Nicholas Carlson do
Silicon Alley Insider faz uma
pensata bem interessante ao afirmar que imprimir o New York Times custa, em dois anos, o dobro do que enviar a cada assinante um
Kindle de graça, o treco da Amazon. Ele usou informações do próprio NYT, que faz seu chororô de crise e abre números, apostando na compaixão do mercado. Ao multiplicar os 830 mil assinantes pelo preço de US$359 que custa a trosobinha, chegamos a pouco menos da metade do que custaria imprimir o jornal no período.
Claro, não leva em conta vários aspectos. Nos próprios comentários do texto há quem até conteste a própria análise dos números. E, fundamental, nada resolveria sem uma solução para os anúncios, fonte fundamental de renda para qualquer jornal. Mas vale a provocação, que nos ajuda a pensar sobre o fim dos jornais impressos, tema que já chegou às mesas de bar.
É certo que em um mundo já tremendamente digital, onde músicas, fotografias e cinema já são medidos em bytes, com impactos diretos em seus modelos de negócio, seria impossível não imaginar que um produto formado por letras, algumas imagens, passaria incólume pela mudança.
Vale lembrar que jornais impressos já são digitais, ao menos até a etapa anterior a sua impressão. Textos foram os primeiros a virarem bytes em jornais, as fotos são pixeis há um bom tempo e páginas são processadas por programas de editoração, tudo transformado em linguagem binária e interpretada por uma maquineta que faz a matriz da impressão. Deste ponto à frente, tudo é velharia analógica. Imagine a dificuldade de levar a cada assinante aquele peso em papel, de caminhão, no braço, casa a casa.
Perceber esta mudança, com a chegada de um novo leitor eletrônico de jornais, não é algo novo. A Knight-Ridder, uma das corporações midiáticas americanas, já nos anos 80 achou ter
descoberto a pólvora. Mas, foi cedo, não rolou. Jornais ainda são impressos, mas vivem sua crise, que talvez tenha outras explicações além do fardo analógico.
Um tanto delas tenta dar
Phillip Meyer, jornalista e professor nos EUA, respeitável pensador com seu livro “
The Vanishing Newspaper” (O desaparecimento dos jornais). Para ele, a crise dos jornais americanos é fundamentalmente conseqüência da queda de qualidade do jornalismo que praticam, de apurações mal feitas, de pautas sem criatividade, que nada têm a acrescentar à realidade de seus leitores. E explica os motivos: as corporações vivem de influência, não de informação, e isso está relacionado diretamente à rentabilidade. Em seu livro, usa pesquisas para mostrar erros variados cometidos neste processo e os efeitos na perda de leitores para a melhor identidade de novos meios, como os blogs.
Tenho aqui minha própria e óbvia pesquisa: basta ter acompanhado os jornais americanos no governo Bush para perceber que todos estiveram unidos na mesma trama de ajudar seu presidente em guerra. Imaginaram uma guerra de todos os americanos, o que não foi. Bush representou os interesses restritos de uma elite que desejava o domínio americano sobre a Eurásia, seu petróleo, alimentando sua indústria de armas, para a destruição e depois o faturamento da reconstrução, via Halliburton. Esta idéia foi embrulhada e vendida, mas o mercado leitor percebeu a fraude, não compraram a mercadoria como se fosse uma segunda guerra, japoneses atacando seus marinheiros, com risco de terem seu país invadido. A propaganda cumpriu seu objetivo, ajudou na política, mas sofreram os jornais vendo seu mercado responder com descrédito aos engodos praticados: armas químicas de Saddam e toda a parafernália de “nossos homens estão lá fazendo o seu melhor” foi um tanto além do plausível. Por incrível que pareça, há quem pense naquela terra.
Em nosso menor mercado, algo pode ser comparado. A mídia se especializou em também demonstrar a necessidade de uma guerra, contra o governo Lula. Ficou distante de parte de seus leitores, dando espaço para a internet e seus blogs cobrirem com melhor desenvoltura e independência os fatos. Vide o noticiário da prisão de Daniel Dantas, bem analisado por
Idelber Avelar em texto sobre os 200 anos de nossa jovem imprensa.
Resta imaginar o que o “regulador” mercado fará em próximos episódios por aqui, se teremos crise na mídia tal como nos EUA. Ainda não há pedidos de piedade, embora nossas corporações permaneçam com chapéus esticados, esperando a boa ajuda do BNDES para seus rombos, vício adquirido em antigas administrações. Depois de ter lido ontem uma nota de Miriam Leitão contra o PAC, desavergonhado merchandising pró-Serra virar manchete no jornal O Globo, aposto para breve o colapso nos negócios da grande mídia brasileira.
Que venha, cobrirão os blogs.