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PETRÓLEO - EUA e o fim da era do petróleo.
EUA não vislumbram o fim da era do petróleo
por Heloisa Villela, de Nova York
Quarenta anos depois do primeiro choque do petróleo — o embargo que provocou o caos na distribuição de gasolina e na economia dos Estados Unidos nos anos 70 –, o país volta a discutir a dependência do combustível e, consequentemente, a relação com os grandes produtores.
Agora sob nova ótica: a possibilidade de autossuficiência graças ao aumento da produção propiciado pelo fraturamento hidráulico, conhecido como fracking, uma tecnologia de consequências no mínimo discutíveis.
Proibida na França, discutida na Grã-Bretanha e no Canadá, motivo de protestos no mundo inteiro, a tecnologia foi adotada rapidamente nos Estados Unidos.
A produção aumentou tanto que o país já ultrapassou a Rússia, este ano, e assumiu a liderança mundial na produção conjunta de petróleo e gás natural.
Segundo dados do governo, a produção doméstica de petróleo pode chegar a 8,4 milhões de barris por dia no ano que vem, quase o mesmo nível da Arábia Saudita.
Quatro décadas separam a possibilidade da autossuficiência dos tempos do embargo.
Nesse período, a política energética e a necessidade de garantir a oferta do combustível comandaram as ações externas do país. E ainda preocupam.
Empresários, representantes das Forças Armadas e ex-funcionários do governo norte-americano se reuniram, na semana passada, para discutir o tema no seminário “Embargo da OPEP + 40: Seminário Nacional sobre Segurança Energética”.
Pela composição das mesas se viu não só a importância do assunto para o país, mas ficou claro que o tema é política de Estado, não de partidos.
Entre os palestrantes estavam os presidentes da GE e do Fedex, os ex-secretários de estado Henry Kissinger e Madeleine Albright, os ex-secretários de defesa Leon Panetta e James Schlesinger, além do general James Conway e do almirante Dennis Blair.
Kissinger era secretário de Estado em 1973, durante o primeiro choque do petróleo, e disse que nos anos seguintes ao embargo “não se podia fazer planos no Oriente Médio sem levar em conta o mercado do petróleo”.
Naquela época, a produção americana estava em queda. Os poços do Texas estavam secando. O país passou a importar o dobro do que comprava do exterior, se tornando ainda mais dependente dos produtores do Oriente Médio.
Quando eles declararam o embargo, o preço do combustível quadruplicou nos Estados Unidos. Racionamento, fila nos postos de gasolina…
Este é o retrato dos anos Carter.
Segundo Henry Kissinger, essa dependência em relação ao Oriente Médio está mudando agora, por causa do aumento da produção de combustíveis nos Estados Unidos.
“A redução da distância entre oferta e demanda na América do Norte tem consequências estratégicas gigantescas”, afirmou.
O almirante Blair acredita que os Estados Unidos poderão se distanciar um pouco dos conflitos no Oriente Médio, mantendo tropas nas redondezas caso sejam necessárias em uma situação de crise.
Um relatório do Citigroup, divulgado no começo do ano, diz até que pode haver um pouco mais de tensão nas relações dos Estados Unidos com países como a Arábia Saudita, por conta de princípios democráticos, agora que o país depende menos do petróleo do Oriente Médio.
O grande sonho dos Estados Unidos é solapar o poder da Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP). Mas, ao mesmo tempo, Washington precisa manter boas relações com a organização.
Os políticos norte-americanos tentaram comprar briga com a OPEP no passado. Aprovaram uma lei no Congresso para permitir que a organização fosse processada, nos Estados Unidos, por formação de cartel.
A lei, aprovada na Câmara e no Senado em 2007, dava ao Departamento de Justiça o direito de processar a OPEP, mas o então presidente George Bush avisou que vetaria qualquer medida nessa linha porque incitaria uma retaliação contra negócios norte-americanos no exterior e afetaria as relações dos Estados Unidos com os países produtores de petróleo.
O jogo é complicado e declarar independência política com relação ao Oriente Médio agora, com o aumento da produção interna, parece precipitado.
A dependência do petróleo externo é menor, mas não desapareceu. No longo prazo, o interesse estratégico e a garantia de fornecimento futuro exige a formação de reservas. A perspectiva de autossuficiência não é assim tão simples.
Enquanto o preço do barril de petróleo estiver na casa dos US$ 100, como está agora, compensa explorar óleo e gás de xisto com o fracking, uma técnica cara. Mas se o preço cair, o fracking se tornará economicamente inviável. Basta a Arábia Saudita abrir a torneira para mudar os preços no mercado internacional.
Em 2005, os Estados Unidos importaram 60% do petróleo consumido no país. Hoje, importam 40%.
Uma queda boa, mas falta um bocado para a autossuficiência. Por isso mesmo, o jogo de xadrez com o Oriente Médio vai continuar.
A maioria absoluta dos analistas e economistas norte-americanos descreve o choque do petróleo dos anos 70 como represália ao apoio dos Estados Unidos a Israel durante guerra do Yom Kippur.
O economista político nova-iorquino Rob Urie discorda, como deixou claro no site Counterpunch:
“Os choques do petróleo dos anos 70 foram vendidos como sendo de natureza geopolítica. O primeiro, em 1973, até foi chamado de ‘embargo do petróleo árabe’ apesar de o Irã, até aquele momento um estado cliente dos EUA, e a Venezuela, serem os principais membros da OPEP a favor do embargo e nenhum dos dois ter um grande problema com as relações Israel-EUA. As multinacionais do petróleo baseadas nos Estados Unidos foram os atores principais que mantiveram o petróleo fora do mercado para fazer com que os preços subissem. O que ficou demonstrado com os embargos foi o efeito que o acesso limitado ao óleo tinha nas economias industriais do Ocidente, que foram estruturadas para serem totalmente dependentes de ofertas plenas e de baixo custo”.
Urie diz que o problema, nos Estados Unidos, está na origem, no modelo de desenvolvimento.
“O capitalismo, até onde o termo faz uma descrição precisa, é uma política econômica que construiu este mundo no qual a ‘energia’ desempenha o papel econômico que tem. No começo do século XX um grupo de industriais fez lobby junto a governos locais para destruir o transporte coletivo que existia e assim poderem vender carros, pneus, gasolina e estradas. A última discussão séria a respeito da conservação de energia nos Estados Unidos aconteceu quando Jimmy Carter estava na Casa Branca. Em meio à guerra mais recente dos Estados Unidos no Iraque, a administração George W. Bush aprovou uma subsídio para incentivar as empresas a comprarem os carros que mais bebem gasolina no planeta – os Hummers. O aquecimento global provocado pela queima de combustíveis fósseis ameaça a existência da vida no planeta. Para falar de outra maneira, mais de um milhão de pessoas morreram no Iraque para que ‘nós’ no Ocidente pudéssemos dirigir nossos SUVs. E o Iraque foi apenas uma das guerras travadas pelos Estados Unidos por causa do petróleo”.
PETRÓLEO - As lições de Libra.
A mobilização de várias organizações, e a greve dos petroleiros, com a apresentação de dezenas de ações na justiça, não conseguiu impedir que o Leilão de Libra fosse realizado, com a vitória de duas estatais chinesas, duas multinacionais européias, e participação, em 40%, da Petrobras.
Obviamente, do ponto de vista do interesse nacional, o ideal seria que o negócio tivesse ficado totalmente com a Petrobras, ou melhor, com outra empresa, 100% estatal e brasileira (a PPSA não tem estrutura de produção própria) que fosse encarregada de operar exclusivamente essas reservas.
Não podemos esquecer que a Petrobras – por obra e arte sabe-se muito bem de quem – não é mais uma empresa totalmente nacional. Os manifestantes que enfrentaram a polícia, nas ruas do Rio de Janeiro, ontem, estavam – infelizmente – e muitos nem sabem disso, defendendo não a Petrobras do “petróleo é nosso”, mas uma empresa que pertence, em mais de 40%, a capitais privados nacionais e estrangeiros, que irão lucrar, e muito, com o petróleo de Libra nos próximos anos.
De qualquer forma, a lei de partilha, da forma como foi aprovada, praticamente impedia que a Petrobras ficasse com 100% do negócio. Além disso, institucionalmente, a empresa tem sido sistematicamente sabotada, nos últimos anos, pelo lobby internacional do petróleo. E cometeram-se, no Brasil, diversos equívocos que a enfraqueceram empresarialmente, o mais grave deles, o incentivo dado à venda de automóveis, sem que se tivesse assegurado, primeiro, fontes alternativas – e, sobretudo nacionais – de combustível.
A questão geopolítica é, também, bastante delicada. O Brasil lançou-se, com determinação e talento, à pesquisa de petróleo na zona de projeção de nosso território no Atlântico Sul, antes de estar militarmente preparado para defendê-la.
O embate entre certos segmentos da reserva das Forças Armadas – principalmente aqueles que fazem lobby ou estão ligados a empresas de países ocidentais – e militares nacionalistas que propugnam que se busque tecnologia onde ela esteja disponível, como os BRICS, tem atrasado o efetivo rearme do país, que, embora necessário, deve ser conduzido com cautela, para não provocar nem atrair demasiadamente a atenção de nossos adversários.
O mundo está mudando, e o Brasil com ele. Seria ideal se pudéssemos simplesmente virar as costas para os países ocidentais – que sempre exploraram nossas riquezas e tudo fizeram para tolher nosso desenvolvimento – e nos integrarmos, de uma vez por todas, ao projeto BRICS, e a países como a China e a Índia, que estarão entre os maiores mercados do mundo nas próximas décadas.
Esse movimento de aproximação com os maiores países emergentes – lógico e inevitável, do ponto de vista histórico – terá que ser feito, no entanto, de forma paulatina e ponderada. Parte da sociedade ainda acredita – por ingenuidade, interesse próprio ou falta de brio, mesmo – que para sermos prósperos e felizes basta integrarmo-nos e sujeitarmo-nos plenamente à Europa e aos Estados Unidos. E que temos que abandonar toda veleidade de assumir um papel de importância no contexto geopolítico global, mesmo sendo a sexta maior economia e o quinto maior país do mundo em território e população.
É essa contradição e esse embate, que vivemos hoje, em vários aspectos da vida nacional, incluindo a defesa e a exploração de petróleo. É preciso explorar o petróleo do pré-sal e nos armar, para, se preciso for, defendê-lo. Mas, nos dois casos, não podemos esperar para fazê-lo nas condições ideais.
O resultado do Leilão de Libra reflete, estrategicamente, essa contradição geopolítica. Mesmo que esse quadro não tenha sido ponderado para efeito da negociação, ele sugere que se buscou uma solução feita, na medida, para agradar a gregos e troianos. Sem deixar de mandar um recado aos norte-americanos.
Independente da questão de capital e de tecnologia – a da Petrobras é superior à dos outros participantes do consórcio – poderíamos dizer que:
a) Os chineses entraram porque, como membros do BRICS, e parceiros antigos em outros projetos estratégicos, como o CBERS, não poderiam ficar de fora.
b) Os franceses foram contemplados porque são também parceiros estratégicos, no caso, na área bélica, por meio do PROSUB, na construção de nossos submarinos convencionais e atômico.
c) Os anglo-holandeses da Shell – mais os ingleses que os holandeses – entraram não só para reforçar a postura de que o Brasil não estava fechando as portas ao “ocidente”, mas também para tapar a boca de quem, no país e no exterior, dizia que o leilão estaria fadado ao fracasso devido à ausência de capital privado.
O lobby internacional do petróleo, no entanto, não descansa. Antes e depois do resultado do leilão, já podia ser lido em dezenas de jornais, do Brasil e do exterior, que o modelo de partilha, do jeito que está, é insustentável e terá que ser mudado.
Apesar da declaração do Ministro de Minas e Energia de que o governo não pretende alterar nada – e da defesa dos resultados do leilão feita pela Presidente da República na televisão – já se fala na pele do urso e as favas se dão por contadas.
Os argumentos são de que não houve concorrência – interessante, será que o “mercado” pretendia que o governo ficasse com mais petróleo do que ficou? – que a Petrobras não tem escala para assumir os poços que serão licitados no futuro – uma “consultoria” estrangeira disse que a Petrobras já está com “as mãos cheias” com Libra, e as exigências de conteúdo local.
Isso tudo quer dizer o seguinte: a guerra pelo petróleo brasileiro não acaba com o leilão de Libra. Ela está apenas começando, e vai ficar cada vez pior. Já que não podemos ter o ideal, fiquemos com o possível. Os desafios para a Petrobras, daqui pra frente, serão tremendos, tanto do ponto de vista institucional, quanto do operacional, na formação e contratação de mão de obra, no gerenciamento de projetos, no endividamento, no conteúdo nacional.
É hora de cerrar fileiras em torno daquela que é – com todos os seus problemas – a nossa maior empresa de petróleo.
A sorte está lançada. A partir de agora, os adversários do Brasil, e da Petrobras, vão fazer de tudo para que ela se dê mal no pré-sal.
PETRÓLEO - "Fernando Henrique Cardoso está se sentindo pequeno"
Ildo Sauer: “Fernando Henrique Cardoso está se sentindo pequeno”
por Luiz Carlos Azenha
Foi tudo bem. Ganhamos! Partilha não é concessão, que não é privatização. Quem você pensa que somos? O Brasil é pobre e não tem dinheiro para fazer as coisas sozinho. Todos os que não concordam com o discurso oficial foram definitivamente hipnotizados pelo Plínio de Arruda Sampaio. O carioca nem ligou para o leilão e curtiu a praia, que esse negócio de petróleo é muito complicado para ele. A China vai nos salvar dos Estados Unidos! Só o black bloc quer estragar a festa. Todo mundo que não concorda é ressentido, tucano ou ultraesquerdista — menos o Arnaldo Jabor e a Miriam Leitão, que aplaudiram o leilão. Gabrielli? Fracassado. Metri? Sindicalista! Requião? Gagá. Petroleiros? Oportunistas. Comparato? Dinossauro.
Estes foram alguns dos argumentos brandidos nas últimas horas em torno do leilão de Libra. Mas, se tudo é tão simples assim e o leilão foi um grande negócio, por que o desespero, a tentativa de sufocar as opiniões contrárias? Será que foi mesmo um grande negócio, que nem merecia um amplo debate no Congresso Nacional e com os brasileiros, que são donos dos recursos “partilhados”?
O Viomundo insiste que seu papel é suscitar o debate e ouvir quem não tem espaço na mídia corporativa, cujos grandes patrocinadores foram contemplados hoje com uma fatia considerável do petróleo descoberto pela Petrobras no pré-sal.
Por isso fomos ouvir o professor Ildo Luís Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, depois do leilão, que segundo o blog do Planalto foi um grande sucesso.
Ele tem um currículo que o qualifica, no mínimo, a ser ouvido:
Graduado em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1977), possui mestrado em Engenharia Nuclear e Planejamento Energético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981), doutorado em Engenharia Nuclear pelo Massachusetts Institute of Technology (1985) e Livre Docência pela Universidade de São Paulo (2004). Servidor público desta instituição desde 1991, é Professor Titular e atual Diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia, tendo exercido os mandatos de Diretor da Divisão de Ensino e Pesquisa e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Energia até 2011. Nesse Instituto, já exerceu os cargos de Coordenador de Pesquisas em 1994 e 1995 e Coordenador do Programa (Interunidades) de Pós-gradução em Energia, de 1999 a 2003, concomitantemente com a Presidência da Comissão de Pós-graduação. Esteve licenciado entre 31/01/2003 e 24/09/2007, para exercer o cargo de Diretor Executivo da Petrobras, responsável pela Área de Negócios de Gás e Energia. Nesse período, consolidou e expandiu os segmentos de gás natural, de fontes renováveis, de biocombustíveis e de geração e comercialização de energia elétrica. Ainda na Petrobras, exerceu os cargos de Secretário Executivo do CONPET, diretor da Petrobras Energía Participaciones S.A. e diretor da Petrobras Energía S.A. Representou a Petrobras nos eventos globais “IPCC Expert Meeting on Industrial Technology” (IPCC/UNEP, Tóquio, 2004) e “Meeting with Business Leaders on G8 Priorities” (WEF/UK Government, 2005). Realizou atividades de assessoria na empresa Tecsauer Consultoria Ltda., na área de projetos, ensaios e garantia da qualidade para o desenvolvimento de projetos de plantas térmicas e de equipamentos, entre 1989 e 1991. Entre 1986 e 1989, foi servidor público na Coordenadoria de Projetos Especiais do Ministério da Marinha, COPESP, exercendo o cargo de Gerente de Projeto de Desenvolvimento do Circuito Primário de uma planta nuclear protótipo tipo PWR de aproximadamente 48 MW. Nesse período, foi responsável pela coordenação técnica e administrativa dos projetos conceituais básicos e executivos, envolvendo áreas de termo-hidráulica, mecânica, análise estrutural, blindagens nucleares, instrumentação, arranjo e integração, interface com controle de planta e programa experimental. Publicou 17 artigos em periódicos internacionais, quatro livros, além de contribuir com capítulos em outros seis livros, de autores distintos. Concluiu até o momento a orientação de 36 dissertações de mestrado e onze teses de doutorado. Supervisionou também trabalhos de pós-doutorado e iniciação científica. Participou de mais de 130 bancas examinadoras e dez bancas de comissões julgadoras. Foi agraciado com cerca de 10 prêmios e títulos. Participou, como convidado, de algumas dezenas de eventos e concedeu inúmeras entrevistas. Em 2008 recebeu, das mãos da Secretária Geral da Campanha ”O Petróleo é Nosso”, Maria Augusta Tibiriça, o título de “Membro Honorário da Associação de Engenheiros da Petrobras – AEPET”. É natural de Campina das Missões, RS, onde foi Presidente do Grêmio Estudantil Tiradentes, em 1969-70, Secretário Executivo do Sindicato de Trabalhadores Rurais 1971-74 e Goleiro do E.C. Cruzeiro, 1972-74, do qual é sócio-fundador, membro da Diretoria do EC Cruzeiro e do Clube Bela Vista.
Depois de falar à agência alemã Deutsche Welle, Sauer atendeu o Viomundo.
O ideal é ouvir a entrevista completa, logo abaixo.
ACHOU A GRAVAÇÃO? SÃO 30 MINUTOS DE ENTREVISTA?
Porém, em resumo, ele disse:
– Ninguém tem todo o dinheiro para bancar a exploração de Libra. As empresas Shell e Total vão ao mercado financeiro obter os recursos depois da certificação do petróleo existente em Libra, num papel que ele definiu como de “office-boy” da Petrobras. De fato, a Petrobras fará o trabalho pesado — tem tecnologia e conhecimento para isso. As parceiras terão, lá na frente, um lucro desproporcional ao investimento feito agora.
– O leilão foi um erro estratégico, pois junta num mesmo consórcio interesses antagônicos. Os chineses, assim como os norte-americanos, representam os interesses dos consumidores. Trabalham pelo menor preço possível do petróleo. Ao Brasil, segundo Sauer, não interessa uma produção acelerada que contribua para derrubar os preços, como está escrito na estratégia oficial de energia dos Estados Unidos.
– A ideia de que a presença dos chineses no consórcio protegeria o Brasil da IV Frota dos Estados Unidos é uma “piada”, segundo Sauer, já que os interesses de Estados Unidos e China, como grandes consumidores, são convergentes quando se trata do preço internacional do petróleo.
– Não dá para calcular, ainda, exatamente com quanto o Brasil ficará da produção de Libra. Por volta de 60%, segundo Sauer, quando o padrão internacional para empresas estatais é de 80% (no caso da PDVSA venezuelana e da Aramco, da Arábia Saudita). Seria diferente se, por exemplo, o governo tivesse optado por contratar a Petrobras diretamente, o que está previsto em lei. Na opinião de Sauer, houve um crime contra o Brasil, na medida em que o país buscou sócios para partilhar petróleo já descoberto. Em resumo, na opinião dele houve entreguismo equivalente à da venda da Vale do Rio Doce por Fernando Henrique Cardoso.
– Muito embora a juiza da ação tenha se negado a dar liminar, Sauer ainda acredita na possibilidade de cancelamento do leilão, na ação que move ao lado do professor Fabio Konder Comparato.
Quer ouvir apenas a explicação oficial? Ou apenas a da mídia corporativa? Se quer ouvir uma opinião diferente para ajudar a forma a sua, nos ajude assinando o Viomundo.
PETRÓLEO - A tabela que causou debate sobre o leilão.
FrancoAtirador: A tabela que causou debate sobre o leilão de Libra
Tabela da Agência Nacional do Petróleo que vai reger a partilha entre a União e o consórcio ganhador do leilão de Libra, inserida nos comentários pelo FrancoAtirador (trecho grifado pelo Viomundo do artigo abaixo fornece uma das explicações para ela). A existência da tabela é um dos argumentos do jurista Fabio Konder Comparato na ação que move contra o leilão (íntegra aqui).
A DÍVIDA E AS PRIVATIZAÇÕES: O LEILÃO DO CAMPO DE PETRÓLEO DE LIBRA
por Rodrigo Ávila
Economista da Auditoria Cidadã da Dívida – www.auditoriacidada.org.br
21/10/2013
Anteontem, o Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, declarou que “Não estamos privatizando o petróleo do pré sal, ao contrário, estamos nos apropriando dessa riqueza imensa que está abaixo do mar e no interior da terra. De nada nos servirá se ela continuar ali deitada em berço esplêndido”.
Porém, o Leilão do Campo de Petróleo de Libra, programado para hoje, é uma grande infâmia. Uma riqueza trilionária será entregue em troca de R$ 15 bilhões, para serem utilizados no pagamento da questionável dívida pública, que já deveria ter sido auditada há muito tempo, conforme manda a Constituição.
Como sempre, a justificativa para a privatização do patrimônio nacional é que o governo não possuiria recursos para os investimentos necessários à produção plena do Campo de Libra, que geraria “royalties” para as áreas sociais. Tal argumento omite que o governo federal destina cerca da metade dos recursos do orçamento para a questionável dívida pública.
É preciso ressalvar que os “royalties” – dos quais ¾ iriam para Educação e ¼ para a Saúde – equivalerão a apenas 15% da produção, e somente serão obtidos quando o Campo de Libra começar a operar plenamente, o que ocorrerá apenas por volta de 2019. Além do mais, cabe relembrarmos que o governo federal já não tem destinado os recursos dos royalties para as suas finalidades legais, mas em grande parte para o pagamento da questionável dívida pública, o que pode ocorrer novamente com o Campo de Libra.
Outro argumento oficial é que a União terá direito também a uma parcela do chamado “excedente em óleo”, ou seja, o lucro da exploração do petróleo, correspondente à renda total das petroleiras menos os custos de produção e o pagamento de royalties. Deste lucro, um percentual fica com o governo, e o restante fica com as petroleiras, sendo que ganhará o leilão aquela que oferecer um maior percentual para a União.
Recentemente, o governo anunciou que o percentual da União seria de, no mínimo, 41,65% do “excedente em óleo”. Porém, observando-se o Edital do leilão (págs 40 e 41), verifica-se que, a este valor ofertado pelas petroleiras, serão aplicados redutores de até 31,72%, fazendo com que a parcela da União possa cair para ínfimos 9,93%. Tais redutores variam de acordo com a produção média de cada poço do Campo de Libra, e do preço do petróleo no mercado internacional. Observando-se o cenário recente da produção de petróleo no Brasil, não é difícil que tal percentual ínfimo seja aplicado.[1]
Além do mais, é preciso relembrar que, do valor arrecadado pela União com esta parcela do “excedente em óleo”, apenas 50% serão destinados para as áreas sociais, pois a outra metade será destinada para aplicações financeiras, preferencialmente no exterior (por meio do chamado “Fundo Social”), e apenas o rendimento destas aplicações será aplicado nas áreas sociais. Se é que haverá rendimento, dadas as baixas taxas de juros no mercado internacional e a abundância de papéis que podem se mostrar “podres” da noite para o dia, em um ambiente de Crise Global.
Importante ressaltar também que a Petrobrás – que terá uma participação mínima de 30% no consórcio vencedor do leilão – já foi em grande parte privatizada, pois seu lucro é distribuído preponderantemente aos investidores privados, e a parcela pertencente à União deve ser utilizada obrigatoriamente para o pagamento da questionável dívida pública, conforme manda a Lei 9.530/1997.
Portanto, quando estudamos com alguma profundidade as reais condições do leilão, verificamos, mais uma vez, que seus grandes beneficiários são as petroleiras e os rentistas da dívida pública.
[1] Ver o estudo “DISPUTA PELO LUCRO DO PRÉ-SAL E O CANCELAMENTO DA LICITAÇÃO DE LIBRA”, de Paulo César Ribeiro Lima, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados, no item “Conclusões”.
PETRÓLEO - EUA não vislumbram o fim da era do petróleo
EUA não vislumbram o fim da era do petróleo
por Heloisa Villela, de Nova York
Quarenta anos depois do primeiro choque do petróleo — o embargo que provocou o caos na distribuição de gasolina e na economia dos Estados Unidos nos anos 70 –, o país volta a discutir a dependência do combustível e, consequentemente, a relação com os grandes produtores.
Agora sob nova ótica: a possibilidade de autossuficiência graças ao aumento da produção propiciado pelo fraturamento hidráulico, conhecido como fracking, uma tecnologia de consequências no mínimo discutíveis.
Proibida na França, discutida na Grã-Bretanha e no Canadá, motivo de protestos no mundo inteiro, a tecnologia foi adotada rapidamente nos Estados Unidos.
A produção aumentou tanto que o país já ultrapassou a Rússia, este ano, e assumiu a liderança mundial na produção conjunta de petróleo e gás natural.
Segundo dados do governo, a produção doméstica de petróleo pode chegar a 8,4 milhões de barris por dia no ano que vem, quase o mesmo nível da Arábia Saudita.
Quatro décadas separam a possibilidade da autossuficiência dos tempos do embargo.
Nesse período, a política energética e a necessidade de garantir a oferta do combustível comandaram as ações externas do país. E ainda preocupam.
Empresários, representantes das Forças Armadas e ex-funcionários do governo norte-americano se reuniram, na semana passada, para discutir o tema no seminário “Embargo da OPEP + 40: Seminário Nacional sobre Segurança Energética”.
Pela composição das mesas se viu não só a importância do assunto para o país, mas ficou claro que o tema é política de Estado, não de partidos.
Entre os palestrantes estavam os presidentes da GE e do Fedex, os ex-secretários de estado Henry Kissinger e Madeleine Albright, os ex-secretários de defesa Leon Panetta e James Schlesinger, além do general James Conway e do almirante Dennis Blair.
Kissinger era secretário de Estado em 1973, durante o primeiro choque do petróleo, e disse que nos anos seguintes ao embargo “não se podia fazer planos no Oriente Médio sem levar em conta o mercado do petróleo”.
Naquela época, a produção americana estava em queda. Os poços do Texas estavam secando. O país passou a importar o dobro do que comprava do exterior, se tornando ainda mais dependente dos produtores do Oriente Médio.
Quando eles declararam o embargo, o preço do combustível quadruplicou nos Estados Unidos. Racionamento, fila nos postos de gasolina…
Este é o retrato dos anos Carter.
Segundo Henry Kissinger, essa dependência em relação ao Oriente Médio está mudando agora, por causa do aumento da produção de combustíveis nos Estados Unidos.
“A redução da distância entre oferta e demanda na América do Norte tem consequências estratégicas gigantescas”, afirmou.
O almirante Blair acredita que os Estados Unidos poderão se distanciar um pouco dos conflitos no Oriente Médio, mantendo tropas nas redondezas caso sejam necessárias em uma situação de crise.
Um relatório do Citigroup, divulgado no começo do ano, diz até que pode haver um pouco mais de tensão nas relações dos Estados Unidos com países como a Arábia Saudita, por conta de princípios democráticos, agora que o país depende menos do petróleo do Oriente Médio.
O grande sonho dos Estados Unidos é solapar o poder da Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP). Mas, ao mesmo tempo, Washington precisa manter boas relações com a organização.
Os políticos norte-americanos tentaram comprar briga com a OPEP no passado. Aprovaram uma lei no Congresso para permitir que a organização fosse processada, nos Estados Unidos, por formação de cartel.
A lei, aprovada na Câmara e no Senado em 2007, dava ao Departamento de Justiça o direito de processar a OPEP, mas o então presidente George Bush avisou que vetaria qualquer medida nessa linha porque incitaria uma retaliação contra negócios norte-americanos no exterior e afetaria as relações dos Estados Unidos com os países produtores de petróleo.
O jogo é complicado e declarar independência política com relação ao Oriente Médio agora, com o aumento da produção interna, parece precipitado.
A dependência do petróleo externo é menor, mas não desapareceu. No longo prazo, o interesse estratégico e a garantia de fornecimento futuro exige a formação de reservas. A perspectiva de autossuficiência não é assim tão simples.
Enquanto o preço do barril de petróleo estiver na casa dos US$ 100, como está agora, compensa explorar óleo e gás de xisto com o fracking, uma técnica cara. Mas se o preço cair, o fracking se tornará economicamente inviável. Basta a Arábia Saudita abrir a torneira para mudar os preços no mercado internacional.
Em 2005, os Estados Unidos importaram 60% do petróleo consumido no país. Hoje, importam 40%.
Uma queda boa, mas falta um bocado para a autossuficiência. Por isso mesmo, o jogo de xadrez com o Oriente Médio vai continuar.
A maioria absoluta dos analistas e economistas norte-americanos descreve o choque do petróleo dos anos 70 como represália ao apoio dos Estados Unidos a Israel durante guerra do Yom Kippur.
O economista político nova-iorquino Rob Urie discorda, como deixou claro no site Counterpunch:
“Os choques do petróleo dos anos 70 foram vendidos como sendo de natureza geopolítica. O primeiro, em 1973, até foi chamado de ‘embargo do petróleo árabe’ apesar de o Irã, até aquele momento um estado cliente dos EUA, e a Venezuela, serem os principais membros da OPEP a favor do embargo e nenhum dos dois ter um grande problema com as relações Israel-EUA. As multinacionais do petróleo baseadas nos Estados Unidos foram os atores principais que mantiveram o petróleo fora do mercado para fazer com que os preços subissem. O que ficou demonstrado com os embargos foi o efeito que o acesso limitado ao óleo tinha nas economias industriais do Ocidente, que foram estruturadas para serem totalmente dependentes de ofertas plenas e de baixo custo”.
Urie diz que o problema, nos Estados Unidos, está na origem, no modelo de desenvolvimento.
“O capitalismo, até onde o termo faz uma descrição precisa, é uma política econômica que construiu este mundo no qual a ‘energia’ desempenha o papel econômico que tem. No começo do século XX um grupo de industriais fez lobby junto a governos locais para destruir o transporte coletivo que existia e assim poderem vender carros, pneus, gasolina e estradas. A última discussão séria a respeito da conservação de energia nos Estados Unidos aconteceu quando Jimmy Carter estava na Casa Branca. Em meio à guerra mais recente dos Estados Unidos no Iraque, a administração George W. Bush aprovou uma subsídio para incentivar as empresas a comprarem os carros que mais bebem gasolina no planeta – os Hummers. O aquecimento global provocado pela queima de combustíveis fósseis ameaça a existência da vida no planeta. Para falar de outra maneira, mais de um milhão de pessoas morreram no Iraque para que ‘nós’ no Ocidente pudéssemos dirigir nossos SUVs. E o Iraque foi apenas uma das guerras travadas pelos Estados Unidos por causa do petróleo”.
PETRÓLEO - Carlos Lessa e o leilão de Libra.
Carlos Newton
O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES no primeiro governo Lula e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está perplexo com o descaso da grande mídia no tocante ao polêmico leilão do Campo de Libra, realizado segunda-feira.
“Ao contrário dos que se propaga nos jornais, nas rádios e nas televisões, a questão judicial referente ao leilão ainda não está esgotada. Das 23 ações apresentadas, seis delas foram aceitas pela Justiça e estão tramitando. O que os juízes não aceitaram foram os pedidos de liminar para suspender o leilão. Mas nada impede que uma dessas seis ações seja vitoriosa e anule o leilão” – explica Lessa, que desde o início se colocou contra a decisão do governo e fez questão de prestigiar a manifestação de protesto diante do hotel onde foi realizado o leilão, na segunda-feira.
“Compareci ao ato vestido de preto, porque quando jovem participei da campanha “O Petróleo é Nosso” e nunca imaginei que alguma dia fosse participar do velório da Petrobras”, acrescenta o professor de Economia.
FAVORECIMENTO
Na opinião de Carlos Lessa, o governo do PT adotou totalmente a filosofia do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, que só não privatizou a Petrobras devido à forte reação que imediatamente surgiu.”Até o nome da Petrobras os tucanos tentaram mudar”, lembra.
O ex-presidente do BNDES destaca que a empresa francesa Total só entrou no leilão depois que o governo anunciou a nomeação de um tucano para presidir a nova estatal Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA), criada para coordenar a gestão e fiscalizar a exploração de petróleo dos campos do pré-sal no regime de partilha.
“Somente depois de anunciado o nome do engenheiro Oswaldo Pedrosa é que a Total decidiu participar”, diz Lessa, lembrando que Pedrosa era o segundo nome da Agência Nacional de Petróleo no governo FHC, logo abaixo do genro do então presidente da República.
Lessa estranha também que a grande mídia não tenha dado destaque ao fato de que a greve dos petroleiros não era apenas visando aumento de salários, mas também contra o leilão do Campo de Libra e contra a terceirização que avança na Petrobras, onde já trabalham mais de 300 mil pessoas nessa condição de subemprego.
PETRÓLEO -Economistas que privatizaram Vale deveriam se envergonhar de criticar Libra
Economia
Jornal do Brasil
O Campo de Libra foi vendido por R$ 15 bilhões e demandará um investimento inicial de R$ 770 milhões por ano apenas para dar início à montagem de sua estrutura para exploração de petróleo no pré-sal. Esses investimentos durarão alguns anos até que a extração esteja a todo o vapor.
Este pesado investimento inicial se multiplicará no Brasil, resultando em criação de empregos e literalmente injetando combustível no desenvolvimento industrial, naval e de infraestrutura.
Quando a Vale do Rio Doce foi privatizada, em 1997, era uma empresa saudável, que não precisava de investimento e gerava lucro. Na ocasião, ela custou cerca de R$ 3,3 bilhões, o que equivaleria hoje a R$ 12,2 bilhões. Quem a adquiriu obteve retornos magníficos, com o valor do minério saltando de US$ 15 para US$ 120 a tonelada. Seu valor de mercado atualmente é de R$ 183 bilhões.
Leilão do Campo de Libra é concretizado. Injeção de R$ 15 bilhões
Contudo, a Vale privatizada não seguiu os mesmos trilhos da projeção de seus números, pelo menos no que diz respeito à geração de empregos. Não foram poucas as demissões - 1.300 em 2008 -, que levaram inclusive o então presidente Lula a reagir energicamente.
Os homens da época deveriam se envergonhar de, hoje, falar em privatização quando se referem ao leilão de Libra. O país deveria cobrar o fim da vida pública desses homens pelas depredações que fizeram no patrimônio nacional.
Citamos a Vale porque não queremos fazer aproximações com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), vendida em 1993 a R$ 1,2 bilhão, valor que hoje equivale a aproximadamente R$ 5 bilhões, e cujo atual valor de mercado é de R$ 17 bilhões.
Ou mesmo com a Light, vendida em 1996 por cerca de R$ 2,2 bilhões, que corrigidos dariam R$ 8,8 bilhões, e cujo valor de mercado atual é de R$ 4 bilhões. Hoje, os dividendos dos lucros distribuídos aos acionistas somados ao atual valor de mercado da empresa ultrapassam estes R$ 8,8 bilhões. Vale lembrar também que, recentemente, uma participação pequena da empresa foi negociada a R$ 2 bilhões.
Ou ainda da Telebrás, privatizada em 1998, quando foi vendida por cerca de R$ 22 bilhões, valor que hoje equivale a R$ 76 bilhões. Somente a Telefônica, que integrava o grupo da Telebrás, vale hoje no mercado R$ 54 bilhões.
Lamentavelmente, as últimas manifestações públicas do FMI - a quem o Brasil já foi devedor e hoje é credor, graças a empréstimos feitos no governo Lula - nos permite imaginar que há um início de tentativa de forçar agências de risco a preparar, por razões políticas, um rebaixamento da nota do Brasil
Jornal do Brasil
O Campo de Libra foi vendido por R$ 15 bilhões e demandará um investimento inicial de R$ 770 milhões por ano apenas para dar início à montagem de sua estrutura para exploração de petróleo no pré-sal. Esses investimentos durarão alguns anos até que a extração esteja a todo o vapor.
Este pesado investimento inicial se multiplicará no Brasil, resultando em criação de empregos e literalmente injetando combustível no desenvolvimento industrial, naval e de infraestrutura.
Quando a Vale do Rio Doce foi privatizada, em 1997, era uma empresa saudável, que não precisava de investimento e gerava lucro. Na ocasião, ela custou cerca de R$ 3,3 bilhões, o que equivaleria hoje a R$ 12,2 bilhões. Quem a adquiriu obteve retornos magníficos, com o valor do minério saltando de US$ 15 para US$ 120 a tonelada. Seu valor de mercado atualmente é de R$ 183 bilhões.
Leilão do Campo de Libra é concretizado. Injeção de R$ 15 bilhões
Contudo, a Vale privatizada não seguiu os mesmos trilhos da projeção de seus números, pelo menos no que diz respeito à geração de empregos. Não foram poucas as demissões - 1.300 em 2008 -, que levaram inclusive o então presidente Lula a reagir energicamente.
Os homens da época deveriam se envergonhar de, hoje, falar em privatização quando se referem ao leilão de Libra. O país deveria cobrar o fim da vida pública desses homens pelas depredações que fizeram no patrimônio nacional.
Citamos a Vale porque não queremos fazer aproximações com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), vendida em 1993 a R$ 1,2 bilhão, valor que hoje equivale a aproximadamente R$ 5 bilhões, e cujo atual valor de mercado é de R$ 17 bilhões.
Ou mesmo com a Light, vendida em 1996 por cerca de R$ 2,2 bilhões, que corrigidos dariam R$ 8,8 bilhões, e cujo valor de mercado atual é de R$ 4 bilhões. Hoje, os dividendos dos lucros distribuídos aos acionistas somados ao atual valor de mercado da empresa ultrapassam estes R$ 8,8 bilhões. Vale lembrar também que, recentemente, uma participação pequena da empresa foi negociada a R$ 2 bilhões.
Ou ainda da Telebrás, privatizada em 1998, quando foi vendida por cerca de R$ 22 bilhões, valor que hoje equivale a R$ 76 bilhões. Somente a Telefônica, que integrava o grupo da Telebrás, vale hoje no mercado R$ 54 bilhões.
Lamentavelmente, as últimas manifestações públicas do FMI - a quem o Brasil já foi devedor e hoje é credor, graças a empréstimos feitos no governo Lula - nos permite imaginar que há um início de tentativa de forçar agências de risco a preparar, por razões políticas, um rebaixamento da nota do Brasil
PETRÓLEO - Em 35 anos, pré-sal vai nos deixar a todos mais ricos?
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2013.
Se as contas da presidente Dilma Rousseff estiverem todas certas, o tesouro do pré-sal leiloado nesta segunda-feira vai render "o fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão. Repito: mais de 1 trilhão!" ao país, nos 35 anos de exploração do campo de Libra, como ela anunciou solenemente em cadeia nacional de rádio e televisão logo após a assinatura dos contratos.
Tenho algumas dúvidas se a presidente e eu, que temos a mesma idade, vamos viver até lá, para conferirmos o acerto ou não das suas previsões. Afinal, em 2048, estaremos (ou estaríamos...) completando exatamente 100 anos de idade.
Como a expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando ano a ano, quem sabe?
Seja como for, apesar da onda de pessimismo que assola o país, estimulada por sábios da economia e magos das finanças, a maioria deles ex-colaboradores ou admiradores midiáticos do governo de Fernando Henrique Cardoso, que nem são tantos, mas fazem um barulho danado, como os torcedores da Portuguesa, apesar deles, como eu ia dizendo, o leilão do pré-sal só nos dá motivos de otimismo e esperança de vivermos num país melhor sem termos que sair do Brasil.
Basta ver quem foi contra o leilão, para se ter certeza de que o governo acertou no formato de partilha adotado pela primeira vez na exploração de petróleo no país. Além da Petrobras, quatro das maiores petroleiras do mundo, a Shell, a Total e duas estatais chinesas, se uniram para formar um superconsórcio que renderá ao Brasil 85% de toda a renda produzida por Libra.
Após o anúncio do resultado do leilão, as ações da Petrobras dispararam na Bolsa de Valores, mostrando que o mercado _ o sagrado mercado! _ ficou contente, mesmo com o ágio mínimo a ser pago pelo único consórcio que apresentou proposta.
Só restou ao principal líder da oposição, o tucano Aécio Neves, criticar o leilão por ter sido "tardio e envergonhado", e reclamar que a presidente Dilma utilizou mais uma vez a rede nacional de rádio e televisão para falar de ações do seu governo. Queria o quê? Que ela agradecesse a valiosa contribuição dada pela oposição e pela mídia amiga?
Dilma ainda aproveitou para lembrar que irão para a Educação 75% dos royalties e do excedente de óleo de Libra. Os outros 25% serão investidos em Saúde. Os primeiros barris de Libra ainda vão levar cinco anos para saírem do fundo do mar, mas os ganhos para o país, nas mais diferentes áreas da economia, serão imediatos, com a geração de milhares de empregos e as encomendas para a indústria nacional de 12 a 18 megaplataformas, barcos, gasodutos e demais linhas de produção ligadas à área do petróleo.
Feliz com o desfecho pacífico da história, apesar de alguns corre-corres e arranca-rabos entre manifestantes e policiais diante do hotel na Barra da Tijuca onde foi promovido o leilão, Dilma encerrou seu pronunciamento de dez minutos na TV, lembrando que "a batida do martelo foi também a batida à porta de um grande futuro que se abre para nós, nossos filhos e nossos netos".
Para quem ainda é jovem e tem um pouco de paciência, o que aconteceu ontem pode mesmo ser um divisor de águas na nossa história, o início de um novo tempo no "país do futuro", que finalmente chegou. Não basta o petróleo ser nosso: era preciso ter coragem para captar os recursos necessários, aqui dentro e lá fora, estatais ou privados, para tirar o tesouro das profundezas do mar e colocá-lo a serviço de uma vida melhor para todos os brasileiros.
E o caro leitor do Balaio, o que achou de tudo isso? Mande sua opinião porque, como escrevi na coluna de ontem, não quero ser o dono da verdade.
A sorte está lançada. Na sua opinião, nós ganhamos ou perdemos?
PETRÓLEO - A despedida do Emmanuel Cancella do PT.
Enviado por Caio Toledo, via e-mail
À Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores, PT
C/C À direção Municipal e Estadual do PT do Rio de Janeiro
É com tristeza que me despeço dos companheiros! Durante décadas ajudei a construir o PT. Dediquei grande parte de minha vida ao partido, e o único partido ao qual me filiei. Nunca tive cargo no partido e em nenhuma empresa e governo, como também nunca o desejei. Que fique claro que não tenho nada contra quem ocupa cargos, muito pelo contrário, acho legítimo! O leilão de Libra, para mim, é a gota dagua que faltava para me afastar definitivamente de um partido que, a cada dia, se torna mais entreguista e neoliberal.
O Partido dos Trabalhadores se coloca agora contra uma das principais bandeiras do povo brasileiro, o qual foi para as ruas na década de 40 e 50, na campanha “O petróleo é Nosso!”, a maior campanha cívica que este país conheceu! Continuarei a participar ativamente dos movimentos sindicais e sociais, mas não posso levar nas costas o peso de um partido que tão importante para a organização da classe trabalhadora e a democratização do país, transformando-se hoje num partido burguês, a serviço do grande capital dos patrões e a defender privatizações, com ajuda até do exército, diga-se de passagem.
Como se não bastasse, o PT continua a defender o governador do Rio, Sérgio Cabral, símbolo da corrupção no país, e apóia também o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Sérgio Cabral e Eduardo Paes mandaram a PM bater em professores! Não dá para um militante socialista, com o mínimo de dignidade e de compromisso com a classe trabalhadora e a soberania de nosso país, continuar no PT.
Levo saudades de muitos companheiros. Muitos dependem do partido para sobreviver, esqueceram-se da vida e se dedicaram integralmente ao partido e hoje são reféns dessa política. Outros que merecem nosso respeito são aqueles que tentam mudar o partido por dentro. Honestamente, para mim não dá mais! Muitos dirão:” já vai tarde…,..mas ele já não tinha saído do partido?” Com certeza, muitos destes são os grandes culpados pela deterioração das políticas do PT.
Saudações Socialistas,
Rio de Janeiro, 19 de outubro de 2013.
Emanuel J. A. Cancella
Secretário-Geral do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional do Federação Única dos Petroleiros
PETRÓLEO - Serra e o leilão de Libra.
Copiado do blog Democracia&Política
"O blog “Tijolaço” lembra que ele ia entregar tudo à norte-americana Chevron por um preço da Vale…
SERRA, CLARO, CRITICA O LEILÃO. NÃO VAI DAR PARA CUMPRIR O PROMETIDO À CHEVRON
O ex-governador José Serra atacou violentamente o leilão do campo de Libra.
Nada mais esperado.
Afinal, Serra prometeu à senhora Patrícia Pradal, dirigente da petroleira americana Chevron, fazer o pré-sal retornar ao modelo de concessão de Fernando Henrique Cardoso, segundo revelou a "Folha", a partir de telegramas secretos da embaixada americana obtidos pelo Wikileaks:
"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.
Serra, como se viu no caso do documento em que prometia cumprir o mandato de prefeito até o final, é um homem de palavra. Gosta de prometer e não cumprir.
O tucano, que entende do assunto, classificou como cartel a ausência de concorrentes no leilão e disse que o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em cadeia de TV e rádio teve objetivo apenas “publicitário”.
O mais curioso é que, apesar de dizer isso, afirmou que ”refez as contas apresentadas pela presidente Dilma Rousseff sobre as receitas da exploração do petróleo e que o percentual cai de 85% para 75%”.
Qual é o escândalo, já que a Presidenta disse exatamente isso, que eram 75% para a União e 10% para a Petrobras?
O que Serra não disse – e não pode dizer – é que o modelo de Fernando Henrique daria um valor pelo menos 15% menor ao Governo Brasileiro. E 15% em um trilhão de dólares são a bagatela de R$ 330 bilhões.
Mas é bom que Serra – que foi, nas palavras do próprio FHC, o grande privatizador da Vale – tenha falado.
Assim, esclarece o povo brasileiro.
Que sabe a quem ele defende."
Clique aqui para ver os cálculos do Fernando Brito sobre a diferença entre o que o Brasil ganhou com a partilha, comparado com o que ganharia se fosse no regime dos privateiros.
FONTE: escrito por Fernando Brito no seu blog "Tijolaço" e transcrito no portal "Conversa Afiada" (http://www.conversaafiada.com.br/politica/2013/10/24/cerra-critica-leilao-de-libra-oba/).
JOSÉ SERRA CRITICA LEILÃO DE LIBRA. OBA !
"O blog “Tijolaço” lembra que ele ia entregar tudo à norte-americana Chevron por um preço da Vale…
SERRA, CLARO, CRITICA O LEILÃO. NÃO VAI DAR PARA CUMPRIR O PROMETIDO À CHEVRON
O ex-governador José Serra atacou violentamente o leilão do campo de Libra.
Nada mais esperado.
Afinal, Serra prometeu à senhora Patrícia Pradal, dirigente da petroleira americana Chevron, fazer o pré-sal retornar ao modelo de concessão de Fernando Henrique Cardoso, segundo revelou a "Folha", a partir de telegramas secretos da embaixada americana obtidos pelo Wikileaks:
"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.
Serra, como se viu no caso do documento em que prometia cumprir o mandato de prefeito até o final, é um homem de palavra. Gosta de prometer e não cumprir.
O tucano, que entende do assunto, classificou como cartel a ausência de concorrentes no leilão e disse que o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em cadeia de TV e rádio teve objetivo apenas “publicitário”.
O mais curioso é que, apesar de dizer isso, afirmou que ”refez as contas apresentadas pela presidente Dilma Rousseff sobre as receitas da exploração do petróleo e que o percentual cai de 85% para 75%”.
Qual é o escândalo, já que a Presidenta disse exatamente isso, que eram 75% para a União e 10% para a Petrobras?
O que Serra não disse – e não pode dizer – é que o modelo de Fernando Henrique daria um valor pelo menos 15% menor ao Governo Brasileiro. E 15% em um trilhão de dólares são a bagatela de R$ 330 bilhões.
Mas é bom que Serra – que foi, nas palavras do próprio FHC, o grande privatizador da Vale – tenha falado.
Assim, esclarece o povo brasileiro.
Que sabe a quem ele defende."
Clique aqui para ver os cálculos do Fernando Brito sobre a diferença entre o que o Brasil ganhou com a partilha, comparado com o que ganharia se fosse no regime dos privateiros.
FONTE: escrito por Fernando Brito no seu blog "Tijolaço" e transcrito no portal "Conversa Afiada" (http://www.conversaafiada.com.br/politica/2013/10/24/cerra-critica-leilao-de-libra-oba/).
PETRÓLEO - Consórcio de Libra reúne condições financeiras e tecnológicas para o sucesso
O discurso da presidenta Dilma Rousseff ontem sobre o leilão do Campo de Libra expressa bem o importante resultado obtido. Ela disse que há um “equilíbrio justo” entre os interesses do Estado e as empresas que vão explorar e produzir o petróleo.
“Pelos resultados do leilão, 85% de toda a renda a ser produzida no Campo de Libra vão pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobras. Isso é bem diferente de privatização”, afirmou.
O consórcio coloca a segunda e a terceira maiores empresas do mundo – respectivamente a CNPC, que controla a Petrochina, e a Shell – juntas com a Petrobras, a Total e a CNOOC. Isso reúne condições financeiras e tecnológicas, experiência e competência para explorar essa super-reserva.
Como disse a presidenta, a participação do Estado brasileiro na renda do petróleo a ser extraído merece ser destacado. A destinação desses recursos para a educação e a saúde terá consequências diretas para o nosso desenvolvimento, como já havíamos dito neste blog.
Não há nem desnacionalização e nem privatização. Não exportaremos apenas óleo bruto. Estão em construção três super-refinarias e temos uma indústria petroquímica em condições de crescer. Haverá um efeito em cadeia por toda a indústria de petróleo e gás, de energia.
Os investimentos são gigantescos e a aplicação dos ganhos do petróleo em saúde, educação e inovação estão garantidos por lei.
PETRÓLEO - O doce pré-sal.
"Não há riscos econômicos no leilão do Campo de Libra. A Petrobras já preparou tudo em minuciosas prospecções primárias e cálculos matemáticos. Só há riscos ambientais, ainda insolúveis, pois ninguém nunca extraiu petróleo a tal profundidade. O desafio brutal está aí, em ameaça à vida do oceano e do planeta, mas o leilão nem viu. O$ leiloeiro$ $ó pen$aram no dinheiro. Se um vazamento de óleo (da caldeira de um hospital) se espalha agora pelo lago de Brasília, junto ao Palácio da Alvorada, o que pensar de Libra?", escreve Flávio Tavares, jornalista, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 20-10-2013.
Segundo ele, "Exército e Força Nacional vão “garantir o leilão” que entregará nosso petróleo ao alheio. Nos anos 1950, a luta de “o petróleo é nosso” (que criou a Petrobras) era “subversão comunista” e levava à prisão. No doce pré-sal atual, regredimos aos anos amargos?"
Eis o artigo.
A quem pertence o petróleo do nosso pré-sal? Faço-me esta pergunta com angústia pelas manhãs, ao me levantar e abrir a janela. Da minha casa, no litoral da região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, diviso as águas que, lá longe, cobrem o Campo de Libra na imensidão do nosso mar territorial. Ali, na chamada Bacia Santista, entre sete e 10 mil metros de profundidade, abaixo das capas de sal, há milhões de anos se esconde o maior campo petrolífero do planeta. A Petrobras pesquisou e demarcou a área de extração 1.500 quilômetros quadrados, com reservas entre 12 e 14 bilhões de barris de óleo, mais do que o total extraído até hoje no Brasil, em 60 anos. Ou mais do que todas as reservas do México, grande produtor mundial.
Tudo isto, toda a riqueza de todo o Campo de Libra vai a leilão agora, disputada por 11 empresas estrangeiras, além da própria Petrobras. A melhor oferta leva o antecipado peru de Natal. Empresas da China, Japão, Índia, Malásia e Colômbia disputam com a anglo-holandesa Shell, a francesa Total, a portuguesa Petrogal e a espanhola Repsol.
Não há riscos econômicos. A Petrobras já preparou tudo em minuciosas prospecções primárias e cálculos matemáticos. Só há riscos ambientais, ainda insolúveis, pois ninguém nunca extraiu petróleo a tal profundidade. O desafio brutal está aí, em ameaça à vida do oceano e do planeta, mas o leilão nem viu. O$ leiloeiro$ $ó pen$aram no dinheiro.
Se um vazamento de óleo (da caldeira de um hospital) se espalha agora pelo lago de Brasília, junto ao Palácio da Alvorada, o que pensar de Libra?
É justo leiloar a riqueza de toda a nação? Ou entregar um patrimônio nobre e único da natureza à cobiça, cuja única pátria é o lucro?
O petróleo é riqueza não renovável. Não se planta hoje e se colhe amanhã. Ao contrário: o que se extrai, se esvai. Os previdentes, como os Estados Unidos, importam 60% do consumo para não tocar nas “reservas estratégicas” do Texas, patrimônio do futuro. Os outros, como nós, esbanjam eufóricos...
O vencedor do leilão pagará a concessão da área à União com a metade do petróleo extraído. Para compensar danos e despesas com obras públicas, pagará 15% de “royalties”, divididos por igual entre União, Estados e municípios. Dos 5% do governo federal, um terço irá para a Saúde e dois terços para a Educação. Os 10% dos Estados e municípios (sem destino específico) ficam para a farra dos políticos e só resta rezar pelos governadores e prefeitos...
O petróleo é o elemento mais cobiçado da sociedade moderna. Só a água está acima, como necessidade permanente e imprescindível. Mas nem a água, ligada à vida do planeta, gera tanta disputa ou mobiliza tanto poder. Estão aí as guerras e matanças que o petróleo engendrou!
Em tudo do cotidiano, lá está ele, não só nos carros e na poluição do ar. Há petróleo na roupa que vestimos, no asfalto das ruas, nas mil variedades de plásticos e poliésteres – da prótese médica à estrutura de um edifício. Até o sabor dos alimentos industrializados se dá a partir do petróleo.
Na greve de protesto da Petrobras, os engenheiros argumentam que o leilão “é ilegal”, pois a lei diz que as áreas estratégicas são da empresa. “Área estratégica” é a de baixo risco e alta produtividade, caso exato de Libra, sem riscos e tudo já demarcado no maior campo do mundo!
Agora, Exército e Força Nacional vão “garantir o leilão” que entregará nosso petróleo ao alheio. Nos anos 1950, a luta de “o petróleo é nosso” (que criou a Petrobras) era “subversão comunista” e levava à prisão. No doce pré-sal atual, regredimos aos anos amargos?
PETRÓLEO - "Chineses vão lucrar muito e ainda garantir suprimento seguro de petróleo.
Ildo Sauer: Chineses vão lucrar muito e ainda garantir suprimento seguro de petróleo
‘Governo está promovendo, com o pré-sal, a maior privatização e entrega da história’
VALÉRIA NADER E GABRIEL BRITO, no Correio da Cidadania, em 16.10.2013
Acompanhar a realidade brasileira e as narrativas sobre ela tem sido uma experiência complexa.
Em um dia, e por um lado, aparecem, nas grandes mídias, notícias que destacam um crescimento do emprego e do rendimento do trabalho em alguns meses, a perda de fôlego na subida da inflação e até mesmo a recuperação da aprovação ao atual governo diante da queda bombástica da mesma após as manifestações de junho.
Até aí, estamos frente a um cenário bem tranquilo no Brasil, bom para o governo e para a população.
Em outros dias, e por outro lado, são os mesmos veículos a destacarem os grandes insucessos com que tem se deparado o governo, em face, especialmente, da desistência do leilão do pré-sal pelas grandes corporações do petróleo mundial e da baixa adesão de concorrentes para as concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos — o que seriam consequências de um Estado dirigista e de condições escorchantes impostas aos grupos privados.
Tantas meias-verdades, quando não grosseiras manipulações, inserem-se e decorrem de contexto em que já está acirrado o debate eleitoral (faltando ainda quase um ano para o próximo pleito presidencial) e no qual grandes infraestruturas econômicas (ou o que restou delas) estão novamente no olho de uma acirrada disputa intercapitalista.
Para comentar e analisar estes fatos, o Correio da Cidadania conversou com o engenheiro e professor da USP Ildo Sauer, ex-diretor de energia e gás da Petrobras no mandato de Lula.
Em uma conversa que forçosamente teve início pelo primeiro e próximo leilão do pré-sal – do qual os atuais mandatários parecem que não vão arredar pé, a despeito de tantos clamores em contrário, de movimentos sociais até reconhecidos técnicos e estudiosos do setor –, o engenheiro utilizou de sua costumeira lucidez e contundência.
Os grandes atores capitalistas que têm ganhado espaço no Brasil nas últimas gestões, desde FHC, passando por Lula, e agora com Dilma, serão, segundo Ildo, novamente contemplados no setor do petróleo.
Um processo que se revigora a cada nova investida, e sob a guarda principal do BNDES,
Para o engenheiro, “esse hibridismo do projeto fernandista com o projeto lulista/dilmista coloca um contexto no qual o governo, agora, promove o leilão parcial do petróleo já encontrado, coisa que nenhum país do mundo faz”.
É ainda enfático ao dizer que “vender petróleo já descoberto, em leilão, sem quantificar exatamente seu valor, é uma inovação absolutamente estarrecedora, criada por este governo, inspirado na legislação do modelo de partilha, proposto em 2002, como um avanço em relação às concessões, quando ainda persistia um risco grande em relação aos modelos geológicos. Porém, quando o pré-sal foi confirmado (uma teoria de décadas, que só pôde ser comprovada com o avanço da geofísica e dos novos modelos computacionais, nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007 na Petrobras), o modelo de partilha foi superado, já ali”.
A primeira parte da entrevista pode ser lida a seguir. Na segunda parte, que será em breve publicada, prossegue-se com o enfoque de outros setores que passam por lógica de reestruturação semelhante à do petróleo e com uma avaliação do cenário eleitoral.
Correio da Cidadania: Na última entrevista que nos concedeu, você afirmava que o governo Lula “assumiu toda a herança de FHC da dependência associada, da hegemonia financeira no país, de setores privatizados” e que o governo Dilma trata de “destruir tudo que ainda resta de capacidade de planejamento público”. A insistência do governo no próximo leilão de petróleo, no campo de Libra, na área do Pré-Sal, apesar de tantos clamores em contrário, são uma evidência dessa constatação?
Ildo Sauer: Com certeza, sim. A atitude do governo Dilma Rousseff, sucedendo o governo Lula da Silva, confirma, lamentavelmente, a metamorfose no caráter daquilo que foi proposto na campanha de 2002, colocando os governos do PT como sequência natural aos governos neoliberais tucanos.
Se os primeiros aprofundaram a dependência associada, os governos do PT a mantiveram e acrescentaram alguns conceitos, que eu diria inspirados na visão da CEPAL, para criar os chamados “campeões nacionais”.
Às custas do BNDES e outras garantias vindas do sistema público estatal, puderam se transformar em grandes atores capitalistas, no Brasil, na América Latina, na África e no mundo.
Está aí o projeto: os frigoríficos, com a JBS-Friboi; as telecomunicações, com a Andrade Gutierrez; as redes elétricas, com a Camargo Correa; a petroquímica, com a Braskem, do grupo Odebrecht; os biocombustíveis, com o grupo Odebrecht e outros, no Brasil e na África. Todas essas empresas têm os fundos de pensão e empresas estatais como uma espécie de apoio e muleta para os projetos.
Assim, esse hibridismo do projeto fernandista com o projeto lulista/dilmista coloca um contexto no qual o governo, agora, promove o leilão parcial do petróleo já encontrado, coisa que nenhum país do mundo faz.
Vender petróleo já descoberto, em leilão, sem quantificar exatamente seu valor, é uma inovação absolutamente estarrecedora, criada por este governo, inspirado na legislação do modelo de partilha, proposto em 2002, como um avanço em relação às concessões, quando ainda persistia um risco grande em relação aos modelos geológicos.
Porém, quando o pré-sal foi confirmado (uma teoria de décadas, que só pôde ser comprovada com o avanço da geofísica e dos novos modelos computacionais, nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007 na Petrobras), o modelo de partilha foi superado, já ali.
No estágio em que nos encontramos, depois que o modelo geológico do pré-sal foi confirmado, com uma nova e imensa província petrolífera confirmada, o normal, em qualquer país do mundo, seria delimitar o volume de petróleo envolvido e eventualmente até certificar tal volume. Depois, definir uma estratégia, o que não foi feito.
Por exemplo: na Arábia Saudita, Venezuela, Irã, Iraque, e em todos aqueles campos onde há fortes indícios de petróleo, é feita uma conclusão do processo exploratório – chama-se assim tecnicamente – que permite confirmar o volume envolvido, pra daí definir uma estratégia em relação ao ritmo de produção.
E se o volume for muito grande, como o caso brasileiro indica, coordena-se com os demais países produtores, no sentido de garantir que o preço do petróleo possa ser mantido num patamar elevado, gerando mais riqueza para os países produtores.
Isso é uma disputa geopolítica estratégica, entre os grandes consumidores – comandados pelos EUA, a China, que entrou no clube agora, e outros em menor escala, como a Índia – e os países produtores – comandados pela OPEP, cujo líder principal ainda é a Arábia, maior produtora, com cerca de 10 milhões de barris por dia, em coordenação com a Rússia, que não é da OPEP, mas também produz quase 10 milhões de barris por dia.
OPEP mais Rússia respondem por 35 milhões de barris, dos quase 90 milhões de barris consumidos diariamente no mundo.
Parte significativa é produzida e consumida dentro de países como os EUA, que têm uma produção muito grande, inclusive com a entrada agora do petróleo não convencional e o gás não convencional, chamados shale gas e shale oil, com biocombustíveis e outros potenciais de eficiência energética.
Além disso, há o anúncio recente, de 2011, do acordo entre os presidentes Obama e Rousseff, para acelerar o desenvolvimento dos recursos do pré-sal, com a cooperação dos dois países e no interesse de ambos, se é que isso é possível. Mas foi assim que a Casa Branca anunciou o acordo.
Os EUA dizem que vão buscar desenvolver sua plataforma continental, atrás de shale gas e oil no mundo inteiro, especialmente no México, por estar próximo, na China, que tem mais recursos, e também na Argentina e Brasil.
No México, a Casa Branca já pressiona e negocia a abertura do Golfo do México, na parte do país asteca, pois a parte norte-americana já está em desenvolvimento.
Correio da Cidadania: Diante, portanto, do peso e papel dos EUA no xadrez do petróleo, passou a ser determinante o que pode decorrer na exploração do pré-sal, não?
Ildo Sauer: A estratégia global dos EUA é tentar quebrar a espinha dorsal da OPEP, porque, em 1960, quando ela foi criada, os Estados Nacionais controlavam 2% das reservas mundiais, as multinacionais, 84% e a URSS, 14%.
Em 2010, temos o reverso: as multinacionais têm menos de 10% e os Estados Nacionais, na maioria com empresas 100% públicas, ou híbridas, como a Petrobras e a Statoil, e algumas chinesas, detêm, em conjunto, mais de 92% das reservas. Foi isso que permitiu a coordenação da produção, elevando o preço, paulatinamente, desde o primeiro experimento, no início de 2005, quando o barril ainda estava em 30 dólares.
Apesar das tentativas da OPEP, em 1973 e 1979, de levantar o preço, isso não se sustentou, porque havia a atuação da União Soviética, que vendia fora da cota, além do próprio México e outros países, que não cumpriam com as cotas e tentavam vender por fora do acordo, o que solapou os preços.
Portanto, essa é a disputa. É evidente que, para um país produtor, com uma riqueza do tamanho do pré-sal (fruto da natureza, pois foi produzido em pelo menos 130 ou 140 milhões de anos – e, do ponto de vista social, fruto de uma luta que em 16 de outubro coroa 60 anos, com o aniversário da Petrobras), tal disputa, natural e social, outorgará à sociedade brasileira uma riqueza que na verdade pertence às gerações futuras.
Porque, neste quadro que citei há pouco, o petróleo tende a ter uma possibilidade de valorização nas próximas décadas, na medida em que se aproxima o fim da disponibilidade de recursos convencionais.
Os substitutos de petróleo, mais caros, não convencionais, as energias renováveis, ou mesmo a liquefação do carvão, que seria a única forma atualmente possível de fazer energia convencional, ou a mudança do padrão urbano-industrial, tudo isso leva a um custo. E quem controla o petróleo pode se apropriar de uma chamada renda absoluta, renda diferencial, desde que construa as condições políticas para isso, o que a OPEP tem feito.
Portanto, a pergunta é: o acordo que a senhora Rousseff assinou com Obama, em 2011, é do interesse do país?
Parece-me que não, é o contrário.
O interesse brasileiro deveria ser se coordenar com a OPEP para manter os preços, especialmente no futuro. Até porque, como eu disse, este petróleo que está aí pertence às gerações futuras.
O conceito de royalty vem da ideia de que existe um soberano. Antigamente, o soberano era o rei, agora o soberano é o povo.
Pelo artigo 20 da Constituição, é a nação brasileira. Arrancar esse petróleo e convertê-lo em moeda, algo possível por muitos modelos técnicos e econômicos, só faz sentido se o petróleo produzido for convertido em uma riqueza superior à que o próprio petróleo representará no futuro, se ainda for mantido nos seus reservatórios.
De maneira que esse é o grande dilema geopolítico, estratégico e ético enfrentado pela sociedade brasileira, quando o governo anuncia o leilão do campo de Libra. Esse é o contexto que deve ser entendido.
O governo tem dado mostras de que não compreendeu nem o papel do petróleo na história da energia e da sua reprodução social, e nem a disputa que está aí.
Correio da Cidadania: Caso fosse pra tratar o assunto petróleo com seriedade hoje, o que deveria ser feito, em sua opinião, tanto em termos operacionais, como no que se refere à atual legislação que arbitrará a partilha?
Ildo Sauer: A primeira medida, em qualquer país, seria concluir o processo exploratório, a um custo de aproximadamente 7 bilhões de dólares, fazendo uns 100 poços exploratórios de Santa Catarina ao Espírito Santo, permitindo-nos delimitar o volume de reservas.
Isso proporcionaria avaliar com segurança qual estratégia poderia ser tomada.
Ao longo de 60 anos, a Petrobras foi capaz de descobrir 20 bilhões de barris convencionais, dos quais 5 bilhões foram produzidos, tendo uma reserva de cerca de 15 bilhões. Mas, no modelo do pré-sal, já temos assegurados, sem confirmação formal, cerca de 60 bilhões de barris.
São 15 bilhões em Libra; 9 bilhões em Lula (antigo Tupi); 4 bilhões em Iara; 10 bilhões no campo de Carioca; 9 bilhões no campo de Franco; 2 bilhões em Guará; cerca de 5 bilhões nas áreas das chamadas baleias.
De modo que, se fizermos a soma de tudo, chegamos a quase 60 bilhões de barris. Há, no entanto, muitos geólogos e especialistas acreditando que o Brasil tem no mínimo 100 bilhões de barris, podendo chegar a 300 bilhões, o que seria a maior reserva do mundo. Esse é o quadro.
Quando vamos fatiar e vender, fazendo um leilão de 15 bilhões de barris, o acontecimento não é grave só pelo que o país conseguiu acumular em 60 anos de história, com todo o trabalho envolvido da Petrobras; significa também que o modelo de tratar petróleo como algo convencional, e não como um assunto estratégico, está equivocado.
Como disse no começo, o modelo da partilha era interessante antes, quando permitia obter mais recursos públicos em relação ao regime das concessões. Hoje, ambos estão superados.
Todos os países do mundo que possuem grandes reservas, como Arábia, Venezuela, Irã, Iraque, a própria Líbia, Kuwait, Emirados Árabes, todos eles têm uma empresa 100% estatal, que é o modelo preferido. Outros, como não têm a empresa estatal, apelam a um modelo de prestação de serviço com a própria empresa.
A Petrobras foi contratada pra concluir o processo exploratório, como já o fez, por causa da capitalização e da cessão onerosa daqueles 5 bilhões de barris (quando da sanção em lei do modelo de partilha).
A ironia foi essa: a Petrobras foi contratada pela ANP pra encontrar alguns campos que somassem 5 bilhões de barris.
Encontrou Libra, que tinha 15 bilhões, muito além do necessário; encontrou Carioca, com 10; Franco, com 9. Isto é, acabou que o benefício colateral foram as descobertas feitas pela Petrobras.
O certo seria concluir esse processo e saber quanto existe de petróleo no Brasil. E então a Petrobras seria uma prestadora de serviços. Receberia do governo um prêmio muito grande para manter a tecnologia e remunerar as pessoas.
Porque a lei da partilha, apesar de todos os seus problemas, só foi sancionada nos últimos dias do governo Lula (22/12/2010), que durante oito anos exerceu, na plenitude, o modelo da concessão, por ele combatido como candidato.
Ele exerceu tal modelo por mais tempo que o próprio criador, FHC, que o criou em 1997, começando a exercê-lo a partir de 2000.
Mas a lei 12.351/2010 permite, de todo modo, em seu artigo 8, ao governo e à União, estabelecer o contrato de partilha de produção diretamente com a Petrobras, dispensando a licitação, ou mediante a licitação, mas sem modelo de leilão.
Assim, ainda que o governo precise arrumar dinheiro, buscar recursos, por razões macroeconômicas, porque está com problemas de fluxo na balança de pagamentos e no equilíbrio das contas públicas, poderia fazê-lo mediante a contratação aberta e transparente da Petrobras, para então buscar os parceiros, negociando aberta e francamente, como é o caso de China, Índia e outros mais.
Mas não. O governo resolve fazer um leilão que assemelho ao seguinte: suponha que cada campo de petróleo corresponde a uma fazenda cheia de bois. E o dono da fazenda vai leiloá-la sem sequer contar o número de bois. É o caso de Libra.
A ANP diz que pode ter entre 8 e 12 bilhões de barris, mas muitos geólogos da Petrobras acreditam até em 15. Como fazer o leilão? Péssimo sinal.
Indica que estamos abrindo mão de uma estratégia global em benefício de um contrato microeconômico, que se resolve sozinho. Uma vez assinado o contrato com o consórcio, incluindo a Petrobras como operadora ou financiadora, ela pode participar em até 70%. Mas a empresa está quebrada, com dificuldades, por causa da descapitalização que o governo impôs a ela, ao obrigá-la a importar combustíveis (GLT, gasolina, diesel e outros) e vendê-los abaixo do preço de importação.
Ao mesmo tempo, a empresa não tem plano de investimentos. Está, portanto, numa situação desfavorável para participar do leilão, dando mais chance aos outros.
Em resumo, o que o governo quer leiloar agora é um duplo recurso: primeiro, o recurso natural, o campo, petróleo; segundo, a capacitação tecnológica da Petrobras, feita operadora e, portanto, minimizando o risco econômico e financeiro do sócio que vier, que só precisará aportar recursos financeiros para cumprir o programa de investimento.
É uma avaliação simples: se esse campo de Libra tiver de fato 15 bilhões de barris, serão necessárias cerca de 20 plataformas, ao custo de 3 a 4 bilhões de dólares, cerca de 70 bilhões de dólares ao todo.
Mas, se a produção for acelerada, por exemplo, pra exaurir o campo em 20 anos, ao invés dos 35 anos possíveis, significa produzir 2 milhões de barris por dia.
Com o custo de capital, somado à operação e manutenção, em 15 dólares, com os 15% de royalties, também 15 dólares, sobram 70 dólares, caso o atual preço de 100 dólares por barril seja mantido.
Isso multiplicado por 2 milhões de barris por dia dá 730 milhões de barris por ano, mais de 50 bilhões de dólares de ganho líquido por ano. Ou seja, o investimento se paga em um ano ou um ano e meio. No máximo, em dois anos. É o dilema que está colocado.
Correio da Cidadania: Diante de um quadro quase surreal, aparentemente sem paralelo algum no mundo, que rifa nosso planejamento estratégico para o futuro, o que você considera que pode ou dever ser feito contra este leilão?
Ildo Sauer: Sabe qual o grave problema? Se o Brasil começar a colocar de 1 a 2 milhões de barris por dia no mercado, e a Petrobras, no seu plano de negócios, estiver prevendo se tornar uma exportadora grande até 2020, o Brasil poderá já estar exportando de 2 a 3 milhões de barris por dia nesse ano, ficando atrás somente da Rússia e Arábia, junto de Venezuela, Irã (se não for invadido também), Iraque (que não se recuperou), Líbia (que decaiu muito)…
Portanto, é o quadro colocado aí. É difícil compreender qual a visão geopolítica e estratégica que motivou o governo a cometer o desatino de propor o leilão desse jeito, sem sequer saber quanto de petróleo existe.
Por isso, também, que eu e outros fazemos a proposta de, primeiro, cancelar e suspender o leilão imediatamente. Estamos buscando parceria, pra entrar na justiça, com movimentos sociais e parlamentares, como os senadores Roberto Requião, Pedro Simon, Randolfe Rodrigues etc.
Até o senador Aloyzio Nunes Ferreira e outros têm manifestado apoio a um decreto legislativo que cancele e suspenda o leilão. Outros defendem a entrada na justiça.
Mas a base que eu e outros defendemos, principalmente, é que a primeira etapa seria concluir o processo exploratório.
Se temos 100 bilhões de barris, ou 200, ou 300, ou 60, a estratégia é uma ou outra, de acordo com a condição. Depois, que se faça um plano nacional de desenvolvimento econômico e social.
Para saber quanto teríamos de investir em educação e saúde públicas, mobilidade e reforma urbana, reforma agrária, proteção ambiental, infraestrutura produtiva, ciência e tecnologia e, acima de tudo, a promoção de tecnologia de transição energética, através das fontes renováveis, tornando-as mais baratas e competitivas.
Em algumas décadas, isso será mandamento, e não uma questão de escolha.
Só depois de saber o orçamento de tudo isso é que iríamos organizar a produção, em coordenação com os demais países, pra manter o preço elevado e obter o excedente econômico.
Isso poderá incluir parcerias estratégicas com países que poderão aportar recursos, por exemplo, China, Índia e outros que precisam de petróleo.
Eles têm tecnologias, serviços e produtos que poderiam ajudar a fazer a rede de transporte de alta velocidade nas cidades, entre estados, além de ferrovias, portos e tudo mais. Isso é possível.
Com esse plano, poderíamos, então, alterar radicalmente a condição socioeconômica do país, promovendo um país desenvolvido.
Correio da Cidadania: Desse modo, a debatida subordinação está sendo francamente assumida como projeto de país? O ‘bilhete premiado’ está sendo rasgado?
Ildo Sauer: Na linha do que disse na entrevista anterior (‘Pacotes do governo vão completar processo que FHC não conseguiu terminar’), precisamos depender necessariamente das empresas capitalistas, brasileiras ou estrangeiras, como propôs FHC, ou mesmo as nacionais, criadas pelo Lula.
Com nossas instituições criadas socialmente – ao estilo do que propuseram Ruy Mauro Marini, Caio Prado Jr., Theothonio dos Santos, Vânia Brambilla, e outros que trabalham com a dialética da dependência –, seria possível alterar radicalmente os termos de intercâmbio e a inserção internacional de nosso país.
Inserção esta que, pela lógica da Dilma, será subalterna, ao apenas aportar petróleo pra jogá-lo pelo mundo, ao invés de construir uma estratégia diferente, pela qual esse intercâmbio se faça em termos menos assimétricos, com maior igualdade, privilegiando o resgate das dívidas sociais do Brasil.
A Constituição brasileira, em seu artigo 5, fala dos direitos sociais. Começa pela educação e saúde, passa pela moradia e muitos outros. O artigo 20 diz que o subsolo, o petróleo e os potenciais hidráulicos pertencem à nação.
O governo diz que não tem dinheiro pra cumprir as dívidas do artigo 5, mas está desperdiçando a riqueza potencialmente presente, garantida pelo artigo 20.
Portanto, recuperando a dimensão do que têm dito esses teóricos citados – que buscam maior autonomia para a sociedade brasileira na sua relação com os países centrais, da América do Norte, Europa e Ásia –, a utilização dos recursos naturais com vistas à sua apropriação social, ao lado do avanço da capacidade produtiva sob comando público (leia-se, sob comando da Petrobras), faria possível definir uma estratégia capaz de, em uma década, resgatar grande parte da dívida social brasileira.
Mas não é que está acontecendo. Não há esse plano. Está tudo sendo feito no improviso, por incompetência, falta de visão estratégica e geopolítica, arrogância, ignorância. Ou ainda má fé, que me custaria acreditar.
Está claro, portanto, que a visão adotada pelo governo — com a respectiva missão delegada à ANP, a partir de uma avaliação superficial do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), de promover o leilão açodadamente — indica um desastre político.
Ainda que o governo diga que resultarão muitos recursos e dinheiro dessa estratégia, está claro que não é bem assim. Estamos abrindo as portas para um modelo de entrega.
É a maior privatização da história brasileira, muito maior do que a promovida pelos tucanos. Essa senhora Rousseff, de uma tacada só, está promovendo a maior privatização e entrega da história.
Repito que não há notícia no mundo, de país algum, que resolva leiloar e vender petróleo, sem saber quanto do produto já foi descoberto. Isso não se faz! É contra qualquer noção de gestão de recursos naturais, no curto, médio e longo prazo.
Correio da Cidadania: Como enxerga, finalmente, e à luz de tudo que foi dito, o fato de, aparentemente, o leilão do campo de Libra não ter atraído a participação de um número maior de empresas, como, por exemplo, a grandes Chevron e Exxon?
Ildo Sauer: Não surpreende, mesmo que a imprensa brasileira tente usar tais empresas a fim de mostrar que o leilão foi um fracasso.
Bom, fracasso é fazer o leilão. Como a Petrobras já está decidida, por lei, como operadora, escolhendo quais plataformas e onde comprá-las, não interessa à Chevron, Exxon, BP e BG (esta menor), pois elas querem operar e perseguir óleo.
Neste caso, o papel que se reserva a elas é o de sócio financeiro. E tais empresas também sabem que ninguém tem esse dinheiro em caixa, 70 ou 80 bilhões de dólares.
Vão todos buscar no mercado financeiro. Hoje, quem tem muito mais recurso financeiro são as empresas chinesas.
O Estado chinês acumulou reservas internacionais de 3 trilhões de dólares, grande parte delas emprestadas ao governo dos EUA.
Obviamente, tirar de lá 80 bilhões pra vir pra cá não tem um significado tão relevante para um país como a China, com a Sinopec, CNPC, Petrochina, seja qual delas estiver nos leilões.
Sabe-se que elas, se vierem, vão lucrar muito e ainda vão garantir suprimento seguro para a China com tal modelo.
Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.
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