Não tenho saudades

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  • quarta-feira, 13 de maio de 2009
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  • Tenho ainda vivo na memória os derradeiros momentos da finada ditadura militar, eles me lembram do cheiro de um velho mimeógrafo. Sou de uma geração que varava madrugadas para distribuir no dia seguinte pequenos panfletos, os “posts” da época, onde imaginava ali contribuir para uma revolução, no mínimo. Na pior das hipóteses, botar pijamas nos velhos generais. Ganhou esta. Mesmo assim, comemorei “pacas”, como dizia à época. Talvez por imaginar que alguns daqueles poucos panfletos que consegui rodar, naquela velha maquineta de grêmio estudantil, que teimava em rasgar o estêncil, tinham feito seu estrago, tal como desejava.

    Sempre lembro disso quando converso com novas gerações, que já cresceram com computadores, alguns já com a internet. Era uma tarefa tosca, demorada. Para se ter uma idéia, fechar o texto com várias nervosas cabeças juvenis, com infinitas questões de ordem, era o mais rápido. Produzir, um sufoco. Cada erro de digitação na matriz tinha toda uma delongada técnica artesanal para a correção. Apenas valia pela farra noturna, sustentada por fortes bebidas baratas, que motivavam alguns erros pavorosos nos textos e na diagramação.

    Missão cumprida. Não veio a revolução socialista, tal qual eu lutava, mas a digital. Paciência, e viva! Ficou muito fácil a tarefa de distribuir aquelas poucas centenas de caracteres. E ainda com figurinhas coloridas! Maravilha! E muito mais. O público agora é planetário, se interessar. Antes, algo restrito, escondido, com o temor constante de sermos apanhados pela vigilante repressão política.

    Pois, sobre esta conquista há ameaças pairando. A informação sempre foi revolucionária. E a liberdade de expressão é um permanente incômodo para o poder econômico e seus variados gerentes. Neste momento, querem mudanças na lei para neutralizar o que alcançamos. Usam de pretextos para justificar propostas de controle. O objetivo é claro, inibir o cidadão de expressar seu pensamento. Querem que a informação apenas circule com o aval do cartel da mídia, que tem em seu DNA a ideologia de quem detêm o poder, e que agora pode trabalhar sem nenhuma lei que regulamente sua atividade. Artigos, parágrafos, alíneas, incisos, apenas para o cidadão que deseja opinar. Querem a volta dos mesmos temores, agora sob a vigília do judiciário.

    Mesmo sem nova lei, já temos hoje uma boa amostra do que desejam no futuro: o site VG Notícias, de Várzea Grande, MT, que fica a menos de 200km de Diamantino, cidade do presidente do STF, Gilmar Mendes e seus capangas, está proibido de publicar noticias sobre o prefeito licenciado da cidade, Murilo Domingos. A decisão é do juiz titular da segunda Vara Cível do município, Marcos José Martins de Siqueira, que não levou em conta a defesa da jornalista responsável pelo site, Edina Araújo, que afirmou que todas as matérias publicadas pelo site são baseadas em documentos públicos e podem ser comprovadas. A decisão do juiz é um primor de incoerência e prepotência. diz:
    “É bem verdade que a postura de impedir a veiculação de matéria jornalística, via de regra, implica ofensa ao Direito Constitucional da Informação. Contudo, quando a notícia apresenta potencial prejuízo à imagem, deve, excepcionalmente, subordinar-se aos necessários ajustes, sem que isso implique desrespeito à Constituição Federal”

    Como assim? O prejuízo da imagem é ofensa que justifica “excepcionalmente” desrespeito ao direito à livre expressão, garantido pela maior lei, a Constituição? Como ficaria, então, a recente denúncia de Diogo Mainardi contra Victor Martins, diretor da ANP, que não foi comprovada? O tempo todo ele sustentou, com empáfia, que era mesmo uma tentativa de atingir o ministro Franklin Martins, irmão de Victor. Que juiz impediria as próximas colunas do fasciscolunista da Veja, baseado no mesmo princípio de prejuízo da imagem?

    Amigos, é briga, e das boas. Em meus não tão bons tempos eu diria que é mais um capítulo da tal luta de classes. Nesta quinta-feira tem ato na Assembléia Legislativa de São Paulo contra o AI-5 Digital, o projeto do senador Azeredo. Não vamos permitir que acabem com nossa conquista. Não quero voltar para o meu velho mimeógrafo.
     
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