Vozes Africanas.

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  • terça-feira, 20 de abril de 2010
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  • Uma "homenagem" ao "combativo" Senador do DEM, Demóstenes Torres, que acha que no Brasil a questão racial não tem grande importância...

    MAMÁ NEGRA
    (Canto de esperança)

    (À memória do poeta haitiano Jacques Roumain)

    Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça,
    Drama de carne e sangue
    Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!

    Pela tua voz
    Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais
    [dos seringais dos algodoais!...
    Vozes das plantações de Virgínia
    dos campos das Carolinas
    Alabama Cuba Brasil...
    Vozes dos engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
    [das pampas das minas!
    Vozes de Harlem Hill District South
    vozes das sanzalas!
    Vozes gemendo blues, subindo do Mississipi, ecoando
    [dos vagões!
    Vozes chorando na voz de Corrothers:
    Lord God, what will have we done
    - Vozes de toda América! Vozes de toda África!
    Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston
    Na bela voz de Guillén...

    Pelo teu dorso
    Rebrilhantes dorsos aos sóis mais fortes do mundo!
    Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor
    [amaciando as mais ricas terras do mundo!
    Rebrilhantes dorsos (ai, a cor desses dorsos...)
    Rebrilhantes dorsos torcidos no "tronco", pendentes da
    [forca, caídos por Lynch!
    Rebrilhantes dorsos (Ah, como brilham esses dorsos!)
    ressuscitados em Zumbi, em Toussaint alevantados!
    Rebrilhantes dorsos...
    brilhem, brilhem, batedores de jazz
    rebentem, rebentem, grilhetas da Alma
    evade-te, ó Alma, nas asas da Música!
    ...do brilho do Sol, do Sol
    fecundo imortal e belo...

    Pelo teu regaço, minha Mãe,
    Outras gentes embaladas
    à voz da ternura ninadas
    do teu leite alimentadas
    de bondade e poesia
    de música ritmo e graça...
    santos poetas e sábios...

    Outras gentes... não teus filhos,
    que estes nascendo alimárias
    semoventes, coisas várias,
    mais são filhos da desgraça:
    a enxada é o seu brinquedo
    trabalho escravo - folguedo...

    Pelos teus olhos, minha Mãe
    Vejo oceanos de dor
    Claridades de sol-posto, paisagens
    Roxas paisagens
    Dramas de Cam e Jafé...
    Mas vejo (Oh! se vejo!...)
    mas vejo também que a luz roubada aos teus
    [olhos, ora esplende
    demoniacamente tentadora - como a Certeza...
    cintilantemente firme - como a Esperança...
    em nós outros, teus filhos,
    gerando, formando, anunciando -
    o dia da humanidade
    O DIA DA HUMANIDADE!...

    (Viriato da Cruz, Poeta Angolano, 1961)
     
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