Fim de linha para Ricardo Kotscho

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  • quinta-feira, 8 de outubro de 2009
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  • Na longa e penosa marcha da luta do povo por um novo mundo, não tenho a ilusão de que contaremos sempre com aliados de igual pensamento. Compreendo e aceito a existência da diversidade de idéias nesta labuta. Mas há momentos onde os passos de antigos cúmplices deixam claro que não chegaremos aos mesmos objetivos. Hoje, afirmo que não mais caminharei ao lado de Ricardo Kotscho. Decido ao mesmo tempo em que o experiente jornalista afirma que o MST acabou para ele esta semana em Iaras, na fazenda da Cutrale, com atos da vandalismo, furto, destruição e pichações.

    Não aceito que alguém que conhece muito bem nossa mídia, a sociedade, as forças em disputa, não queira pensar, e acabe aliado às forças mais atrasadas de nossa história. Como jornalista, ele deveria estar agora ajudando a divulgar as perguntas contundentes que faz a Comissão Pastoral da Terra, em nota divulgada hoje:

    1) Por que a imprensa não dá destaque à grilagem da Cutrale?

    2) Por que a bancada ruralista se empenha tanto em querer destruir os movimentos dos trabalhadores rurais?

    3) Por que não se propõe uma grande investigação parlamentar sobre os recursos repassados às entidades do agronegócio, ao perdão rotineiro das dívidas dos grandes produtores que não honram seus compromissos com as instituições financeiras?

    4) Por que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), declarou, nas eleições ao Senado em 2006, o valor de menos de oito reais o hectare de uma área de sua propriedade em Campos Lindos, Tocantins?

    5) Por que por um lado, o agronegócio alardeia os ganhos de produtividade no campo, o que é uma realidade, e se opõe com unhas e dentes à atualização dos índices de produtividade?

    6) Por que a PEC 438, que propõe o confisco de terras onde for flagrado o trabalho escravo nunca é votada?

    7) E por fim, por que o presidente Lula que em agosto prometeu em 15 dias assinar a portaria com os novos índices de produtividade, até agora, mais de um mês e meio depois, não o fez?


    São perguntas que se feitas e respondidas levariam a uma bela pauta para reportagem de um jornal, uma revista. Mas, infelizmente, mesmo que talvez merecedora de um futuro Prêmio Esso, não será feita. Para tal seria necessário existir jornalismo e jornalistas que façam estas perguntas e tentem apurar as respostas.

    Talvez esta reportagem começasse comparando o histerismo do cartel da mídia em defesa dos pés de laranja da Cutrale com o burocratismo em noticiar o ataque recente aos guaranis kaiowás no Mato Grosso do Sul, que tiveram acampamentos incendiados e foram baleados por proprietários rurais e seus capangas na região, como lembra Leonardo Sakamoto.

    Para laranjas, plantadas em terra grilada, toda uma comoção. Para índios sendo baleados por grileiros, notícias de pé de página, sem um único editorial.

    Sinto, Kotscho. Você escolheu as laranjas. Eu fico com a heróica luta do povo brasileiro e o MST.
     
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