No campo, radicais são a UDR e a ANJ

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  • terça-feira, 21 de abril de 2009
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  • A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) divulgou nota sobre o conflito no último sábado, no Pará, publicada em vários de seus veículos. Em certo momento, diz o texto: “os integrantes do MST atentaram contra o livre exercício do jornalismo, aterrorizando profissionais que cobriam o evento com objetivo de informar à sociedade”.

    Como assim livre exercício? Objetivo de informar a sociedade? Haja desfaçatez. Os jornalistas presentes usaram avião da Agropecuária Santa Bárbara, estiveram o tempo todo ao lado de seguranças da fazenda de Daniel Dantas, inclusive quando estes abriram fogo contra os manifestantes, onde nove foram baleados. Que isenção é essa, que nem ao menos tem o critério de ouvir o outro lado? Somente na segunda, em nota do MST, pudemos saber detalhes importantes do episódio, com fatos e nomes, que desmentem versão anterior da imprensa, onde ela dizia que os jornalistas foram usados como reféns, obrigados a caminhar na estrada tal qual escudos humanos. O cinegrafista em nenhum momento capturou imagens que comprovam isso. A nota da ANJ chega ao cúmulo de parcialidade ao afirmar que “felizmente, ninguém saiu fisicamente ferido dessa ação criminosa”. Quer dizer, os nove baleados, alguns gravemente, não contam para a sociedade que a ANJ diz representar. É uma confissão.

    Para entender a clara opção da mídia, em constante fabricação do medo ao MST, sugiro a leitura de texto do professor Gilson Caroni Filho, publicado originalmente no Observatório da Imprensa e repetido no Vermelho. Nele, um sério alerta: a UDR e a CNA, que representam os interesses dos donos de terras, planejam a radicalização política, visando 2010, inclusive com ações de sabotagem produtiva, promovendo o desabastecimento. Algo já conhecido da caixa de maldades das reações contra governos populares, de Allende a Chávez. É o que se pode entender das declarações recentes de seus representantes, e que não tiveram a merecida atenção da mídia, preocupada na constante repetição dos mantras neoliberais que afirmam existir uma “modernidade rural” com o agronegócio, sem espaço atual para um reforma agrária. Diz o professor Caroni:


    Há um toque de ironia que não deve ser esquecido. No Brasil, ainda são os pequenos produtores sem terra (ou com muito pouca) que abastecem o deficitário mercado de alimentos, ativador de inflação, enquanto, até bem recentemente, os créditos, financiamentos, subsídios e favores do Estado eram monopolizados pela grande propriedade. A contrapartida perversa do repasse de recursos do setor público para o privado são os conflitos do Pará ao Rio Grande do Sul e os surtos de violência entre a UDR de um lado e os sem-terra de outro.

    A solução das classes dominantes para resolver o problema agrário sempre foi a redução dramática da população rural, empurrada para as grandes metrópoles em ritmo que não cessava de se superar ano após ano. Nesse quadro, o MST, movimento de maior expressividade na América Latina, logrou estabelecer o contraponto necessário.




    A questão agrária no Brasil ainda é um problema grave de erro de gestão capitalista. São seus atrasados representantes os principais responsáveis pelo inchaço das cidades, com a violência urbana. Representam a mais arcaica e perversa herança colonial, escravagista, e querem posar agora de modernos gestores do “agrobusiness”. Tomem vergonha, e paguem por seus crimes.
     
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