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Judiciário precisa de um choque de democracia


Os novos atores políticos 

Um dos fatos mais relevantes de 2012 foi a transformação dos juízes do Supremo Tribunal Federal em novos atores políticos. Já há algum tempo o STF virou protagonista de primeira grandeza nos debates políticos nacionais, ao arbitrar grandes questões ligadas à vida nacional em um ambiente de conflito. Por tal razão, vemos hoje um fato absolutamente inédito na história nacional: juízes do STF reconhecidos por populares.

Durante décadas, a Suprema Corte era um poder invisível para a opinião pública. Ninguém via no Supremo a expressão de um poder que poderia reverberar anseios populares. Hoje é inegável que algo mudou, principalmente depois do julgamento do chamado “mensalão”, no qual o tribunal procurou traduzir em ações as demandas sociais contra a corrupção. Nesse contexto de maior protagonismo do STF, algumas questões devem ser colocadas.

Fala-se muito da espetacularização do Judiciário, que seria sensível aos apelos da mídia e de setores da opinião pública. Isto principalmente depois da criação de um canal de televisão, a TV Justiça, pelo qual é possível acompanhar julgamentos do STF. Se levado a sério o argumento, teríamos de afirmar que tal espetacularização é um fenômeno a atingir a democracia como um todo, e não apenas um de seus poderes. Na verdade, melhor isso do que os momentos nos quais juízes do Supremo podiam dizer que julgavam “de costas para a opinião pública”. A democracia exige o regime da máxima visibilidade dos entes e processos públicos.

Segundo, que juízes se vejam como atores políticos não deveria ser visto como problema. Só mesmo um positivismo jurídico tacanho acreditaria que a interpretação das leis pode ser feita sem apelo à interpretação das demandas políticas que circulam no interior da vida social de um povo. Interpretar uma lei é se perguntar sobre o que os legisladores procuravam realizar, qual o núcleo racional por trás das demandas que se consolidaram através da enunciação de leis. Que juízes se vejam, atualmente, com tais incumbências, eis algo que não deveria nos preocupar.

Há, porém, duas questões urgentes que merecem nossa atenção diante deste novo momento do Judiciário. Primeiro, a tripartição dos poderes foi feita com vistas à possibilidade de constituir um sistema de mútua inspeção. Um poder deve ter a possibilidade de servir de contrapeso aos demais. Para isso, todos os três poderes devem ter o mesmo grau de legitimidade e todos devem ter mecanismos simétricos de controle.

O único fundamento de legitimidade reconhecido pela democracia é a soberania popular. Ela se manifesta na escolha do Poder Executivo e do Legislativo. Mas está completamente ausente no interior do Poder Judiciário. O sistema de escolha e nomeação dos integrantes do STF, com suas indicações do Executivo e sabatina do Legislativo, é completamente opaco e antidemocrático. Haja vista as recentes inconfidências do ministro Luiz Fux a esse respeito. Nem sequer procuradores do Ministério Público são escolhidos por deliberação popular. Um poder que deseja um protagonismo político respeitado deve se abrir para a participação popular direta. Há uma criatividade institucional necessária que deve ser mobilizada para sairmos de um sistema “monárquico” de constituição do Judiciário, com suas indicações por compadrio ou “serviços prestados”, seus cargos sem tempo fixo de mandato.

O problema do controle do Judiciário não deve, no entanto, ser posto necessariamente na conta de tentativas de amordaçamento. Todos os poderes têm mecanismos de controle. Por exemplo, podemos aplicar impeachment em um presidente, cassar o mandato de um deputado, mas o que fazer quando um juiz do STF demonstra-se inapto ao cargo? Um poder democrático é aquele que deixa claro seus mecanismos de entrada e de saída, ou seja, como ele escolherá seus integrantes e como afastará quem se demonstra inabilitado para o cargo. Nos dois casos, nosso Judiciário tem muito no que avançar.

É necessário que a sociedade brasileira tenha a serenidade para discutir mecanismos de reforma do Judiciário, principalmente agora que compreendemos a importância de sua função. A democracia tem muito o que construir no que diz respeito à legitimidade popular de seus juízes.
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O "mensalão" tucano

Mino Carta

A mídia nativa entende que o processo do “mensalão” petista provou finalmente que a Justiça brasileira tarda, mas não falha. Tarda, sim, e a tal ponto que conseguiu antecipar o julgamento de José Dirceu e companhia a um escândalo bem anterior e de complexidade e gravidade bastante maiores. Falemos então daquilo que poderíamos definir genericamente como “mensalão” tucano. Trata-se de um compromisso de CartaCapital insistir para que, se for verdadeira a inauguração de um tempo novo e justo, também o pássaro incapaz de voar compareça ao banco dos réus.

Réu mais esperto, matreiro, duradouro. A tigrada atuou impune por uma temporada apinhada de oportunidades excelentes. Quem quiser puxar pela memória em uma sociedade deliberadamente desmemoriada, pode desatar o entrecho a partir do propósito exposto por Serjão Motta de assegurar o poder ao tucanato por 20 anos. Pelo menos. Cabem com folga no enredo desde a compra dos votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, até a fase das grandes privatizações na segunda metade da década de 90, bem como a fraude do Banestado, desenrolada entre 1996 e 2002.

Um best seller intitulado A Privataria Tucana expõe em detalhes, e com provas irrefutáveis, o processo criminoso da desestatização da telefonia e da energia elétrica. Letra morta o livro, publicado em 2011, e sem resultado a denúncia, feita muito antes, por CartaCapital, edição de 25 de novembro de 1998. Tivemos acesso então a grampos executados no BNDES, e logo nas capas estampávamos as frases de alguns envolvidos no episódio. Um exemplo apenas. Dizia Luiz Carlos Mendonça de Barros, presidente do banco, para André Lara Rezende: “Temos de fazer os italianos na marra, que estão com o Opportunity. Fala pro Pio (Borges) que vamos fechar daquele jeito que só nós sabemos fazer”.

Afirmavam os protagonistas do episódio que, caso fosse preciso para alcançar o resultado desejado, valeria usar “a bomba atômica”, ou seja, FHC, transformado em arma letal. Veja e Época foram o antídoto à nossa capa, divulgaram uma versão, editada no Planalto e bondosamente fornecida pelo ministro José Serra e pelo secretário da Presidência Eduardo Jorge. O arco-da-velha ficou rubro de vergonha, aposentadas as demais cores das quais costuma se servir.

Ah, o Opportunity de Daniel Dantas, sempre ele, onipresente, generoso na disposição de financiar a todos, sem contar a de enganar os tais italianos. Como não observar o perene envolvimento desse monumental vilão tão premiado por inúmeros privilégios? Várias perguntas temperam o guisado. Por que nunca foi aberto pelo mesmo Supremo que agora louvamos o disco rígido do Opportunity sequestrado pela PF por ocasião da Operação Chacal? Por que adernou miseravelmente a Operação Satiagraha? E por que Romeu Tuma Jr. saiu da Secretaria do Ministério da Justiça na gestão de Tarso Genro? Tuma saberia demais? Nunca esquecerei uma frase que ouvi de Paulo Lacerda, quando diretor da PF, fim de 2005: “Se abrirem o disco rígido do Opportunity, a República acaba”. Qual República? A do Brasil, da nação brasileira? Ou de uma minoria dita impropriamente elite?

Daniel Dantas é poliédrico, polivalente, universal. E eis que está por trás de Marcos Valério, personagem central de dois “mensalões”. Nesta edição, Leandro Fortes tece a reportagem de capa em torno de Valério, figura que nem Hollywood conseguiria excogitar para um policial noir. Sua característica principal é a de se prestar a qualquer jogo desde que garanta retorno condizente. Vocação de sicário qualificado, servo de amos eventualmente díspares, Arlequim feroz pronto à pirueta mais sinistra. Não se surpreendam os leitores se a mídia nativa ainda lhe proporcionar um papel a favor da intriga falaciosa, da armação funesta, para o mal do País.

Pois é, hora do dilema. Ou há uma mudança positiva em andamento ou tudo não passa de palavras, palavras, palavras. Ao vento. É hora da Justiça? Prove-se, de direito e de fato. E me permito perguntar, in extremis: como vai acabar a CPI do Cachoeira? E qual será o destino de quem se mancomunou com o contraventor a fim de executar tarefas pretensamente jornalísticas, como a Veja e seu diretor da sucursal de Brasília, Policarpo Jr., uma revista e um profissional que desonram o jornalismo.
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A fábula do peixe ingrato

Os países subdesenvolvidos e o peixe ingrato da fábula 

Faz anos, estudante ainda, assisti, no Instituto de Antropologia da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, inesquecível palestra na qual sociólogo norte-americano enviado pelo complexo USAID-USIS apresentava como incompreensível o anti-americanismo com o qual as populações dos países pobres, nós, respondiam à ajuda que lhes era proporcionada pelos EUA.

Para ilustrar sua surpresa, valia-se de uma fábula, segundo a qual, contava-nos ele, durante enchente imprevista em floresta densamente povoada de animais, um macaco, inteligente e bondoso, subiu ao cume da mais alta árvore da região e de lá ficou salvando do afogamento os animais que passavam arrastados pela correnteza. Assim, salvou coelhos, onças, e mais outros macacos e outros bichos. De todos, agradecidos, recebeu carinhos merecidos. De todos, menos do peixe. Este, ingrato, respondeu com grosserias à sua bondade, debatendo-se nos braços do salvador,  até voltar à correnteza e de lá, depois de um mergulho, acenar com gestos inamistosos.

Na vida real, dizia-nos o sociólogo, éramos os subdesenvolvidos salvos da miséria e da opressão pela ação benfeitora dos EUA–, o ingrato peixe da anedota.

A historieta me voltou à mente ao deparar-me, na televisão, com Hillary Clinton, cândida e surpresa, ante o  assassinato (injustificável diga-se logo) do embaixador Christopher J. Stevens, na Líbia ‘libertada’.

Como podem os líbios assim reagir à intervenção norte-americana em seu país para levar-lhes os valores ditos ocidentais dos quais os EUA se consideram guardiães e guerreiros?

Como o macaco da fábula, que não entendia que o peixe preferisse “afogar-se” na enchente a secar-se no alto da árvore, não entendem os EUA que os árabes de hoje – os latino-americanos, os africanos e os asiáticos — queiram simplesmente usufruir daquele direito de que se imbuíram os fundadores da Revolução Americana: o direito coletivo à autodeterminação. Esses povos e civilizações antigas e ricas respeitam os valores do mercantilismo e do consumismo ocidentais – gostam de sua música e de sua poesia, gostam até de seus filmes–, mas desejam manter, em suas casas,  os seus valores, as suas crenças, as suas religiões, os seus territórios, as suas riquezas e, entre elas, o maldito petróleo. Não pedem muito. Querem apenas continuar árabes, persas, asiáticos, africanos…

Os EUA, todavia, se consideram os novos Cruzados de um ocidentalismo decadente, cujos valores, como os cavaleiros medievais, procuram impor a ferro e fogo ao resto humanidade. Para os EUA – para o Departamento de Estado, o Pentágono, o Congresso e a Casa Branca–, o mundo está dividido entre o bem e o mal, e eles representam o bem, porque o mal, como o diabo sartriano, são os outros: já foi a China (em breve voltará ser), o Japão, a URSS, o Vietnã, a Coreia. Hoje, depois da pequenina Cuba, Irã, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria, Líbia, passando, com suas bombas pelo Sudão. Os países podem mudar, os conceitos variar, mas sempre haverá um povo “por civilizar”, um território a ser invadido, uma riqueza a ser surrupiada, sempre em nome de “nossos” valores cristãos, sempre em nome da liberdade e da paz.

Os dirigentes norte-americanos, como o “americano tranquilo” de Graham Greene, parecem distraídos em relação a algumas evidências. Por exemplo: o fato de que a população do chamado “mundo árabe” sabe perfeitamente bem que não houve uma só ditadura na região, desde a divisão do mundo pós-1945, sem o apoio deles, EUA. E tem fundados motivos para desconfiar do altruísmo deles, EUA, ou mesmo da sua adesão a princípios libertários: todos viram que, no caso do Bahrein, a participação dos norte-americanos na primavera árabe teve tons invernais.

Independentemente do partido escolhido para o rodízio, seja o governo do presidente Theodore Roosevelt ou de qualquer Bush, Obama ou Mitt Romney, seja com a “Doutrina Monroe” ou sem doutrina qualquer, o establishment norte-americano se considera portador de uma missão divina (ainda ele, o destino manifesto): converter os impuros, se preciso às custas do Big Stick. Impuros são os ímpios, são os infiéis e são os que ousam opor aos interesses dos EUA seus próprios interesses, de povos, nações, civilizações.

Os EUA não entendem a ingratidão dos que, ‘ajudados’, lhes jogam pedras, e menos ainda entendem os que não lhes reconhecem a missão providencial de cuidar do mundo. Os líderes norte americanos — Walt Street, Pentágono, o complexo industrial-militar, os tea party — não entendem que a humanidade lhes negue o papel de libertadores do mundo, de um  mundo escravizado, o qual, por estar escravizado,  necessariamente anseia por liberdade, e só existe uma única liberdade, aquela simbolizada pela estátua francesa que toma conta do porto de Nova York. Se o mundo está escravizado,  cabe aos EUA libertá-lo, porque esta é sua missão, e porque este objetivo é humanitário, a ação americana (dos seus banqueiros, dos seus exércitos, de suas bombas) é boa, e se é boa, só os maus contra ela se levantam, ou seja, os que se levantam conta os EUA estão comprometidos com o mal, e por isso precisam ser destruídos, como destruídos foram, em nome de Cristo (o nosso Maomé), pelos cruzados e pelas inquisições, os infiéis, os incréus, os endemoniados.

Ninguém pergunta a esta humanidade “escravizada”, como ninguém perguntou ao peixe “afogado” se ele queria o conforto dos galhos frondosos, se ela deseja essa “liberdade” (“libertar-se” de sua história, de sua civilização, de seu destino)  em troca de suas terras ou de seu petróleo.

No mesmo canal de televisão no qual aHillary Clinton carpira suas lágrimas, famoso entrevistador perguntava a três “cientistas políticos” midiáticos se havia alguma coisa que os “EUA pudessem fazer para salvar o Oriente”. O programa de debates terminou sem que os convidados encontrassem a resposta óbvia: há sim, algo que os EUA podem fazer para salvar o Oriente: sair de lá.

Penso que mais ou menos isso foi o que disse na Assembleia Geral da ONU o novo presidente do Egito, Mohamed Mursi, ungido ao poder nas primeiras eleições realizadas após mais de 30 anos da ditadura Mubarak, sustentada pelos EUA e por Israel. Ditadura, aliás, que os EUA se viram na contingência de abandonar (leia-se “derrubar”) após a Primavera Árabe.

Mursi condenou a “liberdade de expressão” usada para incitar o ódio, a recusa de Israel de aderir ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e sua não-aplicação para resguardar suas instalações nucleares e as ameaças ao Irã. Cobrou o direito dos sírios escolherem livremente o regime que os represente melhor, ‘salvar a Síria de uma intervenção militar estrangeira”, que rejeitou. Por fim, defendeu o reconhecimento do Estado palestino.

Esse Mursi é um peixe ingrato.
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Meu ditador preferido

Leandro Fortes

Interessante essa sanguinária ditadura comunista do coronel Hugo Chávez, que tanto desarranjo provoca na sensível barriga da direita latino-americana.

Ao todo, 80% dos eleitores venezuelanos compareceram às urnas, na última eleição presidencial. Detalhe: o voto, na Venezuela, não é obrigatório.

Estranha ditadura esta em que o terrível ditador é escolhido em eleições livres, monitoradas por diversos organismos internacionais, sem falar em todos os urubus da imprensa latino-americana que em Caracas pousaram para agourar a revolução bolivariana.

Para uma elite acostumada a comprar xampu em Miami para dar banho nos cães, Capriles chegou mesmo a ser um sonho de revanche.

Explica-se: a família de Henrique Capriles, assim como as de Fernando Collor e ACM Neto, por exemplo, é dona de uma cadeia de comunicação.

Nas redes privadas, o candidato da direita ocupou 88% do tempo disponível para propagada eleitoral, além de ter o apoio monolítico da mídia local.

A Chávez, sobraram os 12% restantes. Num quadro desses, não é de se admirar a sensação generalizada entre os ricos e remediados de que Capriles seria a nova revolução.

Chávez venceu por 1,5 milhão de votos.

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A sabedoria dos espertalhões

Luiz Gonzaga Belluzzo

Os mandachuvas da economia mundial simulam que seu poder é fruto de sua inteligência. Mas só parecem inteligentes por ter poder

No domingo, 14 de outubro, a manchete da Folha de S.Paulo proclama “Intervenções de Dilma e PIB fraco afastam investidores estrangeiros”. No corpo da reportagem, a jornalista Patrícia Campos Mello esclarece que a deplorada queda no ingresso de capitais está concentrada em ações e títulos de dívida, o chamado investimento de portfólio. Entre janeiro de 2011 e agosto de 2012, essa modalidade de investimento estrangeiro apresentou queda de 1,8% para 0,3% do PIB. Já o investimento direto subiu no mesmo período de 2,3% ­para 2,8% do PIB.

Nas palavras da jornalista, esses números transmitem melhor o humor (sic) dos investidores porque (o investimento de port­fólio) são mais voláteis do que o investimento direto estrangeiro, bem como menos influenciados por uma grande operação.

Em seguida, ela organiza um desfile de opiniões de gestores de fundos dedicados à especulação e à arbitragem com os movimentos esperados de juros e câmbio. Certo Ruchir Sharma, chefe da área de Mercados Emergentes do Morgan Stanley, disparou: “É uma decepção, o Brasil terá crescimento de 1,5% a 2%, nem a metade da média dos emergentes. Para completar, o governo adotou medidas intervencionistas que aproximam o Brasil de países como a Venezuela de Chávez e terão efeito negativo a longo prazo”.

O insigne Michel Shaul, presidente da Marketfield Asset Management, entregou o ouro: “O governo implementou uma série de medidas anticapital que podem até ser boas para a população que vai pagar menos juros no cartão de crédito, mas que não agradam ao investidor”. Já um grande investidor estrangeiro que preferiu o anonimato lamentou: “O governo começou a caça às bruxas contra os bancos, as ações despencaram. Dilma espremeu as elétricas e os papéis desabaram”.

O estudo do FMI intitulado Recent Experiences in Managing Capital Inflows, de fevereiro de 2011, reconhece que a volatilidade dos investimentos de carteira não só é elevada como aumentou depois da crise financeira, com consequências indesejáveis na gestão da política econômica ao provocar o desalinhamento nas taxas de câmbio. No pós-crise, os fluxos líquidos de “dinheiro quente” ganharam força com as sucessivas rodadas de injeção de liquidez pelos bancos centrais. O movimento de capitais de curto prazo na busca de rendimentos mais parrudos cresceu rapidamente e alcançou 435 bilhões de dólares entre o terceiro trimestre de 2009 e o segundo de 2010. Ultrapassou, assim, os picos anteriores à crise em países como ­Brasil, Indonésia, Coreia e Tailândia.

Na maioria dos casos, diz o estudo, o influxo de capitais de portfólio foi determinado pelos diferenciais de taxas de juro, crescimento rápido ou posições fiscais e de endividamento saudáveis, num ambiente global de maior apetite pelo risco. “Em sua maioria, os países adotaram medidas de vários tipos para obviar a valorização das taxas de câmbio. As medidas visaram conter os impactos dos movimentos de capitais de curto prazo sobre os mercados de ativos, ao mesmo tempo preservando o ingresso de capitais produtivos e resguardando a economia das súbitas reversões.”

Nos anos 1990, tempos de glória da globalização financeira, a olímpica tranquilidade dos encantadores de serpente fundava-se nas convenientes falácias da liberalização das contas de capital do balanço de pagamentos. A economia brasileira, ensinavam por aqui, vai pegar no tranco, impulsionada pela entrada pródiga de capitais, aqueles que voavam nas asas da globalização.

Os custos dessa aposta, qualquer um sabe, foram: 1. Perda significativa na liberdade de manejar a taxa de câmbio para conter a invasão das importações e impedir a perda de competitividade das exportações. 2. Rápida ampliação do déficit em conta corrente, derivada de um déficit comercial em expansão e de um passivo externo em processo de ampliação. 3.Crescente e perigosa dependência do financiamento forâneo, ou seja, submissão da política econômica e das metas de crescimento da economia aos humores (sic) dos mercados de capitais internacionalizados, que, como é notório, passam abruptamente da euforia à depressão.

Na inesquecível década dos 90, entre tantas loucuras, os apologetas do capitalismo desbragado e seus ideólogos trataram de convencer a população e a si mesmos de que só eles sabiam das coisas, eram detentores do monopólio das boas ideias, aquelas capazes de salvar a humanidade de suas agruras.

Como toda loucura, essa também tem método: os mandachuvas devem sempre simular que seu poder é fruto da inteligência. É preciso ocultar que só parecem inteligentes porque têm poder. Os sábios globais deram de ombros para as advertências dos críticos. Passada a euforia do dinheiro fácil, os chamados emergentes se afogaram na maré vazante dos capitais em fuga e na repetição dos ajustamentos assimétricos entre países de moeda forte e aqueles de moeda fraca.

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Sobre conservadores e reacionários


Serra perde apoio entre evangélicos
Matheus Pichonelli

Há uma diferença entre um candidato que se diz conservador e outro, reacionário. Um conservador pode ser alguém avesso, por exemplo, a mudanças bruscas nos rumos da economia. Alguém que prefere a estabilidade da moeda e da inflação a uma intervenção aguda nos juros para incentivar a economia. Alguém que desconfia da eficiência do Estado para gerar emprego e renda ou mesmo para garantir, por leis e ações afirmativas, as diversidades ou a livre expressão individual no espaço público.

Em política, pode-se debater essas questões de modo honesto antes, durante e depois das eleições. A finalidade, por caminhos inversos, desboca num valor em comum entre liberais e conservadores legítimos: a justiça. Simplificando, uns a enxergam pelo caminho da igualdade, outros, pela liberdade sem interferências além das inevitáveis.

Este é o mundo ideal. Utópico até. Porque no meio do caminho existe o reacionário. E o reacionário é em si um sujeito raivoso, incapaz de apontar caminhos em direção a uma realidade mais digna para seu país, sua cidade, sua casa, seu bairro. O eleitor reacionário quer o retorno de uma velha ordem. O retorno de privilégios. Daí o nojo às normas formas de expressão. Daí o medo “dessas empregadinhas subirem na vida e se recusarem a trabalhar por mixarias”. Daí o medo de “esse aeroporto se transformar numa rodoviária”. O medo de ciclistas “atrapalharem as pirotecnias da minha SUV”. O medo de mandar “meu filho pra escola e dividir a carteira com o filho do motoboy”. Daí o medo das denominadas “ditaduras gays”.

Silas Malafaia é um reacionário. É um líder que espalha ódio para combater um elemento que ele não reconhece como humano simplesmente porque não nasceu como diz o mandamento. Em suas pregações, ele não diz se o Estado deve agir ou não para garantir a paz e a unidade, conceitos tão caros a qualquer cristão. Pede, em outras palavras, um aniquilamento, uma reação a um mundo de pretensa desordem. É um homem do antigo testamento pregando em 2012 num exercício similar ao esforço de segurar uma barragem com um graveto. Mal sabe ele que, como na música, “algo se perdeu, algo se quebrou, está se quebrando”.

Não fosse isso não haveria, em uma pesquisa Datafolha recente, 70% da população em São Paulo dizendo que a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade, contra 23% que dizem concordar que “deve ser desencorajada”. Os 23% são muitos, é verdade, mas já não são maioria. E, diferentemente do que querem fazer crer, não estão restritos a evangélicos, católicos ou qualquer outra profissão de fé que tenha a paz como embrião.

Por isso, classificar um projeto anti-homofobia do Ministério da Educação como “kit gay”, tomar a parte pelo todo e dizer, em plena campanha para a prefeitura da maior cidade do País, que o programa empurraria os alunos para a homossexualidade, como se este fosse o temor de uma população em chamas, é no mínimo duvidoso. É o que se espera de Malafaia, um reacionário nato. Não de um candidato a prefeito. Qualquer passo em direção a isso soa a desfaçatez – como condenar a prática do aborto e ter um aborto no currículo, como dizer que o Estado não deve se intrometer na orientação sexual do indivíduo e ter lançado um “kit” semelhante. É um convite para o desembarque de um eleitorado progressista identificado com o PSDB fundado por Mário Covas.

Se a ideia era atingir o eleitorado “conservador” de uma cidade onde 79% dizem que “acreditar em Deus torna as pessoas melhores”, o tiro passou longe. Porque o cidadão pode ser conservador, mas nem sempre é burro, conforme poderia confirmar o ex-governador Claudio Lembo. E o perigo em subestimar sua inteligência parece exposto nos números da última pesquisa Ibope, que mostrou o petista Fernando Haddad com 16 pontos de vantagem sobre José Serra (PSDB) – 49% a 33%. 

Serra tinha 37% há uma semana, quando decidiu elevar o tom e trazer a homossexualidade para o centro do debate sobre os problemas de São Paulo, numa tentativa clara de afinar o discurso com o do pastor em guerra declarada por sua candidatura. E, ironia, foi justamente entre os evangélicos que ele mais perdeu apoio (de 37% para 28%) – neste grupo, Haddad tem 52% das preferências.

E por que Haddad ampliou a vantagem em relação à última pesquisa? Porque o eleitor é pouco instruído, alienado sobre o processo do “mensalão” e se contenta com migalhas de programas sociais como o Bolsa Família? Nada disso. A mesma pesquisa mostrou uma melhora da avaliação do petista justamente no centro expandido de São Paulo, onde o eleitor é mais escolarizado e, em tese, não precisa de programas sociais. Haddad chegou mais perto de Serra no conjunto dessas regiões, algo até então inesperado, conforme mostrou a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, ao colunista José Roberto de Toledo, do Estado de S.Paulo.

Segundo ela, Haddad passou a liderar em todos o segmentos de escolaridade, ampliou a vantagem entre os eleitores com ensino fundamental, manteve a dianteira entre os que cursaram até o ensino médio e empatou com Serra entre os que têm nível superior: 42% a 42%.

Este eleitor, que historicamente tende a rejeitar candidatos petistas em São Paulo, não parece preocupado com o “incentivo” à homossexualidade citada por Malafaia para atacar a campanha petista. Por um motivo simples: este eleitor não está no antigo testamento. Está em 2012. E não vai ser rifando direitos consolidados ao longo de anos, como bem frisou o ativista Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que o candidato vai cativar um eleitorado supostamente avesso a mudanças. Nem falando alto com quem insiste em fazer perguntas incômodas. Nem associando o candidato rival a um escândalo ocorrido num tempo em que era professor de política na Universidade de São Paulo.

O eleitor conservador tem as suas preferências, mas identifica de longe o cheiro de oportunismo. Não é tratando-o como idiota que se conseguirá o seu respeito.

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A quem interessa uma Carta Capital invisível?

Enquanto o governo mete-se em mais uma guerra de informações com a Veja e seus veículos co-irmãos, nem uma palha foi mexida para se averiguar a história das Verônicas S. e D., metidas que estão numa cabeludíssima denúncia de quebra de sigilo bancário, justamente quando uma delas, a filha de Serra, posava de vítima de quebra de sigilo fiscal por funcionários da Receita acusados de estar a serviço da campanha de Dilma Rousseff. Nem o Ministério da Justiça, nem a Polícia Federal, nem a CGU, nem Banco Central tomaram qualquer providência a respeito. Nenhum líder governista no Congresso deu as caras para convocar os suspeitos de terem facilitado a vida das Verônicas – os tucanos Pedro Malan e Armínio Fraga, por exemplo. Nada, nada.

Então, quando me perguntam o porquê de não haver repercussão das matérias da CartaCapital na velha mídia, eu respondo com facilidade: é proibido. Ponto final. Agora, se me perguntarem por que o governo, aliás, sistematicamente acusado de ter na Carta um veículo de apoio servil, não faz nada para apurar a história da quebra de sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros, eu digo: não faço a menor idéia.
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Aparecem emails de espionagem no governo Yeda

Da Carta Capital:
A cada dia que passa, mais provas surgem incriminando o círculo próximo da governadora do RS, Yeda Crusius, a atividades ilegais dentro do seu gabinete. CartaCapital teve acesso a emails que comprovam a participação direta do ex-chefe de gabinete Ricardo Lied na utilização do escritório de espionagem que virou a Casa Militar do Estado.

As mensagens a seguir são de setembro de 2008 e mostram como Lied solicitou – e foi atendido – que oficiais da Inteligência do Estado utilizassem o Sistema de Consultas Integradas para bisbilhotar informações policiais do ex-deputado estadual Luis Fernando Schmidt (PT), na época candidato à prefeitura da cidade de Lajeado, e adversário político do primo do chefe de gabinete, Márcio Klaus (PSDB).
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Leandro Fortes faz jornalismo de verdade

Ora vejam, em meio à mixórdia jornalística dos grandes jornais e TVs, o jornalista Leandro Fortes faz uma das matérias do ano, ao mostrar que o site Decidir.com, da filha do Serra e da mulher do Daniel "Mendes" Dantas, ambas "Verônica", quebrou o sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros. Diz Brizola Neto, sobre o assunto:
no caso de 2001, relatado por Carta Capital, todos os brasileiros com conta corrente ativa ficaram com seus dados bancarios abertos na internet por cerca de 20 dias.

O site responsável pelo crime chamava-se Decidir.com e estava registrado em Miami em nome de seis sócios, entre eles Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, posteriormente envolvido até o pescoço na Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Não que isso não fosse sabido. É que tinha jornalista mixó se fazendo de loco. Daí o valor da matéria do Leandro Fortes na Carta Capital.

Aliás, até mesmo o "escândalo" da hora é coisa antiga, mas tem político mixó se fazendo de loco.

Aliás, as relações "de família", "carnais" de Serra com Dantas, de conhecimento público, são motivo para ficarmos espertos. O caso da Decidir.com é exemplar:
A Decidir.com se apresentava em seu site como um espaço de informações para os interessados em se tornar um fornecedor do Estado brasileiro. No mínimo, havia um conflito de interesses pela participação nessa empresa da filha de um ministro de Estado, cuja pasta tinha grande relação com fornecedores.

A empresa se desfez no ano seguinte, e em 2008, após a Operação Satiagraha, Verônica Serra negou conhecer Verônica Dantas.
Aliás, Dantas, que Dantas?

Dantas, o Daniel, é o cara que FHC acha brilhante, enquanto Lula acha um escroque.

Dantas é o cara que fez certas redações não muito certas acusarem a polícia por fazer seu trabalho policial.

Dantas é o cara que corrompia vários jornalistas e juízes, segundo indícios.

Dantas é o cara que, fosse preso, poderia motivar uma edição presos e presídios da revista Caras. Eu compraria.

Enfim, como bem sabemos, Dantas é aquele cara que sai da cadeia com seu STF Express, após ser pego em flagrante tentando corromper policial que estava indo prendê-lo por outros casos escabrosos, os quais deveriam sair no Wikileaks -- o HD do Dantas tinha que estar lá! -- já que jornalista que investiga Dantas acaba condenado.

Então, bora lá comprar a Carta Capital, porque tem informação.
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