai dos genéricos;
- não dá mais para dizer que é economista formado, sujeira essa que ele até hoje não explicou.

Enfim, não dá mais para sustentar nenhuma de suas sujeiras, pois lá vem aqueles blogues denunciar suas mentiras!

Mas a cereja do bolo é afirmar, que participação social nas decisões do governo é um ato de militantes partidários. Aqui, a mentira e a leviandade se misturam ao mal caratismo e ao autoritarismo de quem quer impedir, a qualquer custo, a participação da população nas questões nacionais. Tomemos, como exemplo, a I Conferência Nacional de Comunicação [CONFECOM], em que participamos ativamente. Em torno de 30 mil pessoas participaram das conferências preparatórias municipais, distrital, estaduais, divididas em sociedade civil, empresários da comunicação e poder público. Qualquer governo democrático e minimamente responsável acolhe as demandas da população. A I CONFECOM foi uma delas.

A I CONFECOM foi a culminância de uma luta travada há mais de 20 anos pela sociedade civil para regulamentar o setor que é, sem sombra de dúvida, o mais antidemocrático da sociedade brasileira. É inconcebível que um país, que se pretenda democrático, esteja à mercê de meia dúzia de famiglias e seus capangas, que decidem sobre o que os brasileiros devem ser informados, ou desinformados. Na cabeça suja de Serra, é inconcebível que a população, representada pelas delegadas e pelos delegados da I CONFECOM, exija o direito à uma informação de qualidade.

O ódio de Serra aos blogues e seus mantenedores, a quem ele acusa de práticas às quais deve estar bem acostumado, pois quem mal não faz, mal não pensa, deve ser entendido como a reação de uma casta que, pela primeira vez na História do Brasil, perde o controle absoluto da informação. A Internet, em que pese às suas limitações, quebrou a hegemonia informativa das máfias midiáticas, que ainda tentam, através de expedientes sujos, como este que Serra lança mão, manter com mão de ferro.

Esse episódio não é um fato isolado, nem um momento de destempero de um candidato, cuja campanha desaba a olhos vistos. Ele está inserido num contexto bem maior e que envolve outros expedientes sujos, tais como: desqualificar o Mercosul; acusar a Bolívia de traficar drogas para o Brasil; criticar a diplomacia brasileira no acordo Brasil-Turquia-Irã; ligar o PT com as FARC e esta com o narcotráfico.

Observando isso tudo com mais cuidado, percebe-se que o discurso de Serra, alinha-se, incondicionalmente, com a doutrina do Departamento de Estado e da CIA para a América Latina. Serra é o nosso Uribe.

Por isso, sua chegada ao poder representa, no plano externo, confrontação com os países vizinhos; retrocesso na autonomia da política externa brasileira; ameaças a estabilidade na América Latina e a soberania nacional, ao alinhar o Brasil, incondicionalmente, aos interesses do EUA. No plano interno, repressão e violência contra os movimentos sociais, desmonte das políticas públicas, liquidação do que restou do patrimônio nacional e, aí sim, cerceamento da liberdade de informação que, no final das contas, é o objetivo de José Serra [PSDB-DEMO- PIG] ao atacar o movimento blogueiro.
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Debate político para gente grande

Maria Inês Nassif , do Valor Econômico

É muito delicada a discussão que tem tomado corpo sobre a tese de que o "lulismo" interdita o debate político. Do lado da direita, os argumentos usados para sustentar a afirmação têm sistematicamente misturado temas discutidos intensamente há pelo menos duas décadas entre os movimentos sociais e organizações da sociedade civil, subtraído as suas conclusões, ajuizado um "viés autoritário" - principalmente quando elas se referem à democratização da comunicação e aos direitos humanos - e as "denunciado" como decisões ou intenções de governo. É suprimida a informação de que houve um intenso debate nesse processo, porque isso desautorizaria a conclusão de que o governo é autoritário; e também se omite a informação de que a discussão envolveu agentes sociais no máximo mediados por organizações de governo, porque isso tiraria o caráter governista que se pretende dar a essas idéias.

Do lado da esquerda, a interpretação é a de que um líder populista com grande poder de atração sobre setores populares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à frente de um governo mais permeável a reivindicações dos movimentos sociais e com uma ligação histórica com o sindicalismo, seria desmobilizador por definição e o grande responsável pelo "descenso" das lutas sociais. Não apenas o debate político à esquerda seria interditado pela mobilidade do governo Lula junto aos setores populares, mas as próprias conquistas populares estariam relativizadas pela falta de conflito. Uma conquista social, por essa visão, apenas é legítima quando fruto de uma luta, de um sacrifício - uma visão épica do socialismo.

Essas visões padecem de alguns vícios. Primeiro, partem do diagnóstico de que o único responsável pelo agendamento do debate é o governo. Isso não é verdade. Embora Lula exerça uma liderança carismática sobre grande parcela da população, foi um presidente que caminhou quase dois mandatos sobre a trilha de agendamentos dos dois maiores partidos oposicionistas, o DEM e o PSDB, excessivamente reverberada pela grande imprensa. A agenda, inicialmente, teve como parâmetros de julgamento a pauta neoliberal do período anterior - à qual, diga-se de passagem, o primeiro governo Lula esteve perfeitamente adequado. Como as divergências na área econômica foram muito reduzidas no primeiro período, o tema moral passou a pautar exclusivamente o debate da oposição, sem que o governo pudesse interferir nessa dinâmica, já que não influencia os principais meios de comunicação. Nos dois casos, da agenda neoliberal e da agenda neo-udenista, o debate político tende a ser restrito - no primeiro caso, porque se parte do princípio de que não existe inteligência na discordância; no segundo, porque um clima permanente de agressão não leva a qualquer conversa em profundidade. É apenas uma luta de boxe.

O que teoricamente deveria ser um debate político sobre a ética, no entanto, não aconteceu, pelo menos do lado institucional. A política ascendeu rapidamente às páginas policiais dos jornais sem que em nenhum momento se tenha debatido como proceder a uma renovação de quadros políticos e como dar substância ideológica a partidos que, relativamente novos, já apresentam sinais de senilidade.

Marginalmente, o debate ético ganhou a sociedade civil via movimento Ficha Limpa que, embora seja pelo menos uma iniciativa, não teve capacidade de manter mobilizados seus atores para fazer um diagnóstico mais profundo sobre as mazelas do sistema político brasileiro. Aliás, sem uma discussão e uma ação política que encare com igual urgência as deficiências da Justiça, a lei poderá se constituir, no futuro, num importante instrumento nas mãos das oligarquias estaduais, que têm ainda forte influência sobre as justiças estaduais - quando não nas instâncias superiores -, e a política continuará sendo o refúgio para malfeitores que usam o mandato legislativo como peça de defesa, valendo-se do foro privilegiado. Estes dificilmente terão uma condenação que lhes suprima o direito de se candidatar.

A outra visão, de que o governo traz em si o poder de desmobilizar os movimentos sociais, é relativa. De fato, o Bolsa Família desarticulou importantes agentes de mobilização popular, mas os movimentos sociais vinham de um período de esvaziamento anterior - assim como os sindicatos -, no período em que seus adversários venderam com relativo êxito o peixe de que as diferenças de classe tinham acabado, e uma conjuntura permanente de estagnação tirou o poder de fogo das lutas reivindicatórias.

A recolocação em pauta do debate político não é, portanto, um assunto e uma responsabilidade só de governo. Não se sustentaria dessa forma, aliás, porque o governo tem um poder de agenda restrito. E esse debate é de interesse da situação e da oposição, tanto à esquerda como à direita. Isso porque todos os atores que se movem na cena política são parte hoje de uma grande crise de representatividade. Falta debate político porque os partidos têm falhado no papel de mediadores de setores sociais e de formuladores de projetos políticos. E têm falhado porque não conseguem dar substância e matéria-prima para a unidade interna, já que são partidos de quadros que pedem votos ostentando discursos baseados quase que exclusivamente no discurso pessoal - "eu sou", "ele é".

Um sistema político sem partidos que mereçam esse nome tem se mostrado incapaz de dar um efetivo salto do país para uma verdadeira democracia. O sistema político brasileiro é o próprio entulho autoritário; existem quadros partidários importantes que são uma pesada herança da ditadura. O sistema mostra-se incapaz de se renovar, formar novas lideranças, atrair valores novos da sociedade civil. A forma como os partidos lidam com isso, quando fazem oposição, e o modo como repercute essa atuação em setores que se identificam com eles, consolidam um preconceito com a política que apenas contribui para afastar ainda mais os bons quadros.

O único jeito de resolver isso é conversar sobre política que nem gente grande.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras
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Autoritarismo popular pelo voto direto

Maria Inês Nassif, do Valor Econômico

Ao final de sete anos de governo e à véspera de uma eleição em que a sua simples presença de um lado da disputa pode definir a sua sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está dando um nó na cabeça da oposição. Não só pela sua popularidade, mas pela forma como conseguiu usar essa popularidade para mudar completamente uma agenda política e econômica à qual, no primeiro mandato, parecia amarrado.

À direita e à esquerda, essa mudança de agenda está sendo colocada como autocrática. Todavia, como definir historicamente uma mudança de agenda política e econômica num regime democrático sem a suposição de que existe apoio popular a ela? O apoio é a um presidente ou a um outro projeto de poder? Como desvincular o presidente Lula do seu partido político, o PT, quando a história política de ambos é a mesma (e isso é um fato mesmo se constatando que, depois de quase dois mandatos como presidente num regime presidencialista, Lula tornou-se maior que o PT)? Se projetos políticos não se sucederem no poder, em alternância, o que se pode querer de uma democracia? É personalismo ou projeto político diferenciado uma inversão completa de agenda em relação aos governos anteriores?

A definição - ou acusação - imputada a Lula pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo recente publicada em dois jornais paulistas ("Folha de S. Paulo" e "Estado de S. Paulo"), e reiterada em entrevista ao colunista Vinicius Torres Freire, ontem, na "Folha", de exercer uma "Presidência imperial", ou ser o artífice de um estado de "apatia com autoritarismo popular", não parece plausível. Não dá para "acusar" alguém de ser popular. FHC também o foi no seu primeiro mandato e venceu as eleições para a reeleição no primeiro turno, em 1998. Não dá para "acusar" alguém por estar no poder, se essa pessoa foi eleita. FHC também foi, duas vezes. E, como Lula, também tentou, embora não com tanto empenho, fazer o seu sucessor.

Como Lula, Fernando Henrique Cardoso foi vitorioso como principal articulador de uma nova agenda política e econômica - no seu caso, o discurso vitorioso foi o de rompimento com a agenda nacional-populista de Vargas que ainda estava entranhada na sociedade. Como Lula, FHC teve que fazer valer o seu projeto num regime presidencialista com forte dispersão partidária. Ninguém o acusou de autoritário por isso. E não existe nenhuma objetividade numa acusação de autoritarismo se a pessoa que está sendo acusada se submeteu às urnas e mantém-se estritamente no jogo político institucional (ainda anteontem, Michael Bloomberg se elegeu, pela terceira vez, prefeito de Nova York).

A grande arte do Brasil democrático foi a de conseguir criar, mesmo após longo período de ditadura militar, uma cultura democrática. Foi arte, não foi sorte. Um único presidente, Fernando Collor, tinha um perfil que tendia ao autoritarismo mas, salvo a edição do Plano Collor numa conjuntura de hiperinflação no primeiro dia de seu governo - que enxugou drasticamente a liquidez com o confisco de poupança -, o autoritarismo não conseguiu passar de um discurso forte com cores nazistas. Collor mais ladrou do que mordeu: aceitou sem reações um processo de impeachment que acabou se tornando um símbolo da democracia brasileira. O presidente Itamar Franco, eleito como seu vice, governou por dois anos, tinha tradições democráticas e não as negou no poder.

Antes deles, o primeiro presidente civil depois do golpe de 1964 e último a se eleger pela via indireta, José Sarney, teve muitos defeitos, mas seu governo foi fundamental para a consolidação da democracia. Foi nesse período que funcionou a Assembleia Nacional Constituinte. Não consta que Sarney, mesmo com o pecado original de ter antes vivido à sombra do regime autoritário, tenha cometido atentados contra a então tenra democracia. Como vice do presidente eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, Sarney ascendeu ao poder pela morte de um dos grandes articuladores da transição para a democracia. Estava comprometido com as forças democráticas, já majoritárias na sociedade, e não conseguiria sobreviver no poder sem o apoio delas.

Os governos do presidente Fernando Henrique Cardoso tiveram grande conteúdo democrático. FHC vinha da oposição institucional ao regime militar, o MDB, ingressou no PMDB e ascendeu pelo PSDB, partido surgido de um racha do PMDB. FHC, assim como Lula, esteve presente nos grandes movimentos pela democracia no pré-85. No governo, foi um hábil, e democrata, articulador de forças econômicas que emergiam num Brasil que se abria para o capitalismo financeiro internacional. Não houve autoritarismo nessa mudança de agenda: ele articulou forças que se moviam no cenário democrático a partir de mandato ao qual foi investido pelo voto popular. FHC foi bastante popular no final do primeiro governo, quando o Plano Real produziu um ganho de distribuição de renda incomum num país de renda concentrada como o Brasil. Perdeu esse legado no segundo mandato, quando a renda voltou a se concentrar.

O presidente Lula não foi nem mais, nem menos democrático que os outros civis. Foi igualmente democrata. Com mandato popular, articulou forças que se moviam no território da democracia para mudar a agenda política e econômica. A interpretação de que é a figura central de um "autoritarismo popular" não leva em conta a origem do mandato de Lula - o voto, como os dois mandatos de FHC -, mas o fato de que o atual presidente articula outras esferas da sociedade que foram incorporadas ao projeto de poder tucano apenas durante o Plano Real, e dele foram apartadas por sucessivas crises e um modelo de acumulação que se tornou excludente, passado o efeito desconcentrador do êxito anti-inflacionário.

A designação de "autoritarismo" não leva em conta o voto; a "acusação" de popular não faz justiça a quem vota.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras
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