Devagar. E avante. Construção civil diminui ritmo, mas mantém crescimento
- Crédito imobiliário em alta financia mais de meio milhão de unidades
Geralda Doca e Karine Tavares
RIO e BRASÍLIA — Diante de um cenário de juros altos e crescimento moderado da economia, as previsões para o crédito imobiliário em 2014 são de expansão entre 10% e 20%, o que reflete uma certa acomodação em relação ao ano passado e 2013. O momento de euforia com taxas de crescimento superiores a 40% passou, na visão de especialistas, mas o setor está longe de uma retração. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), só com recursos da poupança foram mais de R$ 100 bilhões para a habitação, contra R$ 82,8 bilhões em 2012.
Dona de 69% do mercado de crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal (CEF) deverá fechar o ano com recorde de empréstimos: R$ 130 bilhões, somando-se os recursos do FGTS e da poupança. No ano passado, essa cifra ficou em R$ 106,7 bilhões.
Já a construção civil sentiu mais os efeitos da economia e teve um ano aquém do esperado. A estimativa de crescer 4,5% não só não se confirmou como ficou bem longe da realidade. A expectativa hoje é de terminar 2013 com expansão de 2%, bem próximo aos 2,3% do país, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). No Rio, isso se refletiu nos lançamentos imobiliários que tiveram um desempenho tímido em relação a 2012, passando das 19.551 unidades lançadas, então, para cerca de 20 mil.
— A gente esperava um ano melhor. Tanto do ponto de vista do mercado imobiliário, quanto de infraestrutura. O primeiro semestre, especialmente, foi bem ruim, com muitas empresas sendo forçadas a adiar seus projetos porque havia muito estoque. Os leilões de infraestrutura também sofreram atraso, o que prejudicou o setor — diz Paulo Simão, presidente da CBIC, admitindo as dificuldades enfrentadas.
Nem mesmo a desoneração da folha de pagamento anunciada no fim do ano passado surtiu efeitos, o que deve acontecer a partir de janeiro.
— Isso deve ajudar o setor que, com a terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida e as obras de rodovias e aeroportos já no primeiro semestre de 2014, deve ter um ano melhor — diz.
No Rio, estabilidade nos lançamentos
No Rio, a manutenção do número de lançamentos na faixa dos 20 mil não tira o sono do setor. Pelo contrário. Para João Paulo Matos, presidente da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), isso mostra que o mercado está se estabilizando:
— É um crescimento pequeno, que deve se manter em 2014. Mas é bom, pois mostra estabilidade. E do ponto de vista do valor dos empreendimentos lançados, houve um aumento de 16%.
De fato, enquanto entre janeiro e novembro do ano passado, o valor total dos imóveis que chegaram ao mercado atingiu R$ 8 bilhões, no mesmo período deste ano, o montante chegou a R$ 9,3 bilhões. Descontada a inflação, os preços subiram em torno dos 11%.
O índice é próximo ao apurado no mercado de imóveis usados, que, entre janeiro e novembro deste ano, registrou alta de preços em torno dos 9%, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi-Rio). No mesmo período do ano passado, essa taxa fora de 13%, o que mostra desaceleração no ritmo dos aumentos. Ainda assim, ficou acima do esperado pelo mercado, que estimava reajustes em torno da inflação apenas.
— Esperávamos a acomodação dos preços. Até porque parecia que o valor de venda já tinha atingido seu teto, mas ainda houve valorização. Acho que isso se dá por conta do momento favorável da cidade, provocado por obras de infraestrutura, além da instabilidade do mercado financeiro (que faz as pessoas migrarem seus investimentos para imóveis) e da força do crédito imobiliário — avalia Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio.
2014: Crédito deve ter acomodação
No crédito imobiliário, as previsões para 2014 são de expansão entre 10% e 20% em relação ao ano passado e 2013, o que mostra uma certa acomodação. A euforia a respeito de taxas de crescimento superiores a 40% passou, na visão de especialistas, mas o setor nem pensa em retração.
— Aquela momento de euforia passou, mas estamos longe de considerar o mercado saturado — diz Teotônio Rezende, diretor de Habitação da Caixa.
Para o presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior, a manutenção de empregos e renda das famílias, aliada à fartura de recursos, de um lado; e o déficit de moradias, de outro, justificam as projeções para o setor, mesmo com indicadores econômicos adversos:
— Isso faz com que o crédito imobiliário possa andar, mesmo com o baixo crescimento da economia.
A manutenção da força do crédito imobiliário, apesar das dificuldades na economia, não é à toa. A inadimplência tem se mantido entre 1,2% e 1,7% nos últimos três anos — um dos níveis mais baixos da história do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). A avaliação é que a maioria das famílias compra casa para morar, trocando o aluguel pela prestação.
O bom desempenho da poupança, que com a alta dos juros recuperou a correção (6,17% ao ano), é outro fator. Até novembro, a captação líquida foi de R$ 46 bilhões, maior que todo o ano passado: R$ 37 bilhões. O estoque chegou no mês passado a R$ 456,2 bilhões. O FGTS, fonte que junto com a poupança forma o SFH, reservou R$ 57,8 bilhões para a habitação em 2014.
— Continuamos emprestando sem preocupações iminentes com a falta de recursos — destacou Octavio de Lazari Junior, presidente da Abecip.
Diretor da Caixa, Teotônio Rezende destaca ainda outros dois fatores: o estoque contratado pelas empresas, que deve virar financiamento a pessoas físicas no próximo ano. E a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida que, segundo a presidente Dilma Roussef, terá continuidade independentemente de quem ganhar as eleições. A segunda fase do programa termina em 2014, com meta de 2,750 milhões de unidades. Por outro lado, a alta na Selic dificulta a redução dos juros ao mutuário. E, no cenário atual, não há espaço para novas quedas, diz Rezende.
Uma piora drástica no cenário econômico em 2014, com a retirada dos estímulos à economia americana e ameaça de rebaixamento do risco da nota do Brasil pelas agências de rating, também não tira o sono dos analistas do setor.
— O setor está equilibrado — diz Lazari, acrescentando, contudo, que, se confirmado o cenário pessimista, poderia haver uma desaceleração no ritmo de crédito com redução da alta estimada para 8%.
Dona de 69% do mercado de crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal (CEF) deverá fechar o ano com recorde de empréstimos: R$ 130 bilhões, somando-se os recursos do FGTS e da poupança. No ano passado, essa cifra ficou em R$ 106,7 bilhões.
Já a construção civil sentiu mais os efeitos da economia e teve um ano aquém do esperado. A estimativa de crescer 4,5% não só não se confirmou como ficou bem longe da realidade. A expectativa hoje é de terminar 2013 com expansão de 2%, bem próximo aos 2,3% do país, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). No Rio, isso se refletiu nos lançamentos imobiliários que tiveram um desempenho tímido em relação a 2012, passando das 19.551 unidades lançadas, então, para cerca de 20 mil.
— A gente esperava um ano melhor. Tanto do ponto de vista do mercado imobiliário, quanto de infraestrutura. O primeiro semestre, especialmente, foi bem ruim, com muitas empresas sendo forçadas a adiar seus projetos porque havia muito estoque. Os leilões de infraestrutura também sofreram atraso, o que prejudicou o setor — diz Paulo Simão, presidente da CBIC, admitindo as dificuldades enfrentadas.
Nem mesmo a desoneração da folha de pagamento anunciada no fim do ano passado surtiu efeitos, o que deve acontecer a partir de janeiro.
— Isso deve ajudar o setor que, com a terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida e as obras de rodovias e aeroportos já no primeiro semestre de 2014, deve ter um ano melhor — diz.
No Rio, estabilidade nos lançamentos
No Rio, a manutenção do número de lançamentos na faixa dos 20 mil não tira o sono do setor. Pelo contrário. Para João Paulo Matos, presidente da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), isso mostra que o mercado está se estabilizando:
— É um crescimento pequeno, que deve se manter em 2014. Mas é bom, pois mostra estabilidade. E do ponto de vista do valor dos empreendimentos lançados, houve um aumento de 16%.
De fato, enquanto entre janeiro e novembro do ano passado, o valor total dos imóveis que chegaram ao mercado atingiu R$ 8 bilhões, no mesmo período deste ano, o montante chegou a R$ 9,3 bilhões. Descontada a inflação, os preços subiram em torno dos 11%.
O índice é próximo ao apurado no mercado de imóveis usados, que, entre janeiro e novembro deste ano, registrou alta de preços em torno dos 9%, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi-Rio). No mesmo período do ano passado, essa taxa fora de 13%, o que mostra desaceleração no ritmo dos aumentos. Ainda assim, ficou acima do esperado pelo mercado, que estimava reajustes em torno da inflação apenas.
— Esperávamos a acomodação dos preços. Até porque parecia que o valor de venda já tinha atingido seu teto, mas ainda houve valorização. Acho que isso se dá por conta do momento favorável da cidade, provocado por obras de infraestrutura, além da instabilidade do mercado financeiro (que faz as pessoas migrarem seus investimentos para imóveis) e da força do crédito imobiliário — avalia Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio.
2014: Crédito deve ter acomodação
No crédito imobiliário, as previsões para 2014 são de expansão entre 10% e 20% em relação ao ano passado e 2013, o que mostra uma certa acomodação. A euforia a respeito de taxas de crescimento superiores a 40% passou, na visão de especialistas, mas o setor nem pensa em retração.
— Aquela momento de euforia passou, mas estamos longe de considerar o mercado saturado — diz Teotônio Rezende, diretor de Habitação da Caixa.
Para o presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior, a manutenção de empregos e renda das famílias, aliada à fartura de recursos, de um lado; e o déficit de moradias, de outro, justificam as projeções para o setor, mesmo com indicadores econômicos adversos:
— Isso faz com que o crédito imobiliário possa andar, mesmo com o baixo crescimento da economia.
A manutenção da força do crédito imobiliário, apesar das dificuldades na economia, não é à toa. A inadimplência tem se mantido entre 1,2% e 1,7% nos últimos três anos — um dos níveis mais baixos da história do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). A avaliação é que a maioria das famílias compra casa para morar, trocando o aluguel pela prestação.
O bom desempenho da poupança, que com a alta dos juros recuperou a correção (6,17% ao ano), é outro fator. Até novembro, a captação líquida foi de R$ 46 bilhões, maior que todo o ano passado: R$ 37 bilhões. O estoque chegou no mês passado a R$ 456,2 bilhões. O FGTS, fonte que junto com a poupança forma o SFH, reservou R$ 57,8 bilhões para a habitação em 2014.
— Continuamos emprestando sem preocupações iminentes com a falta de recursos — destacou Octavio de Lazari Junior, presidente da Abecip.
Diretor da Caixa, Teotônio Rezende destaca ainda outros dois fatores: o estoque contratado pelas empresas, que deve virar financiamento a pessoas físicas no próximo ano. E a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida que, segundo a presidente Dilma Roussef, terá continuidade independentemente de quem ganhar as eleições. A segunda fase do programa termina em 2014, com meta de 2,750 milhões de unidades. Por outro lado, a alta na Selic dificulta a redução dos juros ao mutuário. E, no cenário atual, não há espaço para novas quedas, diz Rezende.
Uma piora drástica no cenário econômico em 2014, com a retirada dos estímulos à economia americana e ameaça de rebaixamento do risco da nota do Brasil pelas agências de rating, também não tira o sono dos analistas do setor.
— O setor está equilibrado — diz Lazari, acrescentando, contudo, que, se confirmado o cenário pessimista, poderia haver uma desaceleração no ritmo de crédito com redução da alta estimada para 8%.
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