A Globopar (controladora da Rede Globo) emitiu uma nota na noite de ontem, onde afirma que não deve nada à Receita, que colaborou voluntariamente com a restauração do processo em que estava condenada a pagar R$ 615 milhões, que misteriosamente sumira, e que só soube no dia de ontem que o processo fora surrupiado por uma funcionária da Receita, condenada pelo fato. Finalmente, de modo simpático, a Globopar usa a última frase da nota para ameaçar quem disser coisa diferente: "A empresa tomará as medidas judiciais cabíveis contra qualquer acusação falsa que lhe seja dirigida".
Não satisfeito com a nota, que me pareceu cheia de buracos (afinal a restauração de um processo não é o processo, e, como na canção, muitos se perderam no caminho - dados, informações, números...), e sem contato com o Garganta Profunda, que vazou informações para o Miguel, do Cafezinho, o Azenha, do Viomundo, o Brito, do Tijolaço, o Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, procurei a minha fonte, que é especialista no jornalismo mãe dinah, tão a gosto de nossa mídia corporativa.
Contei a ela que fiquei bastante intrigado com o trecho da nota que diz que a Globopar só ficou sabendo do furto do processo ontem, dia 9. Como é que um réu fica sabendo que seu processo sumiu e não tem nem a curiosidade de saber como?
O que ela me disse foi uma bomba. Para esconder sua identidade e não prejudicá-la vou chamá-la, em paralelo ao Garganta Profunda, de Orifício Apertado.
Pois a Orifício Apertado me disse que muito lhe custou conseguir a informação, que por conta disso estava despregada (sic, não quereria ela dizer "pregada"?).
Tudo teria acontecido assim, segundo diálogo entre Fiscal da Receita (doravante FR) e Advogado da Globopar (doravante ADV):
FR - Ilustre Causídico, é com o coração apertado, os olhos espremidos para conter as lágrimas e os bolsos fartamente abertos que comunico ao ilustre causídico que o processo no qual vosso ilustríssimo cliente se veria obrigado a pagar R$ 615 milhões, simplesmente... desapareceu.
ADV - Desapareceu, como assim?
FR - Como Conceição, sumiu, ninguém sabe, ninguém viu...
ADV - Meus clientes vão ficar inconsoláveis. A tanto custo fizeram uma vaquinha com amigos, até com agiotas, doleiros, bicheiros condenados, porque o senhor sabe... Eles não são Marões.. nem simplesmente Mários... são humílimos Marinhos...
FR - Vou lhe contar como tudo se deu...
ADV - Não, por favor, prive-me dos detalhes... Desde já nos colocamos à disposição para a restauração. Vamos disponibilizar todos os docu...(À PARTE) - Kkkkkkkkk...(RECOMPÕE-SE) - Desculpe-me a tosse... Vamos disponibilizar todos os docu... (À PARTE) - K-K-KI-K-KIL... Kkkkkkkkk... (RECOMPÕE-SE) - ... mentos... todos eles... Evidentemente, aqueles que estiverem em nossa posse... Nada que nos comprometa, quer dizer, nada que comprometa o processo...
FR - Ficamos gratos... Foi uma fatalidade...
ADV - As mãos de Deus...
FR - Deusa...
ADV - O quê?
FR - Foi uma deusa... Feminina...
ADV - Já disse que não quero detalhes... Deus ou Deusa...
OS DOIS - Vamos às oferendas...
Data vênia, Modus in rebus (no seu, não no meu, que tenho Orifício Apertado), para não vir a ser processado, deixo claro que Orifício Apertado não pode garantir que a informação seja absolutamente verdadeira. Tampouco falsa.
Mas é assim o jornalismo mãe dinah, especialidade da revista Veja, mas que cobre toda a esfera da mídia corporativa, como a matéria sobre a ficha falsa de Dilma, na Folha, e até mesmo essa nota da Globopar.