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A culpa é da geladeira


O chororô dos derrotados com a eleição da primeira mulher presidente é diverso, não está restrito aos partidos da oposição de direita e seus aliados, neste amplo leque que juntou conservadores de variados naipes aos integralistas e até monarquistas. Setores identificados com a esquerda também lamentam, e apontam culpados: a ignorância das massas populares. Vejam esta pérola do pensamento do esquerdismo mais tradiconal ao justificar seu desencanto:

Parodiando Herbert Marcuse, poderíamos afirmar que a massa do povo, incluindo-se, é claro, a tão falada massa proletária, se encanta com pequenos ganhos obtidos no seu dia-a-dia, sejam esses ganhos fruto de sua luta ou obtidos como dádiva "generosa" dos senhores do poder.
 
Um diminuto espaço para morar, uma geladeira, um freezer, uma TV LCD e (suprema felicidade!) um automóvel são elementos suficientes para levar as camadas populares ao conformismo e à fácil cooptação política pela classe ora dominante.
 
Tal comportamento das massas populares não é próprio apenas do Brasil, e sim de todos os recantos do mundo. Aqui, tivemos o exemplo patente do populismo lulo-petista, oferecendo ao capitalismo a paz social para que pudesse usufruir grandes lucros sem nenhuma ameaça.


Está dito claramente pelo autor que as massas populares só podem pensar corretamente, fazer melhores escolhas, se não tiverem uma geladeira, uma casa para morar. Se, tranformando-se portanto em lumpesinato, seriam mais revolucionárias. Coitado do Marx. É o “quanto pior melhor”, do velho esquerdismo pequeno burguês, bem conhecido de Lênin que o combateu, dedicando ao tema um livro para as futuras gerações, que parecem não o leram, ou entenderam corretamente.

Chega a ser perverso o pensamento, incluindo um forte preconceito, moldado em um erro crasso de análise: Dilma teve votos generalizados em várias classes sociais. O final do texto é um exemplo de arrogância:

Diante desses fatos, resta-nos a nós, socialistas revolucionários, a tarefa de despertar as massas populares de sua inocência, e nunca acalentar suas fantasias, como tem feito o PT, o PCdoB e o PSB, que funcionam como o braço esquerdo do sistema.

Para o messianismo de Gilvan Rocha, militante do PSOL, desejoso de ser o senhor dos desígnios de amplas massas, primeiro seria conveniente um bom investimento em seu próprio quintal. Seu partido tem dezenas de tendências internas, cada uma com visão própria do que seria o socialismo. Façam sua lição de casa em chegar a uma conclusão do que pretendem. E guardem seus preconceitos de classe no mesmo lugar onde fica seu reformismo, que imagina mudar o país apenas no voto.

O povo merece geladeiras, como saúde, como educação. É assim, também, que as grandes mudanças acontecerão um dia, mesmo que tentem atrapalhar as velhas, mofadas e preconceituosas tendências do esquerdismo pequeno-burguês.
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Quem disse que a esquerda só se une na cadeia?

Não pode passar despercebida a decisão de vários partidos de esquerda, centrais sindicais e entidades populares na organização de atos de protesto no próximo dia 30, segunda, contra o pagamento da crise pelos trabalhadores. O movimento uniu partidos aliados ao governo, como PT e PCdoB, ao PSOL e PSTU, que fazem oposição. É momento histórico, raro, e deve ser comemorado, já que pode significar um ponto de virada nas lutas sindicais e populares futuras. Abaixo, o manifesto da convocação:

Trabalhadores e trabalhadoras não pagarão pela crise

O Brasil vai às ruas na próxima segunda-feira, 30 de março. Os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade estarão unidos contra a crise e as demissões, por emprego e salário, pela manutenção e ampliação de direitos, pela redução dos juros e da jornada de trabalho sem redução de salários, pela reforma agrária e em defesa dos investimentos em políticas sociais.

A crise da especulação e dos monopólios estourou no centro do sistema capitalista, os Estados Unidos, e atinge as economias menos desenvolvidas. Lá fora - e também no Brasil -, estão sendo torrados trilhões de dólares para cobrir o rombo das multinacionais, em um poço sem fim, mas o desemprego continua se alastrando, podendo atingir mais 50 milhões de pessoas.

No Brasil, a ação nefasta e oportunista das multinacionais do setor automotivo e de empresas como a Vale do Rio Doce, CSN e Embraer, levaram à demissão de mais de 800 mil trabalhadores nos últimos cinco meses.

O povo não é o culpado pela crise. Ela é resultante de um sistema que entra em crise periodicamente e transformou o planeta em um imenso cassino financeiro, com regras ditadas pelo "deus mercado". Diante do fracasso desta lógica excludente, querem que a classe trabalhadora pague a fatura em forma de demissões, redução de salários e de direitos, injeção de recursos do BNDES nas empresas que estão demitindo e criminalização dos movimentos sociais. Basta!

A precarização, o arrocho salarial e o desemprego enfraquecem o mercado interno, deixando o país vulnerável e à mercê da crise, prejudicando fundamentalmente os mais pobres, nas favelas e periferias. É preciso cortar drasticamente os juros, reduzir a jornada sem reduzir os salários, acelerar a reforma agrária, ampliar as políticas públicas em habitação, saneamento, educação e saúde, e medidas concretas dos governos para impedir as demissões, garantir o emprego e a renda dos trabalhadores.

Manifestamos nosso apoio a todos os que sofreram demissões, em particular aos 4.270 funcionários da Embraer, ressaltando que estamos na luta pela readmissão.

O dia 30 também é simbólico, pois nesta data se lembra a defesa da terra Palestina, a solidariedade contra a política imperialista do Estado de Israel, pela soberania e auto-determinação dos povos.

Com este espírito de unidade e luta, vamos construir em todo o país grandes mobilizações. O dia 30 de março será o primeiro passo da jornada. Some-se conosco, participe!


NÃO ÀS DEMISSÕES!

REDUÇÃO DOS JUROS!

REDUÇÃO DA JORNADA SEM REDUÇÃO DE SALÁRIOS E DIREITOS!

REFORMA AGRÁRIA, JÁ!

POR SAÚDE, EDUCAÇÃO E MORADIA!

EM DEFESA DOS SERVIÇOS E SERVIDORES PÚBLICOS!

SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO!

Organizadores:

ASSEMBLÉIA POPULAR, CEBRAPAZ, CGTB, CMB-FDIM, CMS, CONAM, CONLUTAS, CONLUTE, CTB, CUT, FORÇA SINDICAL, INTERSINDICAL, MARCHA MUNDIAL DE MULHERES, MST, MTL, MTST, NCST, OCLAE, UBES, UBM, UGT, UNE, UNEGRO/COMEN, VIA CAMPESINA


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Essa rivalidade não vem de hoje...

Vamos combinar o seguinte: sou latino, não guardo desaforos, estou mordido com o que tenho lido da reação da direita sobre a decisão do governo brasileiro sobre Cesare Battisti. É tanta bobagem, campanha vil, que é impossível não perder a linha. Este blog já se manifestou aqui, aqui e aqui sobre o assunto, e imaginava o suficiente. Vamos agora engrossar:

A tese do DEM sobre os boxeadores cubanos já foi pro espaço. Encheu o saco até o ministro ter que perguntar a imprensa sobre o que desejavam, que prendessem os caras por desejarem ir para a Alemanha ganhar dinheiro. Chega! Para isso creio que bastam poucos neurônios para pescar a maldade.

Mas sobraram especialistas no processo de Battisti. Mino Carta é um deles. Sua nacionalidade falou mais alto, e desandou a tentar provar, tal como apaixonado e obtuso torcedor do Fiorentina, que Battisti é mero bandido. Seu erro. Na última Carta Capital culpa Battisti pelo assassinato do joalheiro Pierluigi Torreggiani, em 1979. Talvez falte a ele ler os próprios jornais paulistas. Na Folha, em 17/1/2009, o filho de Torreggiani, que estava presente no dia do assassinato de seu pai, e que ficou paraplégico por uma bala naquele dia, em entrevista disse coisa diferente:

“FOLHA - Battisti participou?
TORREGIANI - Desse crime não. Mas, segundo um de seus ex-companheiros, foi o mandante. Nesse dia, participou de outro assassinato.”

Venham cá. Que isso? Nosso governo analisou durante mais de ano o processo, suas falhas e o desejo da parte escrota da Itália em ver na prisão quem militou contra os mauricinhos fascistas de lá. E agora, aqui, tentam aproveitar mais um momento para nos colocar como terceiro mundo, atrasado? No rabo! Aliás, país em desenvolvimento por país em desenvolvimento, estamos melhores.

E, gota d’água, li hoje nossos jornais se aliando a um fascista como Ettore Pirovano, do partido conservador Liga Norte, que tem retrato de Mussolini na sala, dizer:

- Não me parece que o Brasil seja conhecido por seus juristas, mas sim por suas dançarinas.

Vão à merda! Aguentei até onde foi possível. Se temos dançarinas é por existir um monte de italianos que aqui fazem turismo sexual, por não conseguirem algo melhor na Itália. E se lá tem travestis brasileiras é por terem demanda para "algo" que procuram e gostam. Deveriam ficar calados agora tendo um presidente tão imbecil que come meleca em público. Um Silvio Santos presidente, por favor. Italianos nada têm de melhor que brasileiros. Apenas nos dão algumas alegrias vez ou outra, por sua enorme incompetência. E vai, então nos lembremos de Monte Castelo, se não fossem nossos bravos pracinhas, sabe-se lá como esses carcamanos mafiosos estariam. Aliás, quem sabe se esses caras, assim como Carla Bruni, também não têm um pai brasileiro?

Sim, são absolutamente rancorosas e quase baixarias meus desabafos. Mas e o que tem sido dito pelos italianos, que se prestam ao papel de ter seu chanceler dizer que “um terrorista solto nas ruas do Rio não atrairá turistas” não tem sido muito diferente. E italianos pedófilos na praia de Copacabana, nós dispensamos, obrigado.

Vão se foder!!!
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Ensaio sobre a cegueira

O que mais dizer neste momento sobre eleições municipais, particularmente aqui no Rio de Janeiro? Faço então das palavras de José de Sousa Saramago, em seu blog, as minhas derradeiras:

Onde está a esquerda?

Ausento-me deste espaço por vinte e quatro horas, não por necessidade de descanso ou falta de assunto, somente para que a última crônica se mantenha um dia mais no lugar em que está. Não tenho a certeza de que o mereça pela forma como disse o que pretendia, mas para lhe dar um pouco mais de tempo enquanto espero que alguém me informe onde está a esquerda…

***

Vai para três ou quatro anos, numa entrevista a um jornal sul-americano, creio que argentino, saiu-me na sucessão das perguntas e respostas uma declaração que depois imaginei iria causar agitação, debate, escândalo (a este ponto chegava a minha ingenuidade), começando pelas hostes locais da esquerda e logo, quem sabe, como uma onda que em círculos se expandisse, nos meios internacionais, fossem eles políticos, sindicais ou culturais que da dita esquerda são tributários. Em toda a sua crueza, não recuando perante a própria obscenidade, a frase, pontualmente reproduzida pelo jornal, foi a seguinte: “A esquerda não tem nem uma puta idéia do mundo em que vive”. À minha intenção, deliberadamente provocadora, a esquerda, assim interpelada, respondeu com o mais gélido dos silêncios. Nenhum partido comunista, por exemplo, a principiar por aquele de que sou membro, saiu à estacada para rebater ou simplesmente argumentar sobre a propriedade ou a falta de propriedade das palavras que proferi. Por maioria de razão, também nenhum dos partidos socialistas que se encontram no governo dos seus respectivos países, penso, sobretudo, nos de Portugal e Espanha, considerou necessário exigir uma aclaração ao atrevido escritor que tinha ousado lançar uma pedra ao putrefacto charco da indiferença. Nada de nada, silêncio total, como se nos túmulos ideológicos onde se refugiaram nada mais houvesse que pó e aranhas, quando muito um osso arcaico que já nem para relíquia servia. Durante alguns dias senti-me excluído da sociedade humana como se fosse um pestífero, vítima de uma espécie de cirrose mental que já não dissesse coisa com coisa. Cheguei até a pensar que a frase compassiva que andaria circulando entre os que assim calavam seria mais ou menos esta: “Coitado, que se poderia esperar com aquela idade?” Estava claro que não me achavam opinante à altura.

O tempo foi passando, passando, a situação do mundo complicando-se cada vez mais, e a esquerda, impávida, continuava a desempenhar os papéis que, no poder ou na oposição, lhes haviam sido distribuídos. Eu, que entretanto tinha feito outra descoberta, a de que Marx nunca havia tido tanta razão como hoje, imaginei, quando há um ano rebentou a burla cancerosa das hipotecas nos Estados Unidos, que a esquerda, onde quer que estivesse, se ainda era viva, iria abrir enfim a boca para dizer o que pensava do caso. Já tenho a explicação: a esquerda não pensa, não age, não arrisca um passo. Passou-se o que se passou depois, até hoje, e a esquerda, cobardemente, continua a não pensar, a não agir, a não arriscar um passo. Por isso não se estranhe a insolente pergunta do título: “Onde está a esquerda?” Não dou alvíssaras, já paguei demasiado caras as minhas ilusões.
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Diálogo colombino



Conversa com um crédulo e acrítico leitor dos nossos bem informados jornais:


− Esse Uribe é um canalha!

− Ah, mas ele foi macho. Os caras estavam fazendo jogo duro para libertar os reféns.

− Muito pelo contrário. Assassinaram o principal negociador das Farc, o Raúl Reys. Agora tudo ficou mais difícil. O que Uribe queria era exatamente evitar a libertação. Coisa de traíra.

− Mas esses caras são terroristas, não dá para confiar.

− Terroristas? Eles são um outro estado dentro daquele país. São guerrilheiros, querem implantar um governo marxista-leninista. Foram organizados em 1964 quando perseguidos por militares e paramilitares à mando da elite corrupta e assassina.

− Se querem o poder, deviam sair da clandestinidade. Fazer um partido e disputar eleições, dentro da democracia.

− Mas foi o que fizeram em 1984. Assinaram um acordo de cessar-fogo com o então governo de Belisário Betancur, criando a União Patriótica, uma frente de várias tendências, que elegeu 350 conselheiros municipais, 23 deputados e 6 senadores.

− E desistiram? Aposto que não gostaram da experiência democrática.

− Claro que não gostaram. As elites e o governo se aproveitaram do momento e assassinaram vários parlamentares, incluindo dois candidatos presidenciais, em um total de 4 mil militantes.

− Ah, mas hoje eles são ligados aos narcotraficantes.

− É uma grande mentira, criada pelo ex-embaixador dos EUA na Colômbia, Louis Stamb, e até hoje repetida pela mídia. A Colômbia, sua elite, vive e depende do narcotráfico. Seu atual presidente tem negócios e interesses nas drogas.

− Aí você já está apelando. Isso é teoria da conspiração.

− É? Mas quem diz não sou eu, mas o próprio governo americano.

− Cumé?

− Saiu na Newsweek de 9 de agosto de 2004. Segundo ela, um relatório do Departamento de Defesa dos EUA, de 1991, faz um Quem é Quem do mercado de drogas colombiano. Em uma lista dos 100 o nome de Álvaro Uribe Velez é o número 82. E ainda afirma a revista que ele tinha negócios nos EUA que envolviam cocaína, além de ser grande amigo de Pablo Escobar.

− Que babado! Ah, mas tem o Plano Colômbia, os EUA querem acabar com a produção de cocaína no país.

− Querem? O Plano Colômbia aumentou a produção. O grande país do norte é parceiro e interessado na produção de cocaína mundial.

− Tá maluco! E o DEA?

− Foram apanhados juntos com paramilitares. O governo americano, CIA e drogas fazem uma combinação há muito controvertida. Pesquise no Google.

− Teoria da conspiração!

− Pesquise o caso Irã-Contras. Tinham drogas naquele mafuá.

− O fato é que mataram os caras de pijamas, isso eu concordo.

− Pois é. Tem vídeo que mostra que foi de madrugada, todos dormiam, uma covardia.

− Até concordo.

− Mas de pijamas? E guerrilheiro usa pijamas? Na selva?

− Ah, mas eu li nos jornais.
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A verdadeira cara da oposição estudantil na Venezuela


Este ótimo documentário da Telesur, de 25 minutos, mostra quem são os estudantes que fazem oposição a Chávez, suas conexões internacionais com o imperialismo e a aproximação com os setores mais reacionários da igreja católica.
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O que é isso, companheiros?

E segue enorme polêmica entre a esquerda sobre a posição do PSTU na plebiscito venezuelano, contra Chávez, ao lado dos EUA. Uma cobrança está sendo feita: o partido teve posição distinta, e contraditória, com outro militar que tomou o poder na AL, com discurso socialista, mas que demonstrou ser uma enorme farsa. Foi ele Lucio Gutiérrez (foto), militar equatoriano que entrou no cenário daquele país participando de um golpe contra o então presidente, Jamil Mahuad, no ano 2000. Não conseguiu sucesso de imediato, foi preso, mas seu nome ficou ligado a um discurso de esquerda, o que o levou ao poder logo depois, em eleições democráticas.

Bastou as intenções, suas alianças com os partidos de esquerda no Equador, para se transformar em um ícone do PSTU. Esteve no Brasil, onde foi saudado por quadros do partido, deu entrevistas e foi chamado de companheiro de luta. No poder, logo à frente, ficou constatado sua face neoliberal. Tudo era só conversa e seu péssimo governo o levou a ser deposto em 2005.

Para entender, uma matéria na Caros Amigos e uma reportagem de dirigente do PSTU na época.
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