Mostrando postagens com marcador trabalho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador trabalho. Mostrar todas as postagens

• Trabalho em equipe

Clique para ver...

• Greves

Clique para ver...

• Comportamento

Clique para ver...

• Promoção

Clique para ver...

• Agora EUA querem o Brasil

Clique para ver...

• Ministro Lupi, o esquecido

Clique para ver...

• Ministro do Trabalho se declarando

Clique para ver...

• Salvador

Clique para ver...

• Regras da empresa


Clique para ver...

• Via Crucis

Clique para ver...

• Casamento

Clique para ver...

• Paixão

Clique para ver...

• Inflação

Clique para ver...

Momento cara de pau da ABERT

“Cada vez mais a liberdade editorial das emissoras é limitada”

A afirmação é do diretor da Abert sobre o PL que reserva espaço em rádio e TV para as centrais sindicais

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) declarou-se contra o projeto de lei que reserva às centrais sindicais horário gratuito no rádio e na TV, aprovado na última semana pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados. Segundo o diretor de Assuntos Legais da entidade, Rodolfo Machado Moura, o PL restringe a liberdade editorial das emissoras e compromete o funcionamento satisfatório da radiodifusão. “Somos contrários ao projeto. Cada vez mais a liberdade editorial das emissoras é limitada. Esperamos que a próxima comissão pela qual o projeto irá passar tenha o bom censo de rejeitá-lo”, afirmou o diretor.

De acordo com o texto aprovado, os programas produzidos pelas centrais sindicais deverão ser transmitidos com a finalidade de discutir matérias de interesse de seus representados. Pela proposta, as mídias com as gravações dos programas, em bloco ou em inserções, deverão ser entregues às emissoras com antecedência mínima de vinte e quatro horas das respectivas transmissões agendadas.

Para o diretor-geral da Abert, Luís Roberto Antonik, a sobrecarga na grade de transmissão das rádios pode acarretar no fechamento dessas emissoras, que arcam com altos custos. “Para calar as emissoras, basta sobrecarregá-las com programas obrigatórios gratuitos”, disse, lembrando que o tempo destinado à transmissão de propaganda comercial é restrito a 25% da programação.

O projeto que reserva às centrais sindicais dez minutos por semestre de transmissão gratuita em emissoras de rádio e TV tramita em caráter conclusivo e será analisado ainda pelas comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CTCI) e de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). [Fonte: Coletiva Net]

------------------------

Para o representante de uma das entidades empresariais de comunicação, 10 minutos semestrais de tempo destinado a conteudo sobre a organização sindical, é acabar com rádio e tv, afinal, é tempo demais na grade da programação! Baita prejuizo editorial e de $$$$! Como se as empresas tivessem algum tipo de prejuizo nessa área, haja vista a campanha eleitoral ilegal promovida em TV e rádio neste ano.

Mais, em se tratando de concessões públicas, o Art. 221 da CF88 é esclarecedor, o que denuncia a parcialidade da afirmação do Sr. Moura:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

Pior, queixar-se sobre a liberdade editorial é feito em tom sério! E o responsável, nem vermelho de vergonha fica...
Clique para ver...

Governo Dilma. Qual deve ser a postura do movimento popular e sindical?


Qual deve ser a postura do movimento popular e sindical, e quais as bandeiras centrais no governo Dilma, recém-eleita presidente do país? A ofensiva conservadora que marcou as eleições de 2010, as reivindicações da classe não cumpridas durante o governo Lula e a base econômica deixada pelo atual governo são alguns dos pontos de partida para as lutas dos movimentos sociais, de acordo com as reflexões de suas lideranças.
A reportagem é de Pedro Carrano e publicado pelo Brasil de Fato, 31-10-2010.

Para o integrante da coordenação nacional do MST, Gilmar Mauro, o resultado eleitoral não quer dizer apenas uma derrota de José Serra (PSDB), mas da grande mídia como um todo. Mauro avisa que os movimentos sociais terão uma relação de autonomia com o próximo governo, com quem as organizações devem confrontar suas reivindicações. A reforma agrária, por exemplo, não foi pautada na campanha eleitoral deste ano e deve voltar à agenda.

Sobre a questão agrária, Mauro enfatiza que o debate se dá em três frentes: sobre o uso do solo e recursos naturais, que não devem ser transformados em mercadorias, sobre o tipo de alimentos que a população está consumindo, e a serviço de quem serão usadas as tecnologias no campo.

 “Eu acho que a reforma agrária é uma das coisas mais modernas do mundo na atualidade. Mas uma reforma agrária vai ter que alterar o modelo agrícola, o modelo de produção, o tipo de comida, o tipo de tecnologia, e esse debate vamos ter que fazer o debate com a sociedade. Esperamos  que o governo Dilma possa ajudar, no sentido de favorecer, de criar espaços para que esse debate ocorra e que a sociedade participe da discussão de uma verdadeira reforma agrária que altere a estrutura fundiária no Brasil e o modelo de produção no Brasil.”

A postura do movimento negro será de apoio crítico e pressão permanente em defesa de políticas públicas. Esta é a posição da Uneafro, de acordo com Douglas Belchior, do conselho geral da organização. Para ele, Dilma terá que revisar as políticas de segurança pública que vitimam a população negra em todos os estados. O aprofundamento das políticas de acesso à educação e a pressão pelo Estatuto de Igualdade Racial são pontos estratégicos na avaliação da entidade.
 “O movimento negro deve ter uma postura de luta permanente e vamos ocupar as ruas. Também vamos ocupar as universidades no sentido de pressionar para que o governo haja e preste serviço ao povo brasileiro e não para os latifundiários, para os racistas, empresários e banqueiros.”

A base econômica construída nos oito anos de governo Lula resultou na geração de empregos e estancou a flexibilização do trabalho no período Fernando Henrique Cardoso (FHC) é o que  analisa o sindicalista Milton Viário, da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul e da CUT. Ele enxerga que o momento é de pautar a plataforma unificada dos trabalhadores, construída em 2010 pelo movimento social e sindical. No campo sindical, maior democracia e condições de trabalho, jornada de 40 horas e o fim do fato previdenciário são pontos centrais nesse projeto.

“Nós vamos ter condições melhores para apresentar a plataforma da classe trabalhadora, voltada basicamente no desenvolvimento econômico. Portanto, ampliando a atividade produtiva, mas reivindicando fortemente a geração de empregos de qualidade, empregos aonde se possa ter uma melhor remuneração, empregos aonde se possa ter de fato uma qualificação profissional e que haja a especialização do trabalho.”
A deputada federal recém-eleita pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) de São Paulo, Luiza Erundina, aponta que o governo Dilma terá que enfrentar o desafio de maior democratização do Estado brasileiro. O que, de acordo com ela, passa por dois caminhos: reforma política e democratização dos meios de comunicação.

“A reforma política que já tem um acúmulo no Congresso, tem uma frente parlamentar pela reforma política com participação popular. Já tem inclusive um Projeto de Lei de iniciativa popular que está na Comissão de Legislação Participativa e já responde a questões importantes, estruturais do sistema de comunicação. Tem, por exemplo, a reforma Tributária como mecanismo de distribuição de renda.”

Na mesma linha da democratização da mídia como bandeira central para a luta da esquerda, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, avalia que a pressão a partir as bandeiras nascidas no processo das Conferências de Comunicação devem ser pautadas desde janeiro de 2011.
“Este é um ponto da agenda, o debate que as organizações sociais vão ter que estar muito organizadas, mobilizadas, pressionando o governo. Não pensem que vai ser fácil. Eu lembro que a primeira Conferência de Comunicação só saiu no último ano do governo Lula. Era um governo em disputa. E, portanto, nós temos que continuar debatendo isso. O próximo governo da Dilma Roussef também será um governo de disputa.”
A luta das mulheres tem dimensão importante em 2011. Darli Sampaio, da Casa do Trabalhador de Curitiba, acredita que o debate ideológico sobre a questão do aborto nas eleições agora deve ter o efeito contrário. Uma vez que as organizações devem pressionar para obter avanços neste tema. De acordo com ela, a união civil dos homossexuais e os desafios da inserção da mulher no mundo da política também são desafios no debate de gênero.

 “Do ponto de vista da organização das mulheres, tem uma pauta já que ela não se esgota, porque as questões não estão resolvidas. Por exemplo, a discussão sobre a questão de gênero, que abarca polêmicas que nós vimos agora no período da campanha, que diz respeito à questão do aborto, aliás, a forma desrespeitosa com que essa discussão foi travada no debate político. O Movimento de Mulheres entende que aborto é uma questão de saúde pública”.

Na avaliação de Luiza Erundina, há um espaço no Estado brasileiro para a politização a partir do governo, mesmo o Estado tendo um caráter de classe.

“É exatamente a forma de governar. É mais do que os resultados, é a forma de dividir o poder, a relação com a sociedade civil. Fatos que leva a uma mudança de cultura política na forma de governar, um governo democrático, além de popular, no sentido de priorizar os interesses da maioria da população. Também ser um governo voltado, desde o primeiro momento, sobre todas as questões estratégicas, a participação popular organizada e politizada. Lamentavelmente não tivemos isso num governo Lula.”


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
Clique para ver...

• Justificativa


Clique para ver...

• Regras


Clique para ver...

EUA: Dia de muito trabalho para os sindicatos

Por Katrina Vanden Heuvel*, Washington Post - 31/08/2010

O Dia do Trabalho – primeira 2ª-feira de setembro, nos EUA – virá vestido de luto, dia 6/9/2010.

Mais da metade dos trabalhadores nos EUA conheceram o medo do desemprego, viram seus salários reduzidos, foram forçados a aceitar empregos de meio-período ou outros tantos problemas que, por aqui, são a história da Grande Recessão. Ações em colapso e o preço das casas destruíram 1/5 da riqueza das famílias médias. Quase seis, de cada dez norte-americanos, cancelaram ou reduziram as férias. Nesse quadro, os trabalhadores cada vez menos buscam os sindicatos como resposta possível às suas inseguranças – apesar da evidência bem clara de que, de todas as instituições norte-americanas, os sindicatos quase sempre acertaram ao avaliar as grandes questões que o país enfrentaria e enfrenta, na disputa contra os consensos políticos bipartidários e das elites.

Os sindicatos vivem momentos difíceis. Representam menos de 13% da força de trabalho e menos de 8% dos empregados de empresas privadas. Os empregados sindicalizados ainda recebem salários maiores que os não sindicalizados e em maior número de casos conseguem obter seguro-saúde, pensões e licença-doença pagos pelo empregador.

Mas quando os sindicatos representavam mais de 30% de todos os empregados de empresas privadas, nos anos 1940s, eles lutavam por melhores salários para todos – e as empresas às quais os sindicatos não tinham acesso tinham de competir para encontrar boa mão de obra. Hoje, os sindicatos lutam quase exclusivamente para defender salários e benefícios. Ao longo da última década antes da Grande Recessão, a produtividade aumentou muito, os lucros dispararam, os salários e bônus para os altos executivos chegaram à estratosfera, mas a maioria dos empregados perderam terreno e poder.

Os sindicatos são alvo de repetidos ataques que vêm dos conservadores e das corporações. A mais recente campanha – construída como sempre para dividir os trabalhadores – tem atacado os salários e, sobretudo, as aposentadorias dos funcionários públicos. Por que mereceriam aposentadorias, quando tantos trabalhadores perdem tudo e, no máximo, conseguem algum plano de aposentadoria privada, se tiverem a sorte de continuarem empregados? De fato, em sociedades civilizadas, a pergunta certa deve ser exatamente o contrário dessa. Como criar programas de aposentadorias e pensões – além da Seguridade Social – para todos os trabalhadores de toda a economia, nivelando-os por cima, não por baixo?

A verdade é que, se tivéssemos dado ouvidos mais atentamente aos sindicatos no passado, os EUA não estaríamos vivendo a tragédia de hoje. Por muitos anos os sindicatos alertaram para os riscos dos déficits comerciais que nunca pararam de aumentar, a loucura de admitir que Japão e China e outros jogassem segundo suas próprias regras. Mas um consenso bipartidário, inventado em Wall Street e abraçado pelos dois presidentes, primeiro por Bush, depois por Clinton, conseguiu impor o ideário de acordos de livre-comércio definidos pelas grandes corporações e que só a elas interessava.

Os resultados foram calamitosos. Só na última década as perdas comerciais dos EUA alcalçaram $5,8 trilhões de dólares. No setor de manufatura nos EUA, desapareceu um de cada três postos de trabalho. O presidente do Federal Reserve Ben Bernanke observava que os desequilíbrios do comércio global ajudaram a inflar a bolha que fez despencar a economia global como caída despenhadeiro abaixo. Agora, novos e crescentes desequilíbrios impedem qualquer recuperação que arranque os EUA da Grande Recessão. O crescimento decepcionante de apenas 1,6% no último trimestre teria alcançado robustos 5%, não fosse o aumento no déficit comercial. Hoje até Andy Grove (da Intel) e Jeff Immelt (GE) concordam que foram temerários e incompetentes ao mandar para o exterior tantos empregos e tanta capacidade de produção da indústria de manufatura.

Na governança corporativa, o consenso bipartidário pregava o culto dos “altos executivos”, defendia que se associassem “pagamento e performance” e ações na Bolsa de Valores. Os sindicatos foram descartados, vistos como impedimento ao pleno desenvolvimento de “mercados de trabalho flexibilizado”. Os líderes sindicais argumentaram à exaustão, que era necessário responsabilizar as corporações por mais do que só pelos resultados financeiros do balanço do trimestre seguinte. Falaram o mais que puderam, sem qualquer sucesso, a favor de incluírem-se o trabalho e a comunidade, ao lado dos acionistas, de modo que tivessem mais peso nas práticas e decisões das corporações. Resultado, os altos executivos partiram para uma onda de crimes: Enron, WorldCom, Global Crossing, Adelphi. Centenas de corporações “refizeram” os relatórios de lucros, depois que os altos executivos foram tornados pessoalmente responsáveis. Dúzias de altos executivos foram apanhados na operação de adulterar datas de vencimento de opções de ações. Os grandes bancos apostaram cada vez mais alto, mais alto, com os contribuintes obrigados a cobrir todas as perdas. Altos executivos receberam incentivos pessoais multimilionários, para adulterar números; nem surpreende que tenham encontrado modos tão criativos para adulterá-los.

No plano das regulações, os sindicatos travaram batalha sem tréguas contra as privatizações e a desregulação, que os conservadores da era Reagan e os neodemocratas e neoliberais converteram em última moda. Hoje se vê que, nos EUA, numa área depois da outra e em praticamente todas, as privatizações foram fonte de mau uso e desperdício de bens públicos, de fraude e de roubo – da Halliburton à Blackwater. A desregulação contribuiu diretamente para a débâcle financeira e das grandes corporações, que derrubou a economia, com custos humanos visíveis do Golfo do México a Appalachia e até na qualidade dos ovos que os EUA comemos hoje.

Sábado passado em Washington, Glenn Beck tentou confiscar o movimento dos direitos civis. No mesmo dia, em Detroit, viu-se o mundo real: os sindicatos UAW[1], SEIU[2] e AFSCME[3] reunidos à Rainbow PUSH Coalition[4], à NAACP[5], à Urban League[6], organizações religiosas e ativistas dos direitos civis, em marcha por empregos e justiça social. O apoio dos sindicatos foi vital para organizar a marcha comandada pelo Reverendo Martin Luther King em Washington, há 47 anos. E o apoio dos sindicatos é vital para todos os movimentos de direitos civis – pela reforma das leis de imigração, tanto quanto pela igualdade de gêneros e salários iguais para homens e mulheres, na luta por empregos – hoje.

Com todos os defeitos que tenham, os sindicatos dão voz a todos os trabalhadores, aos empregados e aos desempregados, não só aos trabalhadores sindicalizados. A força democrática que têm os sindicatos, nascida de baixo para cima, é contrapeso vital contra os interesses da ‘grande finança’ que tanto mal fizeram e fazem à vida política nos EUA. Fazer reviver o movimento sindical é essencialmente importante para construir novas fundações para alguma nova economia que se reconstrua nos EUA, fundações que assegurem que os EUA voltem a dar certo para os que trabalham.

[1] International Union, United Automobile, Aerospace and Agricultural Implement Workers of America (UAW) é dos maiores e mais diversificados sindicatos dos EUA, com membros em praticamente todos os setores de economia (em http://www.uaw.org/node/39).

[2] Service Employees International Union (SEIU) (em http://www.seiu.org/index.php).

[3] American Federation of State, County and Municipal Employees (AFSCME) (em http://www.afscme.org/).

[4] A Rainbow PUSH Coalition (RPC) é organização multirracial, pluralista, progressista internacional, que luta por mudança social. Foi criada em dezembro de 1996 pelo Reverendo Jesse L. Jackson, Sr., resultado da fusão de duas organizações também fundadas por ele, a People United to Serve Humanity (PUSH, 1971) e a Rainbow Coalition (1984) (em http://rainbowpush.org/pages/the_organization).

[5] A National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), fundada em 1909, é a mais antiga organização de defesa de direitos civis nos EUA (em http://www.naacp.org/content/main/).

[6] A Urban League reúne, nas cidades dos EUA, afro-americanos e outros não-brancos, na luta por direitos iguais para todos. Foi fundada em 1916. Para conhecer a Detroit Urban League, ver http://www.detroiturbanleague.org/.

*Editora e publisher de The Nation e assina coluna semanal no Post.
Imagem: Operários, Tarsila do Amaral, 1933 via Agenda Cultural
Tradução: Vila Vudu
Clique para ver...

''O gênero é uma construção social''

Entrevista especial com Esther Diaz para o Instituto Humanitas UNISINOS

Segundo a filósofa argentina, Esther Diaz, "o sexo é poder não somente pela obviedade de que quem exerce fortemente o poder tem muito mais possibilidades de manter encontros sexuais do que aqueles que carecem de poder". Em entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, ela falou sobre a forma como a sexualidade foi encarada em diferentes épocas e pensadores, como Foucault, Nietzsche e Platão. Além disso, ela observa a sexualidade e o sexo em si a partir de uma visão biopolítica. "A sexualidade é manejada pelo biopoder para reafirmar as estruturas patriarcais da sociedade", afirmou.

Esther Diaz é doutora em filosofia pela Facultad de Filosofía y Letras da Universidad de Buenos Aires. Atualmente, é professora do Departamento de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Lanús.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como a sexualidade foi tratada em diferentes períodos da história da humanidade? Esther Diaz – A sexualidade, tal como Michel Foucault [1] a estudou, surgiu recém na modernidade e, assim, foi estudada durante o século XX. Pois bem, sem dúvida, os humanos têm genitalidade desde o momento do nascimento, mas a sexualidade é muito mais do que genitais. É uma figura epocal que está relacionada com os genitais, mas os transpassa amplamente. Tem mais a ver com o desejo e, obviamente, com o sexo (sexo é uma determinação biológica, sexualidade é uma determinação conceitual-social). Nesse sentido, ela foi tematizada por Platão [2], e a problemática foi retomada recém no século XIX, com Schopenhauer [3] primeiro, e com Nietzsche [4] mais tarde, no campo filosófico, e com Freud [5] no psicanalítico.
IHU On-Line – Como Michel Foucault aborda a sexualidade em nossa cultura? Em que aspectos a filosofia de Foucault inspira um novo pensar sobre o corpo e a sexualidade? Esther Diaz – Spinoza [6] dizia que muito se falou sobre o poder da alma, mas que ninguém sabe de quanto o corpo é capaz. Foucault aborda a sexualidade como corpo do poder, como dispositivos de sexualidade que se instauraram no começo da modernidade, quando os burgueses cuidavam de seus costumes sexuais de maneira “higiênica”, controlavam seus desejos para obter uma descendência sadia. Depois, transladaram esse controle para o resto da população e, em seu afã de proibir que se falasse de sexo (época vitoriana), na realidade desataram um aluvião de discursos sobre a sexualidade e incentivaram a mesma coisa que queriam controlar: o desejo. O controle da sexualidade é funcional a uma economia que necessitava seres “domesticados” para suas linhas de montagem industrial.
IHU On-Line – Em que consistem os “dispositivos de sexualidade” denominados por Foucault? Esther Diaz – Os dispositivos de sexualidade se instauraram no começo da biopolítica, isto é, da administração da vida da população por parte do Estado. Essa administração é impensável antes do modelo burguês. Foucault denomina de “dispositivos de sexualidade” todos os discursos e as práticas que proliferaram ao redor do corpo e de seus prazeres e que foram operativos para a nascente economia capitalista.
IHU On-Line – Quais são as ligações da sexualidade com o poder? Esther Diaz – O sexo é poder não somente pela obviedade de que quem exerce fortemente o poder tem muito mais possibilidades de manter encontros sexuais do que aqueles que carecem de poder, mas também porque se são estabelecidos controles sobre os desejos da população e são proibidas certas práticas sexuais (digamos, por exemplo, a masturbação), constituem-se seres culposos, já que – principalmente em certa etapa da vida – não é possível cumprir com a abstinência exigida pelos dispositivos de sexualidade.

Isso produz culpa, e não há ninguém mais manejável do que uma pessoa com culpa. O sexo também é poder porque é utilizado para conseguir favores e vantagens. E, dentre outras coisas, é poder porque é um impulso vital avassalador e é a condição de possibilidade para obter descendência, que, no caso dos donos dos meios de produção, devia ser saudável para dar-lhe prestígio aos senhores.

IHU On-Line – A senhora diz que o conceito de sexualidade não está associado apenas à diferença genital. Nesse sentido, o que entende por sexualidade? Ainda é possível associar sexualidade ao gênero masculino e feminino? Esther Diaz – O gênero é uma construção social. Inclusive, atualmente (em alguns países), mais identidades sexuais do que a feminina e a masculina (transexuais, travestis, pessoas com duas genitalidades assumidas nessa condição) são aceitas legalmente e obtidas mediante tecnologia. Uma pessoa pode ter nascido com genitais de um sexo e sentir que seu corpo se equivocou, já que essa pessoa se sente parte de outro sexo. A genitalidade pode ser um acidente. O gênero, em troca, é a assunção consciente de determinada identidade sexual.

IHU On-Line – Como a sexualidade pode ser entendida como um biopoder? E, nesse sentido, esse biopoder se torna um elemento indispensável para o desenvolvimento do capitalismo? Esther Diaz – A sexualidade é manejada pelo biopoder para reafirmar as estruturas patriarcais da sociedade. O capitalismo precisou do biopoder para controlar a população e torná-la mais eficiente com relação aos interesses dos poderosos. A ciência experimental moderna, por exemplo, é constituída excluindo a mulher e as outras minorias (sexuais ou sociais). As religiões monoteístas também utilizam o paradigma do homem branco, de idade média, culto e pulcro como modelo do “homem virtuoso”.

As mulheres (e outras minorias sexuais) foram relegadas pelo capitalismo às tarefas que tradicionalmente as reduziam à subordinação. E quanto foram assimiladas ao sistema produtivo econômico, tiveram acesso a postos de trabalho, mas continuaram sendo as responsáveis de levar adiante as tarefas do lar. Esse é um claro exemplo do poder do sexo (nesse caso, obviamente, masculino).

O poder capitalismo, científico, religioso e até familiar continua sendo machista, porque nossas sociedades se assentam sobre poderes patriarcais ancestrais, herdados e reproduzidos pela família, pela escola, pela religião e até pelas figuras midiáticas: mostram-se corpos nus de mulheres, porque se supõe que eles satisfazem o desejo masculino, mas quase não se veem nus masculinos completos, já que isso contribuiria para o prazer da mulher, que, por enquanto, continua sendo minoritário.

IHU On-Line – Em um de seus textos, a senhora diz que estamos testemunhando uma nova fase de criação do nosso desejo. Em que sentido isso está relacionado com o fato da pós-modernidade estimular o desejo sexual? Pode nos explicar essa teoria? Esther Diaz – Se a sexualidade surgiu do segredo sobre os meandros do desejo e de proibições que estimulavam o desejo (inclusive, em alguns casos, as chamadas “perversões”), em nossa época, em que os meios em geral e a Internet em particular mostram absolutamente tudo o que é relacionado ao sexo (e que antes não podia ser mostrado), é natural que se registre uma depressão do desejo (já que nada é tão desejado quando o proibido). Dessa forma, nossos desejos hoje continuam relacionados com o sexo (dentre outros apetites), mas já não com a intensidade do enigma e do mistério. É por isso que considero que estamos atravessando uma época de pós-sexualidade. Isso não quer dizer que não continuaremos mantendo relações sexuais, mas sim que o estímulo para elas apresenta características diferentes com relação à sexualidade moderna.

Essas questões são de sumo interesse para a militância social, já que de nada serve atender somente o problema da mulher agredida (digamos como exemplo), se os dispositivos sociais continuam sendo machistas. Além disso, ser submissa não garante lucidez. As próprias mulheres, muitas vezes sem nos darmos conta, contribuem com o esquema patriarcal, ao estimular os meninos a brincar com armas de guerra, ou jogos violentos como o futebol, e as meninas a brincar com bonecas ou a cozinhar. Desse modo, continuamos reproduzindo homens que vão à frente e são ganhadores, e mulheres sensíveis que se submetem e, em geral, são perdedoras. É inconcebível que, no terceiro milênio, ainda continuamos dizendo que as mulheres são frágeis por expressar seus sentimentos, e que “os homens não choram”. Isso não é assim “naturalmente”. É uma construção social a serviço do poder sexual do macho.

Notas:
[1] Michel Foucault foi filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France desde 1970 a 1984. Todo o seu trabalho foi desenvolvido em uma arqueologia do saber filosófico, da experiência literária e da análise do discurso. Seu trabalho também se concentrou sobre a relação entre poder e governamentalidade, e das práticas de subjetivação. Sobre ele, a IHU On-Line dedicou a edição 335, intitulada Corpo e sexualidade. A contribuição de Michel Foucault; 203, cujo título é Michel Foucault, 80 anos; e 119, chamada Michael Foucault e as urgências da atualidade. 20 anos depois.

[2] Platão foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. A edição 294 da Revista IHU On-Line, cujo títutlo é Platão, a totalidade em movimento, dedicou-se ao pensador.

[3] Schopenhauer foi um filósofo alemão do século XIX.Seu pensamento é caracterizado por não se encaixar em nenhum dos grandes sistemas de sua época. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação (1819), embora o seu livro Parerga e Paralipomena (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã.

[4] Nietzsche foi um influente filósofo alemão do século XIX. Crítico da cultura ocidental e suas religiões e, consequentemente, da moral judaico-cristã. Nietzsche é, juntamente com Marx e Freud, um dos autores mais controversos na história da filosofia moderna, isto porque, primariamente, há certa complexidade na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos e desconstruções dos conceitos de realidade ou verdade como nós ainda hoje os entendemos. A IHU On-Line dedicou o número 127, cujo título é Nietzsche Filósofo do martelo e do crepúsculo.

[5] Freud foi um médico neurologista austríaco e judeu, fundador da psicanálise. Iniciou seus estudos pela utilização da hipnose como método de tratamento para pacientes com histeria. Ao observar a melhoria de pacientes de Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente. também é conhecido por suas teorias dos mecanismos de defesa, repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento da psicopatologia, através do diálogo entre o paciente e o psicanalista. Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas. Ele abandonou o uso de hipnose em paciente com histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação, como fontes dos desejos do inconsciente. A IHU On-Line dedicou as edições 207, Freud e a religião; e 179, Sigmund Freud - Mestre da suspeita.

[6] Spinoza foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdão, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

Para ler mais:

Imagem: Eugênio Neves
Clique para ver...

O trabalho no século 21

Clique para ver...
 
Copyright (c) 2013 Blogger templates by Bloggermint
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...