Por dentro do Wikileaks: a democracia passa pela transparência radical
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Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.
Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.
Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.
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Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.
Documentos sobre Brasil
No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.
Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.
O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.
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A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.
Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.
Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.
O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.
Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.
O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.
É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial.
Uma ironia e tanto.
*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi
Vazamentos testam o nervo nuclear de Teerã
“WikiLeaks comprova que o mundo partilha as mesmas preocupações contra um Irã nuclear.”
Hillary Clinton, secretária de Estado, EUA
“COM PEDAÇOS DE PAU E PEDRAS”
O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad disse em discurso na inauguração da usina nuclear de Bushehr, em presença de autoridades russas e de seu país (a usina tem tecnologia russa e se destina à produção de energia) que a defesa da revolução islâmica no caso de um ataque norte-americano ou por parte de Israel, que “nossas opções não terão limites, envolverão todo o planeta”.
Documentos liberados pelo site WikiLeaks e criados pela unidade especial da CIA – CENTRAL INTELIGENCY AGENCY – apontam casos em que cidadãos norte-americanos financiaram atividades terroristas. [1]
Em documentos anteriores o mesmo site, perto de noventa e dois mil documentos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, mostra que o governo dos Estados Unidos exporta terrorismo na forma de seqüestros, assassinatos seletivos, prisões indiscriminadas em qualquer parte do mundo, práticas acentuadas no governo de George Bush como reação ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center.
Uma das grandes dificuldades do atual presidente dos EUA Barack Obama é desmontar esse aparato repressivo, bárbaro, que, no todo, acaba se vendo presa fácil de quadrilhas de grande porte no tráfico de drogas, de mulheres e agora tráfico de petróleo a partir do México.
As políticas de terceirização de atividades de inteligência e militares postas em curso por Bush geraram distorções de tal ordem que nem a Casa Branca sabe mais a real extensão de todo o conjunto de insensatez do governo anterior.
Essas dificuldades se apresentam visíveis na reação de republicanos comandados agora pelo senador John McCain, derrotado nas eleições presidenciais por Obama e deixam claros os novos contornos do que era uma nação e hoje é um conglomerado de interesses privados de bancos, corporações do petróleo, das armas, com tentáculos capazes de paralisar o Estado e transformar a maior nação do mundo numa grande empresa voltada para o terrorismo.
Obama até agora não conseguiu entrar no salão oval.
A guerra global é uma realidade e pode ser entendida na afirmação feita por Hans Blinx, mês passado, sobre as advertências feitas a Bush que não existiam provas da presença de armas químicas e biológicas no Iraque. Blinx fala que os norte-americanos estavam “em estado de embriaguez pelo poder do arsenal que dispunham”. E continuam a dispor. Blinx foi um dos inspetores da ONU no Iraque à época que precedeu a invasão daquele país pelos EUA, à revelia do Conselho de Segurança da ONU.
Só que agora boa parte do que se convencionou chamar de forças armadas é controlada por empresas privadas e muitas ações pertinentes àquelas forças, são executadas por essas empresas. Generais norte-americanos são fachadas para executivos de companhias que tanto operam contra os Talibãs no Afeganistão, como traficam drogas, mulheres, armas, petróleo, lavam dinheiro, toda a sorte de operações criminosas de grande porte e possíveis.
A união de todas as máfias sonhada e desejada por cada chefe mafioso na história dessas organizações criminosas. Chegaram ao topo. Vendem democracia, drogas, mulheres, lavam dinheiro e têm milhares de ogivas nucleares capazes de destruir o planeta pelo menos cem vezes.
A vala com corpos de cidadãos latino-americanos que foi encontrada no México exibe o estado de caos que permeia aquele país. Ou “ex-país”. Colônia dos EUA desde a assinatura do NAFTA (tratado de livre comércio entre EUA, Canadá e México).
Uma das conseqüências ou exigências para que o conglomerado terrorista formado pelos EUA e por Israel opere é a presença de governantes dóceis e isso se consegue com corrupção. Foi o caso de FHC no Brasil, Menem na Argentina, Uribe na Colômbia e é agora com Calderón no México. Para citar apenas latino-americanos.
O chamado mundo institucional é a face visível em cor laranja dos operadores do terrorismo de estado.
No Brasil trabalham a partir do PSDB, DEM, PPS, mídia privada (GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, VEJA, ÉPOCA, etc) e corporações de banqueiros, empresas nacionais e multinacionais e latifúndio. Se abrigam simbólica e realmente na sigla FIESP/DASLU.
O golpe militar em Honduras e a farsa democrática montada com o governo terrorista de Pepe Lobo (mais um jornalista foi assassinado hoje, quinta-feira, dia 26 de agosto, o nono neste ano), não difere de ações na Colômbia a partir do governo central, ou no México, tanto quanto o massacre de palestinos por Israel e as guerras do Iraque e do Afeganistão.
Despejam seus dejetos em containers democráticos no mar da Somália, ou em navios que enviam ao Brasil.
São perto de quinhentas bases militares dos EUA em todo o mundo e uma série de operações em todo o planeta para manter intato o poder dos grupos que controlam a mega empresa EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.
Ahmadinejad não disse nada diferente do que acontece na prática, disfarçada de democracia cristã e ocidental. Quis apenas mostrar que seu país está pronto para reagir a esse terrorismo e tem condições militares de fazê-lo.
O Irã detém a terceira maior reserva de petróleo do mundo. Ao transformar-se numa potência coloca em risco os “negócios” das grandes corporações que detêm o controle acionário de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.
São assassinatos de civis no México, na Colômbia, em Honduras, no Iraque, no Afeganistão, ou de líderes de movimentos de resistência por agentes de Israel com documentos oficiais, mas nomes falsos, de países controlados pelos EUA (Grã Bretanha, Itália e Alemanha) e tudo isso mostrado ao mundo em forma de torta de maçã com canela pela mídia privada e corrompida.
Ou como disse a um grupo de professores e alunos de uma universidade paulista em visita à redação do JORNAL NACIONAL, o apresentador do dito cujo, sobre determinada notícia. “Esta não, pois contraria os nossos amigos americanos”.
Um dos fatos mais significativos desse estado de terrorismo oficial está no último discurso do presidente Lula ao referir-se ao diretor da FOLHA DE SÃO PAULO como alguém que queria saber se ele falava inglês. Se não fala, como vai governar o País? É que a FOLHA pensa em inglês, e empresta caminhões para que mortos por tortura sejam desovados em pontos de São Paulo. Preconceito puro, estampado em cores vivas na imbecilidade dos subordinados ávidos de poder.
O que tem uma coisa a ver com a outra? O discurso de Lula, o Irã, a guerra global?
Todos os fatos se encadeiam num projeto terrorista gerado em Washington desde o fim da guerra fria, para controle do resto do mundo, o que Fidel Castro chamou de “governo mundial”.
Quem acha que Hitler perdeu está equivocado. Por enquanto, em boa parte do mundo está ganhando e levando. Só mudou de bandeira. Tem as estrelas do Tio Sam e a de Davi.
E de nome.
Quem tiver boa memória vai se lembrar dos momentos que antecederam ao anúncio da invasão do Iraque. O terrorista George Bush apareceu em rede mundial de tevê sendo maquiado. Transformado por pós e cremes em anjo de guarda da democracia. Dias depois, quando ainda era viva a resistência iraquiana à invasão, proclamou que se necessário fosse “para evitar a destruição em massa do planeta, os EUA usarão armas atômicas no Iraque”.
Essa destruição em massa está acontecendo desde que Ronald Reagan assumiu o governo dos EUA. O papel de presidente bonzinho vivido por Jimmy Carter terminou com o próprio.
No filme DOCTOR STRANGELOVE, do extraordinário cineasta Stanley Kulbrick, um general comandante de uma base nuclear norte-americana decide por conta própria atacar a ex-URSS. Afirma que o comunismo está chegando ao seu país “pela água”.
O terrorismo norte-americano/sionista chega por bases militares (a Europa Ocidental hoje é colônia dos EUA), por golpes de estado, pela mídia privada vendendo idéias e factóides montados para transformar o ser humano em mero objeto.
Reduzir o Irã, a Venezuela, a Coréia do Norte, a Bolívia, Cuba, Nicarágua e alguns outros países a classificação de “ditaduras” é parte desse jogo de dominação, é a guerra global em curso.
Assassinar civis latino-americanos e jogá-los em covas rasas (México, Colômbia e Honduras) é apenas construir outras formas de muros para que o genocídio de palestinos se transforme em algo corriqueiro.
E palestinos restamos sendo todos nós.
Comemorar a morte de civis iraquianos com expressões como “matamos os bastardos”, quer dizer apenas que boçais fardados tomaram o petróleo do Iraque. Que os “negócios” vão continuar prosperando.
Sustentar governos de fachada como na Colômbia, no México, em Honduras, Costa Rica (“sem a polícia, sem a milícia...” A canção cantada por Milton Nascimento já não tem mais sentido, só saudades, uma base militar dos EUA já está sendo montada em San José), Afeganistão, Iraque, etc, controlar os países europeus, avançar sobre a América Latina, matar a África de fome, isso é a guerra global.
A barbárie capitalista. Tem sede em Washington e em Tel Aviv e filiais em todos os cantos do mundo.
No Brasil a mídia privada vende vinte e quatro horas por dia a idéia que Hollywood é o paraíso.
Se você conseguir pular o muro e escapar dos “grupos organizados de extermínio”.
A não ser que seu nome seja William Bonner, Boris Casoy, ou outros menores como Miriam Leitão, Lúcia Hipólito, Pedro Bial, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, um monte. E lógico, o tal Frias da FOLHA da ditabranda.
Com sorte, consegue virar ex-BBB e escapar para as cavernas, pois a próxima guerra, a quarta, a terceira está em curso, como dizia Einstein, será travada “com pedaços de pau e pedras”.
O que Ahmadinejad disse foi apenas que seu povo resistirá. E está pronto para isso.
[1] Leia também o Ficha Corrida: VEJA quem defende o terrorismo de estado no Brasil
Usina nuclear de Bushehr: o Irã revida
A secretária de Estado Hillary Clinton disse várias vezes que, na opinião de Washington, Bushehr só poderia começar a operar, se o Irã convencesse o mundo de que não enriqueceria urânio, ou que mudasse de atitude, por efeito das sanções internacionais.
Pelo que se vê, o Irã continua a desafiar essas ‘ordens’. Alaedin Boroujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento, disse categoricamente que “as duas questões, do enriquecimento de urânio e de segurança nacional são questões interconectadas”. Em outras palavras, congelar a atividade de enriquecimento de urânio implicaria riscos à segurança nacional do Irã.
“Os russos têm dado sinais de que são confiáveis”, disse Boroujerdi. “Pode estar próxima a hora de reparar nossas relações, para os dois lados, de modo que se possam extrair melhores resultados do potencial que há para atender objetivos das duas nações.” Essas palavras implicam que poderá haver acordo de mais ampla cooperação nuclear entre russos e iranianos, à luz de vários memorandos de entendimento que Teerã e Moscou já assinaram, para outras usinas a serem construídas no Irã.
Agora, dadas as considerações políticas globais e internas na Rússia – onde o primeiro-ministro Vladimir Putin capitalizou os louros por ter apoiado a decisão de construir Bushehr, apesar da resistência do presidente Dmitry Medvedev, mais 'ocidentalizante' –, caberá ao Irã dar sinais de flexibilidade nas negociações nucleares, para diminuir a pressão, sobre a Rússia, que virá das nações ocidentais.
Políticos iranianos, entre os quais Ali Akbar Velayati, conselheiro do Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei, manifestou uma nova disposição dos iranianos para engajarem-se em negociações nucleares com Washington no contexto do Grupo de Viena – EUA, Rússia, França e a Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Authority (IAEA) – e do grupo “Irã-6” (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha).
É muito provável que esse outono seja estação frutífera para a diplomacia nuclear, se o início das operações da usina de Bushehr for o primeiro passo para acordo multilateral com vistas à troca de combustível nuclear para o pequeno reator de pesquisas em Teerã – ou, em outras palavras, dois movimentos para construir confiança e tentar esvaziar uma crise nuclear. No início do mês, Fidel Castro, muito oportunamente, alertou para o risco de a crise nuclear evoluir para guerra nuclear (ver Castro: Nuclear sage or siren, Asia Times Online, 12/8/2010, em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LH12Ak01.html).
Do ponto de vista do Irã, alcançar seus dois objetivos-gêmeos – inaugurar a usina de Bushehr e pô-la a funcionar depois de 12 anos de atrasos e adiamentos; e conseguir combustível para o reator de Teerã – é sucesso absoluto, estabelece um novo marco e serve de garantia de pensamento novo, no difícil tema do diálogo com Washington.
“A decisão final nessa questão virá do Supremo Líder Aiatolá Khamenei, o qual já enviou sinais positivos por seus conselheiros, ao ocidente. Se a proposta do ocidente, sobre o diálogo, for proposta séria, o Irã está pronto para dialogar”, disse um professor de ciência política da Universidade de Teerã, conhecido por ser do círculo pessoal de relações do presidente.
Mas permanece o principal desafio que Teerã enfrenta: como alcançar seus objetivos de converter-se em potência nuclear e como sobreviver à pressão das sanções, sem ser obrigado a fazer concessões substantivas?
Afinal, a capacidade para enriquecer urânio já deu ao Irã um status de potência ‘proto-nuclear’, que atende vários dos objetivos de segurança nacional do país, e ganho do qual, portanto, dificilmente o país abrirá mão em troca de algum outro tipo de ganho –, o que não impede que se considerem opções intermediárias. Entre essas opções está a chamada ‘opção de reserva’ e uma inspeção mais rigorosa, pela IAEA, das instalações iranianas. Teerã já negou várias vezes as acusações, por governos ocidentais, de que estaria construindo armas nucleares para aumentar seu poder ofensivo.
Os EUA já disseram que não veem “risco de proliferação” em Bushehr, apesar de Israel ter declarado “inaceitável” o suprimento de urânio enriquecido para combustível do reator nuclear fornecido pelos russos. O canal Fox News citou Yossi Levy, porta-voz do ministro de Negócios Exteriores de Israel, para o qual “A comunidade internacional deve aumentar a pressão para obrigar o Irã a aceitar as decisões internacionais e suspender as atividades de enriquecimento e construção de reatores.”
Isso posto, deve-se considerar também a decisão dos russos, os quais (i) ignoraram a pressão dos EUA para que a inauguração de Bushehr fosse adiada (alegadamente, para que se pudesse analisar melhor o ambiente geoestratégico, que poderia ter consequências também para a segurança da Rússia, se o ocidente decidir manter a estratégia de enfraquecer o Irã) –, (ii) resistiram à expansão da OTAN e (iii) resistiram ao intervencionismo norte-americano.
Em outras palavras, é possível que também se devam considerar, para analisar esse quadro, (i) a razão (geopolítica) pela qual Putin desafiou e derrotou os políticos mais ‘ocidentalizantes’ em Moscou; (ii) as obrigações contratuais que os russos assumiram; e (iii) interesses puramente econômicos.
Quanto a isso, os EUA e a União Europeia (além de Israel) são responsáveis pelas dificuldades geradas pela grandiloquência, pelo radicalismo e pelo exagero de suas posições, seja pela imposição de novas sanções econômicas, que Moscou e Pequim desmoralizaram, seja pelas ameaças excessivas, superdramatizadas, contra o Irã, que criaram cenário inaceitável, do ponto de vista dos interesses de russos e chineses.
Se a situação de ‘confronto’ nuclear não tivesse sido inflada até o ponto em que está hoje, a inauguração de um reator atômico para finalidades de pesquisa e sob total supervisão da IAEA jamais seria objeto de tantos discursos sobre ‘riscos’ e ‘perigos’ e ‘efeitos colaterais’ e respectivas implicações.
Mas, porque os EUA conduziram o processo como o conduziram, a inauguração da usina de Bushehr tem hoje o efeito de torpedo que atingiu em cheio os que defenderam a aplicação de mais sanções – e, isso, apesar de a usina de Bushehr aparecer como exceção nas resoluções da ONU que aplicaram sanções ao Irã.
“A inauguração da usina de Bushehr é prova de que as ameaças que tantos rugem contra o Irã não passam de propaganda e tentativas de intimidar psicologicamente” – disse Kazem Jalali, porta-voz da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento. Mesmo assim, além do efeito psicológico, o bem evidente efeito político da inauguração de Bushehr é sinalizar ao ocidente que nem sanções nem ameaças conseguirão deter o Irã, na marcha para converter-se em potência nuclear.
O Irã exibe sua musculatura militar
Simultaneamente, ante tantas ameaças de ataque externo às suas instalações nucleares, o Irã, nos últimos meses, tem cuidado de exibir melhor musculatura militar: já apresentou um avião-robô, que o presidente Mahmoud Ahmadinejad chamou de “embaixador da morte, contra os inimigos do Irã”. A expressão causou (outra vez!) excessivo ‘escândalo’ no ocidente: avião-robô semelhante ao iraniano, mas norte-americano, chama-se “Predador”, nome que jamais escandalizou alguém.
É a terceira geração de mísseis fabricados no Irã, parte do projeto estratégico de defesa do país, de preparar-se para uma “guerra de mísseis” contra alvos duros e “soft” em toda a região do Golfo Persa – e além –, no caso de o país ser atacado. O programa inclui produção em massa de minissubmarinos, barcos equipados com torpedos e mísseis, além de um míssil terra-terra, o Qiam 1. Esse míssil é descrito pelos militares iranianos como “de alta velocidade, invisível ao radar” e pode ser “lançado de vários tipos de plataformas”.
Sempre insistindo em que o Irã investe em melhorar sua capacidade militar para fins exclusivamente defensivos, Teerã tenta, ao mesmo tempo, abrir caminho para o mercado global exportador de armamentos. Semana passada, o ministro da Defesa do Irã Ahmad Vahidi anunciou que o Irã já pode exportar armamentos para cerca de 50 países.
Apresentando as novas armas como prova de que o Irã está cada vez mais “autoconfiante” e cada dia “mais acredita em si mesmo”, altos oficiais do exército têm chamado atenção para o quadro regional, que explica a atual orientação, no Irã, para preparar-se para o que se conhece como “guerra assimétrica”.
Essa estratégia exige, dentre outras coisas, veículos táticos de alta mobilidade; produção em massa de mísseis; capacidades para operar minas; além do que se chama “estratégia de contenção expandida” que visa a “expandir o teatro do conflito” – o que significa atingir os interesses do atacante, no Oriente Médio e em todo o planeta. Khamenei disse recentemente que “se o Irã for atacado, o contra-ataque não será só regional e alcançará cenário muito mais amplo”.
Não há como negar, no Irã, que o país tem grandes setores militares ainda extremamente vulneráveis, sobretudo nos sistemas de defesa antiaérea – motivo pelo qual o Irã espera ansiosamente que a Rússia entregue o sistema de defesa S-300, já comprado e pago, cuja entrega Moscou tem adiado por razões políticas, dentre outras, inclusive por pressão da Arábia Saudita. (...)
Seja como for, a verdade é que nem todos estão satisfeitos com a atenção que o Irã dá à própria postura exclusivamente defensiva. Nas comemorações do Dia da Indústria Militar Iraniana, Ahmadinejad disse que “o Irã jamais iniciará um ataque”. É ideia que talvez ajude a aplacar as angústias de alguns vizinhos árabes no Golfo Persa, mas, ao mesmo tempo, rouba do Irã as vantagens do “ataque preventivo”, tão essencialmente crucial na estratégia militar dos poderes ocidentais – EUA, França e Israel, com certeza.
Em outras palavras, há um fosso disfuncional entre os interesses da segurança nacional do Irã e, do outro lado, uma doutrina militar unidimensional, puramente defensiva, que se autolimita, ao excluir categoricamente a possibilidade de ataque preventivo. É fosso perigoso, que pode paralisar os esforços de contraterrorismo, sobretudo no que tenham a ver com as operações nas regiões fronteiriças, com Paquistão e Iraque.
Vários analistas da política iraniana disseram a esse autor que o Irã entra perigosamente fragilizado, na cada vez mais clara corrida armamentista na região, e não deveria atuar “unidimensionalmente” (o que está fazendo hoje, ao declarar-se “exército de defesa” e rejeitar por princípio o “ataque preventivo”). O “ataque preventivo” é instrumento que o Irã deveria manter acessível, no caso de haver informação sobre ameaça real de ataque ao país. A linha que separa “defesa” e “ataque” pode ter sido traçada com excessiva precisão (movimento que pode ter sido resultado da pressão do ocidente) – em detrimento dos interesses da segurança nacional do Irã.
Obama e o sorriso de Mona Lisa
14/8/2010, M K Bhadrakumar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LH14Ak02.html
As interpretações que o pequeno grupo de jornalistas convidados para o briefing que o presidente dos EUA Barack Obama divulgou sobre o Irã, semana passada, são realmente impressionantes. Vem à cabeça a canção Mona Lisa, eternizada na doce voz de barítono que se ouvia há 60 anos, antes de Obama nascer, de outro afro-americano de Chicago, Nat King Cole:
“Você sorri para tentar um amante, Mona Lisa,
Ou é seu jeito de esconder o coração partido?
Quantos sonhos entregues aos seus pés!
Ali jazem, ali morrem...”[1].
Havia um “sorriso místico” nos lábios de Obama, ao falar à mídia? David Ignatius, do Washington Post, garante que Obama “repôs firmemente sobre a mesa” a possibilidade de negociar com o Irã; Peter David, do Economist garante, com igual convicção, que Obama “não apontou qualquer política nova”.
Marc Ambinder e Jeffrey Goldberg de The Atlantic entenderam que Obama pavoneava-se, ante o público doméstico, do sucesso de sua política de engajamento associado ao simultâneo aperto econômico e político contra o Irã.
Robert Kagan, comentarista político conhecido, gostou de Obama ter indicado que “não há à vista qualquer nova iniciativa diplomática [que tenha a ver com o Irã]”. De modo geral, os neoconservadores nos EUA deliciaram-se por a luva de seu presidente deixar transparecer bem nítido o reforço oculto de aço de alta qualidade.
A seu modo, é possível que tenham acertado. Afinal, e à vista das eleições para o Congresso em novembro, o principal objetivo do briefing foi reafirmar diretamente a Israel e ao influente lobby pró-Israel nos EUA que a política do governo Obama, que tanto repete o mote ‘das conversações com o Irã’, absolutamente não implica qualquer ameaça real aos interesses do Estado judeu.
O xis da questão é que a política dos EUA para o Irã está outra vez numa encruzilhada. Obama diz que tentou atrair o Irã para a mesa de negociações no início do governo, e que Teerã não respondeu. Mas... será que tentou mesmo? OK. Obama ofereceu algumas aberturas a Teerã, mas, enquanto isso, serviços sob seu comando trabalhavam para uma “mudança de regime” no Irã e houve operações secretas. O Irã foi ‘convidado’ à mão armada, para negociar.
Num certo momento, depois das eleições presidenciais no ano passado no Irã, Washington meteu-se na cabeça que haveria vantagem em encenar mais uma “revolução colorida” em Teerã. Isso, num momento em que a prioridade teria sido negociar com o presidente Mahmud Ahmadinejad, muito firme e legalmente instalado no poder e em posição que lhe permitiria tomar decisões difíceis. Em vez disso, Obama tentou contato com o Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei, esquecendo completamente que Obama não passa de (mais) um Cesar.
Em segundo lugar, Obama insiste em que um dos pilares de sua estratégia para o Irã seria enfatizar sempre sua agenda de não-proliferação nuclear, para cumprir os deveres dos EUA nos termos do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e organizar uma bem-sucedida conferência dos países do Tratado. Fato é que, como o mundo as vê, as políticas dos EUA são eivadas de contradições e, de fato, são elas que, hoje, já praticamente reduziram o Tratado a cacos.
Moscou corrige a rota
De fato, Obama apresentou sua política de “desligar-reiniciar” [ing. reset] os contatos com a Rússia como o terceiro e crucial pé do tripé da política dos EUA para o Irã. Em resumo, Washington gostou de ver que Moscou não só atraiçoou Teerã como, além disso, mexeu pauzinhos para estimular a China, a União Europeia e o Canadá a também golpearem o Irã.
A Rússia atacou economicamente o Irã por motivos fortemente oportunistas. Mas, oportunista uma vez, oportunista outras vezes; e os EUA parecem estar farejando novas ocasiões para novos oportunismos.
Nada, senão isso, explica a hilariedade que se viu na secretária de Estado Hillary Clinton, ao apelar ao Senado dos EUA, 4ª-feira, para que aprove o “novo tratado START” – Strategic Arms Reduction Treaty [Tratado de Redução de Armas Estratégicas] com a Rússia, que Obama assinou em abril com Dmitry Medvedev, e que tem de ser ratificado pelo Senado para viger.
Por seu lado, Moscou, que deposita grandes esperanças no tratado START com vistas ao retorno da Rússia aos palcos mundiais, calcula que são necessários 67 votos no Senado, para a ratificação; Obama terá de mobilizar todos os 59 deputados Democratas e os independentes e, além desses, ainda terá de encontrar pelo menos seis Republicanos; ou o “novo START” não será ratificado. Até agora, só Richard Lugar, Republicano de Indiana, comprometeu-se publicamente a votar a favor da ratificação.
Moscou parece convencida de que a mudança na sua política para o Irã foi longe demais, sem que os EUA lhe tenham pago qualquer correspondente compensação; alguma correção de rota parece útil. A retórica do Kremlin amainou. Volta a parecer viável o negócio pelo qual a Rússia fornecerá mísseis S-300 ao Irã.
Semana passada, a empresa russa Lukoil forneceu petróleo refinado ao Irã, ignorando as ameaças de retaliação dos EUA – e o petróleo foi fornecido em parceria com a empresa Zhuhai Zhenrong, chinesa. Moscou recebeu o ministro iraniano do Petróleo, para discutir os termos de uma cooperação bilateral; os funcionários russos falaram de encomendas prováveis, para a nova usina nuclear iraniana, Bushehr, a partir de agosto. O front diplomático também dá sinais de incômodo. A Rússia associou-se à China, para criticar os EUA e a União Europeia, por terem imposto sanções unilaterais ao Irã.
Desligar-reiniciar 2, depois do Desligar-reniniciar 1, entre EUA e Rússia?
Na 2ª-feira, o embaixador iraniano em Moscou Reza Sajjadi visitou o ministério russo de Relações Exteriores, para “uma frutuosa troca de ideias” com o vice-ministro Alexei Borodavkin, sobre “temas relacionados ao desenvolvimento da cooperação econômica e comercial Rússia-Irã, mutuamente benéfica”. Segundo o ministério russo de Relações Exteriores, “o mútuo interesse expressou-se pelo revigoramento da colaboração bilateral nessa esfera”.
Na 3ª-feira, Sajjadi voltou ao ministério, para encontrar-se com o secretário Andrey Denisov. Documento oficial russo diz que “as partes trocaram ideias sobre assuntos da agenda bilateral, regional e internacional, com especial atenção ao diálogo político Rússia-Irã e trabalho conjunto com vistas à solução de problemas internacionais e regionais chaves” (negritos meus.)
O ‘desligar-reiniciar 1’, dos EUA para a Rússia, parece ser a perna mais bamba do tripé da política dos EUA para o Irã. Curiosamente, aconteceu também de essa mesma perna problemática ter sido fundida numa liga pouco confiável, de metais russos e chineses.
Os sucessivos atos de provocação dos EUA contra a China no Pacífico asiático, durante as últimas semanas, podem também ter abalado a convicção dos chineses no que tenha a ver com a questão iraniana. Não por acaso, os EUA já deram puxão de orelhas público, na China. Robert Einhorn, conselheiro especial dos EUA para temas de não-proliferação e controle de armas, que irá a Pequim no final de agosto, disse:
“Queremos a China como parceiro responsável no sistema internacional. Isso significa cumprir as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Isso significa não jogar pelas costas, não tirar vantagens da autocontenção responsável de outros países.”
Preocupação já manifestada por vários países, no que tenha a ver com tomar medidas contra o Irã é que “se aplicarmos sanções contra o Irã, a China logo aparecerá por lá e tirará vantagem de nossa autocontenção.”
Para o Irã, as apostas também são altas. O vice-ministro do Petróleo do Irã Hossein Noghrehkar disse semana passada que a China investiu 29 bilhões de dólares no setor de petróleo do Irã e outros 11 bilhões no oleoduto, inclusive para a instalação de sete refinarias.
Para garantir, entra em cena o desligar-reiniciar à moda chinesa. Pequim parece entender que o desligar-reiniciar EUA-Rússia não avançou muito além da “diplomacia de hambúrguer” de Obama com Medvedev. Na 2ª-feira, um comentário chinês examinava detidamente a política de Moscou para o Irã. Dizia:
“Como aliada do Irã com muitos interesses estratégicos e econômicos no país, dificilmente se manterá a visão pró-ocidente entre os russos. (...) O Irã é não apenas importante aliado regional dos russos; é também importante ferramenta de barganha nas relações diplomáticas com o Ocidente, sobretudo com os EUA. Aconteceu apenas que, num certo momento, a Rússia decidiu que suas relações com os EUA seriam mais importantes que suas relações com o Irã.
Aproximar-se de países ocidentais trouxe para a Rússia mais resultados negativos que positivos (...). A Rússia ganhou pouco com a atitude pró-ocidente. No período, os russos manifestaram mais dúvidas e críticas sobre Medvedev. Nesse quadro, a Rússia não se pode expor a perder o Irã. Assim sendo, é muito provável, no futuro próximo, que a Rússia suavize o tom, em relação ao Irã.”
Feitas as contas, o ‘sorriso de Mona Lisa’ de Obama tem de ser posto em perspectiva. Por um lado, dá a impressão de estar dizendo a Teerã que a “trilha” para solução pacífica do impasse nuclear permanece aberta; e que permanece aberta também para uma solução que garanta ao Irã o direito de conservar seu programa nuclear civil, desde que se possa negociar “um claro conjunto de passos” que sejam “suficientes para mostrar que eles não trabalham para construir armas nucleares.”
Ao mesmo tempo, Obama também propôs “trilha separada” de conversações sobre o Afeganistão, considerados os “mútuos interesses” de Irã e EUA em combater os Talibã. Disse que o Irã deve ser “parte”, em conversações regionais sobre a estabilização do Afeganistão e que “poderia ser um parceiro construtivo”. Foram palavras de conciliação.
Por outro lado, Obama insistiu que os EUA continuem no controle, que os iranianos haviam ficado diplomaticamente isolados, que as sanções estavam “mordendo” e que, no contexto geral, estaria apenas sendo lógico, no movimento de defender a vantagem no jogo, ao escolher reengajar o Irã. E ofereceu promessas vagas, dirigidas aos linhas-duras, de que não descartara o uso da força, onde a diplomacia falhe.
Volta-se à pergunta de Nat King Cole: “Você é quente, você é real, Mona Lisa?"
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[1] Do you smile to tempt a lover, Mona Lisa, / Or is this your way to hide a broken heart?/ Many dreams have been brought to your doorstep / They just lie there and they die there. No texto, em tradução aproximada, só para ajudar a ler. Pode-se ouvir, em arranjo grandiloquente mas com cantor perfeito, em http://beemp3.com/download.php?file=54851&song=Mona+Lisa [NT]
Chomsky: “Os EUA são o maior terrorista do mundo”
O morro El Bosque, um pedaço de vida natural ameaçado pela riqueza aurífera que se esconde em suas entranhas, desde a semana passada tem uma importância de ordem internacional. Essa reserva, localizada no centro da cidade de Cauca, muito próxima ao Maciço colombiano, é o cordão umbilical que hoje mantêm aos indígenas da região conectados com um dos intelectuais e ativistas da esquerda democrática mais prestigiados do planeta.
Noam Abraham Chomsky. Quem o conhece assegura que é o ser humano vivo cujas obras, livros ou reflexões, são as mais lidas depois da Bíblia. Sem duvida, Chomsky, com 81 anos de idade, é uma autoridade em geopolítica e Direitos Humanos.
Sua condição de cidadão estadunidense lhe dá autoridade moral para ser considerado um dos mais recalcitrantes críticos da política expansionista e militar que os EUA aplica no hemisfério. No seu país e na Europa é ouvido e lido com muito respeito, já ganhou todos os prêmios e reconhecimentos como ativista político e suas obras, tanto em linguística como em análise política, foram premiadas.
Sua passagem discreta pela Colômbia não era para proferir as laureadas palestras, mas para receber uma homenagem especial da comunidade indígena que vive no Departamento de Cauca. O morro El Bosque foi rebatizado como Carolina, que é o mesmo nome de sua esposa, a mulher que durante quase toda sua vida o acompanhou. Ela faleceu em dezembro de 2008.
Em sua agenda, coordenada pela CUT e pela Defensoria do Povo do Vale, o Senhor Chomsky dedicou alguns minutos para responder exclusivamente a Semana.com e conversar sobre tudo.
Quê significado tem para o senhor esta homenagem?
Estou muito emocionado; principalmente por ver que pessoas pobres que não possuem riquezas se prestem a fazer esse tipo de elogios, enquanto que pessoas mais ricas não dão atenção para esse tipo de coisa.
Seus três filhos sabem da homenagem?
Todos sabem disso e de El Bosque. Uma filha que trabalha na Colômbia contra as companhias internacionais de mineração também está sabendo.
Nesta etapa da sua vida o que o apaixona mais: a linguística ou seu ativismo político?
Tenho estado completamente esquizofrênico desde que eu era jovem e continuo assim. É por isso que temos dois hemisférios no cérebro.
Por conta desse ativismo teve problemas com alguns governos, um deles e o mais recente foi com Israel, que o impediu de entrar nas terras da palestina para dar uma palestra.
É verdade, não pude viajar, apesar de ter sido convidado por uma universidade palestina, mas me deparei com um bloqueio em toda a fronteira. Se a palestra fosse para Israel, teriam me deixado passar.
Essa censura tem a ver com um de seus livros intitulado ‘Guerra ou Paz no Oriente Médio?
É por causa dos meus 60 anos de trabalho pela paz entre Israel e a Palestina. Na verdade, eu vivi em Israel.
Como qualifica o que se passa no Oriente Médio?
Desde 1967, o território palestino foi ocupado e isso fez da Faixa de Gaza a maior prisão ao ar livre do mundo, onde a única coisa que resta a fazer é morrer.
Chegou a se iludir com as novas posturas do presidente Barack Obama?
Eu já tinha escrito que é muito semelhante a George Bush. Ele fez mais do que esperávamos em termos de expansionismo militar. A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.
Quando Obama foi galardoado com o prêmio Nobel de Paz, o quê o senhor pensou?
Meia hora após a nomeação, a imprensa norueguesa me perguntou o que eu pensava do assunto e respondi: “Levando em conta o seu recorde, este não foi a pior nomeação”. O Nobel da Paz é uma piada.
Os EUA continuam a repetir seus erros de intervencionismo?
Eles tem tido muito êxito. Por exemplo, a Colômbia tem o pior histórico de violação dos Direitos Humanos desde o intervencionismo militar dos EUA.
Qual é a sua opinião sobre o conceito de guerra preventiva que os Estados Unidos apregoam?
Não existe esse conceito, é simplesmente uma forma de agressão. A guerra no Iraque foi tão agressiva e terrível que se assemelha ao que os nazistas fizeram. Se aplicarmos essa mesma regra, Bush, Blair e Aznar teriam de ser enforcados, mas a força é aplicada aos mais fracos.
O que acontecerá com o Irã?
Hoje existe uma grande força naval e aérea ameaçando o Irã e, somente a Europa e os EUA pensam que isso está certo. O resto do mundo acredita que o Irã tem o direito de enriquecer urânio. No Oriente Médio três países (Israel, Paquistão e Índia) desenvolveram armas nucleares com a ajuda dos EUA e não assinaram nenhum tratado.
O senhor acredita na guerra contra o terrorismo?
Os EUA são os maiores terroristas do mundo. Não consigo pensar em qualquer país que tenha feito mais mal do que eles. Para os EUA, terrorismo é o que você faz contra nós e não o que nós fazemos a você.
Há alguma guerra justa dos Estados Unidos?
A participação na Segunda Guerra Mundial foi legítima, entretanto eles entraram na guerra muito tarde.
Essa guerra por recursos naturais no Oriente Médio pode vir a se repetir na América Latina?
É diferente. O que os EUA tem feito na América Latina é, tradicionalmente, impor brutais ditaduras militares que não são contestados pelo poder da propaganda.
A América Latina é realmente importante para os Estados Unidos?
Nixon afirmou: “Se não podemos controlar a América Latina, como poderemos controlar o mundo”.
A Colômbia tem algum papel nessa geopolítica ianque?
Parte da Colômbia foi roubada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá. A partir de 1990, este país tem sido o principal destinatário da ajuda militar estadunidense e, desde essa mesma data tem os maiores registros de violação dos Direitos Humanos no hemisfério. Antes o recorde pertencia a El Salvador que, curiosamente também recebia ajuda militar.
O senhor sugere que essas violações têm alguma relação com os Estados Unidos?
No mundo acadêmico, concluiu-se que existe uma correlação entre a ajuda militar dada pelos EUA e violência nos países que a recebem.
Qual é sua opinião sobre as bases militares gringas que há na Colômbia?
Não são nenhuma surpresa. Depois de El Salvador, é o único país da região disposto a permitir a sua instalação. Enquanto a Colômbia continuar fazendo o que os EUA pedir que faça, eles nunca vão derrubar o governo.
Está dizendo que os EUA derruba governos na América Latina?
Nesta década, eles apoiaram dois golpes. No fracassado golpe militar da Venezuela em 2002 e, em 2004, seqüestraram o presidente eleito do Haiti e o enviaram para a África. Mas agora é mais difícil fazê-lo porque o mundo mudou. A Colômbia é o único país latinoamericano que apoiou o golpe em Honduras.
Tem algo a dizer sobre as tensões atuais entre Colômbia, Venezuela e Equador?
A Colômbia invadiu o Equador e não conheço nenhum país que tenha apoiado isso, salvo os EUA. E sobre as relações com a Venezuela, são muito complicadas, mas espero que melhorem.
A América Latina continua sendo uma região de caudilhos?
Tem sido uma tradição muito ruim, mas, nesse sentido, a América Latina progrediu e, pela primeira vez, o cone sul do continente está a avançando rumo a uma integração para superar seus paradoxos, como, por exemplo, ser uma região muito rica, mas com uma grande pobreza.
O narcotráfico é um problema exclusivo da Colômbia?
É um problema dos Estados Unidos. Imagine que a Colômbia decida fumigar a Carolina do Norte e o Kentucky, onde se cultiva tabaco, o qual provoca mais mortes do que a cocaína.
Fonte: Agência de Notícias Nova Colômbia. Original em espanhol.
Imagem: Luis Ángel Murcia, Semana
Rede Feminista de Saúde e Campanha Ponto Final manifestam apoio ao asilo de Sakineh Ashtiani
O manifesto, que pode ser conferido abaixo, tem o apoio da Rede de Homens pela Equidade de Gênero, Coletivo Feminino Plural, Agende Ações de Gênero e Cidadania e é respaldado pela União Brasileira de Mulheres – UBM e Associação Brasileira de Enfermagem e mais de 300 organizações de mulheres e feministas de todo o Brasil. No texto, a Rede Feminista de Saúde “propõe que o Governo Brasileiro desenvolva uma ação mais ampla em defesa dos direitos humanos das mulheres em âmbito internacional”.
O documento destaca ainda que o posicionamento das autoridades do país frente ao caso de Sakineh Ashtiani, “com certeza alerta a comunidade internacional para a necessidade de estabelecer parâmetros humanitários mínimos, o que inclui o direito das mulheres a uma vida sem violência, opressão e desigualdade”. A organização feminista lembrou que o Brasil é signatário das resoluções da Conferência de Viena, 1993, que aponta que “os direitos das mulheres são direitos humanos e que a violência contra a mulher viola os direitos humanos”.
Exmo
DD
A
A
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As boas
Queremos
Telia Negrão
Coordenadora