ECONOMIA AMERICANA

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  • sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
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  • Nenhum otimismo em relação à economia estadunidense


    O crescimento do último trimestre nos Estados Unidos e a queda do desemprego são sinais aparentemente auspiciosos, mas celebridades do pensamento econômico democrata, como o Prêmio Nobel de economia, Paul Krugman e o ex-secretário do Tesouro, Lawrence Summers, opinam que há uma estagnação que não é muito diferente da vivida pelo Japão nas últimas décadas. E, além disto, passados cinco anos do colapso financeiro de 2008, a mudança do modelo econômico que Barack Obama tanto falou, não se materializou - como tantas outras promessas feitas para virar a página após os fatídicos oito anos de George W. Bush. O jornal Página/12 conversou com o codiretor do Center for Economic and Policy Research de Washington, Dean Baker, sobre o caminhar da economia estadunidense e seu impacto a nível mundial.
    A entrevista é de Marcelo Justo, publicado por Página/12, 11-12-2013. A tradução é do Cepat.
    Fonte: http://goo.gl/MzTM3A
    Eis a entrevista.
    Os Estados Unidos cresceram cerca de 3,6% no último trimestre e o desemprego caiu. Isto é uma economia em estagnação?
    Não há razões para sermos otimistas. A maior parte do crescimento se deu pelo aumento dos estoques das empresas. O fato das empresas terem todos esses produtos, que ainda não saíram para a venda, serve para somar ao crescimento estatístico de agora, mas não assegura nada de bom para o próximo trimestre, se não aumentarem as vendas - que neste trimestre se mantiveram em cerca de 2%. Na questão dos empregos, se seguirmos criando cerca de 200 mil empregos mensais, não chegaremos ao objetivo do emprego pleno até 2019 ou 2020. O problema de fundo é que há uma demanda insuficiente na economia estadunidense, desde os anos 1990. Tivemos as bolhas nos anos 1990 para substituir a queda da demanda. A bolha do “dotcom” e, em seguida, a imobiliária.
    Em 1978, um salário médio estadunidense equivalia a aproximadamente 48.000 dólares, nos valores atuais. Hoje é de 33.000 dólares. Se o consumo estadunidense seguiu como o motor do crescimento, nestas décadas, foi graças ao crédito. Pode a economia crescer sem bolhas?
    Não. Seguimos dependendo das bolhas. Quando Barack Obama assumiu, falou-se de promover um crescimento baseado mais na produção manufaturada do que na especulação financeira e recentemente falou-se sobre o impacto negativo em nível econômico da desigualdade, mas concretamente não aconteceu muita coisa. Há uma defasagem entre os discursos que Obama pronuncia e a política concreta. Com a agenda comercial, que está impulsionando, ocorre o mesmo. No nível financeiro não se mudou praticamente nada. Temos um déficit comercial de 3%. Enquanto isso, vivemos o aumento do preço dos imóveis. Talvez isto não seja uma bolha, mas está neste caminho.
    Falou-se muito sobre um relaxamento das políticas de emissão monetária eletrônica, o Quantitative Easing, uma política monetária ocasionalmente usada pelos bancos centrais, observou-se este ano a emissão de cerca de 80 bilhões de dólares mensais, mas cada vez que se menciona a possibilidade de relaxar, isto causa pânico nos Estados Unidos e no mundo. Quando você acredita que isso vai ocorrer? Que impacto pode ter sobre a economia?
    Acredito que em algum momento do próximo ano haverá uma redução desta emissão. É difícil prever o efeito que terá na economia estadunidense, porque ainda há muita discussão a respeito do impacto que teve. Pessoalmente, acredito que é uma política positiva de estímulo, mas que deve ser acompanhada por uma política que evite a formação de bolhas. Hoje, a Reserva Federal tem uma política de guia das taxas de juros através da qual anuncia, com antecedência, que tipo de taxa terá para o futuro, às vezes para um período de dois anos. O mesmo poderia ser feito com os preços dos imóveis, para evitar uma bolha. Caso já se saiba que irá se intervir para que o preço não passe de um certo ponto, as pessoas especularão menos. Ao mesmo tempo, acredito que o governo deveria observar o que fez o Banco Central do Japão que, para sair de sua estagnação, subiu a taxa de inflação mensal. A Reserva Federal deveria fazer algo similar e elevar as metas inflacionárias em cerca de 3 ou 4%. Não acredito que a nova presidente da Reserva Federal, Janet Yellen, se atreva a fazer isto, a menos que haja uma queda bruta da economia.
    A mera possibilidade de relaxamento da flexibilização monetária afetou o Brasil, que acaba de sofrer uma queda do valor de sua moeda de 1,5%, a maior entre os 24 países emergentes estudados pelo Bloomberg, um dos principais provedores mundiais de informação para o mercado financeiro. Que impacto haverá quando efetivamente ocorrer este relaxamento da flexibilização monetária de que tanto se vem falando?
    É inevitável que estas intervenções da Reserva Federal tenham um impacto sobre todo o mundo, porque são chave para fixar a taxa de juros a nível mundial. Isto ocorre também no nível financeiro, apesar das mudanças globais que estão ocorrendo e a crescente importância da China, que indica também a menor relevância dos Estados Unidos. Esta menor relevância fica mais clara com o progresso econômico em geral. A economia cresceu em um ritmo abaixo dos 2% em 2011, 2012 e neste ano, e o mesmo irá ocorrer no próximo ano. Todavia, ainda nos falta muito para voltar ao ponto prévio da crise de 2008. E, no entanto, isto irá afetar muito menos a América Latina do que em outras épocas. Os Estados Unidos são hoje muito menos importante para a economia mundial do que em outras épocas. Se a China continuar com sua mudança do modelo econômico e crescendo no ritmo deste último ano, ou mesmo um pouco menos, estimemos que cerca de 6 ou 7%, isto permitiria a América Latina ter um bom desempenho, ainda que a economia estadunidense continue fraca.
     
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