Muita gente - que, com certeza, leu "Poliana" na infância ou na adolescência - acreditava que com a eleição de Barack Obama os ventos da mudança varreriam a terra de Tio Sam e o mundo viraria de ponta-cabeça. Creio que, para estes, o ano de 2009 começou trazendo uma grande decepção, visto que o presidente eleito dos EUA tem se mantido em silêncio sobre os recentes acontecimentos na Faixa de Gaza, alegando que quem governa o país ainda é George W. Bush e que o povo norte-americano não pode ter dois governantes ao mesmo tempo. Na verdade, o que esta postura claramente sinaliza é que não ocorrerão - como os analistas mais críticos (ou mais realistas) vêm vaticinando - alterações significativas na Política Externa norte-americana neste novo governo. É lógico que um governo democrata tende a assumir um discurso mais multilateralista e cosmopolita, valorizando a atuação dos organismos internacionais. Porém, as linhas-mestras de política externa da potência hegemônica tendem a ser mantidas, incluindo-se aí o apoio incondicional ao Estado de Israel, existente desde os velhos tempos da Guerra Fria. Não se deve esquecer que, na visão dos formuladores dessa política externa, Israel é um "bastião dos valores ocidentais" em meio aos Estados islâmicos e que, além disto, a comunidade judaica (tradicionalmente ligada ao Partido Democrata) norte-americana possui um enorme peso político e econômico no país. A presença de Hilary Clinton - profundamente ligada a essa comunidade - como Secretária de Estado e Rahm Emanuel - judeu e com fortes ligações com o Estado de Israel - como chefe de gabinete de Obama são indícios bastante claros de que o apoio irrestrito à Israel - mesmo que este cometa as maiores barbaridades em nome do combate ao "terrorismo palestino" - continuará. Portanto, a única coisa que se pode dizer sobre este silêncio de Obama em relação às atrocidades cometidas pelo Estado de Israel em Gaza é que é, indubitavelmente, um "silêncio eloquente".