D. Miriam Leitão e a eleição para a direção da UNESCO.

Há cerca de duas semanas, comecei a escrever um post sobre a polêmica em torno do não-apoio do governo Brasileiro à indicação de Márcio Barbosa para a direção-geral da UNESCO. Tive esta idéia porque, em uma de minhas aulas sobre Política Externa Brasileira, uma aluna comentou que achava um “absurdo” o Itamaraty estar apoiando a candidatura do egípcio Farouk Hosny quando há um brasileiro no páreo. Na ocasião, repeti o discurso que faço sempre, dizendo que alguém que pretende ser um especialista em Relações Internacionais não pode pautar suas análises por aquilo que é exposto na grande imprensa, devido à, essencialmente, dois fatores:

1- Os artigos jornalísticos de opinião, na maioria dos casos, nada mais são do que o supra-sumo do senso comum, já que os argumentos são lançados de forma rasteira e juízos de valor são emitidos sem o mínimo compromisso com a realidade dos fatos;
2- A maior parte da mídia brasileira adotou nos últimos anos uma postura de oposição extremamente raivosa em relação ao governo Lula. Logo, as suas análises sobre a Política Externa Brasileira acabam sendo contaminadas pelas paixões da luta política.

Mas depois, com o passar dos dias, acabei deixando de lado a idéia de terminar o post devido, em primeiro lugar, ao excesso de compromissos e afazeres profissionais, mas também – confesso – por uma certa falta de saco em escrever, mais uma vez, sobre a parcialidade da mídia (é por isto que os meus últimos posts foram sobre cultura e não sobre política!). No entanto, depois de ler a coluna de hoje da Sra. Miriam Leitão, em “O Globo”, intitulada “Frente Externa”, não posso deixar de me manifestar (é o anjo torto que vive a sussurrar em meus ouvidos!). A “ilustre” economista/jornalista global voltou a atacar, pra variar, as linhas gerais da política externa do atual governo, utilizando-se, desta vez, dos comentários do ex-ministro das Relações Exteriores de FHC, Luiz Felipe Lampreia. A coluna inicia-se com um comentário do ex-chanceler tucano que disse que nunca viu "tamanha série de enganos e equívocos" no Itamaraty e a partir daí continua a transcrever (e a endossar, é claro) os argumentos do embaixador, que reproduzo abaixo, com alguns grifos meus:

“Nessa lista de equívocos, Lampreia inclui a idéia de mandar um embaixador para a Coréia do Norte — que teve de ser abortada — e a decisão de apoiar a candidatura do egípcio Farouk Hosny para a direção-geral da Unesco: — Eu creio, sinceramente, que a explicação básica está no fato de que o dr. Márcio Barbosa, um homem de extrema competência e grande posição na Unesco, padece de um vício enorme: o de ter servido ao governo Fernando Henrique Cardoso. O Itamaraty tem longa tradição de respeitar posições diferentes e não ter facciosismo. Ele acha que os árabes merecem um gesto nosso, mas esse foi o sinal errado.— Primeiro, há um candidato brasileiro. Segundo, o egípcio é uma pessoa inaceitável. Uma organização que se propõe a defender a educação e a cultura não pode ter como diretor um homem que diz que vai queimar livros. É uma contradição — afirmou”.

Não pretendo me aprofundar na discussão sobre o apoio brasileiro à candidatura de Hosny (discussão esta que, como já disse, não estou com muita paciência para travar. Porém, não posso deixar de assinalar o quão deprimentes foram as defesas “patrióticas” do nome de Márcio Barbosa feitas por “nacionalistas” convictos como Diogo Mainardi e a própria Miriam Leitão. Mais do que nunca, percebo a atualidade da célebre frase de Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”), mas tenho o dever de ofício de recordar ao excelentíssimo Senhor Embaixador alguns episódios que ilustram como são falaciosos os seus comentários. Ao afirmar que no Itamaraty há “uma longa tradição de se respeitar posições diferentes”, o ex-chanceler (e a D. Miriam) esquece-se de dois casos ocorridos no governo a que serviu:

1- A demissão do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães (atual secretário-geral do MRE), em 2001, da direção do Instituto de Pesquisas e Relações Internacionais (IPRI) do Itamaraty, por emitir opiniões contrárias à adesão do Brasil à Associação de Livre Comércio das Américas (ALCA).;
2- A falta de empenho do MRE, através do então ministro Celso Lafer, na manutenção do Embaixador José Maurício Bustani, na direção da Opaq (Organização para a Proscrição das Armas Químicas). Bustani foi derrubado do comando da Organização, em 2002, por pressões do governo Bush, já que desagradou ao “grande irmão do norte” por sua insistência em negar tratamento preferencial aos Estados Unidos no que diz respeito às inspeções militares e industriais e por não admitir interferências, de nenhum tipo, na administração da Opaq. Como ressalta, o próprio Bustani em artigo publicado na revista “Estudos Avançados”, da USP (José Mauricio Bustani, "O Brasil e a Opaq: Diplomacia e Defesa do Sistema Multilateral sob Ataque", "Estudos Avançados", vol. 16, nº 46, setembro/dezembro de 2002), Lafer fez um acordo de bastidores com o Secretário de Estado dos EUA de que o Brasil não faria nenhum lobby em favor de sua permanência.

Ora, é importante ressaltar que Márcio Barbosa lançou sua candidatura à direção-geral da UNESCO, de forma avulsa e não-orgânica, sem nenhuma consulta prévia ao governo brasileiro. Logo, estava preparado (ou, pelo menos, deveria estar) para a possibilidade de não receber o apoio do Brasil, que foi o que efetivamente aconteceu, visto que, em nome de interesses geopolíticos e dos próprios objetivos gerais de nossa política externa atual, o Itamaraty optou por apoiar a candidatura de Hosny. Tudo isto aconteceu de forma legítima e transparente, destacando-se o fato de que, em nenhum momento, o MRE trabalhou contra a candidatura de Barbosa ou mesmo procurou tentar inviabilizá-la: simplesmente uma outra opção foi feita, de maneira coerente com as diretrizes de política externa do governo Lula (abrindo um rápido parênteses: esta história do governo ter que apoiar a candidatura de alguém – mesmo que tal pessoa não esteja alinhada com suas posições – só por este alguém ser brasileiro, lembra-me aquele discurso dos narradores esportivos quando algum time brasileiro está na final da Libertadores ou do Mundial Interclubes: “É o Brasil na Final!”. E desde quando um torcedor do Vasco vai torcer pelo Flamengo numa situação destas? Ou o do Atlético pelo Cruzeiro, ou o do Palmeiras pelo Corinthians, ou o do Colorado pelo Grêmio, e por aí afora? Poupem-nos destes argumento esdrúxulos). Repito mais uma vez: mesmo tendo feito uma outra opção, o Itamaraty em nenhum momento atuou nos bastidores contra a candidatura de Barbosa. Como vimos, não foi isto que o governo FHC fez no caso Bustani: para atender subservientemente aos interesses norte-americanos, o ex-ministro Celso Lafer (aquele mesmo que tirou os sapatos!), literalmente, puxou o tapete do Embaixador na Opaq (é importante notar que nenhum dos “patriotas de ocasião”, que recentemente apareceram na mídia, levantou-se, naquele momento, em defesa de Bustani!). Já a demissão de Samuel Pinheiro Guimarães, do IPRI, foi um caso claro de perseguição ideológica, a mesma que o ex-Chanceler Lampréia afirma que nunca ter havido no Itamaraty.

Pois é: estas questões nunca aparecem na coluna da D. Miriam Leitão...
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O VII Encontro Internacional do FOMERCO



Estão abertas até o próximo dia 15 de junho as inscrições para a proposição de papers aos Grupos de Trabalho do VII Encontro Internacional do Fórum Universitário Mercosul-FOMERCO. O evento terá lugar na Universidade Latinoamericana (UNILA) em Foz de Iguaçu, de 09 a 11 de setembro, e reunirá, além dos 28 GTs existentes, diversas outras sessões e mesas-redondas.

Eu e Ingrid Sarti, professora da UFRJ, coordenamos o GT 8, que integra o 5º eixo temático do Encontro, dedicado a discutir os principais desafios teóricos do processo de integração.

O GT 8 se chama “Novos paradigmas políticos para a integração regional” e pretende acolher papers que se proponham a investigar e discutir as questões políticas que se anunciam paradigmáticas no atual quadro da América do Sul, tendo em vista especialmente (mas não exclusivamente) a agenda da integração. Nosso interesse é pensar as diferentes formas que vêm assumindo, no continente, os processos de democratização, os procedimentos e problemas de governo, as relações Estado-sociedade civil e a cultura política.

A agenda do GT é aberta e procura dialogar com diferentes temas e perspectivas teóricas. Seu objetivo é promover aproximações entre análises que privilegiem os sistemas e os processos, os atores (movimentos, partidos, associações, governos) e as estruturas estatais, as idéias e os programas políticos. Uma questão pode ser apresentada como vertente de animação: em que medida o atual modo de pensar e fazer política interfere no processo da integração regional? Estão os sistemas políticos, as regras do jogo democrático e os atores políticos (tanto os do Estado quanto os da sociedade) suficientemente preparados para dinamizar democraticamente a integração, ou seja, para fazer com que ela caminhe além da consolidação de pactos e acordos de cooperação comercial? Se a política eventualmente está falhando, isso se deve a um problema imediatamente político (relacionado, por exemplo, à qualidade dos diferentes sistemas e atores nacionais) ou é um desdobramento da reorganização por que passam as sociedades, refletindo assim o modo mesmo como elas estão se transformando e/ou reagindo às novas circunstâncias histórico-universais?

As propostas devem ter entre meia e uma lauda, espaço 1.5 e incluir dados curriculares, vinculação institucional e e-mail, além de indicarem o número e o título do GT a que se dirigem. Devem ser enviadas até o dia 15 de junho para os e-mails viifomerco@pti.org.br, marcoscostalima@terra.com.br e ingrid.sarti@ufrj.br

O FOMERCO é uma rede acadêmica de universidades sul-americanas que se reúne anualmente para discutir e analisar as implicações, as trajetórias, os problemas e os avanços relativos ao processo de integração do Mercosul. Seu atual presidente é o cientista político Marcos Costa Lima, da UFPE.

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SIMON, o Senador das duas caras.


Os últimos escândalos do desgoverno de Yeda Crusius, expuseram o Senador Pedro Simon(“MDB-RS”) de uma maneira inusitada. O Senador tido como “ético” e considerado por alguns jornalistas como “O ORÁCULO” está numa saia justa.

Sobre os escândalos sul-mapitubenses, SIMON esqueceu a ênfase de seus discursos contra a corrupção em seu escaninho no plenário do Senado Federal. As falcatruas do governo do estado do RS são tratadas com comedimento e reticências pelo Senador.
Simon publicou um livro com seus discursos em 2005 no Senado Federal sob o título: “ Boicote às CPIs facilitou a corrupção”; hoje o Senador esquece o que escreveu e disse. Parece um “déjà vu”.

No RS ele articula o PMDB para não apoiar a CPI da CORRUPÇÃO e impedir sua saída do Governo Yeda Crusius e, logicamente, manter seus militantes nos cargos “sangrando” o BANRISUL, entre outros e escondendo seus afiliados investigados pela Polícia Federal.
Várias informações “sigilosas” de como funcionam o financiamento de campanhas eleitorais e que só os TSEs não sabem, foram graciosamente passadas à plebe por Busatto e o Vice-Governador Feijó. Simon e o PMDB ameaçaram processar Busatto. Simon estava indignado com a divulgação, não com o financiamento ilegal, pois como qualquer editorialista sabe, Simon é “ético”.

Mas a cara e a ética do Senador muda conforme sua conveniência geográfica. E digo isso com a convicção de ex-eleitor de Pedro Simon em 1978, em plena ditadura militar.
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A Pequena África no Rio de Janeiro.

“Pequena África” era o nome que se dava – até as primeiras décadas do século XX - à região formada pelos bairros da Zona Portuária do Rio de Janeiro – Saúde, Gamboa, Santo Cristo – indo até a antiga Praça XI (demolida para dar lugar à Avenida Presidente Vargas) e que era ocupada, já na segunda metade do século XIX, por um grande contingente de negros libertos, escravos de ganho e remanescentes do antigos Quilombos da Pedra do Sal. Carlos Lessa, em seu “O Rio de todos os Brasis” (Editora Record, 2000), ao escrever a respeito da “anatomia social” do Rio de Janeiro do século XIX afirma que apesar dos homens livres e pobres competirem entre si na esfera da produção, sua cidadania precária e incompleta levava-os, "ao mesmo tempo, com suas famílias a desenvolverem sistemas de organização, co-gestão e solidariedade nas zonas de moradia. A Pequena África no Rio de Janeiro é um excelente exemplo de organização solidária a partir de um território próprio da pobreza”. Para este território negro no coração da corte, vieram também inúmeros libertos oriundos da Bahia - então em acentuado processo de decadência econômica, dentre os quais as famosas “tias”, que estão nas origens do samba, e D. Obá II, ex-combatente da Guerra do Paraguai, que se tornou uma espécie de Rei da Pequena África. Ele chegou a liderar uma série de manifestações pró-Imperador, nos primórdios da República, o que ressalta a popularidade que a monarquia possuía entre as camadas mais pobres. Nesta parte da velha Cidade de São Sebastião proliferaram os terreiros de candomblé, descritos por João do Rio em “As Religiões do Rio” e constituiu-se o caldo de cultura que possibilitou o surgimento do samba e de tantas outras manifestações culturais com forte presença da matriz africana. Bem, toda esta introdução é para dizer que, no último sábado, ao dar uma aula sobre a História do Rio de Janeiro, em um curso de atualização para professores de História, comentei sobre um trabalho fundamental a respeito desta temática, o livro “Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro”, do Roberto Moura. Tendo sido editada pela coleção “Biblioteca Carioca”, da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, em meados da década de 1990, tal obra encontra-se esgotada há um bom tempo e não é muito fácil conseguí-la, mesmo nos melhores sebos. Dois dias depois, recebi um e-mail de uma das alunas do curso – valeu, Viviane! – passando-me um link onde o livro do Roberto Moura pode ser baixado gratuitamente. Para quem não conhece esta obra fantástica é uma ótima oportunidade para se ter acesso à ela.

Clique aqui, para fazer o download do livro.
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A moda está pegando, ao sul do Mampituba


O Centro Municipal de Cultura, um dos equipamentos Culturais da Prefeitura de Porto Alegre, está lentamente sendo sucateado; apesar da reforma duvidosa que está sendo feita em sua estrutura física.

O Secretário de Cultura, Sérgius Gonzaga, que disse que a cidade transpira cultura; parece não freqüentar os espaços públicos municipais.

Se frequenta, obviamente em alguma festividade, finge que nada vê.

Quem já fez algum curso nos áureos tempos daquele espaço, estranha a substituição de funcionários , por meros estagiários.

Atividades tais como revitalização de banheiros e jardins, parecem estar mais ligadas a algum serviço de engenharia e não relacionada a alguma atividade plástica: para essas experiências existe a sala (X).

Mas se o dinheiro, que deveria ter sido utilizado para tal fim foi usado para “otras cositas”, o problema é outro!
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Zero Hora, 45 anos... O papel de um jornal! Uma ode à hipocrisia!



Zero Hora de 04 de maio de 2009, publicou um editorial comemorativo de seus 45 anos que é uma ode a hipocrisia. Tudo o que ali está dito sobre o jornal, é exatamente tudo aquilo que ZH não é. Nem sob efeito de algum tipo de alucinógeno pode-se concordar que tais características refiram-se ao jornaleco da Azenha.

Certidão do cotidiano das comunidades onde circula...??? Que cotidiano, cara pálida? O cotidiano de ZH é antípoda da realidade! Zero Hora sequestra um protagonismo que não é seu. Pode, sim, fazer de conta, mas está longe de representar o pensamento de um estado que não é hegemônico. O “estado boi”, um estado de vaquinhas de presépio, de pessoas que ainda se acham politizadas. Fizeram duas merdas consecutivas, elegeram um incompetente, Germano Rigotto(PMDB) e não contentes, após quatro lamentáveis anos para não eleger Raul Pont(PT), votaram em uma desequilibrada. Tomem “desequilibrada”como um elogio.

Reciprocidade entre um veículo comprometido com a informação qualificada e independente, e uma comunidade de pessoas bem-informadas, exigentes e participativas. “...Informação qualificada...” Aqui o autor “se puxou”. Qualificada aos interesses corporativos do Grupo RBS e seus parceiros comerciais. Questões como o interesse público vão para o inferno. E isso não é jornalismo nem em Marte. ZH dominical chega a ponto de ser vendida associada com a revista Veja.

A contrapartida de ZH à fidelidade de seu público, é exatamente este compromisso com a verdade, com pluralismo de opiniões,com relevância das opiniões editoriais e publicitárias que divulga, e com a construção de uma sociedade justa e solidária. ”...fidelidade de seu público..” Talvez, ZH deva estar se referindo sobre as reuniões de apoio partidário após o entardecer, com empresários ligados a FEDERASUL para apunhalar Germano Rigotto pelas costas,e que elegeu esta desequilibrada, conspirando contra os interesses de parte de seus eleitorais. Se parte da população atura ser enganada por ZH, e acredita em “Coelinho da Páscoa”, não é difícil de se entender o ponto de descrédito e achincalhamento que o estado chegou. Não foi pela politização de seu eleitorado. Esta crença, o próprio PT contribuiu para forjar.

Guia de ética, qualidade e responsabilidade social... Este guia, coitado, deve servir de calço para algum escaninho na redação de ZH, ou sendo usado como papel higiênico.
Com sua experiência de 45 anos, Zero Hora sabe que o mais importante para o público, é receber informação confiável, opiniões equilibradas, e publicidade útil,....
Noventa e dois milhões de Reais são uma quantia bastante razoável para comprar consciências de formadores de opinião e forjar qualquer tipo de mentira. Basta navegar por blogs de jornalistas com banners publicitários milionários de estatais do RS, para se perceber que o ponto de vista em relação à corrupção no estado, é um (ou nenhum); já em relação aos “desvios éticos” de autoridades federais é implacável.

Zero Hora consolidou-se na ditadura militar. Sua primeira edição chegou às bancas em 04 de maio de 1964. Exatamente trinta e quatro dias após o golpe militar de primeiro de abril de 1964, dia dos bobos. O Caderno sobre os 45 anos de ZH é um descaramento que salta aos olhos de quem o lê. Quem procurar a existência de traços de uma ditadura militar que eliminou centenas de cidadãos brasileiros deverá utilizar lupa. É isto que significa ser um jornal confiável?
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Postagem nova para assunto requentado

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plus c'est la même...

Primeiro, notícias do nosso companheiro Jurandir. Ele está vivo e bem, colecionando posts que irá publicar quando chegar de sua viagem ao interior. Posso adiantar, como correspondente privilegiada que sou, que não perdemos por esperar a CPI imaginária da Petrobrax, opa, Petrobras, o caminho ladeira abaixo que o jornalismo brasileiro está tomando, a liberdade de Álvaro Lins, e outras pérolas do nosso cancioneiro popular, comentadas pelo nosso querido Jura.

Então assumo o papel de coadjuvante feliz e chamo atenção para um livro sobre o qual recebi a capa e um pequeno resumo:



O dito veio em um email cujo título chamava:

Uma nova oportunidade para a sua empresa.

Ao abrir o email, leio o título do livro: Um mergulho na base da pirâmide.
E segue o resuminho: Uma obra prática e repleta de imagens que traça o panorama de uma população que já passou de esquecida a valorizada e que hoje está nos planos das grandes empresas.

Ah, a base da pirâmide, ou exércitos de reserva, ou os miseráveis, ou os que aceitam trabalhar em qualquer condição, recebendo qualquer coisa, só agora estão nos planos das grandes empresas? Hm. Como consumidores também, certo? E eles terão que trabalhar para consumir aquilo que as tais grandes empresas querem colocar como necessidades reais ou imaginárias, certo? Então eu encerro meu expediente aqui, com mais uma da canalhada.
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Postagem requentada para assunto requentado

Ontem a mídia nos brindou com mais uma patética cobertura do "Dia Livre de Impostos", que tem o seu ponto alto na venda de gasolina barata. O sonho da Classe Média, representada pela apolítica Aclame: gasolina barata! Nada de transporte coletivo ou qualquer outra coisa coletiva. Apenas a exacerbação do individualismo, a preços módicos, acompanhada de reclamações contra a carga tributária e o contra o governo, seja lá qual for, porque a Classe Média sempre vota na direita, mas reclama de todos os governos.

Como o evento acontece todos os anos e todos os anos a televisão faz a mesma cobertura ridícula, segue abaixo uma postagem de 2006, com uma charge de 2004. Na época, Daniel Andrade era o presidente da Aclame. Depois, virou secretário da Yeda e apoiou o tarifaço e a prorrogação dos pedágios.

Coisas da vida, como diria o blogueiro...

14 Outubro 2006

Chega de Tanto Imposto!

Essa é uma das minhas favoritas. Tanto pelo desenho, que tá bacana, quanto pelo "contiúdo". Ela foi publicada em maio de 2004, depois de um dos tais “dia sem imposto”, com aquela função de filas nos postos de gasolina, matérias nos telejornais e tal e coisa... Eu fico me perguntando o que leva um sujeito a supor que a gasolina devesse ser isenta de impostos. Imagino que alguém que pense assim, também acredite que o seu automóvel devesse ser isento de impostos. E, talvez, que jamais pudesse ser multado, principalmente por um pardal faturador. E, evidentemente, esse alguém deve odiar os famigerados pedágios. O que me leva a outra pergunta: nesse mundo sem impostos, multas e pedágios, de onde alguém iria tirar dinheiro para fazer as estradas e ruas onde esses carros andariam com sua gasolina barata? Vai ver, nesse mundo ideal, talvez Deus, na sua infinita bondade, e aproveitando alguma verba excedente após o fechamento do Limbo e o conseqüente enxugamento da máquina celestial, dissesse: “Faça-se a auto-estrada! Com pelo menos três pistas, sem curvas nem limite de velocidade, que é pra galera barbarizar no volante”!

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Reserva...

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Patrus, PT e plano B

Em face das incertezas de 2010, mais um blog de política apresenta Patrus como plano B do PT.
Apesar de todos do governo afirmarem e reafirmarem a ministra Dilma Rousseff como candidata do Partido dos Trabalhadores ao Palácio do Planalto, e que sua saúde, apesar do câncer, está intacta e pronta para a disputa eleitoral, o PT já dá sinais de possuir sim um Plano B.
Nítida expressão desse plano é a propaganda televisiva, onde aparecem nessa ordem, as seguintes personalidades: o ministro da fazenda, Guido Mantega; o ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias; e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Muito inteligente, mas, não surpreendente, vindo de um partido que tem o Presidente da República, e assim, não se negligenciaria em não ter um bom estrategista e marqueteiro.
Apresentar Guido Mantega na abertura do programa reafirma a capacidade do PT de gerenciar a economia, alcançando bons resultados e afastando de uma vez por todas a idéia que antecedeu o primeiro mandato de Lula, de que o Partido dos Trabalhadores daria o calote nos fundos financeiros internacionais.
Logo após Mantega, aparece Patrus Ananias, uma cartada certeira, que também tem o seu propósito: aparecer logo depois do conforto de que a economia está fortalecida, ressalta que as Políticas Sociais do Governo Lula, comandadas pelo Ministro, podem coexistir num cenário econômico de responsabilidade, demonstrando que, melhorar a divisão de renda no país e dar atenção aos mais necessitados, não compromete a estabilidade do sistema financeiro, muito pelo contrário, injeta moeda no mercado, revigorando-o. Estar no meio, também significa que as Políticas Sociais é o cerne, o centro das atenções do Governo Petista. Dilma Rousseff aparece em terceiro lugar, e retorna ao final da propaganda, visto que, ainda é o Plano A do Presidente Lula.
Porém não foi desproposital Patrus ser incluído nessa propaganda, vejamos: o Ministro comanda a Pasta (ministério) carro chefe das administrações petista, as Políticas Sociais, é a pasta que chega a mesa do cidadão faminto, que coloca a criança na escola. E que garante segundo eles, um mínimo de dignidade à família. Além disso, Patrus já foi prefeito da cidade de Belo Horizonte, cidade estratégica para anular o poderio do Governador Aécio Neves. No mesmo sentido, Patrus, é entre as possibilidades dos petistas, aquele que já tem uma densidade eleitoral bastante considerável, visto sua votação em Minas, e, a reboque, encarna a figura do militante histórico, capaz de agregar os intelectuais, mas também, aqueles que saem às ruas, inflamados de emoção e com muito orgulho, exibem a estrela petista no lado esquerdo do peito. É importante lembrar que, caso o candidato seja Patrus, o grande imbróglio em Minas fica resolvido, visto que o caminho ficará aberto para Fernando Pimentel se candidatar ao Palácio da Liberdade. Nesse cenário, estariam no mesmo palanque, em Minas Gerais, Patrus e Pimentel, única aliança capaz de fazer frente a força do Governador Aécio Neves.
Portanto, a aparição de Patrus Ananias em Rede Nacional, ao lado do Ministro da Fazenda e da guerreira Dilma Rousseff, o credencia como o Plano “B” dos petistas. Caso a ministra não apresente condições de disputar o pleito em 2010, não tenham dúvidas que Lula lançará seu coordenador do Bolsa Família para a disputa, e a militância petista mineira, tamanha a identificação que tem com Ministro, fará campanha dia e noite, na certeza de que um Verdadeiro Petista dará continuidade ao “Governo do Povo”.
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Reforma Política: Entrevista do professor David Fleischer ao site UOL

A atual reforma política em discussão na Câmara dos Deputados tem somente dois pontos anunciados abertamente pelos congressistas: o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada e pré-definida pelos partidos.

Porém, para o cientista político David Fleischer, não há dúvida de que a chamada "janela" - um período para os políticos trocarem de legenda como bem entenderem sem levar em conta a fidelidade partidária - será aprovada, caso a ideia de reforma política avance.

Nascido nos Estados Unidos, Fleischer leciona Ciência Política na Universidade de Brasília desde 1972. Em entrevista ao UOL Notícias, ele comentou a atual proposta de reforma em discussão na Câmara dos Deputados.

Apresentada no último dia 6 de maio por cinco partidos, a proposta de reforma política traz a ideia do financiamento público exclusivo de campanha. Fleischer acha que esse novo tipo de financiamento não acabaria com o "caixa dois" nas campanhas - defensores da proposta dizem que o fim do financiamento privado acabaria com a prática ilícita.

A outra proposta em jogo é a lista partidária fechada. Nela, o cidadão não votaria mais em apenas um candidato nas eleições para os cargos proporcionais - vereadores e deputados. Ao eleitor, caberia escolher somente o partido, com uma lista já pronta de candidatos. Fleischer vê a proposta com bons olhos.

Fleischer falou sobre outras mudanças possíveis no sistema eleitoral brasileiro, mas que não estão em jogo atualmente. Entre elas, está o voto distrital, em que o eleitor escolheria seu representante nas assembleias em unidades menores do que um Estado.

Leia abaixo entrevista ao UOL Notícias.

UOL Notícias - A lista fechada seria benéfica para o Brasil?
David Fleischer - A lista fechada seria uma grande revolução na maneira de eleger deputados e reduziria muito os custos da campanha. Atualmente, 90% dos eleitores votam em nomes e não nos partidos - embora essas duas opções sejam viáveis. O candidato faz a campanha individual durante todo o tempo e nem dá bola para o partido. Ele só faz propaganda do seu número, nunca do número da legenda. Com a propaganda feita somente pelas legendas, diminuiriam os custos.
UOL Notícias - Com a lista fechada, mudaria o perfil dos deputados eleitos?
Fleischer - Se fechar a lista, você tiraria do processo todos os grupos que elegem seus candidatos. Igrejas evangélicas concentram seus votos em um único candidato e o elegem. Sindicatos e grupos étnicos também - como os japoneses em São Paulo e no Paraná. Policias militares são outro exemplo disso. No Estado de São Paulo você tem quatro ou cinco policiais militares deputados, porque se juntam todos os votos dos policiais em poucas pessoas. Com a lista fechada, essas votações por grupo acabariam e você fortaleceria o partido, que teria mais controle e disciplina.

UOL Notícias - Há países que podem servir de modelo ao Brasil?
Fleischer - A lista fechada é usada em 90% dos países com voto proporcional. Só tem uns dois ou três países que usam a aberta além do Brasil, como a Finlândia. A lista aberta é uma aberração. Usamos esse sistema desde 1950 e agora é muito complicado você mudar isso. O problema da mudança é que os deputados são muito ansiosos, eles têm medo de não se reeleger. Atualmente a renovação é de 50%. Com a lista fechada, a renovação pode ser menor, de 20 ou 30%. Ela seria uma grande revolução e reduziria muito os custos.

UOL Notícias - Uma crítica comum à lista fechada é a de ela concentrar o poder na mão de "caciques" partidários e tirar a decisão dos nomes da mão do povo. O senhor concorda com a crítica?
Fleischer - Eu acho que falar que o povo escolhe é balela, é um mito. Muitas vezes você vota no fulano que vai trabalhar para eleger beltrano, por causa das coligações na lista aberta. E a lista fechada não deveria impor exclusivamente ao partido a escolha dos candidatos. Essa nova versão do projeto não estabelece as regras de como devem ser escolhidos os candidatos que farão parte da lista. Os líderes não deveriam impor a decisão, pois os partidos que usarem prévias vão ganhar muito apoio. Isso seria como um estímulo à participação das pessoas na política. O partido mais inteligente vai organizar uma prévia para aumentar muito as filiações. Os partidos que usarem a escolha dos caciques, que devem ser uns quatro ou cinco partidos, estão fadados a perder a eleição.

UOL Notícias - Que outras mudanças poderiam aparecer com a lista fechada?
Fleischer - Fechando a lista, poderia se embutir uma cota para mulheres nela. É como ocorre na Argentina, em que uma mulher tem que constar na lista no terceiro, quinto e sétimo lugar. E é possível a aprovação de uma proposta assim no Brasil, pois as mulheres estão pressionando cada vez mais. Essa proposta ajudaria na inserção da mulher. A Argentina, em 2002, tinha mais ou menos 6% ou 7% de mulheres na política. Agora está em quase 30%.

UOL Notícias - O financiamento público será viável no Brasil?
Fleischer - O que está na proposta dá menos de R$ 1 bilhão para todas as eleições. E nós sabemos que em 2006 elas custaram entre R$ 10 e 15 bilhões. Então é claro que esse valor é insuficiente. Acho o financiamento público uma ideia boa, mas não vejo como vigorar com esses valores.

UOL Notícias - O financiamento público é capaz de inibir o "caixa dois" e deixar a eleição mais equilibrada?
Fleischer - Não, infelizmente. O problema do caixa dois é que 90% das empresas fazem caixa dois interno para fugir do fisco. Enquanto ele não for eliminado de dentro das empresas, vai ser muito difícil eliminar a prática na campanha. Perguntaram-me por que há pouco caixa dois em campanhas nos Estados Unidos ou no Canadá. É porque poucas empresas fazem isso internamente, pois lá isso dá multa e prisão. Então, não tem caixa dois eleitoral nesses países.
UOL Notícias - É possível aprovar essa reforma para que ela tenha efeito nas eleições presidenciais de 2010?
Fleischer - Eu acredito que algumas partes possam ser aprovadas para 2010. A proposta de lista fechada, sem regras de como fazer a lista, pode passar.
O financiamento público de campanha também, pois essas duas propostas são casadas. E outra que eu tenho certeza que vai passar é uma proposta para permitir uma janela, em abril ou maio do ano da eleição, para os políticos pularem de partido como quiserem. Congressistas dizem que há dificuldade para aprovar a janela, pois ela necessitaria de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) - e não somente de um projeto de lei ordinária, como no caso do financiamento e da lista.
UOL Notícias - Isso não dificultaria a aprovação de uma janela ainda neste ano?
Fleischer - Mesmo precisando de uma PEC, muita gente quer mudar de partido. Então, se houver vontade, não deve haver dificuldades.
UOL Notícias - Quais outros pontos seriam primordiais para uma reforma política "de verdade"?
Fleischer - Uma reforma de extrema importância, que tem zero chance de ser aprovada, é a da lista suja. A proposta seria a de uma pessoa condenada em primeira instância não poder ser eleita. Porque você tem muita gente que se elege somente para ganhar a imunidade. Outra é a cláusula de barreira de 1%. Parece baixinha, mas em 2006 teria eliminado sete partidos. Proibir as coligações seria outro passo. Mas a federação inteira teria que estar junto para isso ser viável.
UOL Notícias - Como fica a situação dos partidos menores com essas mudanças?
Fleischer - Isso depende da ordem que os partidos colocarem os candidatos. Mas isso com certeza vai enfraquecer um pouco alguns partidos. O PC do B não tem voto suficiente para eleger ninguém em nenhum Estado, mas concentra todos seus votos em um candidato aqui, como ele sempre elege três ou quatro em coligações, como no caso do PT. Na lista fechada, vai complicar a situação.
UOL Notícias - E o voto distrital, é viável no Brasil?
Fleischer - O voto distrital é defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e uma parte do PSDB. Seria uma mudança tão drástica que não emplacaria. O que poderia emplacar é o sistema misto, a semelhança do modelo alemão, onde metade deles seria eleito pelos Estados e outra metade pelos distritos. Isso foi muito discutido na constituinte, mas não emplacou.
UOL Notícias - Por que o voto distrital não emplacou?
Fleischer - Porque com o voto distrital você elimina o candidato que capta voto pelo Estado inteiro, como o Delfim Neto [economista, ministro da Fazenda na ditadura militar, Delfim não conseguiu se reeleger deputado em 2006 pelo PMDB]. Com o sistema distrital você estaria, como muita gente diz, elegendo deputados-vereadores. Mas, na prática, metade dos deputados já é eleita em redutos, de mais ou menos 20 mil ou 25 mil eleitores. Muitas vezes é um ex-prefeito, que regula a região, manda nela. E eles trabalham duramente na Câmara somente para favorecer esse reduto que o elegeu.
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Joelho de Porco: uma banda lendária da história do rock brasileiro.

Na madrugada da última sexta-feira, morreu Zé Rodrix, um dos mais originais compositores da história do rock brasileiro. Habitualmente lembrado por sua trajetória no trio Sá, Rodrix e Guarabyra ou por sua carreira solo, o compositor carioca - mas que radicou-se em São Paulo na década de 1970 - também contava em seu vasto currículo artístico com uma participação numa das últimas formações da lendária banda paulista “Joelho de Porco”. Formado em 1972, o “Joelho” destacou-se rapidamente no cenário do rock tupiniquim por suas letras irreverentes e seu comportamento anárquico e teve o seu primeiro compacto produzido por Arnaldo Baptista, dos “Mutantes”. Em meados da década de 1970, com a entrada do vocalista argentino Billy Bond, o som da banda tornou-se mais “sujo” e pesado e ela passou a ter uma linha musical bastante próxima do Punk-Rock, que naquela época começava a estourar na Inglaterra. É deste período, um dos discos da banda que eu mais gosto, o “Joelho de Porco” (1978), gravado pela Som Livre, cuja capa escolhi para ilustrar este post. Zé Rodrix participou da remontagem da banda, em 1982, juntamente com dois integrantes da formação original, Tico Terpins e Próspero Albanese e com sua nova formação o “Joelho” participou do “Festival dos Festivais”, da Rede Globo, com a sarcástica “A última Voz do Brasil”. Para lembrar esta grande banda, compartilho aqui o MP3 de um de seus "clássicos", O Rapé, do disco de 1978.

Clique no player abaixo e curta “O Rapé”:

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Para compreender o mundo



Muitos jovens universitários e pré-universitários – assim como muitos não tão jovens profissionais já inseridos no mercado de trabalho – talvez se surpreendam com o presente texto. Ele se dedica a fazer o elogio das Ciências Humanas, esse amplo e controvertido conjunto de conhecimentos com os quais as sociedades têm procurado se conhecer ao longo do tempo.

A surpresa poderá existir, antes de tudo, porque o conceito mesmo de Ciências Humanas é relativamente impreciso, dado não existir consenso estabelecido a respeito de quais ciências devam ser incluídas no conjunto. Tome-se a economia, por exemplo. Numa visão abertamente econometrista, ela poderia ser vista como sintonizada com as matemáticas. Se o foco for o universo financeiro, ela se associaria unilateralmente aos negócios. Mas a grande economia – a Economia Política – é bem diferente disso. Tem lugar cativo entre as Humanas, e somente se realiza como ciência se interagir com os conhecimentos que se interrogam a respeito do homem em sociedade.

Dar-se-ia o mesmo com a Administração, a Psicologia e as Letras, que muitas vezes terminam por ser postas à meia-distância daquele conjunto a que pertencem no mínimo por exclusão.

O segundo motivo tem que ver com o primeiro. É que vivemos de modo tão pragmático, veloz e utilitarista, numa estrutura em que a luta pela vida é incerta e competitiva ao extremo, que as pessoas passaram a desconfiar das Ciências Humanas. Tendem a achar que elas – a Filosofia, a Ciência Política, a Sociologia, a Antropologia e a História, que formam o esteio de sustentação do bloco – estão incapacitadas para garantir um nicho consistente em termos de emprego ou pavimentar o caminho para aquilo que se considera “sucesso profissional”. Teriam pouca utilidade, já que seriam ciências mais “negativas” e reflexivas que “positivas” e aplicadas. O Mercado – esse semideus da modernidade globalizada – tomou o lugar do Homem, da Sociedade e do Estado, a ponto de fazer com que as pessoas percam a vontade de se conhecer a si próprias.

Sabe-se que a modernidade não é somente empenho cego para maximizar a racionalidade e a produtividade. É também disseminação de espírito crítico, incremento comunicativo e esforço para que se viva de maneira mais justa e sábia. Hoje, porém, o lado mais instrumental e perverso do moderno prevalece. Vivemos sobrecarregados por ele e acabamos por deixá-lo modelar muitos de nossos cálculos, expectativas e projetos.

Tal prevalência está na base da má-vontade que se tem com as Humanas. Pensa-se que elas atrapalhariam, pois convidariam as pessoas a um exercício intelectual supérfluo, meio romântico e “subversivo”. Acredita-se, além do mais, que todos seriam naturalmente capazes de entender a sociedade e a época em que vivem, mas nem todos conseguiriam atingir as esferas mais elevadas do pensamento técnico-científico. Acha-se que para dominar os fundamentos das Exatas ou das Biológicas é necessário muito estudo e inteligência, ao passo que a assimilação das Humanas seria tarefa fácil, quase uma extensão da alfabetização.

A partir daí, se cria uma muralha separando as Humanas das demais ciências. Os estratégicos conhecimentos produzidos pelas primeiras ficam assim fechados em si, em vez de serem incorporados pelas outras, que se especializam cada vez mais. As próprias universidades ignoram a relevância e as vantagens da integração disciplinar. São poucas, se é que existem, as faculdades de Exatas ou Biológicas que incluem matérias de Humanas em seus currículos. A recíproca, claro, é igualmente verdadeira.

Mas a questão vai além do universo acadêmico. Tanto que se tornou usual, entre pais e alunos, distinguir as escolas do ensino médio em “fortes” – que reforçam os conteúdos, dão destaque às Exatas e se dedicam a fazer com que os alunos cheguem à universidade – e “fracas”, quase sempre identificadas com orientações de tipo humanista e voltadas para a formação de um aluno mais crítico e criativo. Dada a competição entre elas, aos poucos todas vão se convencendo de que precisam ser “fortes”. Vão assim se deixando seduzir pela preocupação de funcionarem como preparatórios para o vestibular, em vez de se dedicarem à formação integral dos estudantes.

Acontece que o mundo é complicado demais para ser vivido e especialmente para ser compreendido. Ele não se revela de imediato, desafia-nos e nos confunde, chega mesmo a atemorizar. Precisa ser pensado, analisado em seus ritmos e determinações para poder ser concebido como um todo e não apenas como um amontoado de fragmentos desconexos.

Isso não é possível sem as Humanas. Sempre foi assim, aliás. Não é por outro motivo que a idéia moderna de universidade tem no seu coração uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, entendida como espaço onde os saberes e as especialidades encontram condições para superar suas estreitezas. Sem esse coração, a universidade não se completa.

Precisamente porque vivemos em ambientes complexos, dinâmicos e fragmentados, as Ciências Humanas tornaram-se estratégicas. A razão crítica por elas cultivada deveria ser amplamente disseminada, de modo a ajudar a que cidadãos e profissionais sejam mais do que meros receptores ou aplicadores de conhecimentos e adquiram recursos intelectuais abrangentes.

Fazer a defesa das Humanas não é somente defender os cursos e faculdades de Humanas, que certamente necessitam de maior valorização. É também defender a perspectiva de que bons profissionais – sejam eles quais forem – se caracterizam pela posse de uma visão coerente do mundo e por saberem articular saberes. São intelectuais, pessoas capazes de compreender o mundo em que vivem, traduzi-lo em termos compreensíveis para todos e organizá-lo tendo em vista uma idéia de comunidade política democrática. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 23/05/2009, p. A2].

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Palco meu



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Se Dilma sai, Patrus é o plano B?

Não há como negar que a doença da Dilma colocou incertezas nas eleições de 2010. Governo e oposição estão cada vez mais cautelosos. Lula, PT e seus aliados não arriscarão um plano B enquanto não tiverem certeza da evolução do quadro de saúde da ministra candidata. E como ela cresce a cada nova pesquisa (Vox Populi já aponta Dilma acima de 20% das preferências), o plano B só virá se for inevitável. O que agora não parece haver uma resposta objetiva.

Mas se Dilma não puder se candidata qual o plano B? Outro nome do governo ou o terceiro mandato. A discussão sobre terceiro mandato ganha cada dia mais adeptos, mesmo o presidente dando todas as mostras de que não pretende arriscar sua imagem política alterando as regras do jogo. Mesmo assim, como muita gente quer deixar as coisas como estão, o movimento em torno de novo mandato para Lula se alastra.

O Blog do Desemprego Zero publicou em seu sitio um texto enviado pelo ex-blog do César Maia. O ministro Patrus Ananias (PT-MG), mineiro e político de bom trânsito na base aliada (PMDB, PC do B, PDT e PR), é apontado como opção para o plano B caso a ministra Dilma não saia. Considerado bom gestor de políticas sociais, Patrus comanda o carro-chefe dos programas sociais do governo Lula, o Bolsa Família.

Não por acaso, na propaganda que o PT começou a veicular na televisão, Ananias aparece ao lado de Dilma e Mantega. Por outro lado, a escolha de Patrus poderia resolver o impasse no PT mineiro, além de ser contraponto no segundo colégio eleitoral do país. Veja o que César Maia colocou no seu Ex-Blog:

"O ex-blog já fez alguns comentários sobre a percepção do eleitor em relação a candidatos no Brasil. Realmente, se o perfil/imagem de um candidato de um partido é muito diferente de outro candidato do mesmo partido, não há razão nenhuma no eleitor brasileiro para que mantenha seu voto dentro desse partido. Lula é um personagem visto como de extração popular que subiu na vida. E, mesmo que já esteja de fato na classe média há mais de 25 anos, ou mais da metade de sua vida adulta, entendeu a importância de manter sua imagem de origem. E faz isto com raro talento de ator".

"Dilma é de outra 'família', assim como Dirceu, Palocci, Mercadante, Jacques Wagner, Tarso Genro, profissionais de classe média que se vestem, falam e pensam como classe média. É assim que o eleitor os vê. Por isso, será muito difícil Lula transferir votos para quaisquer deles, além do que, a máquina conduzirá. Seria algo como o ex-presidente Fernando Henrique pedir votos para a ex-senadora Benedita".

"Há apenas um nome para substituir Dilma (em minha visão, mal escolhida por Lula). Esse nome é o ministro Patrus Ananias. Ele pode não ser da família-imagem de primeiro grau de Lula, mas certamente é um primo de segundo grau. Pense num mineirinho de piada, com seu cigarrinho no canto da boca, ironicamente humilde e que tira sarro dos outros que se acham espertos. Se a origem de Lula é campesina, migrante, o mineirinho Patrus também é, só que do interior de Minas. Alguém como Mazzaroppi, para ajudar a visualizar".

"E ainda com a vantagem de ser o gestor do bolsa família. Mazzaroppi, desculpe, Patrus, como primo mineiro do retirante nordestino, absorverá votos transferidos de Lula, fora da máquina. Sei que os marqueteiros de estúdio dirão que ele não estará na linha dos senadores norte-americanos que eles se amarram. Tanto Kennedy quanto possível. Tanto Clinton quanto possível. Se quiser pode publicar no ex-blog, mas sem meu nome. Escrevi essa nota depois de ler seu comentário sobre a eleição presidencial".  

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LA CASA DI LUCE ROSSA



Não saber votar dá nisso. O RS elegeu uma desequilibrada que conseguiu fazer no Palácio Piratini uma Casa da Luz Vermelha!

E há uma corja de parlamentares que não quer investigação. Estão todos, certamente, com o rabo preso. Isto inclui o PMDB do “ético” e “indignado” Senador Simon, que até agora nada disse.

O chapéu da ética parece não servir mais na cabeça do “TURCO”!

Já é tempo de se varrer esta tropa de cafajestes da política. Isso passa pela responsabilidade de cada um de nós.
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Cuba

Sem sombra de dúvidas, a Revolução Cubana foi um dos mais importantes - e fascinantes - acontecimentos do século XX e, juntamente com a Revolução Mexicana, marcou profundamente o imaginário das esquerdas e dos movimentos sociais latino-americanos. Apesar disto e ao contrário de muitos amigos queridos e de pessoas que respeito e admiro, não sou nenhum grande entusiasta do regime castrista. Melhor dizendo: tenho uma profunda admiração pela revolução e pelos revolucionários que derrubaram a infame ditadura de Fulgêncio Batista, no início de 1959, mas também tenho diversas críticas ao modelo de Estado construído em Cuba, notadamente a partir de 1964, embora compreenda os condicionamentos externos e internos que levaram à implantação e à consolidação desse modelo. Porém, continuo a achar que, em diversos momentos, outros caminhos poderiam ter sido tentados e experimentados, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo governo revolucionário ao longo destes cinqüenta anos. Mas, mesmo assim, são indiscutíveis os avanços conquistados pela sociedade cubana em diversos campos, assim como é indiscutível o heroísmo de uma nação que se construiu como tal, através da luta e do enfrentamento das adversidades. Escrevo tudo isto como preâmbulo a um comentário sobre a matéria “Negociar sim; sem perder a firmeza, jamais”, surpreendentemente (deve ter sido um “cochilo” da editoria internacional) publicada em “O Globo” de hoje. Nesta reportagem, assinada pela jornalista Nani Rubin, o jornalão da família Marinho foge do seu tom crítico habitual sobre a ilha (por sinal, somente alguém completamente idiota ou então um leitor compulsivo do Mainardi - o que, no fundo, acaba sendo a mesma coisa - para acreditar que um “regime decadente e que está perdendo o apoio popular” - que é como “O Globo” habitualmente define o governo de Fidel - consiga sobreviver por cinco décadas, enfrentando as pressões da maior potência do mundo, sem poder contar, há quase 20 anos, com o apoio da extinta URSS) e apresenta um vibrante quadro da sociedade cubana, diante das perspectivas da ocorrência de mudanças no país e de uma reaproximação com os EUA. O que vemos ali é o retrato de um povo orgulhoso e consciente que deseja mudanças políticas e econômicas e que sonha com o fim do embargo norte-americano e com melhores relações com seu poderoso vizinho, mas que não abre mão das conquistas obtidas após 1959 e nem aceita transformar-se novamente em um “quintal” dos EUA, como nos tempos anteriores à revolução. Tal disposição fica bem clara nas palavras de uma cubana comum, a recepcionista Maria Cristina Sánchez, que afirmou para a jornalista de “O Globo”: “Este é o melhor país para se viver. Quem trabalha tem o seu dinheirinho, quem não trabalha... o que se pode fazer? Não temos muita coisa, mas temos orgulho do que conseguimos e comida para todos. O bloqueio é injusto e precisa acabar, mas Raúl não pode ceder”.
Depois de ler isto, não pude deixar de abrir um sorriso e de dar um “Viva”, mentalmente, a esse heróico e orgulhoso povo.

Leia aqui, na íntegra, a matéria sobre Cuba publicada em O Globo.

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Os próximos dias

A nova patifaria dos tucanos vai encher de letras os jornais nos próximos dias. Estes inventarão assunto, recuperando suas esvaziadas pautas de ajuda à eleição do Serrosferatu. A Petrobras será o mal a ser combatido. Darão vivas a Exxon e a Chevron. E o blogueiro, ávido para entrar na briga, estará ausente. Lamento muito. Tenho uma viagem inadiável, ainda sem data de retorno, onde provavelmente ficarei sem acesso a internet. Mas volto a tempo para algumas bordoadas na canalhada. Não vou perder este arranca-rabo.
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Mito alimenta debate da reforma política

Da Coluna de Maria Inês Nassif, do Valor Econômico
Existem alguns mitos sobre a política partidária brasileira que devem ser derrubados para que o debate sobre a reforma política seja feito dentro de parâmetros de racionalidade. O maior mito talvez seja o da falta de representatividade dos partidos. Se essa foi a realidade no período pós-redemocratização, quando apenas um partido, o PT, despontava com conteúdo de classe e maior organicidade, não se pode estendê-la para a realidade de hoje. A partir de 1994, quando o quadro partidário tendeu à polarização entre a coligação PSDB-PFL, de um lado, e o PT, do lado oposto, essas agremiações passaram a atrair, de forma crescente, apoios de parcelas definidas da opinião pública que não apenas se identificam com elas, mas influenciam-nas. Aliás, uma relação orgânica de um partido com os setores sociais que representa nunca é de mão única: uma ideologia não é formulada unilateralmente, mas é a síntese de formulações de vários agentes políticos que interagem num dado momento histórico. Uma vitória eleitoral é produto do convencimento da maioria de eleitores de que uma síntese de formulações é a mais "racional", a mais conveniente ou a mais importante no momento.
A partir de 1994, quando o PSDB passou a ser uma alternativa efetiva de poder, ele foi levado por um movimento constante de polarização com o PT, partido mais identificado com setores de esquerda. O partido de Fernando Henrique Cardoso foi ocupando gradativamente o centro ideológico e nas eleições de 2002, com a radicalização do debate político, incorporou a representação de setores mais à direita, enquanto o PT conseguia o apoio de parcelas do eleitorado de centro para se viabilizar como alternativa de poder. Desde então, PFL, hoje DEM, e PSDB disputam o eleitorado conservador, ou se aliam para conquistá-lo, mas ambos mantêm uma forte identidade política com esse eleitor. Da mesma forma, ao fazer a opção por integrar a oposição de forma subordinada a esses dois partidos, o PPS não conseguiu se separar politicamente deles. Os partidos de oposição, na verdade, passaram a se acotovelar em um espaço ideológico limitado, no lado extremo ao do PT, reforçando uma polarização que não necessariamente sobreviveria se não tivesse sido alimentada ao longo do tempo. Ainda assim, seja qual for o número de partidos que se sobrepõem nesse espaço político, eles têm representado de forma eficiente o pensamento de parcelas de eleitorado. Existe um trânsito efetivo do pensamento de setores da sociedade nesse segmento partidário, e vice-versa.
Do outro lado, se o PT agregou, ao longo da sua existência, o pensamento "pequeno-burguês", a polarização com o bloco partidário de oposição faz dele, preferencialmente, o depositário de grupos ideológicos mais à esquerda. Embora o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não tenha rasgado dinheiro - muito pelo contrário, no primeiro mandato compôs com o capital financeiro que ameaçou o país no processo eleitoral que o levou ao poder -, no segundo mandato, com a radicalização da oposição, passou novamente a transitar os interesses de setores à esquerda que ameaçaram desertar na época dos escândalos do mensalão e a se configurar como a alternativa de poder "menos pior" que a do bloco oposicionista.
No final das contas, um discurso extremamente conservador e a coincidência de interesses de partidos que tiveram origens distintas, como o DEM, o PSDB e o PPS, acabaram, do outro lado, forçando também uma maior identidade dos setores de esquerda, que hoje integram formalmente o PT ou os partidos de esquerda a ele aliados, ou simplesmente apoiam o bloco governista. Os partidos que tentaram fazer uma oposição à esquerda não conseguiram sensibilizar setores que, embora descontentes, não saíram da área de influência do PT, quer porque essas legendas não se configuraram como alternativas viáveis de poder, quer porque foram engolidas pela onda de radicalização que trouxe o PT de volta à posição de partido que polariza com um candidato e/ou partido que representa setores conservadores. De alguma forma, o modelo de oposição feito pelo bloco PSDB/DEM/PPS tem anulado a possibilidade de uma oposição à esquerda.
A acomodação ideológica dos partidos em disputa não é fruto do acaso. Todo movimento político é dado pela prática. A ideologia configura uma opção de poder. Os partidos, quer de oposição, quer de situação, fizeram escolhas, e essas escolhas resultaram numa polarização do quadro partidário. Essa divisão política entre dois pólos, na prática, tem neutralizado os efeitos da excessiva pulverização do quadro partidário, porque os blocos têm bastante identidade e funcionam como um grande partido político. Se mais de uma legenda representa um setor da sociedade, isso não quer dizer que as legendas-irmãs não tenham conteúdo ideológico ou não organicidade - quer dizer simplesmente que esses setores são representados por mais de uma legenda.
Escapam dessa lógica o PMDB e os pequenos partidos de direita, que são forças políticas inorgânicas, porém capazes de dar estabilidade a governos, independente da posição política de cada um deles. Ainda assim, não se pode ignorar a função ideológica que, dentro deles, exercem os blocos suprapartidários - a bancada ruralista, por exemplo, tem uma atuação mais consistente que a de qualquer partido político, é capaz de negociar dentro do governo e no bloco oposicionista para fazer valer os interesses de classe e tem enorme poder de barganha.
O outro mito prestes a ser desmistificado é o despolitização do eleitor brasileiro. A polarização teve também o efeito de incentivar a identificação do cidadão com o partido que melhor o representa, mesmo que isso inicialmente ocorra no sentido da negação, isto é, o indivíduo passa a apontar a sua preferência partidária por oposição a alguma das forças políticas em conflito. Isto é: apoia o PSDB pelo fato de este se contrapor ao PT, ou o PT por ser antitucano.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras
E-mail maria.inesnassif@valor.com.br
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Não tenho saudades


Tenho ainda vivo na memória os derradeiros momentos da finada ditadura militar, eles me lembram do cheiro de um velho mimeógrafo. Sou de uma geração que varava madrugadas para distribuir no dia seguinte pequenos panfletos, os “posts” da época, onde imaginava ali contribuir para uma revolução, no mínimo. Na pior das hipóteses, botar pijamas nos velhos generais. Ganhou esta. Mesmo assim, comemorei “pacas”, como dizia à época. Talvez por imaginar que alguns daqueles poucos panfletos que consegui rodar, naquela velha maquineta de grêmio estudantil, que teimava em rasgar o estêncil, tinham feito seu estrago, tal como desejava.

Sempre lembro disso quando converso com novas gerações, que já cresceram com computadores, alguns já com a internet. Era uma tarefa tosca, demorada. Para se ter uma idéia, fechar o texto com várias nervosas cabeças juvenis, com infinitas questões de ordem, era o mais rápido. Produzir, um sufoco. Cada erro de digitação na matriz tinha toda uma delongada técnica artesanal para a correção. Apenas valia pela farra noturna, sustentada por fortes bebidas baratas, que motivavam alguns erros pavorosos nos textos e na diagramação.

Missão cumprida. Não veio a revolução socialista, tal qual eu lutava, mas a digital. Paciência, e viva! Ficou muito fácil a tarefa de distribuir aquelas poucas centenas de caracteres. E ainda com figurinhas coloridas! Maravilha! E muito mais. O público agora é planetário, se interessar. Antes, algo restrito, escondido, com o temor constante de sermos apanhados pela vigilante repressão política.

Pois, sobre esta conquista há ameaças pairando. A informação sempre foi revolucionária. E a liberdade de expressão é um permanente incômodo para o poder econômico e seus variados gerentes. Neste momento, querem mudanças na lei para neutralizar o que alcançamos. Usam de pretextos para justificar propostas de controle. O objetivo é claro, inibir o cidadão de expressar seu pensamento. Querem que a informação apenas circule com o aval do cartel da mídia, que tem em seu DNA a ideologia de quem detêm o poder, e que agora pode trabalhar sem nenhuma lei que regulamente sua atividade. Artigos, parágrafos, alíneas, incisos, apenas para o cidadão que deseja opinar. Querem a volta dos mesmos temores, agora sob a vigília do judiciário.

Mesmo sem nova lei, já temos hoje uma boa amostra do que desejam no futuro: o site VG Notícias, de Várzea Grande, MT, que fica a menos de 200km de Diamantino, cidade do presidente do STF, Gilmar Mendes e seus capangas, está proibido de publicar noticias sobre o prefeito licenciado da cidade, Murilo Domingos. A decisão é do juiz titular da segunda Vara Cível do município, Marcos José Martins de Siqueira, que não levou em conta a defesa da jornalista responsável pelo site, Edina Araújo, que afirmou que todas as matérias publicadas pelo site são baseadas em documentos públicos e podem ser comprovadas. A decisão do juiz é um primor de incoerência e prepotência. diz:
“É bem verdade que a postura de impedir a veiculação de matéria jornalística, via de regra, implica ofensa ao Direito Constitucional da Informação. Contudo, quando a notícia apresenta potencial prejuízo à imagem, deve, excepcionalmente, subordinar-se aos necessários ajustes, sem que isso implique desrespeito à Constituição Federal”

Como assim? O prejuízo da imagem é ofensa que justifica “excepcionalmente” desrespeito ao direito à livre expressão, garantido pela maior lei, a Constituição? Como ficaria, então, a recente denúncia de Diogo Mainardi contra Victor Martins, diretor da ANP, que não foi comprovada? O tempo todo ele sustentou, com empáfia, que era mesmo uma tentativa de atingir o ministro Franklin Martins, irmão de Victor. Que juiz impediria as próximas colunas do fasciscolunista da Veja, baseado no mesmo princípio de prejuízo da imagem?

Amigos, é briga, e das boas. Em meus não tão bons tempos eu diria que é mais um capítulo da tal luta de classes. Nesta quinta-feira tem ato na Assembléia Legislativa de São Paulo contra o AI-5 Digital, o projeto do senador Azeredo. Não vamos permitir que acabem com nossa conquista. Não quero voltar para o meu velho mimeógrafo.
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O projeto Serra 2010 e a denúncia da Veja contra Yeda Cruisius

Por bom tempo a revista Veja protegeu a governadora do Rio Grande do Sul. Mesmo com as evidências do seu desastroso desgoverno, na edição 2092, de 24 de dezembro de 2008, a Veja produziu matéria elogiando a governadora. Sob o título “A casa está em ordem”, a revista ignora as denúncias e elogia a administração Yeda. Naquela época, o país todo já sabia das graves denúncias contra Yeda. O vice-governador, Paulo Feijó (DEM) mostrou ao país gravações contendo desvios para financiar deputados aliados, bem como desvios no DETRAN (44 milhões) e BANRISUL. Mas isso não incomodava a Veja, que seguia na defesa da governadora. O que mudou de lá para cá?
A verdade é que Yeda é um governo que já foi liquidado politicamente. As pesquisas para 2010 mostram o ministro Tarso Genro (PT) na frente, seguido do peemedebista José Fogaça, prefeito de Porto Alegre. Não adiantava insistir na tecla, Yeda não se salvava. A revista mudou de tática, mas não mudou de lado. Produziu uma matéria leve, pela gravidade das denúncias, mas suficiente para enterrar de vez o governo Yeda. Assim, a revista volta a posar de independência, mas é jogada política para eleger Serra 2010. Não tenham dúvida que o projeto de Serra continua de pé.
Yeda era empecilho para o PSDB no Estado, pois pretendia disputar reeleição. Serra teria que dividir o palanque ao lado de uma governadora manca, que mostrou ao Rio Grande do Sul o estilo tucano de governar: corrupção, privatismo e baixo investimento social. E pelo visto, não é um estilo aprovado pela população. Não é por acaso que as lideranças nacionais do PSDB logo trataram de abandonar Yeda, deixando-a sozinha na difícil tarefa de se defender. Ninguém quer colar sua imagem nela. Serra que o diga.
Assim, a Veja liquida a governadora e dá espaço para as articulações do PSDB nacional em torno da candidatura de José Fogaça (PMDB). Em vez de uma candidata impopular, Serra passa a ter um forte candidato no palanque estadual. Fogaça talvez seja o único que pode unir grande parte da classe política do Rio Grande do Sul contra o PT, de Tarso Genro. É a candidatura anti-PT, pois eles hoje estão todos no governo Yeda, mas a roupagem muda. Serra fortalece no Estado. É uma ironia que o partido precise sacrificar sua única governadora para fortalecer seu candidato presidencial no Estado. A revista Veja faz o serviço sujo ao grão-tucanato.

Nota 1: Enquanto o PT bate-cabeça, o PSDB já articula com Fogaça. O PT nacional dá sinais de que entregaria de bandeja o governo gaúcho para o PMDB, em troca de apoio à candidatura Dilma. Serra, nesse caso, ficaria enfraquecido no Rio Grande do Sul. Mas o que parece é que o PMDB não quer o PT, prefere o PSDB de Yeda. Afinal, precisaria dividir mais o poder. Desde já o PT deveria colar Yeda no PMDB, desgastando o principal partido de sustentação do seu governo, mas essa atitude poderia atrapalhar o plano de aliança nacional com o partido. Desse jeito, o PMDB se fortalece, aproveitando-se das fraquezas do PT e PSDB.

Nota 2: Para o cidadão comum fica difícil explicar porque se mantém no cargo a governadora gaúcha, com tantas denúncias de desvios para campanha eleitoral, além de desvios com outras finalidades, enquanto cassa o governador do Maranhão com provas testemunhais e suposto abuso de poder contra a candidata filha de Sarney.

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Operação abafa



Falando em "apicultura" a Abelhinha publicou uma nota afirmando que os e-mails divulgados pelo PSOL tinham como destinatário o vice Paulo Feijó. Afirmou categoricamente. E sem apresentar provas! Denuncismo! O Rio Grande não merece isso!
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"Era só mais um Silva...": uma história, uma canção.

Desde muito tempo, tenho o hábito de escrever textos mais livres e curtos, sem as naturais limitações e amarras presentes em meus artigos e textos acadêmicos: são reflexões, reminescências ou mesmo desabafos que hoje em dia publico no "Abobrinhas Psicodélicas". Porém, antes de criar o blog, eu costumava enviar esses textos descompromissados para alguns amigos, via e-mail, com o objetivo explícito de compartilhar minhas idiossincrasias e, é claro, de receber das pessoas que gosto e admiro suas impressões a respeito delas. Alguns desses "textículos" (ops!) provocaram longas, calorosas e, na maioria das vezes, divertidas discussões na minha lista de e-mails. Ontem, remexendo em algumas mensagens antigas de correio eletrônico, acabei encontrando um deles, escrito em dezembro de 2007, e que, por me trazer boas lembranças, decidi "ressuscitar" e publicar aqui.



Em uma madrugada de um ano indefinido na primeira metade da década de 1990, voltava eu, já meio de porre, de uma noitada em um boteco suburbano que não existe mais (percebemos que estamos ficando velhos, no momento em que começamos a contar o número de bares nos quais bebemos um dia e que já fecharam!), quando, depois de um bom tempo de espera no ponto de ônibus, apareceu um “piratão” caindo aos pedaços, com o som a toda altura, tocando um funk daqueles. Apesar do sacrifício que isto representava para um roqueiro jurássico como eu, embarquei ao som do “pancadão” e procurei abstrair. Não sei se a música que estava tocando trazia alguma lembrança especial ao motorista, mas o fato é que a dita cuja foi repetida, pelo menos, mais umas três vezes ao longo da minha mui "agradável" viagem. Assim, meio que forçadamente, comecei a prestar atenção na letra e imediatamente aquele “refrão-chiclete” ficou grudado nos meus ouvidos: “Era só mais um Silva/que a estrela não brilha/ele era funkeiro/mas era pai de família”. Então, comecei a reparar em alguns detalhes e notei que ela tinha um quê de crônica urbana, no estilo de alguns velhos sambas, e ao descer do ônibus já a estava achando bem interessante. Depois disto, ainda ouvi o tal funk algumas vezes, mas sempre de passagem e de forma fragmentada (em alguma banca de camelô na Uruguaiana, no som de um carro que passava na Rua ou em algum rádio perdido nas vizinhanças). Agora, depois de tantos anos, voltei a ouví-lo, do início ao fim, no CD das Chicas e confirmei a minha primeira impressão: de fato, a letra é muito boa e se situa, com certeza, entre as melhores coisas produzidas pelo Funk carioca. A gravação das Chicas está muito legal, incorporando ao balanço do gênero, uma levada mais pop e um arranjo de primeira linha que utiliza instrumentos aparentemente díspares - e estranhos ao universo funk - como Viola, Violoncelo, Caxixi, Zabumba e Timbal, além de ter, é claro, o belo vocal das meninas que realça e valoriza a ótima letra.



Ouça as "Chicas" cantando o "Rap do Silva":



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