Troque um José por outro.
Em vez de Serra, Dirceu.
Imagine  agora: um homem de Dirceu – um daqueles que acompanham alguém por toda  parte, de Brasília a São Paulo – ignora uma denúncia de corrupção que  pode chegar a meio bilhão de reais.
São cinco Mensalões, para você ter uma ideia da magnitude da ladroeira.
Continuemos.  O homem de Dirceu confirma que recebeu a denúncia. E afirma que  desistiu de levar adiante qualquer investigação depois que os acusados  disseram que não estavam roubando nada.
Diz  que ficou surpreso ao saber que estavam sim roubando. Pausa para rir.  Surpresa mesmo seria se sujeitos acusados de roubar admitissem.
Enfim.
Você  faz conta do que aconteceria o José fosse Dirceu: capas sobre capas da  Veja pontificando sobre o mar de lama. Reportagens histéricas do Jornal  Nacional repercutindo cada ‘descoberta’ nova da Veja. Editoriais do  Estadão dando lições de decência. Colunistas como Jabor, Merval e  derivados disputando quem usa mais vezes a palavra corrupção.
Mas como o José é Serra não acontece nada. O homem de Serra – Mauro Ricardo – é apresentado como ‘secretário de Kassab’.
Até  quando Serra vai escapar da obrigação de prestar contas em casos de  corrupção como o do Metrô e, agora, o das propinas na prefeitura de São  Paulo para liberar prédios?
Ricardo  trabalhava então fazia 15 anos com Serra. E era “um nome certo para  compor um eventual ministério do candidato tucano à Presidência”.
Mauro  Ricardo é um dos raros elos entre Serra e Aécio. Em janeiro de 2003,  então governador de Minas, Aécio pediu a Serra alguém para a presidência  da Copasa, a estatal mineira de saneamento. Serra indicou Mauro  Ricardo.
Mais  recentemente, ele foi contratado para ser secretário das Finanças do  governador baiano ACM Neto. O site Bahia Notícias, em março passado,  publicou uma reportagem que trazia documentos com problemas judiciais que Ricardo vem enfrentando. O  título: “Secretário 'importado' de SP por ACM Neto já foi condenado e  responde por supostos desvios”. Um dos casos listados pelo site se refere ao tempo em que Ricardo, por indicação de Serra, comandava a Suframa, Superintendência da Zona Franca de Manaus.
Disse o site Bahia Notícias:
“O  Ministério Público Federal o responsabilizou pelo superfaturamento de  uma obra de melhoramento e pavimentação de um trecho de 34 km da BR-319,  entre o Amazonas e o Acre. Para a Procuradoria da República, a obra,  que custou R$ 11,3 milhões aos cofres da União, era "superfaturada" e  "desnecessária", pois a conservação da rodovia estava sob supervisão do  Exército.”
Mais uma vez. Troque de José. Imagine se Mauro Ricardo fosse ligado a Dirceu, e não a Serra.
As manchetes, as colunas, as denúncias.
Mas, em vez disso, um silêncio camarada, como se nada estivesse ocorrendo.
Palmas para a mídia brasileira, aspas, e seu cinicamente seletivo conceito de moralidade.