Destinos cruzados: a vida de Genoíno e a saúde da democracia

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  • segunda-feira, 18 de novembro de 2013
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  • Maturidade não é sinônimo de complacência. Afrontar o despotismo é um predicado intrínseco à vida democrática.


    Por Saul Leblon, da Carta Maior* 

    Um déspota de toga não é menos ilegítimo que um golpista fardado.

    A  justiça que burla as próprias sentenças, mercadejando ações cuidadosamente dirigidas ao  desfrute da emissão conservadora, implode o alicerce da equidistância republicana que lhe confere o consentimento  legal e a distingue  dos linchamentos falangistas.

    Joaquim Barbosa age na execução com a mesma destemperança  com que se conduziu na relatoria da Ação Penal  470.

    A personalidade arestosa que se avoca uma autoridade irretorquível mancha a toga com a marca da soberba,  incompatível com o equilíbrio que se espera de uma suprema corte.

    Desde o início desse processo é nítido o seu propósito de atropelar o rito, as provas e os autos, em sintonia escabrosa com a sofreguidão midiática.

    Seu desabusado comportamento exalava o enfado de quem já havia sentenciado os réus, sendo-lhe maçante e ostensivamente desagradável submeter-se aos procedimentos do Estado de Direito.

    O artificioso recurso do domínio do fato, evocado inadequadamente como uma autorização para condenar sem provas,  sintetiza a marca nodosa de sua relatoria.

    A expedição de mandatos de prisão no dia da República e no afogadilho de servir à grade da TV Globo,  consumou a natureza viciosa de todo o enredo.

    A exceção do julgamento reafirma-se na contrapartida de uma execução despótica de sentenças sob o comando atrabiliário de quem não  hesita em colocar vidas em risco se o que conta é servir-se da lei e não servir à lei.

    A lei faculta aos condenados ora detidos o regime semi-aberto.

    A pressa univitelina de Barbosa e do sistema midiático, atropelou  providências cabíveis para a execução da sentença, transferindo aos condenados o ônus da inadequação operacional.

    Joaquim Barbosa é diretamente responsável pela vida  do réu José Genoíno, recém-operado, com saúde abalada, que requer cuidados e já sofreu dois picos de pressão em meio ao atabalhoado  trâmite de uma detenção de urgência cinematográfica.

    Suponha-se que existisse no comando da frente progressista brasileira uma personalidade dotada do mesmo jacobinismo colérico exibido pela toga biliosa.

    O PT e as forças democráticas brasileiras, ao contrário,  tem dado provas seguidas de maturidade  institucional  diante dos sucessivos atropelos cometidos no  julgamento da AP 470.

    Maturidade não é  sinônimo de complacência.

    O PT tem autoridade, portanto, para conclamar partidos aliados, organizações sociais, sindicatos, lideranças políticas e intelectuais a uma vigília cívica em defesa do Estado de Direito.

    Cumpra-se imediatamente o semi-aberto,  com os atenuantes que forem  necessários para assegurar o tratamento de saúde de José Genoíno.

    Justificar a violação da lei neste caso, em nome de um igualitarismo descendente que, finalmente, nivela  pobres e ricos no sistema prisional, é a renúncia à civilização em nome da convergência da barbárie.

    Afrontar o despotismo é um predicado intrínseco à vida democrática.

    Vista ele uma farda  ou se prevaleça de uma toga, não pode ser tolerado.

    A sorte de Genoíno, hoje, fundiu-se ao destino brasileiro.

    Da sua vida depende a saúde da nossa democracia.

    E da saúde da nossa democracia depende a sua vida.

    *Via http://www.cartamaior.com.br
     
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