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Ovos podres e nossa democracia rompida

28 de agosto de 2010, coluna semanal de Amy Goodman

Qual é a relação entre 500 milhões de ovos e a democracia? A retirada em massa de ovos infectados com salmonela do mercado de consumo, o maior recolhimento de produtos primários na história dos Estados Unidos, permite-nos ver o poder que as grandes corporações transnacionais têm. Poder este que se exerce não apenas sobre nossa saúde, senão também sobre nosso governo.

Ainda que sejam muitas as marcas retiradas do mercado de consumo, todas estas podem ser rastreadas até chegar a só duas granjas de produção de ovos. Cada vez mais, a provisão de alimentos está em mãos de enormes companhias, crescendo vertiginosamente, e que exercem um enorme poder sobre nosso processo político. A mesma situação que ocorre com a indústria alimentícia, dá-se também com as petroleiras e os bancos: são corporações gigantescas (algumas com orçamentos superiores a maioria dos países do planeta), estão controlando nossa saúde, nosso meio ambiente, nossa economia e, cada vez mais, nossas eleições.

O surgimento de salmonela é só o episódio mais recente de uma série de outros que demonstra uma indústria alimentícia desenfreada. Patty Lovera, subdiretora do grupo pela segurança alimentar Food & Water Watch, me disse: “Historicamente, sempre tem havido resistência por parte da indústria a todo tipo de norma de segurança alimentar, seja esta ditada pelo Congresso ou por outros organismos governamentais. Existem grandes associações comerciais para cada setor de fornecedores dos nossos alimentos, desde os grandes produtores agroindustriais até as lojas produtos comestíveis.”

Os ovos contaminados com salmonela provinham de apenas duas granjas com porte de fábrica, a Hillandale Farms e a Wright County Egg, ambas do estado de Iowa. Por trás deste surgimento da doença está o empório do ovo de Austin “Jack” DeCoster. DeCoster é proprietário da Wright County Egg e também da Quality Egg, provedora de frangos e de alimentos para frangos das duas granjas de Iowa. Patty Lovera afirma que: “DeCoster é um nome que se escuta muito quando alguém começa a falar com conhecedores da indústria do ovo ou com pessoas que provem dos estados de Iowa, Ohio ou dos outros estados em que DeCoster opera. Por isso achamos que DeCoster é o perfeito exemplo do que sucede quando temos este tipo de concentração e produção em grande escala. Não se trata só de segurança alimentar ou só de dano ambiental ou do tratamento que recebem os trabalhadores. Quando estamos em frente a este tipo de produção em massa, responsável por enormes quantidades e variedades de nossos alimentos, se trata de um pacote completo de efeitos colaterais negativos.”

A agência de notícias Associated Press produziu um resumo das violações às normas sanitárias, de segurança e de leis trabalhistas presentes nas operações de DeCoster com ovos e porcos em vários estados. Em 1997, a empresa DeCoster Egg Farms aceitou o acordo da Justiça e resolveu de pagar uma multa de dois milhões de dólares pouco depois que o então ministro de Trabalho Robert Reich qualificou sua granja de “tão perigosa e opressora como qualquer empresa maquiladora (ver nota 1 no final do texto). Em 2002, a companhia de DeCoster pagou USd 1 milhão e meio de dólares para chegar a um acordo fruto de uma demanda legal apresentada pela Comissão Federal de Igualdade de Oportunidades Trabalhistas, que representou judicialmente contra a empresa, em defesa de mulheres mexicanas que informaram ter sido submetidas a assédio sexual, inclusive violação e estupro, incluindo abusos e represálias por parte de seus supervisores. Este verão, outra companhia vinculada a DeCoster teve de pagar USd. 125 mil dólares ao estado de Maine por ser acusada de trato cruel contra os animais.

Apesar de tudo isto, DeCoster tem prosperado no negócio de ovos e porcos, o que o põe à altura de outras grandes corporações transnacionais, como a British Petroleum (BP) e os grandes bancos. O derramamento de petróleo da BP, o maior na história deste país, esteve precedido por uma longa lista de fatos criminosos e graves violações às normas de segurança no trabalho. Sendo que todas estas denúncias já datam de vários anos. Um dos mais conhecidos destes atos foi a grande explosão da refinaria da cidade de Texas, desastre esse que custou a vida de quinze pessoas no ano 2005. Se a BP fosse uma pessoa física (um cidadão qualquer), teria ido a prisão faz muito tempo.

A indústria financeira é outro delinqüente crônico. Pouco tempo após o maior desastre financeiro mundial (desde a Grande Depressão iniciada com o Craque da Bolsa de Valores de Nova York em 1929), bancos como Goldman Sachs, cheios de dinheiro depois resgate financeiro governamental - quando os cofres públicos jorraram dinheiro para a salvação da Banca - interferiram no processo legislativo que justamente os tentava controlar.

O resultado foi um novo e amplamente ineficaz organismo governamental de proteção ao consumidor, além de uma implacável oposição à designação, para a direção deste organismo, da defensora dos direitos do consumidor Elizabeth Warren, que seria a pessoa quem supervisionaria aos bancos tanto como o novo organismo lhe permitisse. Este é o motivo pelo qual se opõem a sua designação os banqueiros, dentre eles, Timothy Geithner e Larry Summers. O primeiro foi nomeado pelo Presidente Obama nomeou como Secretário do Tesouro e Assessor Econômico.

Permite-se às corporações transnacionais operar praticamente sem supervisão e nem regulação. Permite-se que o dinheiro das grandes empresas exerça influência sobre as eleições, e por tanto, sobre a conduta de nossos representantes. Depois da decisão da Corte Suprema no caso apresentado pelo grupo de direita Citizens United, permitindo doações corporativas ilimitadas às campanhas, o problema vai de mau em pior. Para ser eleitos e manter no poder, os políticos deverão satisfazer mais e mais a seus doadores empresariais. Se poderia dizer que o lobo vigia ao galinheiro (e aos ovos podres que há nele). No entanto, há esperança. Existe um crescente movimento para reformar a constituição dos Estados Unidos, para tirar das corporações transnacionais o status legal de “pessoa jurídica”, conceito pelo qual estas empresas têm os mesmos direitos que as pessoas normais.

Isto faria que as corporações estivessem sujeitas à mesma supervisão que existiu durante os primeiros cem anos da história dos Estados Unidos. Mas para que as pessoas sejam as únicas com direito à participação política será necessário um verdadeiro movimento de base, dado que o Congresso e o governo de Obama parecem não ser capazes de implantar nem sequer as mudanças mais básicas. Como diz o refrão: “para se fazer um omelete, é preciso quebrar alguns ovos”.

1 Observação do tradutor: maquiladoras são empresas de montagens de peças industriais localizadas na fronteira entre os EUA e o México, que basicamente emprega mulheres, paga salários aviltantes e oferece tratamento desumano.


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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.


© 2010 Amy Goodman: Âncora de Democracy Now!, um noticiário internacional transmitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro "Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos", editado por Le Monde Diplomatique Cono Sur.

Texto traduzido do castelhano e revisado do original em inglês por Bruno Lima Rocha; originalmente publicado em português por Estratégia & Análise. É livre a difusão em língua portuguesa, desde que citando a fonte do original e neste idioma.

Imagem: The Quality Egg of New England, uma das gigantescas empresas de Austin “Jack” DeCoster, empresário da alimentação e acusado de ser o responsável final pela praga de salmonela nos ovos. Tal como no ramo alimentício, a concentração produtiva e de poder, faz com as corporações transnacionais estejam acima da cidadania.
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Pelo fim da publicidade infantil




MANIFESTO

Pelo fim da publicidade e da comunicação mercadológica dirigida ao público infantil

Em defesa dos diretos da infância, da Justiça e da construção de um futuro mais solidário e sustentável para a sociedade brasileira, pessoas, organizações e entidades abaixo assinadas reafirmam a importância da proteção da criança frente aos apelos mercadológicos e pedem o fim das mensagens publicitárias dirigidas ao público infantil.

A criança é hipervulnerável. Ainda está em processo de desenvolvimento bio-físico e psíquico. Por isso, não possui a totalidade das habilidades necessárias para o desempenho de uma adequada interpretação crítica dos inúmeros apelos mercadológicos que lhe são especialmente dirigidos.

Consideramos que a publicidade de produtos e serviços dirigidos à criança deveria ser voltada aos seus pais ou responsáveis, estes sim, com condições muito mais favoráveis de análise e discernimento. Acreditamos que a utilização da criança como meio para a venda de qualquer produto ou serviço constitui prática antiética e abusiva, principalmente quando se sabe que 27 milhões de crianças brasileiras vivem em condição de miséria e dificilmente têm atendidos os desejos despertados pelo marketing.

A publicidade voltada à criança contribui para a disseminação de valores materialistas e para o aumento de problemas sociais como a obesidade infantil, erotização precoce, estresse familiar, violência pela apropriação indevida de produtos caros e alcoolismo precoce.

Acreditamos que o fim da publicidade dirigida ao público infantil será um marco importante na história de um país que quer honrar suas crianças.

Por tudo isso, pedimos, respeitosamente, àqueles que representam os Poderes da Nação que se comprometam com a infância brasileira e efetivamente promovam o fim da publicidade e da comunicação mercadológica voltada ao público menor de 12 anos de idade.

Participe, assine o manifesto AQUI*. E conheça o Instituto Alana AQUI.

*Nota: onde está escrito RG, caso dê falha, substitua pelo CPF.
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Manipulação de pesquisa eleitoral tem história

Carta aos ex-assinantes

Sobre rumores de que houve manipulação de pesquisa eleitoral pelo IBOPE e Datafolha [fraude], a fim de "estancar a fuga de recursos financeiros da candidatura de Serra", após a divulgação das pesquisas no mês de junho, é bom recordar a experiência riograndense de 2002, quando milhares de consumidores* cancelaram suas assinaturas do jornal Zero Hora, do Grupo RBS. Na época, o jornal divulgou pesquisa manipulada realizada pela empresa do senhor Carlos Montenegro - o IBOPE!?!?!

A coisa foi tão escandalosa, que Nelson Sirotsky escreveu editorial em ZH no dia 3/11/2002, enviou, aos ex-assinantes, uma carta; chamou uma comissão de notáveis; tudo isso para tentar recuperar algum $$$$.

Segue trecho do artigo Meditações sobre 27 de outubro de 2002 escrito por Pedrinho Guareschi, na época prof. da PUC/RS, sobre o caso da manipulação:

[...] até quando se pode aceitar, por exemplo, pensando em termos de uma sociedade democrática e pluralista, que um candidato (atualmente senador)** "possua" um meio de comunicação (no caso, uma rádio), para sua projeção pessoal e conseqüente influência política? É isso concebível dentro do referencial de uma comunicação como serviço público que deve ser porta-voz de TODA a sociedade, de maneira democrática e plural? E que dizer da afirmação do próprio candidato de que pretende permanecer três dias em Brasília, para suas tarefas como senador, e quatro dias no Rio Grande do Sul, para falar em "sua" rádio?

Que dizer do último escândalo midiático de determinado Instituto de Pesquisa apresentar, cinco dias antes da eleição, que a diferença entre dois candidatos seria de 23 pontos; dois dias antes da eleição dizer que seria de 16 pontos; no dia da eleição, com pesqusa de boca de urna, dizer que seria de 12 pontos; e na confirmação das urnas, constatar-se que foi de 5,6 pontos? Que dizer de comentaristas que, ao sair a boca de urna, virem de imediato a público dizendo, sem que ninguém lhes tenha solicitado, que o Instituto estava correto, pois entre 16 e 12 pontos de diferença, com margem de erro de 2,2, o Instituto ainda estaria correto?


Por que tanto interesse em defender o Instituto antes da contagem dos votos? E que dizer dos mesmos comentaristas que, após a apuração, ao se constatar que a diferença de boca de urna e dos resultados reais tinha sido de 6,7, com margem de erro de 2 pontos, não comentarem absolutamente nada, permanecendo calados? Mas, ao se constatar o escândalo, a primeira "desculpa", tentando justificar o que não tem justificação, ter sido esta: "a RBS não faz pesquisas, ela apenas contrata pesquisas de outros Institutos". É essa uma justificativa que explique, diante das defesas feitas ao Instituto anteriormente?

Mesmo nesse último caso, o de apenas contratar pesquisas, deveríamos fazer duas observações: primeiro, o que significa "contratar" pesquisas?? Quais os direitos que o contratante tem sobre o produto? Além do direito de publicar ou não, é ele que decide também sobre as margens de erro? Tudo isso continua obscuro. Segundo: diante de aberrações indiscutíveis, tal empresa deveria questionar-se seriamente sobre a capacidade e a honestidade de tal Instituto. A conclusão a que se chega é que se uma empresa continua a contratar serviços de um Instituto assim, certamente não estaria trilhando por caminhos sérios e responsáveis É por tudo isso que estou, nessa manhã de 28 de outubro, parte feliz e parte indignado com mais essa página de nossa história. Continuaremos assistindo a tais fenômenos, ou "outra comunicação é possível"?


Pelo que se percebe, quase 8 anos se passaram e a história continua a mesma... Estejamos de olho, pois as pesquisas, fato curioso, sempre pendem para o lado mais nefasto da representação política, até o limite do possível. A troco de que favorecer uma candidatura José Serra [PSDB] que: 1) não respondeu, a contento, pelo buraco do metrô de SP; 2) não respondeu, a contento, pelo escândalo da Alstom; 3) enfrentou briga entre policiais das corporações civil e militar ao lado da sede do Governo de SP; 4) entregou livros com dois mapas do Paraguai para a rede pública de ensino; 5) agiu com violência na última greve de professores estaduais; etc.

*Consumidores: assim denominados pelo movimento, a fim de fazer valer algo tão caro à turma dos Sirotsky, que é o "mercado". Produto ruim não se consome.
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JUVENTUDE EM DEFESA DA VIDA!

Do blog Levante Popular da Juventude:

O Luxo dos Ricos ameaça o nosso Futuro!

A humanidade e a natureza não podem ficar a serviço das grandes empresas.

Juventude em Luta

Em Defesa da Vida


Manifestação nesta Terça dia 8 de Junho, concentração às 8h na Usina do Gasômetro.

ASSEMBLÉIA POPULAR DA JUVENTUDE

Construindo um Projeto Popular para o Brasil


http://levantepopulardajuventude.blogspot.com/



Cerca de 400 jovens ligados a movimentos sociais gaúchos estarão amanhã a partir das 8h na Usina do Gasômetro, centro de Porto Alegre, para protestar contra o atual modelo de desenvolvimento que favorece as multinacionais em detrimento de qualquer forma de vida. A manifestação reivindica a retirada do pedido de liberação do arroz transgênico na CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança); a paralisação da construção da barragem de Belo Monte; e a realização de uma reforma agrária popular, incentivando a produção agroecológica.

Às 10h, os jovens irão se juntar aos moradores do Morro Santa Teresa, que estarão mobilizados em frente à Assembleia Legislativa para protestar contra a venda do terreno da FASE (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo, ex-Febem) pelo governo estadual. O projeto de lei 388, em que o governo pede autorização aos deputados para a permuta ou alienação da área, deve ser votado nesta terça-feira (08/06 no plenário da Assembleia). Cerca de 20 mil pessoas que moram na área de 74 hectares da FASE serão afetadas com o projeto.

OS JOVENS

A juventude dos Movimentos Sociais é integrada por jovens do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados), MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), PJR (Pastoral da Juventude Rural) e Levante Popular da Juventude. Os jovens estão organizados na Assembleia Popular da Juventude, articulação que congrega os jovens dos mais diferentes movimentos socias.

MAIS INFORMAÇÕES:

Ana Lúcia Mohr
Levante Popular da Juventude
91663354


Atualizado às 19h07min.
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Governo Lula: O país avança e melhora a vida de milhões de brasileiros

Vinte milhões de pessoas alcançaram renda familiar de R$ 1,1 mil, nos últimos dois anos, elevando a população nessa faixa de rendimento. Número de pobres caiu de 93 milhões para 73 milhões.

Os economistas adoram discutir os grandes números da economia, o PIB, o nível de emprego e de investimento, juros, dívida, o sobe e desce das bolsas. Mas a melhor tradução para o especial momento da economia brasileira pode muito bem vir de uma pesquisa divulgada ontem pela Cetelem, financeira do banco francês BNP Paribas. Ela sugere que, em dois anos, 20 milhões de pessoas deixaram os estratos mais pobres e passaram para a classe média. Classe média brasileira, com renda familiar ao redor dos R$ 1,1 mil mensal, mas ainda assim um impulso que praticamente dobrou o rendimento disponível.

“Pode-se afirmar que o bem-estar da sociedade brasileira passa por uma pequena revolução”, diz o estudo encomendado pela Cetelem. Entre 2005 e 2007, a população aumentou de 184 milhões para 187,2 milhões. Mas o ritmo de crescimento da classe C foi bem maior, de 62,7 milhões para 86,2 milhões no mesmo período — passou de 34% para 46% dos brasileiros. Enquanto isso, a classe D/E encolheu de quase 93 milhões de pessoas para 73 milhões.

Mobilidade

“O outro lado da moeda é o decréscimo de também 12 pontos percentuais da proporção de pessoas que formam as classes D/E: era de 51%, em 2005, e atingiu 39%, em 2007. É importante ressaltar que o número de pessoas que passou de D/E para C teve um aumento de renda média mensal de R$ 580 para R$ 1,1 mil”, diz a pesquisa Observador 2008, que traça o perfil do consumidor e dos lares do país.“A migração entre as classes significa um aumento na qualidade de vida e a análise dos últimos anos mostra a consolidação de uma tendência. Em 2006, tínhamos medo de que o crescimento fosse apenas pontual, por conta das eleições, mas agora vimos que é contínuo”, avalia o diretor-executivo de Marketing, Parcerias e Novos Negócios da Cetelem Brasil, Franck Vignard-Rosez.

Na prática, vários sinais indicam a emergência da classe média no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (Abep), a classe C é o segmento que mais cresce e já representa 43% da renda disponível para consumo no país. “As pessoas estão migrando da classe D para a C e aí há uma demanda crescente”, disse, no final de fevereiro, o diretor-presidente da Natura, Alessandro Carlucci, ao justificar as mudanças na empresa para focar os segmentos de menor renda.A Positivo, líder do comércio de computadores no país, comemorou 1,38 milhão de máquinas vendidas no ano passado apontando para a classe C como responsável pelo boom no consumo. Ainda em 2007, 37% dos internautas brasileiros estavam nessa faixa de renda, mas devem chegar a 40% este ano e são os principais responsáveis pelo aumento de vendas na rede — relatório recente da consultoria E-bit mostrou que a maior parte dos 2,5 milhões de novos compradores pela internet são da classe C. E 70% dessa faixa de rendimentos já possui pelo menos um celular (eram 59% em 2006).

Consumidores mais exigentes

Renda e crédito em alta aguçam o desejo de consumo. A pesquisa Observador 2008, encomendada pela financeira Cetelem ao instituto Ipsos, sugere que a classe média quer adquirir produtos semelhantes àqueles listados pelos mais ricos.Para o diretor-executivo de Marketing, Parcerias e Novos Negócios da Cetelem Brasil, Franck Vignard-Rosez, ao entrar na classe C o consumidor passa a ser mais exigente na hora de comprar produtos e serviços. “Vemos um aumento da exigência do consumidor em termos de produtos e serviços. Antes, a pessoa queria apenas uma TV. Hoje, ela quer uma TV de tela plana”, explica.

Segundo a pesquisa do ano passado, os maiores crescimentos na intenção de compra de bens foram para móveis, eletrodomésticos, lazer/viagem, TV, Hi-fi e vídeo, telefone celular e computador para casa। Foram sete de 12 itens analisados. Em 2007, desses seis itens, três mantiveram-se em trajetória de crescimento: passou de 19% para 24% a intenção de compra de telefone celular; computador para casa subiu de 17% para 20% no último ano; e decoração foi de 16% para 18%. A intenção de adquirir uma propriedade também continua em uma trajetória de alta, saindo de 10% para 11% e agora em 2007, 13%.

Mas se esse é o cenário geral, a pesquisa mostra que a intenção de compra da classe C cresceu por dois anos consecutivos de forma semelhante às classes A/B, com o desejo concentrado em eletrodomésticos, telefone celular, computador para casa, decoração e propriedades. “Destaca-se a intenção de consumo de propriedades, que saiu de 10% em 2005, pulou para 14% em 2006 e agora atinge o recorde de 16% com acesso ao crédito facilitado. Nunca a classe C quis adquirir tanto um imóvel como hoje”, diz o estudo.
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