O que Marina precisa compreender, segundo Lula
“A Marina precisa só compreender o seguinte: ela entrou no governo junto comigo em 2003 e ela sabe que o Brasil tem hoje mais estabilidade em todos os níveis do que a gente tinha quando entramos. Herdamos do governo Fernando Henrique Cardoso um país muito inseguro, não tinha nenhuma estabilidade, não tínhamos dinheiro sequer para pagar suas exportações.”
O lembrete é do ex-presidente Lula, em entrevista concedida após a solenidade comemorativa de 10 anos do Bolsa Família, realizada no Museu da República. É uma resposta, quase um apelo, à ex-ministra Marina Silva (PSB/Rede), que desde que foi para a oposição faz campanha com a história de que os governos FHC (1995-2002) é que deram estabilidade econômica ao país.
O ex-presidente Lula criticou Marina Silva – que, como em 2010, estará na oposição na disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem – e aconselhou-a a parar de “aceitar com facilidade” lições que estaria tomando na área de economia desde que passou a repetir o discurso econômico conservador, ortodoxo, do pessoal da Casa das Garças (ninho de economistas tucanos no Rio).
Compreender o que era o Brasil herdado de FHC
“Tínhamos US$ 37 bi de reservas – prosseguiu o ex-presidente -, dos quais US$ 20 bi eram do FMI, e hoje a gente tem US$ 376 bi de reservas, mais US$ 14 bi emprestados ao FMI. Tínhamos uma inflação de 12% quando cheguei e tem uma inflação hoje de 5,8%. Então, eu penso que Marina precisa não aceitar com facilidade algumas lições que estão lhe dando. Ela precisa acompanhar com mais gente o que era o Brasil antes de a gente chegar”.
Para o ex-presidente Lula tudo indica que Marina “deve ter se esquecido” que “em 1998 a política cambial fez esse Brasil quebrar três vezes”, quando o então presidente FHC manteve o câmbio fixo para se reeleger e seu governo precisou FHC ir de pires na mão três vezes pedir socorro ao FMI.
Ao ser questionado sobre qual marca tem o governo de sua sucessora – Marina diz que é a do “retrocesso” -, o ex-presidente afirmou que é a da continuidade. “O governo Dilma tem uma marca muito forte e que foi a razão de sua eleição: dar continuidade ao programa de inclusão social e desenvolvimento que vínhamos fazendo”, afirmou. Ele observou que nesse momento o melhor que sua sucessora tem a fazer é governar direito o Brasil e não se preocupar com pré-campanha para a reeleição.
O ex-presidente reafirmou que seu objetivo principal agora é reeleger a presidenta Dilma e para isso, justificou, voltou a ter uma atividade política “um pouco mais intensa”. Intensificou-a também, conforme explicou, porque outro de seus objetivos é militar contra a negação da política e dos políticos observada em parte dos protestos de rua de junho e observada também na mídia.