E se fosse no Irã?

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  • quinta-feira, 10 de junho de 2010
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  • Imagino uma charge para representar a visão internacional de nossas elites e sua mídia: vários distintos senhores em seus belos ternos, de quatro, cabeça baixa, tal como se estivessem rezando voltados para Meca. Mas, neste caso, estariam de costas, oferecendo a retaguarda para Washington. Imagino assim representar o espírito de entreguismo desta gente a tudo que vem da nação do norte. Principalmente suas idéias.

    Só assim podemos entender que apenas hoje a Folha de S. Paulo noticiou o caso do brasileiro Marcelo Santos, preso na Arábia Saudita, fato já há um bom tempo comentado por blogs e redes sociais na internet.

    Imagine se o fato fosse no Irã? Teria virado manchete, colunistas amestrados estariam colocando a culpa em Lula e sua política externa. Mas foi na terra do fundamentalismo amigo dos EUA. Lugar onde vive a família Bin Laden, sócia em negócios dos Bush. Onde o farto petróleo é vendido a preço camarada pela família Real.

    Aliás, o brasileiro sobrevive em um pequeno apartamento cedido por irmão de Osama Bin Ladem. Só este inusitado fato já teria merecido atenção da mídia.

    A matéria na ediçaõ de hoje da Folha:


    Arábia Saudita proíbe brasileiro de deixar o país

    Ele agrediu policial em partida de futebol em abril; agora, tem de ficar no país enquanto durar o processo

    Marcelo Santos atuou durante a partida como tradutor de Luiz Felipe Scolari; ele está na casa do irmão de Bin Laden

    RICARDO GALLO
    DE SÃO PAULO

    GUSTAVO S. FERREIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    Faz quase dois meses que o tradutor brasileiro Marcelo Santos, 40, está proibido de deixar a Arábia Saudita.

    Acusado de agredir um policial após um jogo de futebol, tem de ficar no país enquanto o processo durar.

    Ele trabalhou na partida como intérprete do brasileiro Luiz Felipe Scolari, então técnico do Bunyodkor, do Uzbequistão. A equipe uzbeque jogou em Jeddah contra o Al Ittihad, em 14 de abril, pela Copa dos Campeões da Ásia.

    No final da partida, chutou um juiz e trocou pontapés com um policial à paisana.
    "Não sabia que ele era policial. Fui agredido e revidei", disse à Folha, por telefone.

    Segundo ele, o árbitro o havia chamado de "macaco" durante o jogo -fluente em russo, Marcelo estava ao lado de Scolari para traduzir as instruções aos jogadores.
    O brasileiro está em Jeddah desde então. Vive de favor em casa de quarto e sala cedida por Khalil Bin Laden, cônsul honorário do Brasil e irmão de Osama Bin Laden.
    Levado para delegacia, o brasileiro se livrou da prisão graças à intervenção de Khalill, que assinou termo de compromisso para liberá-lo.

    O seu passaporte, porém, está com a embaixada brasileira -condição do governo local para não o prender.

    "Para mim, é como se eu estivesse preso aqui. Não posso voltar para casa."
    Agressão contra autoridade é crime grave no país, segundo a embaixada, que não informou eventual pena.

    O governo Lula pediu duas vezes liberação "imediata" do brasileiro, sem resposta.
    O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) ligou para o homólogo saudita em 24 de maio. Scolari e Rivaldo, jogador do clube, também apelaram. Um advogado designado pelo cônsul tenta resolver o caso na Justiça local.

    Com a demora, os US$ 600 que recebeu do Bunyodkor para ficar no país estão no fim. Hoje, Marcelo afirma ter menos de US$ 200 (R$ 368).

    Para economizar, come sanduíche e frutas. Tem só duas mudas de roupas. Esperança de ir embora, o brasileiro diz ter. Mas o processo pode demorar até oito meses.

    Ele tem mulher e duas filhas, que vivem em Recife.

    Na esfera desportiva, foi suspenso por cinco anos e multado em US$ 20 mil.
     
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