
Como alguém tão frívolo podia dar certo?
Não  tenho simpatia ou admiração por alguém que, como Eike Batista em seus  dias dourados, diz que seu sonho é ser o homem mais rico do mundo.
É  muita pobreza de espírito. Mesmo em concurso de misses você vai  encontrar respostas mais interessantes sobre sonhos e aspirações.
Mas,  posto isto, o que estão fazendo com Eike na queda me lembra o que  fizeram com Gatsby, o grande personagem de Fitzgerald. É um massacre  abjeto, desprezível e cínico em que a maior vítima é a verdade.
Em  seu Twitter, o ex-colunista da Veja Diogo Mainardi postou um vídeo em  que Dilma aparece elogiando Eike. Postou também, modestamente, um artigo  em que um blogueiro da Veja saúda sua capacidade profética.
Mainardi  teria visto antes que os outros, segundo o blogueiro, que Eike era uma  “farsa”. Em seu currículo de profecias, Mainardi carrega uma – que  correu as redações como piada por muito tempo – em que ele dizia o  seguinte, em janeiro de 2005. “Dentro de um ano, Serra vai subir a rampa  do Planalto”.
Pausa para rir.
Vejamos agora o que Veja dizia de Eike quando ele subia, em 2008.
“O  empresário Eike Batista acaba de se tornar o símbolo do novo  empreendedor brasileiro. A oferta pública de ações (IPO, na sigla em  inglês) da OGX, sua companhia petrolífera, captou 4 bilhões de dólares  nesta sexta-feira, quando foi realizada. É a maior operação desse tipo  já feita no país. [...]
O sucesso de Eike Batista rendeu-lhe a reportagem de capa de VEJA desta semana.
[...]
Eike  virou assim a cara do capitalismo que começa a se instalar no país, no  qual o empreendedorismo se sustenta no mercado de capitais e não nas  benesses estatais.
[...]
Tudo  isso forma o cenário definido por um experiente analista do mercado de  capitais como "alinhamento dos astros". Graças a esse alinhamento e a  uma eficiente capacidade de contratar as pessoas certas, Eike manteve o  rumo nos momentos ruins e disparou nos bons. Isso não explica  completamente o sucesso alcançado pela OGX. Para compreender o que se  passou na Bovespa na sexta-feira, é preciso levar em conta um fator  subjetivo, que vem sendo chamado de "Efeito Eike".”
Bem, uma nova pausa para rir.
A  Veja, como toda a mídia, comprou Eike. Chegou a compará-lo, numa das  capas mais pavorosas dos 45 anos da revista, com Deng Xiao Ping.
Mas, caído ele, a mídia finge que não adulou Eike, convenientemente colocado agora, na desgraça, como uma invenção de Dilma.
Não que Dilma não tenha culpa de muitas coisas, como atestam os índios. Mas vinculá-la ao colapso de Eike é uma falácia.

Capa histórica
Tenho minha própria visão.
Um empresário tão preocupado com coisas frívolas não poderia dar certo. Nas palavras da Veja:
“Mora  numa casa de 3.500 metros quadrados, construída em um terreno de 60.000  metros quadrados, sem vizinhos que o separem do Cristo Redentor. Além  do Mercedes de 1,2 milhão de euros que fica estacionado em uma das salas  da mansão, tem catorze automóveis na garagem, três lanchas, três aviões  e um helicóptero. Brinda a cada novo contrato com champanhe junto a uma  fonte em seu jardim, de onde se descortina uma das mais lindas vistas  da Lagoa Rodrigo de Freitas. Faz negócios e corre riscos à luz do dia. 
Mais  Eike tornaria o ambiente de negócios no Brasil melhor? Sem dúvida.  "Isso é muito bom para um país que precisa ser mais assumidamente  capitalista, globalizado e moderno", afirma o ex-presidente do Banco  Central Gustavo Franco. "Ele foge do estereótipo do empresário  chapa-branca, atrasado, que não gosta de capitalismo."”
Se  algum leitor da revista acreditou no que leu e comprou ações de Eike,  por causa de sua fabulosa “capacidade de contratar as pessoas certas” e  outras virtudes, pode talvez reclamar no Procon ou coisa parecida.
Eike era um símbolo, é certo, mas não da nova economia, mas da velha mídia.
Lembremos  as “benesses estatais” das quais fala, acusadoramente, o texto da Veja.  Agora relembre coisas como a reserva de mercado da mídia e o chamado  “papel imune”, sobre o qual numa camaradagem extrema não incide imposto,  e os cofres sempre franqueados do BNDES e do Banco do Brasil para as  grandes corporações jornalísticas.
Pronto. Agora uma pausa para todos nós rirmos.