Laerte Braga sobre Cesare Battisti

Neste blog já me manifestei pela liberdade e asilo a Cesare Battisti, ex-militante de grupo de esquerda italiano, que está preso no Brasil desde março de 2007, com pedido de extradição do governo italiano.

Hoje, recebi por e-mail artigo do jornalista Laerte Braga, que também defende o mesmo ponto de vista e aborda vários aspectos desta prisão. Vale a leitura:



CESARE BATTISTI


Laerte Braga


Um vídeo mostra o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi limpando o nariz com o dedo, contemplando o peloto retirado e em seguida olhando para os lados. Estava tentando perceber se alguém olhava diretamente para ele. Como achasse que não, colocou o peloto na boca e engoliu-o com o cafezinho*.

Berlusconi é o todo poderoso governante da Itália, dono da equipe da Milan, banqueiro, empresário, reedição contemporânea de Benito Mussolini. E asqueroso. O fato narrado no primeiro parágrafo embora sugira apenas algo nojento é bem mais que isso, é conseqüência de um desvio de personalidade, digamos assim, traço revelador de um caráter perverso.

O simples fato de ser banqueiro já mostra a natureza do seu caráter. Banqueiros não têm idéia que existam outros, tão somente acreditam num bando de dependentes de seu dinheiro. Os explorados. Que, por sua vez, não percebem que o dinheiro dos banqueiros é deles explorados. Banqueiros são saqueadores e quando governantes ampliam a área do saque.

O governo da Itália com base em premissas falsas pediu a extradição do escritor Cesare Battisti, preso faz quase dois anos no Brasil. Battisti é acusado de “terrorismo” por ter pertencido a um grupo de luta armada na Itália. Da prática de “atentados” contra instituições, próprios e cidadãos italianos.

Um dos integrantes do grupo, quando preso, negociou penas menores e vantagens no seu processo atribuindo a culpa dos atos de guerra a Battisti. No caso específico quatro “homicídios”.

O escritor, que havia abandonado o grupo por divergências políticas ficou exilado na França durante o período em que o socialista François Mitterand foi presidente daquele país e em seguida veio para o Brasil. Os governos franceses à direita e que sucederam Mitterand pretendiam entregá-lo à “justiça” italiana, onde está condenado, como conseqüência da delação de um antigo companheiro, a prisão perpétua.

Há indícios, vestígios, que o pedido de extradição de Battisti feito pelo governo da Itália tenha sido negociado com o governo do Brasil em troca de Salvatore Cacciola. O banqueiro foi preso no principado de Mônaco onde passava um fim de semana e num processo longo e demorado foi extraditado para o Brasil. Cacciola havia passado outros fins de semana em Mônaco e nunca fora importunado pelas autoridades do principado. Um dos pilares do governo de Mônaco é acolher indistintamente todos os milionários que lá aportam sem perguntar como ficaram milionários, o que fazem, ou o que fizeram. É uma espécie de oásis para esse tipo de criminoso.

Cacciola, nas vezes anteriores que lá esteve, foi tratado como cidadão de primeira categoria.

Se o acordo é vero não sei, mas que os fatos apontam na direção de algum acordo isso apontam.

Onde há fumaça há fogo.

O Conselho Nacional de Refugiados (CONARE) rejeitou em 28 de novembro o pedido de refúgio político feito por Battisti através de seus advogados. Acusado de pertencer ao grupo Proletários Armados para o Comunismo, Battisti foi condenado à revelia por quatro homicídios.

A decisão do CONARE não foi unânime, embora não tenham sido dados detalhes. Mania das autoridades de um modo geral em quase todos os países do mundo de se eximirem de responsabilidades diante de fatos ou injustiças como a decisão do Conselho.

A sorte de Battisti está em mãos do ministro da Justiça Tarso Genro. Há um recurso a ser apreciado pelo ministro que pode conceder ao escritor a condição de refugiado. Caso contrário Battisti terá o processo de extradição julgado pelo stf (antigo supremo tribunal federal hoje dantas &e dantas s/a) e se for julgado procedente o pedido do governo italiano Battisti será extraditado.

No Brasil não existe a prisão perpétua. Uma das condições para que Battisti possa ser extraditado será um compromisso do governo italiano para que o exilado não seja condenado a pena superior a 30 anos. Na prática prisão perpétua. Battisti tem 53 anos e sairia da cadeia com 83.

Os supostos crimes cometidos por Battisti foram julgados pela justiça comum italiana. Não foram, como o são, considerados crimes políticos.

Já não existe mais o amparo para estrangeiros casados com mulher brasileira, ou pai de filhos brasileiros como condição para que sejam negados pedidos de extradição, como aconteceu com o célebre Ronald Bigs, assaltante do trem pagador inglês.

É da tradição do Brasil abrigar exilados políticos dos mais variados matizes ideológicos. Foi assim com George Bidault, ex-primeiro ministro francês e que aqui se refugiou quando De Gaulle assumiu o governo e decidiu conceder a independência à Argélia. Uma guerra civil que se prolongava há anos e arrasava, em todos os sentidos, a França. Bidault foi contra a política de De Gaulle e fez parte de uma organização formada por militares e civis de extrema direita que se opunha às determinações e às políticas de Charles De Gaulle.

Com a revolução dos cravos em Portugal o ex-primeiro Marcelo Caetano, de extrema-direita, buscou asilo no Brasil e foi acolhido, a despeito dos crimes cometidos pela ditadura salazarista, como refugiado político.

Cito dois exemplos, existem vários.

Uma coisa é abrigar mafiosos e criminosos comuns. Outra coisa é entregar à sanha de um governo fascista como o de Berlusconi, um refugiado político lato senso. Condenado pela justiça comum por supostos crimes cometidos entre 1977 e 1979.

Não é da tradição brasileira (ressalvado o período fascista de Vargas e a ditadura militar) ignorar pedidos de asilo como o feito por Battisti, dar-lhe a condição de refugiado político.

O fato de não ter havido unanimidade na votação do Conselho Nacional de Refugiados (CONARE) já sugere que, no mínimo, independente de acordo ou não, existem os que pensam contra a maioria dos membros daquele conselho.

O governo brasileiro recentemente, por decisão do judiciário, entregou o traficante Abadia ao governo dos Estados Unidos. E até essa foi uma decisão complicada, na prática, se bem pesada, de subserviência, característica distinta da tradição pautada no direito internacional, ou na fumaça de bom direito, como gostam de dizer juristas.

Abadia cometeu vários crimes, por anos seguidos, no Brasil e antes de qualquer extradição deveria ter sido submetido a julgamento aqui, cumprido pena aqui, para depois então ser extraditado e prioritariamente ao seu país de origem, a Colômbia. Muitos especialistas entenderam assim.

Causou estranheza a pressa com que as autoridades brasileiras cederam às norte-americanas. Não é novidade esse tipo de concessão, em qualquer área, mas foi estranha a pressa.

É fundamental resgatar valores e princípios de solidariedade e justiça dos brasileiros a partir do Estado brasileiro. Do mínimo que resta de Estado como instituição pública, longe de interesses privados ou de políticas mesquinhas.

O ministro da Justiça Tarso Genro tem em mãos a caneta que pode devolver ao Estado parte desses valores e princípios concedendo a Cesare Battisti a condição de refugiado político.

Não é um ato humanitário tão somente, diante das perspectivas sinistras no caso da extradição. É um ato de reafirmação da soberania do Brasil calcada em valores universais de direitos humanos.

* O arquivo mostrando o comportamento do primeiro-ministro Berlusconi não foi carregado neste artigo, mas está à disposição de quem o quiser.


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Bem, o Laerte Braga é um cavaleiro, teve pudores em mostrar tamanho exemplo de depravação. Como sou menos educado e acho que o povo precisa olhar a cara e os atos imundos das classes dominantes, mostro aqui.
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A volta da Tribuna da Imprensa

A Tribuna da Imprensa volta às bancas nesta quinta-feira. Segundo Hélio Fernandes, temporariamente será semanal, diz a nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro:

A edição impressa da Tribuna da Imprensa volta às ruas amanhã, pela primeira vez, desde que teve sua circulação suspensa no último dia 2. O jornalista Helio Fernandes disse que a partir de agora, temporariamente, a Tribuna terá distribuição semanal, sempre na quinta ou na sexta-feira. “O jornal não pode morrer”, destacou.

Nesta quarta-feira, em Brasília, o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) sugeriu que os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Mão Santa (PMDB-PI) apresentem requerimento para realização de uma audiência pública sobre o fechamento da Tribuna. Para Mesquita Jr., que presidia a sessão, o periódico tem “uma importância histórica” e os motivos da interrupção de sua circulação precisam ser discutidos.

Os senadores Mão Santa e Simon tinham acabado de criticar, em pronunciamentos na tribuna, a suspensão da circulação do jornal, ocasionada por dois motivos: problemas de ordem financeira e em protesto contra o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), que há dois anos analisa um processo da Tribuna da Imprensa contra a União, por danos materiais.

Fernandes disse que está otimista com as declarações de solidariedade que recebe dos representantes do Congresso Nacional e da Assembléia Legislativa do estado do Rio, além das pessoas que o encontram e cumprimentam na rua. “A recepção é magnífica”, acentuou. A edição eletrônica do jornal pela Internet será mantida e atualizada diariamente, com a ressalva de estar momentamente com o seu conteúdo reduzido.

No pronunciamento desta quarta-feira, Mão Santa disse que anunciava "com tristeza" a interrupção da circulação do jornal. Ele destacou a "beleza histórica" do periódico, que "surgiu para acabar com a ditadura (de Getúlio) Vargas e enfrentou a (ditadura) militar".

Pedro Simon pediu que fosse transcrita nos anais do Senado a entrevista concedida por Helio Fernandes ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na qual ele diz que, caso a Justiça atendesse a sua demanda referente à indenização, a Tribuna teria recursos para voltar à normalidade.

Os profissionais da Tribuna da Imprensa, que continuam mantendo o vínculo empregatício com a empresa, foram dispensados no dia 1º dezembro com a promessa de voltarem ao trabalho tão logo o jornal receba a indenização referente à ação que tramita no STF.


O que chama minha atenção é que entre a briga por uma melhor gestão, as devidas cobranças ao STF, a corda arrebenta do lado dos mais fracos: os trabalhadores da empresa, que estão sem receber salários.
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Novas velharias (de novo e de novo...)

Pois é, mais uma vez o blog ficou às traças. E, ao invés de eu tomar vergonha na cara e fazer uma charge nova, resolvi aplicar o golpe da publicação de charges históricas, vulgo velharias.

A primeira que eu achei no meu baú virtual é de 2001. Fala da ajuda humanitária gentilmente oferecida pelos estadunidenses aos afegãos. Foi publicada na revista Talebang.

A segunda é de 2002. Foi feita à época do assassinato de Tim Lopes que, entre outras reações, mais ou menos legitimas, gerou um bizarro debate sobre liberdade de imprensa. Por meio de alguma estranha linha de raciocínio, alguém da Globo conseguiu ver no assassinato, com requintes de crueldade, uma forma de censura. O Elias Maluco foi transformado de sociopata homicida a censor. E essa verdadeira estupidez não foi contestada por ninguém na grande imprensa. Nem chargistas, nem colunistas!

A charge foi feita para o Pasquim 21, mas não foi publicada.



A terceira também é de 2002. É sobre um avião batendo em um prédio - no caso, a Torre da Pirelli, em Milão. Mas o fato, em comparação com o 11 de setembro do ano anterior, não teve o mesmo impacto, literalmente...

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Botando o PIB na mesa


A charge é um remix de outra, de 24 de abril último. O que posso fazer se a realidade teima em se copiar?
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Quem vai ouvir o grande Evanildo Bechara?

Ontem estava me preparando para escrever sobre a decisão do TJ do Rio de Janeiro que condenou Daniel Dantas a pagar R$ 100 mil à juíza Márcia Cunha por danos morais. Mas, o tempo curto me fez adiar o post. Escreveria sobre o grande júbilo que sinto pela justiça feita. Márcia Cunha foi barbaramente perseguida. Lembraria do que esse blog falou a respeito, publicando a vergonhosa entrevista feita pela jornalista Janaína Leite, onde a juíza foi acuada por perguntas do interesse de Dantas. A justiça foi feita e as palavras do juiz foram severas:

"salta aos olhos (...) a forma vil, ardilosa e perseguitiva" usada para atacar a juíza e atingir sua "honra, reputação e conceito profissional".

Hoje, li algo no blog do Nassif que me deixou curiosíssimo. Evanildo Bechara, famoso lingüista, autor de inúmeras obras de gramática que freqüentaram nossos estudos, foi consultado para receber R$ 30 mil por um parecer favorável a Dantas, apenas dizendo que a sentença da juíza não era dela, o que recusou. Tal surrealismo já era conhecido, e coube ao “imortal” Antonio Olintho aceitar tal encomenda, aparentemente com um desconto no valor do agrado. O que fica é a minha enorme curiosidade para ouvir as precisas palavras do nosso grande gramático sobre o episódio. Que mídia temos para ouvi-lo?
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