Dirceu de volta à fila do emprego
Preso no Complexo da Papuda, o ex-ministro recebeu proposta para trabalhar em escritório de advogado amigo, com salário de R$ 2,1 mil. O pedido seguirá trâmite normal da VEP, e decisão deve levar mais de dois meses
DIEGO ABREU
A biblioteca do escritório de advocacia, que fica no Setor Bancário Sul, tem cerca de 2 mil livros distribuídos por duas salas |
Convidado para trabalhar no escritório do advogado José Gerardo Grossi, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu terá de esperar o fim do recesso do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) para que seu pedido de autorização para o serviço externo comece a ser apreciado. Desta vez, a proposta de emprego ao petista, que cumpre pena no Complexo da Papuda, é mais modesta que a primeira, apresentada em novembro pelo Hotel Saint Peter.
Em vez dos R$ 20 mil oferecidos para a função de gerente administrativo, ele receberá salário de R$ 2,1 mil para cuidar da biblioteca do escritório de advocacia, caso tenha a solicitação atendida pela Vara de Execuções Penais (VEP). Como o petista desistiu no último dia 5 da primeira oferta de emprego, seu novo pedido entrará no final da fila da Seção Psicossocial da VEP.
O expediente de Dirceu será das 8h às 18h, caso a Justiça autorize |
“Espero que sejam cumpridas todas as etapas dentro da legalidade. Imagino que a decisão saia em meados de janeiro ou um pouquinho mais para frente”, disse José Luis Oliveira Lima, defensor de José Dirceu.
Clientes
Advogado antigo em Brasília, o possível empregador de José Dirceu é amigo do petista há mais de duas décadas. Grossi, de 81 anos, atua em processos criminais e eleitorais, e tem na lista de clientes políticos como o governador Agnelo Queiroz (PT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Ele já advogou, por exemplo, para o ex-governador do DF José Roberto Arruda (ex-DEM, atualmente no PR), para Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral do governo Fernando Henrique Cardoso, e para o falecido senador Antônio Carlos Magalhães.
O Correio visitou ontem a já organizada biblioteca de Grossi, no escritório localizado no Setor Bancário Sul. Os mais de 2 mil livros estão distribuídos em estantes espalhadas por duas salas — a do dono do escritório e a dos advogados assistentes. O escritório não é grande. São quatro salas, onde atuam cinco profissionais de direito e duas secretárias. Os funcionários souberam pela imprensa que poderão ter como novo colega o ex-ministro José Dirceu. Estão curiosos.
José Gerardo Grossi avalia que a contratação de Dirceu não terá impacto negativo para seu escritório. Ele descartou que o local possa ser usado para negociatas políticas. “Não creio que a chegada de José Dirceu seja ruim nem boa para a imagem do escritório. É uma coisa neutra. E lembro que escritório não é lugar de discussão política. Dentro do meu escritório, apenas advogamos”, disse.
Pesquisas
Grossi detalhou como fez o convite ao petista. “Fiz uma visita ao Dirceu logo que ele foi preso. Ele contou da expectativa de trabalhar durante o dia. Naquele momento, eu disse: ‘se você precisar, o meu escritório está as suas ordens’. Passou um tempo e, só no começo desta semana, o advogado dele me procurou para formalizar a proposta. Temos uma amizade com uma característica especial: ele nunca pediu nada a mim nem eu a ele.”
Segundo Grossi, Dirceu fará serviços bibliotecários e pesquisas de jurisprudência. “Ele pode ajudar também no serviço administrativo do escritório”, disse, ressaltando que não espera atrair clientela devido ao novo funcionário. “Espero também não perder cliente com a presença dele, embora saiba que, como ele tem muitos amigos, também tem muitos inimigos.”
Quanto ao salário, Grossi disse que paga em média R$ 2 mil para seus funcionários. Ele admite que os R$ 20 mil oferecidos pelo hotel eram uma “disparidade”. O expediente do petista no escritório será igual ao dos demais empregados — das 8h às 18h, com horário de almoço entre as 12h e as 14h, alternadamente.
Preso desde 16 de novembro, José Dirceu desistiu da função de gerente administrativo do Saint Peter, depois de constatar que o emprego dificilmente seria autorizado pela VEP. Além de o salário ser 11 vezes maior que o recebido pela gerente-geral do estabelecimento, a empresa proprietária do hotel, sediada no Panamá, era presidida por um laranja.
Cronologia15 de novembro
Joaquim Barbosa decreta a prisão de José Dirceu, que se apresenta à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo16 de novembro
Dirceu é transferido em avião da Polícia Federal de São Paulo para Brasília. Ao chegar, o petista é levado diretamente para o Complexo Penitenciário da Papuda, onde cumpre pena em regime semiaberto22 de novembro
O Hotel Saint Peter oferece emprego de gerente administrativo para o ex-ministro da Casa Civil, com salário de R$ 20 mil. O valor é 11 vezes maior que o vencimento da gerente-geral do hotel28 de novembro
Defesa de Dirceu pede prioridade na análise do pedido de autorização para o petista trabalhar, sob a alegação de que ele tem o direito por ser idoso3 de dezembro
Imprensa veicula denúncia de que a empresa proprietária do hotel é presidida por um laranja. José Eugênio Silva Ritter é auxiliar de escritório e mora em um bairro pobre da Cidade do Panamá4 de dezembro
Vara de Execuções Penais (VEP) do Distrito Federal nega prioridade na análise do pedido de emprego de José Dirceu5 de dezembro
O ex-ministro da Casa Civil desiste do emprego oferecido pelo hotel, sob o argumento de que não considera justo que quem ofereceu o trabalho seja obrigado “a partilhar da sanha persecutória que se abate contra ele”19 de dezembro
Defesa do ex-ministro pede à VEP autorização para trabalhar na biblioteca do escritório do advogado José Gerardo Grossi, em Brasília