10/8/2010, Sam Youngman, The Hill
http://thehill.com/homenews/administration/113431-white-house-unloads-on-professional-left
A Casa Branca está furiosa com as críticas que tem recebido da esquerda norte-americana, para a qual o presidente Obama estaria mais preocupado com os negócios do que com a pureza ideológica.
Em entrevista a “The Hill”, em sua sala na Ala Oeste, o secretário de imprensa da Casa Branca Robert Gibbs criticou duramente os militantes da esquerda-do-contra, os quais, disse ele, jamais estão satisfeitos com o que o presidente faça.
“Ouço esse pessoal dizer que o presidente é igual a George Bush. Parecem drogados”, disse Gibbs. “Parecem doidos.”
O secretário de Imprensa usou, contra a “esquerda profissional”, termos muito semelhantes aos usados pelos adversários de Obama na direita ideológica. Disse que “Só estarão satisfeitos, quando tivermos nos EUA o sistema público de saúde do Canadá, e quando o Pentágono tiver sido extinto. Não trabalham com dados de realidade.”
Dos que reclamam que Obama bajula os centristas em questões como a reforma da Saúde, Gibbs disse: “Não parariam de reclamar, nem se Dennis Kucinich fosse presidente.”
A Casa Branca, sob fogo constante dos inesperados inimigos de esquerda, tem-se sentido frustrada pelas opiniões, nos noticiários noturnos da televisão a cabo que reúnem vozes da esquerda, e nos quais Obama e seus principais assessores, como Rahm Emanuel, são diariamente execrados por não ter optado por um sistema público de saúde; por ainda não ter fechado a prisão de Guantánamo; e por, até agora, não ter posto fim à proibição de homossexuais assumidos nas Forças Armadas.
A esquerda norte-americana tem criticado Obama e sua equipe por se aproximarem cada vez mais do centro e por ter barganhado na negociação política da reforma do sistema de saúde, pelo resgate dos grandes bancos, pela regulação financeira pouco exigente e pelo pacote de $787 billhões de estímulo à economia, o qual, para algumas dessas vozes de esquerda, deveria ter sido maior.
Semana passada, Rachel Maddow, da rede MSNBC, descreveu David Axelrod, conselheiro político de Obama, como um “pretzel humano”, pelo modo como explicou a posição do governo sobre o casamento de homossexuais. Axelrod explicou que Obama opõe-se ao casamento de pessoas do mesmo sexo, mas apóia benefícios iguais para parceiros homossexuais.
A Casa Branca também está frustrada por estar sendo atacada por grupos políticos de esquerda, como o Progressive Change Campaign Committee (PCCC), que arrecada dinheiro para campanhas de candidatos e causas de esquerda.
Adam Green, um dos fundadores do PCCC, já criticou Obama por ter manifestado “mentalidade de perdedor” no debate sobre a reforma da saúde; e tem criticado o presidente e Emanuel por não se terem empenhado mais para incluir a opção pela saúde pública, na legislação final aprovada. O grupo tem publicado matéria paga em jornais, acusando Obama de ignorar o desejo dos milhões que o elegeram, em troca do apoio da senadora Olympia Snowe, Republicana do Maine.
Atualmente, o PCCC pressiona Obama para que indique Elizabeth Warren, heroína da esquerda dos EUA, como primeira presidente da nova agência de proteção ao consumidor criada pela “Reforma de Wall Street”.
Apesar de visivelmente decepcionado, Gibbs não citou nenhum nome dos detratores da Casa Branca.
Green escreveu em declaração distribuída por e-mail, na 2ª-feira à tarde: “Quando os Republicanos opuseram-se ao pacote de estímulo e quando Joe Lieberman opôs-se a opção pela saúde pública, que eram, de longe, as opções mais populares, o presidente deveria ter partido em caravana pelos estados, pedindo apoio para as políticas que os eleitores desejavam. Em vez disso, rendeu-se sem luta.”
Os duros comentários de Gibbs refletem frustração e perplexidade, da Casa Branca, que acredita ter feito muito na linha das teses que a esquerda sempre defendeu.
Em 18 meses de governo, Obama já aprovou a reforma da saúde, a reforma financeira e a legislação que garante pagamento equivalente para homens e mulheres em funções idênticas, dentre outras leis sempre desejadas pela esquerda norte-americana.
Obama prepara o fim da guerra do Iraque, e o fim das operações de combate está previsto para o final de agosto.
Aumentou a representação feminina na Suprema Corte, com a nomeação de duas juízas, uma das quais, a primeira hispânica. Mesmo assim, vários grupos de esquerda criticam-no por não ser suficientemente de esquerda.
“Fizemos 1001 coisas”, disse Gibbs, que então lembrou-se de incluir o Iraque e a reforma da saúde.
Para Gibbs, a “esquerda profissional” não representa os cidadãos norte-americanos progressistas que se organizaram, fizeram campanha, arrecadaram dinheiro e, por tudo isso, conseguiram eleger Obama.
Os verdadeiros progressistas, disse Gibbs, não são os esquerdistas de Washington, e “vivem na América profunda”. Esses são gratos pelo que Obama já conseguiu, num país com a economia destroçada, sob cerrada oposição do Partido Republicano e em pouco tempo.
No início do verão, Obama procurou contato com a esquerda – inclusive, convidou Maddow e outros jornalistas e blogueiros de esquerda para um almoço privado.
No final de julho, Obama fez uma aparição surpresa, por vídeo, com a ajuda de Maddow, na convenção dos “NetRoots” em Las Vegas, onde a esquerda profissional reunira-se para coordenar seus discursos de desapontamento com o presidente.
“Espero que vocês dediquem um momento e considerem o que já conseguimos”, disse Obama, a um público que dava sinais de impaciência. “E ainda não terminamos.”
A falta de compreensão, ou de reconhecimento, pelos feitos do governo Obama tem levado Gibbs e outros a uma espécie de desilusão irada.
Larry Berman, professor de ciência política da University of California-Davis e especializado em análise do desempenho presidencial, disse que também o surpreende que a esquerda dos EUA não entenda o quanto custou a Obama a aprovação das reformas, até aqui, nem reconheça como mérito a ação pragmática do presidente.
“Mas a ironia disso tudo”, continuou Berman, “é que a frustração de Gibbs apenas comprova que a oposição conservadora foi muito bem-sucedida na operação para minar a aprovação popular do presidente”, disse Berman. “Do ponto de vista de Gibbs, e do ponto de vista da Casa Branca, eles deveriam estar mais empenhados agora, isso sim, em reconquistar a confiança das pessoas que, supõem eles, teriam alguma obrigação de ser compreensivas, gratas e elogiosas.”