Sem sombra de dúvidas, a Revolução Cubana foi um dos mais importantes - e fascinantes - acontecimentos do século XX e, juntamente com a Revolução Mexicana, marcou profundamente o imaginário das esquerdas e dos movimentos sociais latino-americanos. Apesar disto e ao contrário de muitos amigos queridos e de pessoas que respeito e admiro, não sou nenhum grande entusiasta do regime castrista. Melhor dizendo: tenho uma profunda admiração pela revolução e pelos revolucionários que derrubaram a infame ditadura de Fulgêncio Batista, no início de 1959, mas também tenho diversas críticas ao modelo de Estado construído em Cuba, notadamente a partir de 1964, embora compreenda os condicionamentos externos e internos que levaram à implantação e à consolidação desse modelo. Porém, continuo a achar que, em diversos momentos, outros caminhos poderiam ter sido tentados e experimentados, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo governo revolucionário ao longo destes cinqüenta anos. Mas, mesmo assim, são indiscutíveis os avanços conquistados pela sociedade cubana em diversos campos, assim como é indiscutível o heroísmo de uma nação que se construiu como tal, através da luta e do enfrentamento das adversidades. Escrevo tudo isto como preâmbulo a um comentário sobre a matéria “Negociar sim; sem perder a firmeza, jamais”, surpreendentemente (deve ter sido um “cochilo” da editoria internacional) publicada em “O Globo” de hoje. Nesta reportagem, assinada pela jornalista Nani Rubin, o jornalão da família Marinho foge do seu tom crítico habitual sobre a ilha (por sinal, somente alguém completamente idiota ou então um leitor compulsivo do Mainardi - o que, no fundo, acaba sendo a mesma coisa - para acreditar que um “regime decadente e que está perdendo o apoio popular” - que é como “O Globo” habitualmente define o governo de Fidel - consiga sobreviver por cinco décadas, enfrentando as pressões da maior potência do mundo, sem poder contar, há quase 20 anos, com o apoio da extinta URSS) e apresenta um vibrante quadro da sociedade cubana, diante das perspectivas da ocorrência de mudanças no país e de uma reaproximação com os EUA. O que vemos ali é o retrato de um povo orgulhoso e consciente que deseja mudanças políticas e econômicas e que sonha com o fim do embargo norte-americano e com melhores relações com seu poderoso vizinho, mas que não abre mão das conquistas obtidas após 1959 e nem aceita transformar-se novamente em um “quintal” dos EUA, como nos tempos anteriores à revolução. Tal disposição fica bem clara nas palavras de uma cubana comum, a recepcionista Maria Cristina Sánchez, que afirmou para a jornalista de “O Globo”: “Este é o melhor país para se viver. Quem trabalha tem o seu dinheirinho, quem não trabalha... o que se pode fazer? Não temos muita coisa, mas temos orgulho do que conseguimos e comida para todos. O bloqueio é injusto e precisa acabar, mas Raúl não pode ceder”.
Depois de ler isto, não pude deixar de abrir um sorriso e de dar um “Viva”, mentalmente, a esse heróico e orgulhoso povo.
Leia aqui, na íntegra, a matéria sobre Cuba publicada em O Globo.
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