Estava na cara que ela não ficaria fora do jogo. Até o governo Dilma já contava com a candidatura presidencial de Marina Silva, como escrevi aqui mesmo nesta quinta-feira na coluna "Planalto conta com Marina candidata mesmo sem Rede".
O que ninguém esperava é que a ex-senadora se oferecesse para ser vice de Eduardo Campos, do PSB, o candidato dissidente da base aliada do governo, como ela comunicou aos seus seguidores, reproduzindo o que dissera a ele, ao final de uma reunião que terminou com muito choro de marináticos na madrugada de sábado em Brasília.
_ Eduardo, você está preparado para ser presidente do Brasil? Eu vou ser a sua vice e estou indo para o PSB.
Com esta decisão, anunciada por telefone ao governador de Pernambuco, que há poucos dias rompeu com o governo e tirou seus ministros, acabava o teatro de suspense montado por Marina para anunciar seu destino, depois que o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou o registro da Rede Solidariedade, o nome de fantasia do partido que pretendia criar desde o seu rompimento com o PV, quando lançou o movimento "Nova Política". Nova?
Para tristeza dos seus "sonháticos", que acreditaram na pregação da missionária mística sobre a falência do antigo sistema de representação, Marina se rendeu à "Velha Política", aceitando o jogo como ele é nada vida real, com o único objetivo de derrotar Dilma e o PT, que ela agora acusa de "chavismo", depois de ter sido ministra de Lula nos seus dois mandatos.
Falaram mais alto os interesses dos seus sponsors, os grandes grupos economicos que investiram nela para a criação do novo partido criado para que Marina pudesse ser candidata a presidente, e não queriam que ela agora, em nome da coerência, simplesmente jogasse a toalha, deixando o caminho livre para a reeleição de Dilma. Marina pode ser acusada de tudo, menos de rasgar votos e se entregar à coerência aos seus princípios.
Daqui a pouco, Eduardo e Marina vão anunciar oficialmente a chapa da "Coligação Democrática", como batizaram a chamada terceira via, tão esperada pelo establishment financeiro-midiático para pelo menos provocar um segundo turno em 2014 e acabar com a hegemonia petista no governo central.
Por ironia do destino, dois políticos historicamente ligados a Lula e ao PT formaram uma chapa forte que surge forte para enfrentar Dilma e Lula, deixando os tucanos Aécio e Serra comendo poeira na sua eterna crise existencial. Podemos não ter Fla-Flu entre PT e PSDB desta vez, como tudo parecia indicar.
Com um cacife de quase 20 milhões de votos nas últimas eleições e o segundo lugar nas pesquisas para 2014, variando entre 16 e 25% das intenções de voto, Marina aceitou disputar a eleição como vice de Eduardo Campos, o quarto colocado, que não consegue passar dos 5%, porque ainda é mais confortável ocupar o Palácio do Jaburú para continuar costurando sua Rede, do que voltar para o Acre de mãos abanando, sem partido, sem cargo e sem mandato. Mais adiante, afinal, as pesquisas poderão até determinar uma inversão dos nomes na chapa.
Deixando os marináticos fundamentalistas e a poesia de lado, Marina fez a escolha certa: ao optar por Eduardo Campos e deixar Roberto Freire chupando o dedo, com seu nanico PPS já rejeitado até por José Serra, a ex-ministra, que de boba não tem nada, aliou-se àquele que considero o mais preparado político brasileiro da geração pós-68. Foi uma jogada de mestre dos dois.
É jogo jogado. O resto é filosofia.
*Por Ricardo Kotscho - via 'Balaio do Kotscho'