MAURO SANTAYANA - De culatras e festins

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  • terça-feira, 12 de novembro de 2013
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  • DE CULATRAS E FESTINS


    (HD) - Por mais que muitos desejem - as “denúncias” de ações de “contraespionagem” reveladas nos últimos dias, contra russos, iraquianos e iranianos,  não devem prejudicar o trabalho que o Brasil está realizando no âmbito da ONU com relação à internet. 
    Embora se tenha noticiado que o Brasil “espionou” também os EUA, não deixa de ser curioso, que em uma mesma matéria, tenham-se reunido todos os “alvos” do “eixo do mal”.  
    Daniel Snowden não denunciou ações desse tipo, eventualmente feitas pela CIA, nas ruas de Washington ou Nova Iorque.
    Ele revelou - com a autenticidade de quem serviu à NSA – como milhões de empresas e cidadãos comuns, do mundo inteiro, tinham suas comunicações diárias devassadas por um  gigantesco “big-brother” multinacional, sem que fossem agentes estrangeiros ou jamais tivessem se envolvido com qualquer atividade de espionagem.
    O que moveu Snowden - com extremo risco pessoal - foi o altruísmo e a luta pela preservação da liberdade. O que move nossos Snowdens tupiniquins devem ser outras razões que não vamos sequer abordar aqui.
    O que importa é que o vazamento de documentos tão inexpressivos quanto o que descrevem se refere a fatos ocorridos há dez anos, em outro governo, em um período ainda praticamente de transição com relação ao governo FHC, imediatamente anterior.     
    O episódio, no entanto, não deixa de ter sua utilidade.
    Ele pode servir de mote para que o Congresso investigue como está funcionando a área de “informações” do governo.
    Dessa forma, se poderá descobrir:
    Se - como costuma acontecer de vez em quando, inadequada e ilegalmente em outras esferas de segurança - ela age como se tivesse autonomia para decidir suas ações; ou se, como deve ser, ela só pode atuar com conhecimento e por determinação superior.
    De quem partiu a ordem para executar essas “operações" de pomposos nomes, no caso dos alvos acima citados, absolutamente irrelevantes, do ponto de vista estratégico, para a segurança nacional.
    Na ausência de ordem superior, quem foi o funcionário responsável e com que critérios e razões – além de eventualmente ver seriados norte-americanos – ele tomou essa decisão.
    Se, pelo contrário, houve ordem técnica superior, se ela não estava baseada em operações eventualmente decididas no governo anterior, de notória subserviência aos interesses norte-americanos, a ponto de seus representantes aceitarem até tirar o sapato para revista nos aeroportos dos EUA.
    E, finalmente, a quem interessava – se forem mesmo autênticos – vazar esses papéis.
    É preciso determinar para que existe e a que (ou a quem) serve a área de inteligência do governo.
    Se as coisas estivessem funcionando como deveriam, o país não teria sido apanhado de calças na mão pelas manifestações de junho, quando para antecipá-las e monitorá-las, bastava ter acompanhado, rotineiramente, o que estava ocorrendo na internet.
     
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