Daniel, esse amigo supremo

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Para não dizerem que não falei de Obama


Para falar, tenho que fazer uma revelação, bem pessoal: eu fiz um curso de meditação. Precisava dormir melhor, eliminar tensões, segui conselhos. Não aprendi o suficiente para meditar, confesso. Fui péssimo aluno. Mas ficou algo das lições do professor, formado no Oriente. A principal é a necessidade de sermos extremamente seletivos com os diversos apelos simbólicos de uma sociedade que te exige atenção o tempo todo. Aprendida a lição, coloquei logo em prática o ensinamento e chutei o curso, selecionando outras opções de informação. Ainda tenho insônias constantes e dificuldade de relaxar, mas consigo me desligar de muitos convites cotidianos à compra de diversos produtos. Sou péssimo consumidor. Talvez isso explique o meu descaso com essas eleições americanas.

Foi impressionante a quantidade de espaço dedicado a elas pela nossa mídia. Minutos e mais minutos nas TVs, páginas e páginas nos jornais, durante infinitos meses, e eu ali alheio. Claro que houve momentos em que quase fui seduzido. O título no Globo “A casa onde Obama perdeu um poodle” é um convite quase irrecusável. Mesmo assim, continuei alienado naquela fartura de informações, sem saber de algo tão fundamental e decisivo. Afinal, como se chamava o cachorrinho? E a casa? Paciência.

Ontem me rendi. Acompanhei a apuração. Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que esperavam Obama em Chicago para um pronunciamento como eleito. Muitos choravam quando anunciada sua vitória. Gritavam ou portavam slogans: Change, we can believe in. Yes, we can. Belo. E que coisa mais simbólica. Acredito em mudanças. Acredito que a necessidade histórica leva a elas, assim vem acontecendo há muitos milênios. Imaginar que após a primeira eleição do último presidente, em sua caminhada rumo ao Capitólio para a posse, sua limosine teve que correr, com o povo atirando ovos... Elegeram um presidente mestiço, que fala em unir o país. É um grande passo.

E a questão do simbólico, do professor zen-budista, reapareceu na minha cabeça ontem. Claro, me tirando um tanto mais do sono, aumentando minhas tensões. Pensei em nossas últimas eleições municipais, impossível não associar algumas coisas. Estas também foram bem marcadas pelo simbólico. Aqui talvez com outro slogan: No change. Reelegeram até o Kassab. Mas naquele simbólico da massa esperando o Obama fiquei mais detido, imaginando coisas. Voltei a ler a nossa rígida e parcial legislação eleitoral. Algo que soma às minhas atuais variadas preocupações. Li mais uma vez o Código Eleitoral, art 242, caput, citado na Resolução n° 22.178, em seu Art 5°, do TSE: “A propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, mencionará sempre a legenda partidária e só poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais”. Impressionante a preocupação dos nossos legisladores com os “estados mentais” do nosso povo. Quantos receios. Não que eu ache que na democracia americana existam mais oportunidades para a catarse coletiva. Tal evento em Chicago nada prova em contrário, mas fica o exemplo em nossa legislação dos reais temores de nossas elites. O que acham que fariam se tomados pela emoção? Votariam errado? Apoiariam um líder, como na terra de Obama aconteceu, que deu uma esculachada geral em uns soldadinhos ingleses? Maior perigo. Teríamos que conviver com esta cara em notas do nosso dinheiro por séculos. Seu nome em ruas, cidades. Coisa de terceiro mundo, né?

Por favor, é só um desabafo irônico, não quero criar artificiais estados emocionais em nosso povo. Não tenho como concorrer com nossa mídia, que para eleger um presidente com a cara do Nosferatu, um dos seus últimos quadros possíveis, conseguiu criar um falso alarme com a febre amarela, levando milhares a se vacinarem desnecessariamente, com mortes registradas por esse alarmismo. É concorrência desleal. Nem quero adiantar aqui o meu descrédito por uma verdadeira mudança nos EUA com Barak Obama. Não vale lembrar agora que seu consultor para política externa é Zbigniew Brzezinski, quem vem desenhando há muito os desafios da expansão do império americano, e que teve na família Bush bons e fiéis seguidores. Na verdade esse papo todo é para dizer que se votasse nos EUA teria escolhido Cynthia McKinney. Who? Ah, claro, ela foi candidata nestas eleições, pelo partido verde, sem espaço nas regras democráticas americanas. É uma ex-congressista atuante, com propostas de mudanças reais e possíveis para aquele país e o mundo. Corajosa, enfrentou no Congresso de lá o Rumsfeld, cobrou do governo americano suas responsabilidades no 11 de setembro, defende os governos progressistas da América Latina, inclusive cita Cuba como um exemplo de democracia. Enfim, bem diferente do que pensam nossos verdes, que gostam mais de serem vistos como símbolos, posando para fotos com militares, almejando saírem na revista Caras, convidados para o curral vip de vários eventos, e sob o aplauso de todo o Leblon.
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Democracia a dar com pau



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Justiça tucana tira blog do ar

O blog Flit Paralisante, do delegado Roberto Conde Guerra, líder da greve da polícia civil de São Paulo, foi tirado do ar na última sexta, por decisão da justiça paulista. A mídia, que foi avisada no próprio dia, omitiu totalmente o fato em seus noticiários. Esta mídia não se importa que a decisão do juiz Davi Capellato golpeie frontalmente a Constituição da República no direito à livre expressão. Logo ela que vive se fazendo de vítima de censura quando a sociedade lhe cobra ética e princípios no seu trabalho. Como a censura é a um blog, de um inimigo de seu candidato à presidência, vale a punição.

Esta é a nossa justiça, sempre aliada aos interesses das elites e contra o povo. Na última eleição legislou para o poder econômico, contra o debate de idéias. Agora, revive as táticas da ditadura.

Mas, como sempre, a direita é burra. O juiz está desde a sexta emitindo novas sentenças contra o Google, pelo simples fato que muitos ajudam o delegado, recuperando textos do cache do blog censurado e criando outros.

O tucanato sabe tudo do pior da ditadura, mas não conhece o poder da internet.

Todo apoio ao delegado censurado!
Censura a internet NÃO!

PS: Alguns links que estão mantendo o blog no ar, enquanto a justiça tucana tenta impedir:

www.flit-paralisante.blogspot.com
www.flitparalisante.wordpress.com


O assunto foi noticiado pelo Rodrigo Vianna ontem, segunda, e reproduzido hoje no Vermelho.

A decisão do juiz, sobre a tentativa de proibir outros blogs com o mesmo conteúdo, é um primor de estupidez. Lembra as mais notórias asneiras da censura da ditadura militar. Vejam aqui.
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A entrevista de José Dirceu

Achei louvável a Carta Capital ter entrevistado José Dirceu em sua última edição. Depois de Mino Carta e Dirceu terem publicamente divergido por episódio sobre um encontro, suas interpretações, negações, em quantos toques foi combinada uma resposta, depois mudada etc, fazer uma entrevista onde todas as mesmas e severas acusações são feitas, permitindo sua defesa, é digno do melhor jornalismo. E o resultado é concreto, muito além das limitadas análises sobre se entre entrevistadores e entrevistado houve vencedores. O que fica evidente na entrevista, muito além das especulações sobre culpabilidade, é a enorme capacitação política de José Dirceu, sua notória expertise em negociação, que agora se volta apenas para o mundo dos negócios, onde é acusado de ter relações com Daniel Dantas, o que nega. Que valor é esse que julga um dos melhores quadros políticos brasileiros, que amarga uma das mais venais perseguições políticas? Que está inelegível por decisão de comissão do Congresso, acusado sem provas por parlamentar que também foi condenado. Que teve sua vida devassada pela justiça. Exposto à execração pública pela mídia, partidária e atuante ao lado dos setores mais atrasados do país. O resultado é vergonhoso. Aqui, mostrei um vídeo onde José Dirceu é hostilizado ao votar nas últimas eleições municipais. Contraditoriamente, Paulo Maluf, condenado pela justiça, réu em mais de uma centena de processos, candidato a prefeito, votava sem constrangimentos. É crime tal uso da mídia. E maior incômodo reside no fato de vermos setores da própria esquerda chafurdarem no mesmo conto do vigário. Ingenuidade? Até há. Mas, infelizmente, maldade também. Uma pergunta e resposta são esclarecedoras:

Carta Capital – Muitos petistas não gostam do senhor e dizem o oposto do que o senhor diz aqui agora. O senhor sabe, não?

José Dirceu – Infelizmente de maneira trágica, durante o caso que ficou conhecido como mensalão, usou-se a crise como instrumento de luta interna do PT. Num momento daquele, quando era preciso defender o partido, tentou-se dentro da legenda destruir algumas lideranças. Respondo pelo que fiz. Mas daí a quase se aliar aos algozes que nos acusavam para tentar alcançar a direção do partido foi muita hipocrisia.
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