O cinismo absurdo das prisões

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  • terça-feira, 19 de novembro de 2013
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    Por Willian Novaes

    As prisões de Zé Dirceu e Genoíno não passam de um cinismo absurdo. Porque os diversos personagens citados em "A privataria tucana" e o "Príncipe da privataria" sequer foram convocados para prestar esclarecimentos na mesma Justiça, na PF ou na delegacia da esquina? Porque não ganharam as manchetes? Fora o trabalho primoroso dos blogueiros sujos, da Carta Capital e de alguns poucos jornais. Até quando isso vai acontecer? O Zé Dirceu em uma das entrevistas que participei junto com o parceiro Ayrton Centeno disse: “As nossas prisões abrirão um precedente perigoso”. E hoje, o que a capa do UOL traz? Ele tinha razão e apoio a sua condição de preso político em plena democracia.



    Também lembrei que em 1994, enquanto meus futuros amigos mais velhos assistiam de perto aos fatos narrados no Príncipe da Privataria e A Privataria Tucana, eu crescia na periferia de São Paulo, começando vida profissional numa editora como office-boy. O editor da Geração já vivia no olho do furacão; os autores já registravam tudo; e eu, a família, os amigos, nós fazíamos parte da classe social que mais sofria os efeitos da política neoliberal dos governos tucanos, e em dose dupla: FHC em Brasília, Mário Covas aqui.

    Na franja da sociedade, no Jaraguá, em bairro pobre, padecíamos com falta de perspectiva, desemprego, baixos salários, transporte, saúde, violência. E, o pior, parecia que éramos invisíveis para os governantes.

    O que entenderia melhor, durante a pesquisa li uma matéria de 2000, no Globo, “Tucanos rejeitam rótulo de elitistas e dizem que PSDB tem cheiro de povo”. Até então, achei que fosse exagerada uma informação sobre certo político. Mas lembrei de uma ocasião cínica, estava com colegas jornalistas no gabinete do tal personagem para mais uma matéria, um ex-ministro tucano que trabalhou como secretário para administrações tucanas em São Paulo. Ele havia acabado de receber uma comissão de vendedores ambulantes que protestavam na rua. Uma mulher lhe dá um abraço e um beijo ao se despedir. Ele pede um minuto para atender a imprensa. Volta esfregando as mãos cheirando a álcool e com outra camisa. Era desse jeito que o povo era tratado nos oito anos em que o PSDB mandou no país.

    Lembro-me de meus pais acordando de madrugada para transportar passageiros, com a velha perua azul, atividade ilegal, mas necessária para a compra do material escolar dos três filhos. Do nervosismo do meu pai em não conseguir fazer o dinheiro do dia na oficina mecânica. Da dificuldade em pagar o aluguel. Dos calotes dos clientes. Da falta de condições para legalizar o estabelecimento e conseguir empréstimo para investir. Do meu medo de perder o emprego. Dos primos, tios e tias vivendo com ajuda da aposentadoria da avó. Dos vizinhos dispensados após as privatizações. De amigos caindo nas drogas, no crime, matando ou morrendo nas guerras particulares ou pela mão da PM – a maioria negros.

    Hoje estamos do mesmo lado: editor, autores, coautores e eu. Minha função é sempre pesquisar e checar informações e montar os nossos livros polêmicos. Entre o início de 2013 e agosto, quando saiu O Príncipe da Privataria, vi outro filme passar, na tela do computador ou nos arquivos: de como a imprensa contou os oito anos de FHC. Um filme surreal. A “política de reformas” resolveria todos os problemas. O Estado nos atenderia com mais eficiência, empresas mais modernas seriam incorporadas a nossas vidas, energia e telefonia seriam de primeiro mundo e mais baratas. Fomos enganados. É de indignar, dar raiva.

    Mas existe e sempre existirá seriedade na função que escolhi para exercer – jornalismo. Este livro desnuda realidades que os grandes veículos esconderam. O retrocesso para a nação. A venda do patrimônio nacional e a compra da reeleição. A imagem de FHC vendida como a do homem responsável por tudo de bom dos governos que sucederam ao dele.

    A próxima polêmica

    Nas próximas semanas mais um livro que supostamente deveria chamar a atenção da Justiça chegará às livrarias de todo o país. Um trabalho primoroso de um repórter reconhecido em todas as redações por seu talento.

    Garanto que você não vai ler um roteiro de ficção, mas, como diria Nelson Rodrigues, ver a vida como ela é – e com os atrativos da ficção.

    Basta a Justiça, que também será questionada, querer cortar a própria pele para trazer resultados, e, levantar e tirar de vez toda a sujeira jogada pra debaixo do tapete.

    Ah, como neste livro alguns figurões da Justiça, do empresariado, da política são personagens reais e não inventados, não vou adiantar o título e o nome do autor, porque sabemos que poderá ter retaliações. A obra será impressa em três gráficas em estados diferentes para se ter ideia do tamanho da encrenca.

    * Willian Novaes é jornalista e diretor da Geração Editorial
     
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