Reforma Política ... para quando?




*Charge do Kayser - 'Condição Precípua'
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'Não é cartel de empresas, é corrupção do PSDB'


por Luiz Carlos Azenha*

Uma risada espontânea. Foi assim que o deputado Hamilton Pereira (foto) reagiu quando perguntei a ele se a imprensa paulista teria sido tão complacente, por tanto tempo, com um governador do PT acusado de corrupção.

Talvez a explicação esteja aquiOu aqui?

Hamilton Pereira faz parte da bancada de oposição na Assembleia Legislativa de São Paulo. São 22 petistas, dois comunistas, um deputado do PSOL e o major Olímpio. Total: 26 oposicionistas, contra o rolo compressor governista de 68 parlamentares.

Por isso, segundo ele, a Alesp já não legisla, além de não investigar o Executivo. Os vetos e os votos do governador não deixam.

Não é espantoso, portanto, que só em 2013 tenham ganhado corpo as denúncias de irregularidades nos contratos firmados entre um punhado de empresas e o governo do Estado, que está nas mãos dos tucanos desde 1995.

Porém, as denúncias da bancada do PT na Alesp vem sendo formalizadas, junto ao Ministério Público estadual, desde 2008. Para ser mais exato, desde 19 de junho de 2008.

Foram, ao todo, 15 representações. Uma delas diz respeito a um contrato que durou mais de dez anos, quando existe limite legal de 60 meses, segundo a Lei de Licitações.

Foi a revista IstoÉ que fez as revelações mais recentes, aqui e aqui.

Segundo a revista, em apenas seis contratos o prejuízo ao Tesouro público foi de R$ 425 milhões.

Mas, de acordo com levantamento da assessoria da bancada do PT na Alesp, desde que Covas assumiu os tucanos assinaram um total de 325 contratos, num total superior a R$ 30 bilhões.

Isso escapou tanto da investigação da Alesp quanto da mídia, avalia Hamilton Pereira.

Clique Aqui  para continuar lendo (via Viomundo*).
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Poema












As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?

Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

                                          (Mario Quintana)
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Trechos do romance Madame Flaubert, de Antonio Mello

Aqui, Ema B. (a Ema Bovary de Antônio C.), num táxi por Botafogo e Copacabana, e com lembranças do primeiro beijo, que recebeu da amiga Marina (e que se tornou sua primeira namorada), à casa de quem se dirige agora, mais de 20 anos depois.


3.
O táxi segue pela noite do Rio. Logo que entrou, Ema disse ao motorista o destino, pediu que desligasse o rádio e fechasse os vidros para não desarrumar seus longos cabelos castanhos.
            O motorista olhou para ela e pensou, aborrecido: nem um “por favor”!... Sim, era o que ele esperava dela, um mínimo de educação: “o senhor pode fechar as janelas, por favor, desligar o rádio, por favor, e ir até a avenida Atlântica, por favor?”...
            Olha-a pelo espelho retrovisor e percebe que está aflita e distante. Repara nela por um tempo, até ter a certeza de que não olha um instante sequer para o taxímetro. Aperta, então, um dispositivo que faz o relógio disparar, aumentando o preço da viagem. Ela nada percebe. Ele sorri. Já não precisa do rádio ligado, nem das janelas abertas, muito menos do "por favor"... Sorri e acelera tranquilamente, vitorioso.
            Ema repara a rua. O motorista seguiu o Humaitá para pegar Copacabana pelo Túnel Velho. Estão na Pinheiro Guimarães, em direção ao Cemitério de São João Batista. Ema pensa que seu pai está enterrado ali. Sua mãe também. E também outros inúmeros parentes e amigos. Pessoas famosas, como Carmem Miranda. Pessoas anônimas.
            Ela pensa que lá nos fundos, em cima do morro, dizem, fica um cemitério de cachorros. Será? Sabe, apenas, que se sente nublada, quase que com um sentimento de luto. Não por ninguém especificamente. Nem pelo pai ou a mãe. Talvez por todos os que já morreram. Ou pelos que ainda morrerão. Muito provavelmente, por ela. E o sentimento de luto faz com que pense na sua morte. E o pensamento da morte, em Deus. Deus leva-a ao sinal da cruz. O sinal da cruz a uma oração. Pai Nosso. Mas mudaram o Pai Nosso. Como é mesmo, em lugar de "perdoai as nossas dívidas"?... Ela se perde na oração, enquanto o carro passa em frente ao cemitério.

4.
As meninas usavam um vestido estilo jardineira azul marinho, quase até os tornozelos. Camisas brancas de mangas compridas, fechadas até em cima, onde um laço de fita também azul marinho lembrava uma gravata borboleta. O colégio das madres era grande, com uma área imensa, no coração da Floresta da Tijuca. Jaqueiras, pés de jambo que enchiam o chão de flores cor-de-rosa.
            O pátio está vazio. É hora de aula, as salas lotadas. Professoras explicam álgebra, geografia, linguagem - como se dizia na época -, com direito a Leitura Silenciosa, e religião.
            Duas meninas, apenas as duas, passeiam pelo pátio apressadamente, como que fugindo de alguém, ou de todos. Uma, morena. A outra, loura. Dez, onze anos. Saem da área cimentada, ao encontro da floresta. Escondem-se atrás de uma árvore, o coração quase na boca, de emoção. Sentam-se. Seguram-se as mãos.
            - Você viu a novela ontem? - a morena.
            - Vi... A briga do Lucas com a Marlene...
            - Eu tô falando de outra coisa...
            A loura tem medo, porque adivinha. Mas um medo que não faz recuar, ao contrário, aumenta o desejo.
            - Do quê? - a loura.
            - Do beijo que ele deu...
            A loura estava certa. Sabia que era sobre o beijo que a morena queria falar.
            - Eu vi... Um beijo na boca - a loura.
            - Você já deu beijo na boca?
            A loura tem a certeza. Mais: medo. E também desejo.
            - Eu não!, diz, com pudor. E você?, pergunta à morena.
            - Eu já dei.
            - Mentira! Mentira sua! Deixa de ser mentirosa!
            - Dei sim!... Foi no Beto, meu primo. A gente brincou de pera, uva ou maçã.
            - Mentira!
            - Eu juro!... Quer ver como é que é?
            A loura sabia que esse momento aconteceria. Desde o instante em que chegou à escola, pela manhã, e a amiga propôs que fugissem na aula da irmã Robleda, velhinha, professora de linguagem. Desde então ela sabia de tudo. E aguardava.
            - Quer ou não quer? - a morena, que parece não ter medo de nada.
            - Quero, diz a loura, num fio de voz.
            Nervosamente, elas se aproximam. Olhos nos olhos, as mãos suadas, o coração mais que disparado. O tempo parece uma eternidade, os gestos lentos e estudados, como os de um ritual. A morena encosta o rosto no da loura, seus lábios nos dela, e coloca a língua lá, para espanto da loura, que arregala os olhos, mas cede, abrindo completamente seus lábios, e deixando o corpo relaxar e deslizar suavemente em direção àquele outro corpo à sua frente.
            - Ema! Marina! - a voz da Madre Silva, responsável pela disciplina, procurando pelas duas.
            O beijo se desfez, restou apenas o medo. E essa não foi a última vez em que as duas tiveram suas cenas roubadas.



5.
E agora é o motorista de táxi quem interrompe Ema.
            - Para que lado da Atlântica nós vamos, madame?
            Ela tem dificuldades em responder. É trabalhoso voltar de há mais de vinte anos. Mas responde.
            Logo, estão em frente ao prédio de Marina. Ema, ao olhar para o taxímetro, percebe que está adulterado. Outra pessoa brigaria. Ela não. Aprendeu de pequena a evitar escândalos, mesmo que para defender seus direitos. Uma mulher de classe não fala alto, não discute, apenas ordena ou se submete, e jamais se rebaixa. Um motorista de táxi, pensa ela, é um pobre diabo, não vai, jamais!, discutir com um. Paga. Deixa o troco, como forma de vingança, como quem diz "tem mais de onde esse veio". O motorista acelera, satisfeito, enquanto ela, a morena, anda em direção ao prédio de Marina, a cabeça altiva, os passos firmes, mas por dentro queimando, insegura, não por causa do motorista, mas por não saber "no que a loura estará pensando"... Há tempos não se vêem. Logo, estarão frente a frente: a menina morena e a menina loura. É com essa emoção que Ema se dirige à portaria do prédio de Marina; uma emoção que talvez seja a única que ainda a toque, mesmo que tão à distância.

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Madame Flaubert, de Antonio Mello

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Sobre a virada na popularidade de Dilma y otras cositas más...


HORA DE BAIXAR A GUARDA?

Desde que começaram os protestos no país, no dia 6 de junho, em São Paulo, a rigor, esse é o primeiro final de semana em que as turquesas da disputa política  afrouxam a pressão sobre o governo. Os sinais de alívio  vem de várias direções. A virada na popularidade de Dilma, com inflexão de alta no Datafolha, é o corolário da mudança.A forte desaceleração dos índices de preços, talvez seja a melhor notícia econômica em meses. Em julho, o item alimentos  registrou deflação. Uma oscilação sazonal previsível. Mas um símbolo necessário para desmontar o palanque do tomate, que em abril deu o mote à catequese do ‘descontrole  econômico', uivado pela emissão conservadora. O crescimento em 10 dos 14 setores industriais  pesquisados pelo IBGE, em junho,  e uma desvalorização  cambial em marcha favorecendo exportações, compõem ainda o clima de vento a favor. Há mais. Tabulações recentes do Ipea desmoralizaram a tentativa conservadora  de desconstruir as conquistas  sociais do ciclo de governos do PT.  O rendimento domiciliar per capita, entre 2000 e 2010, mostra o Ipea, cresceu em média  63% acima da inflação nos municípios brasileiros. Na década tucana a desigualdade aumentou em 58% dos municípios (leia mais). Por fim, revelações de altos executivos  da Siemens  escancaram o conluio de 16 anos entre oligopólios e corrupção tucana no metrô de SP (leia mais). A pergunta é: o governo deve baixar a guarda? Basta  administrar a inércia? A queda da inflação esgota a resposta às ruas de junho? A dispersão da agenda política dentro da própria esquerda sugere que não.  O governo, o PT e aliados estão diante de uma disjuntiva: apascentar o conformismo empurrando a pequena vantagem até 2014; ou sinalizar um novo ciclo de construção da democracia social no país. A primeira opção dá o mando de jogo ao BC; a segunda exige rever equívocos  e afrontar interesses. Interesses de corporações -caso da mídia beligerante.E interesses corporativistas de uma sociedade elitista, dentro da qual não cabe o Brasil revelado pelos avanços sociais dos últimos anos.O programa ‘Mais Médicos' consolida o geral no particular. Esboça uma nova família de políticas  públicas necessárias ao passo seguinte do desenvolvimento e da democracia. Rompe a lógica incremental, aciona novos conceitos para enfrentar o estrutural e o emergencial. Carta Maior acredita que é crucial intensificar o debate em torno dessas escolhas (leia mais) , objetivo do ciclo de discussão que tem promovido com a intelectualidade em várias capitais (leia sobre isso nas reportagens de Maria Inês Nassif e Najla Passos; e as análises de Amir Khair, Lincoln Secco e Marcelo Justo, sobre desafios-gêmeos do PT e dos trabalhistas britânicos diante das urnas e dos interditos neoliberais)


Carta Maior;Sábado,10/08/2013 
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