A imprensa e sua lei

Os donos do PIG estiveram reunidos ontem em Brasília para tratar, segundo eles, da liberdade de imprensa. Não é verdade. A preocupação é eliminar qualquer restrição na lei que os impeçam de usar seu poder para favorecer grupos, idéias, candidatos, em campanhas difamatórias, sem nenhum compromisso com a informação. A atual legislação, referendada pela Constituinte de 1988, é taxada pela mídia como herança da ditadura. Recentemente, por pressão do monopólio midiático, o STF revogou por liminar alguns de seus itens. O objetivo era proteger jornais, rádios e TVs de várias ações da Igreja Universal.

Neste clima, foi discutido ontem se a saída seria criar uma nova lei ou suprimir a atual. Falaram todos os donos do poder midiático, nem sempre antenados com o assunto principal, talvez com a cabeça mais voltada para suas planilhas. Roberto Civita, do grupo Abril, aproveitou para pedir liberdade também para os anúncios veiculados, ele não deseja restrições ao tilintar de sua caixa registradora. João Roberto Marinho, das organizações Globo, condenou as liminares que obrigam a publicação de longas resoluções jurídicas em seu jornal, o que não deixa de ser também uma preocupação com a caixa, visa economia do caro papel.

Segundo um ótimo texto de Bernardo Kucinski, na Revista do Brasil, o objetivo mesmo é continuar a velha prática do jornalismo de calúnia e difamação com impunidade. Em trecho, o artigo cita reportagem recente da Folha de S.Paulo contra Paulo Pereira, deputado do PTD e dirigente da Força Sindical:

“A central presidida por Paulinho mistura política retrógrada com a negação da política”. Até aí é um juízo de valor que o jornalista tem o direito de expressar. Mas logo em seguida ele parte para o insulto: “Este pequeno Lula paraguaio agora anuncia entre palavrões que vai entupir o Judiciário de ações contra jornalistas da Folha....” Numa única frase o jornalista insultou Lula, ao usá-lo como referência negativa, e os paraguaios, que não têm nada a ver com a história. E insultou o próprio Paulo Pereira.

Esta é a liberdade que desejam. Este é o velho hábito do papel registrar as mais notórias difamações. Vale a leitura do artigo da professora Isabel Lustosa na Folha de hoje, “A verdade que vem impressa nos jornais”. Ela estuda a nossa imprensa desde seus primórdios, e relembra uma polêmica coluna em jornal do Ceará, na sua infância, onde o autor, depois de contestado pela veracidade de fatos publicados, dizia: “Saiu no jornal? Então é verdade”. A professora é enfática em suas conclusões:

“Assim, recomenda-se ao leitor contemporâneo lembrar que não há texto neutro, que, na composição e no desenvolvimento de um texto jornalístico, na maneira de narrar e destacar um fato, estão também embutidas as paixões e os interesses do jornalista, do editor ou da empresa jornalística a que estão ligados. De modo que nem sempre o que sai no jornal é a expressão genuína da mais pura verdade.”

Se a sociedade não acordar, em breve os barões da mídia conquistarão o maior de seus desejos. Não terão que arcar com responsabilidades para suas inverdades, lei apenas para a internet, blogs e afins, onde o perigoso povo pode manifestar sua opinião sem o aval, dos “iluminados” jornalistas.
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E o ombusman começa se explicando

Começou mal a estréia do novo ombudsman da Folha. Teve que se explicar em sua primeira coluna sobre declaração em entrevista, uma semana antes, quando disse que, ao contrário da imprensa americana, a brasileira não vive uma crise de credibilidade. Foi preciso analisar palavras, conceitos, citar que a Igreja Católica goza de credibilidade, embora não influencie seus fiéis e mais outras filigranas.

Não deu. A imprensa nacional perdeu a capacidade de influenciar seus leitores pela notória perda de credibilidade. Fatos são abundantes para esta análise. Apenas o novo ombudsman não deseja ver.
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Radicalismo contra o terceiro mandato



Foto de Ricardo Stuckert/Presidência da República/Agência Brasil
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Espaços, atores e circunstâncias

Não é de hoje que Aécio Neves, governador de Minas Gerais, e Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, mantêm relações de proximidade e cooperação. Sempre que aparecem juntos em público, a interpretação é uníssona: abriu-se novo espaço para entendimentos entre o PT e o PSDB. O quadro partidário treme e se agita todo, sinal evidente de que há algo naquela aproximação que o incomoda.

Pimentel e Aécio falam a língua do entendimento. Dizem que não agem com os olhos em interesses pessoais, que desejam armar uma aliança mineira sem a preocupação de saber que impacto nacional ela terá. Querem ampliar os espaços de intercâmbio e ganhar mais combustível para governar, mas também melhorar sua posição relativa no jogo político nacional. Andam na contramão de seus partidos, que vivem em guerra latente ou manifesta. De certa forma, atropelam-nos, superpondo-se aos planos políticos e eleitorais das cúpulas.

Dias atrás, a direção nacional do PT endureceu com o prefeito mineiro, afirmando em nota que "não autorizará, em nenhuma hipótese, o PT a participar de qualquer coligação de que faça parte o PSDB em Minas". Alguns dirigentes petistas acreditam que não é razoável afagar o PSDB num momento em que este partido é o principal pólo da “oposição radical” ao Governo Federal. Acham que alianças localizadas entre os dois partidos terminam por levar água ao moinho de Aécio Neves.

No caso do governador, sua movimentação também indica que ele busca consolidar um espaço de manobra exclusivo, indiferente a compromissos partidários e aberto a articulações ampliadas, que podem incluir até uma troca de legenda. No momento, o gestual político dedica-se a sinalizar, para os que disputam o espaço político tucano, que Aécio Neves tem cacife, não pode ser deixado de lado, nem minimizado. Ou seja, em poucas palavras, que é mesmo candidato à Presidência.

Em ambos os casos, a justificativa é uma só: preencher os espaços políticos, ir além das amarras impostas por partidos que já não mais refletem a sociedade, abrir os braços para todos os que queiram construir um “grande projeto” para o Brasil. Simultaneamente, luta-se para que Minas volte ao primeiro plano.

Espaços sempre existem em política. Raramente são desimpedidos e fáceis de ocupar. Derivam de circunstâncias objetivas e atos de vontade, de projetos e concepções, erros e fracassos. Dependem categoricamente dos atores para se converterem em espaços políticos positivos, ou seja, capazes de produzir efeitos construtivos sobre o processo social e o Estado. Caso contrário, ficam ali, vazios e inoperantes, servindo somente, quando muito, como plataformas para manobras de oposição, estocadas de adversários e sonhos mais ou menos delirantes de contestação.

PT e PSDB nasceram de um mesmo veio, a resistência democrática à ditadura e o esforço para dar voz política aos novos personagens que surgiam na cena brasileira por volta do início dos anos 1980. Tal veio se bifurcou em um dado trecho da estrada, gerando uma esquerda social, combativa e zelosa de seus credos, e uma esquerda moderada, institucional e despojada de substância doutrinária. Lula e FHC estavam juntos nos comícios do ABC e na fundação do PT, do mesmo modo que muitos tucanos de hoje foram petistas ontem e vice-versa. Há entre eles muitos pontos em comum, amadurecidos pelos longos períodos de exercício do poder. Com o correr do tempo, a pista bifurcada convergiu para um ponto de indiferenciação, quase a se diluir em uma imponente auto-estrada de mão única. Diferenças subsistiram, é evidente, e em alguns momentos explodem com virulência. Mas já não há mais como distinguir com nitidez programática e marcas de identidade profunda um tucano de um petista. Eles estão separados somente por um estoque de interesses, algumas mágoas acumuladas e muitos cálculos eleitorais. Claro que, por baixo do que aparece, correm rios caudalosos, a carregar idéias de Estado, utopias políticas, agendas de futuro, modos de governar e compromissos sociais. Isso tudo, porém, tem pouca força para emergir, ditar condutas práticas ou modelar discursos. Está sendo sugado pela globalização capitalista e pela “vida líquida”. São coisas que flutuam sem ter onde ancorar.

Se Fernando Pimentel e Aécio Neves acenam com alianças eleitorais de curto prazo mas têm em vista o futuro menos imediato, é porque espaços reais de entendimento existem. Ambos são políticos experientes e expressivos em suas respectivas constelações políticas. Falam, porém, sem o aval de seus partidos, o que pode indicar que estão basicamente a lançar balões de ensaio para 2010 e a demonstrar força perante seus adversários. Seus gestos e discursos não sugerem categoricamente uma aliança preferencial entre PT e PSDB, nem muito menos fusão partidária, mas sim o estabelecimento de uma base que suavize o confronto entre as duas principais organizações políticas do país e os beneficie como governantes e candidatos.

Mas a vida é dinâmica e poderá exigir que se leve a sério a idéia de formar um bloco político que compense o vazio de lideranças efetivas que tipifica o Brasil magnetizado pelo carisma de Lula. Se vier a ser este o caso, será inaugurado um novo caminho, cujos desdobramentos poderão beneficiar a governabilidade e democratização do país, ainda que não contenham necessariamente isso. Será, porém, um caminho explosivo, pois tenderá a implicar, mais que um reencontro entre PT e PSDB, a completa diluição desses partidos em constelações políticas mais ou menos invertebradas e sem alma. Cristalizar-se-á assim uma institucionalidade política mais suscetível a personalidades e movimentos que a organizações. Não há como prever, mas dá para imaginar, que eficácia democrática teria uma institucionalidade deste tipo. (Publicado em O Estado de S. Paulo, 26/04/2008, p. A2)

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Para os amigos, tudo

O podre governo de Álvaro Uribe segue ruindo e nossa mídia continua olhando o quadro com distanciamento e extrema ponderação. Um bom exemplo é o editorial da Folha de hoje, “Uribe e os paramilitares”. Segue um relato frio dos fatos recentes, como a prisão de Mario Uribe, estreito colaborador e primo do presidente, sem citar seu envolvimento com o tráfico de drogas. Ao final, de forma distanciada, o jornal especula que “talvez esteja se desenhando a "hecatombe" que Uribe uma vez mencionou como único fator que poderia levá-lo a tentar modificar uma vez mais a Constituição de modo a permitir-lhe disputar o terceiro mandato".

Quer dizer, no meio de uma saraivada de evidências do envolvimento do governo com as milícias de direita, seus métodos bárbaros, formação de quadrilha, envolvimento com o tráfico de drogas e plano de mudanças na constituição para conquistar um terceiro mandato, o jornalão não dedica nenhuma crítica, mantendo uma distanciada serenidade.

É o mesmo jornal que repete as mentiras sobre o envolvimento das Farc com o narcotráfico, que faz de Chávez o maior tirano da AL, que vive especulando sobre um possível terceiro mandato de Lula. Para tudo isso, não há economia de adjetivos.

Para Uribe, tirano, narcotraficante, chefe de quadrilha, a fleuma.
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