Pílulas de quarta-feira


Bravo juiz De Sanctis! E que agenda cheia esta semana para o caso Daniel Dantas. TRF, STJ, com várias derrotas para o banqueiro. Um interessante estudo é acompanhar a quantidade de notícias publicadas ao longo das últimas duas semanas para demonizar o juiz e o delegado. Que fato novo havia? Nada. Apenas a agenda da defesa de Dantas que pautou a mídia. O tom da continuidade da campanha já foi dado pela Folha Online com o título:“Juiz desiste da promoção para continuar no caso Daniel Dantas”. Interpretam seus reais objetivos, logo falarão de obsessão, podem apostar. E que história é essa de gravação de reunião de delegados que vai parar na imprensa para ela insinuar que houve de fato uma irregular gravação no STF? Quem gravou? Quem distribuiu? Com que propósito? Já está virando comédia.

Acreditem, li a coluna de Clovis Rossi nesta terça-feira e quase não me irritei. Na verdade outro sentimento foi mais forte. Percebi claramente como os jornais ficaram velhos e que muito em breve estarão mortos. Qual a importância de comprar um amontoado de papel para ler uma opinião de direita se há várias de graça na internet? Colunas e artigos morreram no papel. Que há de diferente em seu texto? Fazer uma mera provocação a Lula, Cristina Kirchner e Hu Jintao por terem assinado um documento do G20 que defende a economia de mercado? Deveriam ter cruzado os braços e decretado a revolução socialista mundial ali? A única relevância na leitura estava no final do texto, no PS com pedido de desculpas pela coluna de domingo, onde disse que Vladimir Herzog era terrorista. Ficou ainda mais claro o “já era”. Onde eu poderia de pronto postar um comentário para dizer que terroristas foram os que o assassinaram, depois de bárbara tortura? E ainda tiveram o atrevimento de inventar um suicídio. E lembraria também que a empresa que paga ao colunista foi cúmplice desses torturadores naquela época. Clovis Rossi, nunca mais!

Para avisar que volta a pauta do STF a decisão sobre a Lei de Imprensa, Cláudio Lembo lembra de John Milton, poeta inglês renascentista, que em 1644 publica Areopagítica, um manifesto de influência liberal na defesa da liberdade de expressão, contra decisões do parlamento que censurou um de seus livros. Interessante, copiei e em breve vou colar em algum lugar do blog a frase de Milton: “Dai-me liberdade para saber, para falar e para discutir livremente, de acordo com a consciência, acima de todas as liberdades”. Pessimista que sou, será uma forma de já preparar campanha para quando a justiça garantir ao cartel midiático toda a liberdade para fazer golpismo, enquanto a internet, da senzala, terá a severa vigilância de nossos juízes.

O blogueiro viaja nesta quarta e só volta no domingo. Estará sem internet, celular, GPS... Será orientado apenas pelas estrelas, se não chover.
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Entendendo Mendes

Quando Gilmar Mendes tomou posse da presidência do STF, em 23 de abril último, estranhei o tamanho da festa na Corte. Toda a república estava presente. Vários ex-presidentes, empresários, donos da mídia, até o Pelé compareceu. Foram cerca de 4.800 convidados, servidos das melhores bebidas, salgados, canapés e boa música, a cargo de orquestra da Universidade de Brasília. Tamanha demonstração de importância, que segundo O Globo custou R$ 76 mil, aguçou minha curiosidade sobre este homem que disse na posse que para aperfeiçoar o judiciário era necessária a “diminuição dos custos e a maximização dos recursos”. Como é tema recorrente em seus discursos, — segundo a mesma reportagem, Mendes, em sua posse no CNJ criticou os gastos excessivos do judiciário e defendeu uma melhor gestão de recursos — entendi que o STF fazia ali uma maximização. O dinheiro investido teria retorno garantido. E o fato me fez perguntar a amigo jornalista, experiente profissional, quem era afinal o tal Gilmar Mendes, que até então pouco havia me dado conta da existência. A resposta precisa é impublicável, mas em uma versão livre foi dito que era alguém que tinha muitos negócios na República, com muita troca de interesses com os que ali estavam em sua festa.

Entendi um pouco melhor da explicação do amigo quando a reportagem de capa da Carta Capital, de 6 de outubro, mostrou o empresário Gilmar Mendes e seus negócios no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), com contratos conseguidos pela boa influência política, até mesmo para a compra de um terreno para sua sede, adquirido por 20% de seu real valor.

Agora, na última edição da mesma revista, entendo o que faltava. Gilmar Mendes é autêntico representante de nosso passado colonial, atuando como coronel na política da cidade de sua oligarca família, Diamantino (MT), de forma muito distinta da de um guardião do estado de direito. Há fatos muito graves apurados pela reportagem. E demonstram que os valores republicanos do ministro não valem muito em sua terra. Entre tantos casos narrados, fiquei consternado com o acorrido em 14 de setembro de 2000, quando a estudante Andréa Paula Pedroso Wonsoski registrou um boletim de ocorrência em delegacia da cidade contra o irmão de Mendes, candidato a prefeito pelo PPS. Diz o BO que a jovem afirmou ter sido repreendida pelo candidato um dia antes e ameaçada por seus cabos eleitorais, irados por denúncia feita em rádio de troca de cestas básicas por votos. 32 dias depois, após participar de um protesto estudantil contra o abuso do poder econômico nas eleições municipais, Andréa desapareceu. Seu corpo só foi encontrado em 2003 e apenas em 2005, depois da insistência de sua mãe em apurar o caso, o exame da ossada descobriu que foi morta com um tiro na nuca. O caso está arquivado na Vara Especial Criminal de Diamantino e a polícia nunca conseguiu esclarecer o crime. A justiça ali nunca foi feita. Lá a legislação parece que é outra.
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Lisboa, 13 de dezembro de 1968: do outro lado do Atlântico, os versos de "Pátria Minha" expressaram toda dor de um país.

Vinicius de Moraes foi uma figura ímpar na cultura brasileira. Diplomata de carreira e poeta consagrado, jamais abriu mão da vida boêmia, da paixão pelas mulheres e da carreira como compositor/músico de MPB, para desagrado de um bom número de colegas seus da ala mais conservadora do Itamaraty. No livro que escreveu sobre ele (Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão, Cia. das Letras, 1994), José Castello conta que, em dezembro de 1968, Vinicius estava em Portugal para uma série de shows, quando, no dia 13, começaram a chegar do Brasil notícias truncadas e desencontradas sobre a decretação do Ato Institucional n° 5. Preocupado com o destino de vários amigos seus, tentou contatar, sem sucesso, alguns deles como Rubem Braga, no Rio de Janeiro, e Otto Lara Resende, que era adido cultural em Lisboa. À noite, mesmo abalado e preocupado com os acontecimentos do outro lado do Atlântico, Vinicius dirigiu-se ao teatro para o show que faria com o violonista Baden-Powell e com a cantora Márcia. Naqueles dias, Portugal vivia o efêmero período da chamada “Primavera Marcellista” em que a ascensão de Marcello Caetano ao poder, no lugar do velho ditador António de Oliveira Salazar, havia acendido as esperanças de que poderia ocorrer uma liberalização do regime. No entanto, tais esperanças demonstraram-se se infundadas e Portugal só se livraria daquela ditadura que durava quase meio século, em abril de 1974, com a Revolução dos Cravos. Naquele 13 de dezembro, já que o Brasil era o tema recorrente nos noticiários portugueses, a TV estatal portuguesa – a RTP – envia uma equipe para fazer um tape do show. Sem temer a presença da mídia portuguesa e, provavelmente, de agentes da temida polícia política salazarista, a PIDE, Vinicius interrompe o show, antes de começar a interpretar o “Canto de Ossanha”, e diz "Eu hoje gostaria de dizer a vocês umas palavras de muita tristeza. No meu país foi instaurado, hoje, o Ato Institucional n° 5. Pessoas estão sendo perseguidas, assassinadas, torturadas. Por isso, quero ler um poema". A seguir, abriu um exemplar de sua "Antologia Poética" e - enquanto Baden Powell dedilhava o no violão o Hino Nacional brasileiro - leu os versos de “Pátria Minha" (publicados originalmente em 1949), para êxtase da platéia:

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria (...)


Como ressalta José Castello, a leitura desse poema ficou tão marcada na memória dos portugueses como “uma das mais bem-acabadas expressões que puderam conhecer do amor à liberdade”, que na noite seguinte à Revolução dos Cravos (1974) que derrubou a famigerada ditadura salazarista-marcellista, a RTP retirou o tape do show de Vinicius de seus arquivos e o reprisou. Os ventos da liberdade que, naquele instante, sopravam em Portugal demorariam ainda alguns anos antes de atravessarem o Atlântico e chegarem ao Brasil.
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Fusão com o PSDB é saída para evitar a extinção eleitoral do PPS

O PSDB pode dar mais um passo para a direita do espectro político. O PPS estuda uma fusão com o PSDB para evitar o seu desaparecimento. Na verdade, trata-se de anexação do PPS ao PSDB. Como o antigo partidão está à direita do PSDB, a fusão é mais uma guinada à direita do tucanato. Tudo negociado entre o líder do partido na Câmara, o presidente do PSDB e o governador José Serra. E com as bênçãos de Roberto Freire.
A cada eleição, o PPS fica mais nanico. O risco é que o partido acabe em extinção. Suas lideranças gostam de atribuir ao assédio governista sua fraqueza eleitoral, mas a explicação é bastante simplória. O buraco é mais fundo. O presidente do PPS, Roberto Freire, é um frustrado. Um político sem votos que comanda o partido como se fosse sua propriedade. Lembra muito Brizola no comando do PDT. Mas Brizola tinha história, uma liderança carismática, seguidores e uma grande base social. Nesse sentido, Freire nem nos sonhos mais longínquos chega perto de Brizola ou de qualquer outro grande político nacional. Aliás, Roberto Freire é um político menor. Só ele pensa que tem relevância política.
O problema dos frustrados é quererem fazer da política uma arena para desafogar suas frustrações. O caminho de Roberto Freire e de seu partido acabou sendo a radicalização política em direção à direita do espectro político. Acontece que esse espaço já foi ocupado pelo DEM, outro partido que ultimamente não tem muito a comemorar em termos eleitorais. Além disso, o PPS tornou-se uma sub-legenda ou partido de aluguel para servir aos interesses do DEM e do PSDB. O resultado é o contínuo fracasso eleitoral. Nas últimas eleições municipais, o PPS foi o partido que mais reduziu de tamanho, perdendo praticamente 60% das prefeituras conquistadas em 2004. Nessa situação, é natural que os parlamentares do partido fiquem preocupados com sua reeleição em 2010. Uma saída óbvia é ser anexado ao PSDB, pelo menos assim deixa de ser sub-legenda daquele partido.
A anexação do PPS fortalece a batalha de Serra contra seu rival no partido Aécio Neves. A proximidade de José Serra com lideranças do PSDB é notória. Se for confirmada a fusão entre os dois partidos (ou melhor, adesão do PPS ao PSDB), Aécio Neves tem mais um revés na sua pretensão de ser candidato do partido em 2010. De fato, não está mesmo fácil para Aecinho obter a indicação. Enquanto Serra fortalece seus vínculos com o DEM e o PPS e cria canais dentro do PMDB (Orestes Quércia em São Paulo), Aécio flerta com partidos do arco governista. Resumindo, Serra tem controle sobre seu futuro político, pois tem base no partido e naqueles que estão em oposição ao governo. Já Aécio não comanda seu futuro, pois Lula ainda é comandante maior dos partidos que estão na sua base.

É claro que o cenário eleitoral pode alterar bastante, mas a margem de manobra do presidente é infinitamente maior que do governador mineiro. Um sinal de desespero de Aécio Neves é o recente ataque histérico (e fortuito) ao governo Lula. Ao contrário de Serra, que busca apropriar da agenda governista, Aécio radicou o discurso e adotou a agenda derrotada em 2006 – privatização, redução dos gastos sociais, arrocho salarial do funcionalismo público, etc. É o famoso choque de gestão tucano. De fato, é uma estratégia de alto risco, que tem tudo para não prosperar.

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